A GEOGRAFIA DO VOTO DAS MILÍCIAS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO


LA GEOGRAFÍA DEL VOTO DE LOS PARAMILITARES EN LA CIUDAD DE RÍO DE JANEIRO


THE GEOGRAPHY OF THE PARAMILITARY GROUP'S VOTE IN CITY OF RIO DE JANEIRO




Igor Novaes LINS1

e-mail: igornovaeslins@gmail.com


Carlos MACHADO2

e-mail: carlosmachado@unb.br


Como referenciar este artigo:


LINS, I. N.; MACHADO, C. A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro. Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-

0107. DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1083


| Submetido em: 21/11/2023

| Revisões requeridas em: 15/04/2024

| Aprovado em: 19/05/2024

| Publicado em: 11/12/2024



Editora:

Profa. Dra. Simone Diniz

Editor Adjunto Executivo:

Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz


1 Doutorando em ciência política no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Núcleo de Pesquisa Flora Tristán: representações, conflitos e direitos. Brasília, DF, Brasil. 2 Professor Adjunto do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (IPOL-UnB) e coordenador do Núcleo de Pesquisa Flora Tristán: representações, conflitos e direitos. Brasília, DF, Brasil.

Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0107. DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1083 1

A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro


RESUMO: A relação entre milícias e política no Rio de Janeiro é analisada, com foco na distribuição geográfica dos votos de candidatos à vereança ligados a esses grupos. Foram utilizados dados eleitorais de 2000 a 2016, informações da CPI das Milícias e fontes jornalísticas para mapear a presença das milícias nas zonas eleitorais e analisar o desempenho dos candidatos. Aplicando a tipologia de Ames (2003), constatou-se que, embora alguns candidatos apresentassem concentração de votos, a dominância eleitoral foi exceção. A influência territorial das milícias não implica controle total do voto, indicando a presença de outros atores políticos. Observaram-se variações na correlação espacial dos votos de candidatos ligados ao mesmo grupo, revelando influências compartilhadas ou padrões distintos. Conclui- se que o controle territorial pelas milícias não garante domínio eleitoral absoluto, sugerindo a necessidade de estudos futuros sobre a complexa interação entre crime organizado, política e eleições.


PALAVRAS-CHAVE: Milícias. Controle territorial. Geografia eleitoral. Eleições municipais. Política local.


RESUMEN: La relación entre milicias y política en Río de Janeiro es analizada, con un enfoque en la distribución geográfica de los votos de los candidatos al concejo vinculados a estos grupos. Se utilizaron datos electorales de 2000 a 2016, información de la CPI de Milicias y fuentes periodísticas para mapear la presencia de milicias en zonas electorales y analizar el desempeño de los candidatos. Aplicando la tipología de Ames (2003), se constató que, aunque algunos candidatos mostraban concentración de votos, el dominio electoral fue la excepción. La influencia territorial de las milicias no implica un control total del voto, indicando la presencia de otros actores políticos. Se observaron variaciones en la correlación espacial de los votos de los candidatos vinculados al mismo grupo, revelando influencias compartidas o patrones distintos. Se concluye que el control territorial por parte de las milicias no garantiza un dominio electoral absoluto, sugiriendo la necesidad de estudios futuros sobre la compleja interacción entre crimen organizado, política y elecciones.


PALABRAS CLAVE: Milicias. Control territorial. Geografía electoral. Elecciones municipales. Política local.


ABSTRACT: The relationship between paramilitary groups (milícias) and politics in Rio de Janeiro is analyzed, focusing on the geographical distribution of votes for council candidates linked to these groups. Electoral data from 2000 to 2016, information from the CPI of Militias, and journalistic sources were used to map the presence of paramilitary groups (milícias) in electoral zones and analyze candidate performance. Applying Ames' (2003) typology, it was found that although some candidates showed vote concentration, electoral dominance was the exception. The territorial influence of paramilitary groups (milícias) does not imply total vote control, indicating the presence of other political actors. Variations in the spatial correlation of votes for candidates linked to the same group were observed, revealing shared influences or distinct patterns. It is concluded that territorial control by paramilitary groups (milícias) does not guarantee absolute electoral dominance, suggesting the need for future studies on the complex interaction between organized crime, politics, and elections.


