O crescimento de candidaturas declaradamente LGBTQIAPN+ e suas implicações no comportamento legislativo pós-1988
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025005, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1147 18
A partir dos dados do Quadro 1, é possível verificar que o ex-deputado Clodovil
Hernandes foi o primeiro parlamentar declaradamente LGBTQIAPN+ a assumir o cargo de
deputado federal, eleito por São Paulo. Sua candidatura ocorreu para a 53ª legislatura da Câmara
dos Deputados. À época, foi eleito com 493.951 votos pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC),
tornando-se o terceiro deputado federal mais votado no Brasil (Clodovil…, 2006). O político
permaneceu no PTC entre 2005 e 2007. Ainda naquele ano, Clodovil mudou de filiação,
passando a integrar o Partido da República (PR), atualmente denominado Partido Liberal (PL).
Mesmo sendo um político LGBTQIAPN+, Clodovil Hernandes tinha um discurso alinhado a
pautas de direita, como, por exemplo, a defesa da privatização de estatais e a oposição às cotas
raciais, ao aborto e ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
No Rio de Janeiro, o ex-deputado federal Jean Wyllys foi eleito pelo PSOL em 2010.
Diferentemente de Clodovil Hernandes, Jean Wyllys obteve 13.018 votos, o menor número
registrado no estado para a eleição de deputado federal naquela eleição (Leia…, 2011). Na
ocasião, sua vaga foi conquistada pelo desempenho do candidato Chico Alencar, que recebeu
240.724 votos (Eleições, 2010). Quatro anos depois, nas eleições de 2014, Jean Wyllys foi
reeleito com 144.770 votos válidos, tornando-se o sétimo candidato mais votado para o cargo
no Rio de Janeiro (Apuração…, 2014).
Seguindo a tendência de candidaturas LGBTQIAPN+ nas eleições brasileiras, o
jornalista e político David Miranda (RJ) disputou as eleições de 2018 para deputado federal e
obteve mais de 17.000 votos, sendo o primeiro suplente da coligação PSOL–PCB (Eleições,
2018). Naquela eleição, devido às diversas ameaças sofridas, o deputado eleito Jean Wyllys não
assumiu o mandato, tendo sua vaga ocupada por David Miranda (Calgaro; Vivas, 2019). Assim
como Jean Wyllys, David Miranda também passou a receber ameaças de morte, sendo
autorizada pela Câmara dos Deputados uma escolta policial para sua proteção (Mais…, 2019).
Além dos deputados citados, demais candidatos LGBTQIAPN+ a deputados federais também
foram eleitos com votações expressivas, a exemplo de Israel Batista, com 67.598 votos
(Políticos…, 2018a), e Marcelo Calero, com 50.533 votos (Políticos…, 2018b).
Na contramão desse processo de votações com números expressivos, o candidato Rafafá
(PB) obteve apenas 13.940 votos para deputado federal nas eleições de 2018 (Políticos…,
2018c). No entanto, assumiu o mandato de deputado federal em 2021, em decorrência da
licença do deputado Pedro Lira (Rafafá…, 2021). Esse feito também ocorreu com a candidata
Vivi Reis. Eleita vereadora no município de Belém (PA) com 9.645 votos nas eleições de 2020,