Agendas em disputa: uma análise crítica das políticas econômicas no Brasil no século XXI
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025002, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1149 6
Outro desafio central do período foi o conflito distributivo, marcado pela disputa entre
trabalhadores e capitalistas pela apropriação da renda nacional. As políticas de valorização do
salário mínimo e de inclusão social pressionaram a inflação, sobretudo no setor de serviços.
Rossi interpreta essa inflação como reflexo do embate entre trabalhadores organizados, que
conquistaram aumentos salariais reais, e empresários, que repassaram os custos para os preços
finais. Enquanto o autor vincula esse conflito à disputa salários versus lucros, não coloca em
debate outras interpretações, como a de Marconi (2012), que aponta que a inflação em serviços
decorreu da baixa produtividade do setor, e não apenas de pressões salariais.
Se, por um lado, o “industrialismo” foi insuficiente para romper com a dependência de
commodities, por outro, sua derrota política reflete a hegemonia do rentismo financeiro, que
bloqueou reformas estruturais. Como afirma Celso Furtado (1998), em análise clássica, o
subdesenvolvimento brasileiro é marcado por “interesses alienantes” que sabotam projetos
redistributivos. A experiência de Dilma talvez seja ilustrativa desse impasse: mesmo com
avanços sociais, a falta de ruptura com o neoliberalismo limitou a sustentabilidade do modelo.
O primeiro governo Dilma simboliza um momento de transição na economia brasileira,
no qual os limites do modelo distributivo baseado no consumo de massa tornaram-se evidentes.
Ao mesmo tempo, a narrativa neoliberal utilizou as dificuldades econômicas do período para
justificar a adoção de medidas de austeridade que desmantelaram importantes avanços sociais.
Para além das crises conjunturais, a experiência brasileira evidencia a necessidade de um
modelo de desenvolvimento que concilie inclusão social, sustentabilidade fiscal e
independência produtiva, rompendo com as armadilhas do neoliberalismo que perpetuam
desigualdades estruturais.
No capítulo terceiro, O choque recessivo e a crise, Pedro Rossi discorre sobre a recessão
de 2015-2016. Rejeitando a narrativa dominante que atribui a crise aos “excessos” dos governos
do PT, propõe outra leitura do período. A narrativa conservadora defendeu a tese de que o país
teria vivido de excessos durante os governos do PT, necessitando de austeridade e sacrifício
para se recuperar. São exemplos dessa visão a atribuição da crise ao aumento dos investimentos
públicos, ao crescimento dos salários acima da produtividade e à suposta desconfiguração do
tripé macroeconômico (metas fiscais, inflação e câmbio flutuante) por outro modelo: a “Nova
Matriz Econômica”. Para o autor, o colapso econômico resultou não de erros de gestão, mas de
um choque recessivo agravado por uma guinada ortodoxa no início do segundo mandato de
Dilma, que interrompeu o modelo de crescimento com distribuição de renda e aprofundou a
recessão. A tese da “gastança” é desmontada por Rossi com dados: entre 2003 e 2014, a dívida