KEYWORDS: Paramilitary groups. Territorial control. Electoral geography. Municipal elections local politics.


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Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO


Introdução


Desde o início dos anos 2000, o cenário eleitoral no Rio de Janeiro tem sido marcado pela presença de milicianos, como candidatos ou intermediadores das campanhas. Políticos como Nadinho de Rio das Pedras, Jorge Babu, Jerominho, sua filha Carminha Jerominho e a família Brazão exemplificam a penetração de milicianos na política institucional. A combinação de um crescente almejo eleitoral, domínio sobre um vasto eleitorado e controle territorial rigoroso tem sido a chave para o sucesso eleitoral nas últimas duas décadas, transformando as eleições em um elemento da economia criminal das milícias.

Apesar das ações do Estado contra as milícias, sobretudo no âmbito penal, levando muitas de suas atividades para a clandestinidade, especialmente após a CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), a influência desses grupos permanece significativamente ativa. As investigações sobre o fenômeno são predominantemente etnográficas e observacionais na literatura brasileira. No entanto, o Relatório Final da CPI das Milícias ofereceu uma rica fonte de dados, revelando nomes de políticos ligados a esses grupos e detalhando suas estratégias eleitorais.

Este estudo se dedica a explorar os padrões espaciais dos votos desses candidatos, através de análise espacial das bases eleitorais em eleições proporcionais de lista aberta. Nosso objetivo é verificar se o apoio das milícias resulta em votos nas regiões que dominam e se o perfil dos votos desses vereadores é mais concentrado nessas áreas. Especificamente, analisaremos a aplicabilidade da tipologia de Ames (2003) para entender esses candidatos e se nossa abordagem espacial fornece uma representação estatisticamente confiável e teoricamente sólida. A hipótese central é que os candidatos milicianos exibem um padrão de votação distintivo, dominante e concentrado nas áreas que controlam. A metodologia empregada é quantitativa e exploratória, utilizando a análise de autocorrelação espacial para examinar as zonas eleitorais.

Este trabalho evidencia como o controle territorial, as milícias e as eleições estão intrinsecamente ligados. Mapas demonstram a correspondência entre zonas eleitorais e áreas sob influência miliciana, ressaltando o impacto desses grupos nas eleições. Além disso, exploramos o crescimento populacional nas regiões milicianas e sua importância política. Por fim, serão abordadas as ligações entre grupos milicianos e vereadores, permitindo comparações nos padrões de distribuição de votos. Os vereadores são divididos com base nos grupos aos quais estão supostamente vinculados, buscando identificar correlações entre votos em diferentes eleições e a atuação conjunta ou afiliação a grupos milicianos.

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A geografia eleitoral e o sistema proporcional de lista aberta


O sistema eleitoral organiza a vida eleitoral através de um conjunto de regras que determinam como os votos se convertem em cadeiras nos poderes Legislativo e Executivo. O Brasil adota o sistema proporcional de lista aberta para preencher as cadeiras no Legislativo, um método considerado mais pluralista. Este sistema, por ser proporcional e não majoritário, evita que um único partido ou candidato ocupe todos os assentos ou um assento principal. Ele permite, em tese, que diversos grupos políticos, partidos ou coligações ganhem cadeiras, mesmo sem alcançar a maioria dos assentos. Isso influencia as estratégias partidárias e individuais dos candidatos, encorajando os partidos a apresentar candidaturas que reflitam alguma diversidade regional e incentivando os candidatos a buscar nichos específicos do eleitorado (Sachet, 2018).

O sistema eleitoral de lista aberta motiva os candidatos a se diferenciar de seus colegas de partido ou concorrentes locais ao focar em segmentos específicos da população. Isso torna vantajoso buscar apoio consistente nas geografias eleitorais dos municípios, pois o voto e a campanha se centram mais no candidato do que no partido. Neste sistema, os candidatos tendem a adotar estratégias de conquista de voto local, diferentemente do que acontece no sistema de lista fechada (Jankowski, 2016). Os candidatos muitas vezes são derrotados por outros da própria lista partidária devido à concorrência interna, onde o voto partidário tem valor reduzido e os candidatos frequentemente perdem por não atingirem uma votação suficiente, apesar do desempenho do partido. Frequentemente, candidatos não são reeleitos por serem superados por outros na própria lista partidária (Nicolau, 2006; Sonia Terron, 2010; Jankowski, 2016).

Dessa forma, a lista aberta obriga o candidato a competir com outros do mesmo partido, exigindo estratégias de campanha mais personalizadas e uma reputação atraente o suficiente para garantir a preferência dos eleitores (Jankowski, 2016). Esse cenário reforça a estrutura de campanhas personalistas que prevalecem no Brasil.

A relativa independência dos candidatos em relação aos partidos é marcante no sistema de lista aberta, onde não há uma ordem pré-estabelecida pelos partidos para os eleitos. Isso privilegia os candidatos bem conhecidos e bem financiados na corrida eleitoral, levando os partidos a se voltarem cada vez mais para estratégias típicas de clientelismo político em detrimento de dinâmicas mais ideológicas de disputa político-eleitoral (Sachet, 2018). No sistema atual, o partido tem um poder reduzido de influência no voto, e a conexão fora da estrutura partidária se torna mais relevante para a maioria dos candidatos a cargos proporcionais.


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O foco principal no jogo eleitoral é o candidato, tornando a vida municipal decisiva para a eleição de deputados federais e estaduais, assim como para a competição por cargos de vereador. Além disso, existe uma predominância do tipo de prestação de contas geográfico, com candidatos priorizando regiões onde receberam votação expressiva (Nicolau, 2006). Pesquisas empíricas, como a de Jankowski (2016), mostram que os candidatos recebem mais votos quando residem perto de seus distritos eleitorais, sugerindo que o contato e a proximidade residencial com os eleitores ajudam a formar um reduto eleitoral ou distrito informal. O eleitor valoriza a conexão do candidato com o território, e os candidatos adotam perfis regionalizados e estratégias de campanha e atuação parlamentar focadas localmente.

Barry Ames (2012) explica que, no sistema proporcional de lista aberta, os candidatos não precisam de grandes fatias de eleitorado ou do eleitorado médio. Eles podem concentrar seus votos em “coortes” de eleitores específicos, buscando benefícios geograficamente individualizáveis para viabilizar uma política local clientelista. Apesar de idealmente buscarem votos em todas as regiões do distrito eleitoral (a cidade ou o estado), os candidatos ao Legislativo delimitam suas campanhas a partir de lógicas geográficas. É comum a existência de intermediários que controlam o acesso a grupos de eleitores através de uma combinação entre coerção violenta e distribuição de cargos e favores. Os políticos oferecem participação em contratos públicos e benefícios financeiros para esses intermediários. Quanto maior o controle e as barreiras impostas pelos intermediários, mais os políticos pagam para acessar os votos (Ames, 2012; Trudeau, 2022). A geografia eleitoral explora por que candidatos recebem apoio eleitoral variado em diferentes localidades, examinando os fatores que interagem complexamente nesse contexto (Soares; Terron, 2008). As estratégias eleitorais refletem a lógica de dominação subnacional, onde presidentes e governadores cooptam apoio mediante a distribuição de cargos e recursos estatais, influenciando a competição partidária (Borges et al., 2016). Ames (2003) propõe uma tipologia para analisar os padrões de votação nas eleições para deputados federais, considerando as características de distribuição de votos nos municípios ou distritos eleitorais, conforme a tabela abaixo.


Tabela 1 - Tipologia de padrões eleitorais segundo Ames (2003)



Dominante

Compartilhado

Concentrado

Votos altamente concentrados em locais específicos com um candidato

claramente

predominante.

Votos concentrados em locais específicos, mas divididos entre múltiplos candidatos.


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Disperso

Votos espalhados amplamente, com um candidato liderando em várias áreas.

Votos distribuídos amplamente, sem um

único candidato predominante em muitas áreas.

Fonte: Elaboração própria.


O primeiro padrão, concentrados-dominantes, é caracterizado pelo domínio eleitoral em grupos específicos de municípios ou bairros. Nesses locais, as redes familiares ou políticas do candidato frequentemente têm uma tradição de influência, ou são formados acordos com líderes locais para garantir apoio. Este cenário, conforme descrito por André Borges et al. (2016), indica que os parlamentares conseguem acumular uma quantidade significativa de votos em uma região-chave, estabelecendo uma base eleitoral sólida.

Em contraste, o padrão concentrados compartilhados, envolve candidatos que atraem eleitores em diversas regiões, especialmente em grandes cidades e capitais onde o eleitorado é extenso e disperso. Esses candidatos não dominam um único local, mas têm apelo entre grupos de eleitores que se identificam com temas específicos ou políticas particulares, em vez de benefícios diretos. Este modelo, explicado por Borges et al. (2016), mostra uma dinâmica eleitoral onde o apoio é menos sobre influência territorial e mais sobre conexão com preocupações amplas dos eleitores.

O terceiro tipo, dispersos compartilhados, refere-se a candidatos que atraem grupos pequenos de eleitores dentro de um mesmo município ou estado, como é o caso de muitos candidatos religiosos. Esses indivíduos recebem votos de eleitores espalhados geograficamente e têm menos dependência de redes locais. Os votos são mais ideológicos, mobilizando minorias por todo o estado. Borges et al. (2016) destacam que esses candidatos geralmente têm experiência em cargos estaduais ou nacionais, o que os torna conhecidos em uma escala mais ampla.

Por fim, o padrão dispersos-dominados está associado a candidatos burocratas de nível estadual ou políticos que mantêm alianças com líderes locais, muitas vezes em contextos que sugerem relações clientelistas. Esses parlamentares têm uma votação dispersa por diversos municípios, mas com uma dominância considerável onde possuem redes estabelecidas. Esse grupo é composto por políticos que anteriormente ocuparam cargos que lhes permitiram implementar políticas públicas diretamente, criando uma base de apoio através de benefícios distribuídos.


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As milícias, a política e o território


As milícias são a mais destacada manifestação da interação entre o crime organizado, o Estado e a política territorial no contexto criminal brasileiro, sobretudo a nível subnacional. Originaram-se de grupos de extermínio compostos por policiais militares, outros agentes estatais e assassinos de aluguel. Na década de 1980, esses policiais, conhecidos como “polícia mineira”, começaram a coletar informações sobre atividades ilícitas em Rio das Pedras, um bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, para extorquir criminosos3. Esses grupos eram notórios por espancar e assassinar criminosos em troca de pagamentos periódicos (Zaluar; Conceição, 2007; Silva et al., 2008, Alves, 2020). Segundo Manso (2020), o conhecimento detalhado dos policiais sobre a dinâmica criminal nas periferias do Rio de Janeiro facilitou a formação dessas milícias. O termo “polícia mineira” derivou da prática de “minerar” ou “garimpar” as favelas à procura de criminosos ricos o suficiente para formar alianças ou para serem extorquidos. Através da oferta de segurança privada e da exploração de criminosos locais, a “polícia mineira” expandiu sua atuação para outros bairros do Rio, marcando o início das milícias. Este grupo evoluiu incluindo pistoleiros, líderes políticos e associações locais, culminando na formação da “Liga da Justiça”, como a imprensa e pesquisadores começaram a referir-se às milícias a partir de 2006 (Misse, 2011).

As milícias expandiram seu poder político, infiltrando-se no Executivo, Legislativo e

até no Judiciário, estabelecendo uma extensa rede dentro do poder público (Zaluar; Conceição, 2007; Arias, 2009). Arias (2013) observa que as milícias se dedicam ativamente à política formal, controlando grupos cívicos e mobilizando atores armados nas regiões onde operam, influenciando diretamente nos processos eleitorais e nas políticas públicas. Os consórcios delitivos das milícias demonstram duas capacidades políticas decorrentes de sua governança criminal: a consolidação territorial, tanto interna quanto nas áreas periféricas sob seu controle, lhes confere acesso e influência sem precedentes sobre eleitores em potencial. Além disso, a autonomia em relação a organizações políticas convencionais, como partidos e movimentos sociais, permite que exerçam uma influência substancial nos processos eleitorais (Trudeu, 2022). Pesquisas recentes de Lins e Machado (2023) sugerem que as milícias vão além da simples adoção de estratégias de organizações políticas tradicionais, regulamentando efetivamente o processo político e assumindo funções de instituições políticas locais.


3 Nos anos 50 e 60, o "Grupo de Diligências Especiais" e a "Scuderie Le Cocq", compostos pela Polícia do Rio de Janeiro, eram os principais grupos de extermínio do país. Seu modelo de atuação se espalhou pelo país (MISSE, 2011: 21).

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O território é a principal fonte de disputas entre grupos do crime organizado e constitui o principal objeto de dominação política dos milicianos nas periferias do Rio de Janeiro (Manso, 2020). O território não só organiza uma série de processos políticos formais e é crucial para a formulação de políticas públicas, mas também representa a condição primária para a representação política desde a formação do Estado moderno. A emergência de uma classe dirigente na modernidade veio junto com a concepção de território, marcada por um controle rigoroso sobre a circulação de bens e pessoas. Este controle e submissão territorial facilitaram a centralização do poder político, como Iná Elias de Castro (2005) argumenta.

Nadia Urbinati e Mark Warren (2008) consideram o território como a régua para o compartilhamento de poder e um fundamento principal para organizar a representação política. Seguindo essa lógica, o local de residência define onde o indivíduo pode votar, ser votado e a quem pode dar ou receber votos, territorializando os fenômenos políticos (Castro, 2005).

A política, vista como a intermediação e expressão dos conflitos sociais, tem sua base material e simbólica no território (Castro, 2005). A importância do território vai além do voto; quando se considera os territórios eleitorais, o peso das campanhas, o exercício do mandato e a accountability vertical podem ser exercidos a partir da lógica local (Terron, 2010). Em um Estado federativo, as eleições são organizadas primordialmente a partir das dinâmicas espaciais dos estados e municípios. O que inclui: a organização espacial das eleições, especialmente a definição de distritos eleitorais; a variação espacial dos padrões de votação em relação à variação das características da população; a influência de fatores regionais em atitudes e decisões de votação; padrões espaciais de representação política que resultam na tradução de votos em cadeiras em um corpo representativo; variações espaciais no nível de poder e a implementação de políticas que refletem nos padrões de representação (Zolnerkevic; Raffo, 2013).

Do ponto de vista da geografia política, a representação é uma relação entre a comunidade política de um território (nacional ou subnacional) e os representantes. A representação política baseada na territorialidade emergiu como uma forma de trazer os complexos conflitos de interesse para as arenas da política institucional, especialmente ao Poder Legislativo. O Estado, como principal espaço do fazer político, reflete a importância do território que legitima e fundamenta o domínio estatal e sua estrutura de poder político- territorial. Assim, o espaço estatal é onde ocorrem a maioria dos conflitos políticos e o território fundamenta as ações políticas (Castro, 2005).


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Nesse contexto, surgem novas formas de representação política no campo da informalidade, já que a democracia transcende os mecanismos formais de tomada de decisão e a representação eleitoral não consegue capturar a totalidade e complexidade dos grupos políticos. Segundo Nadia Urbinati e Mark Warren (2008), as eleições são apenas um subconjunto representativo das formas complexas de representação política, onde o representado autoriza o representante a expressar seus interesses nas instituições políticas.

A legitimidade democrática é caracterizada pelo sistema eleitoral, mas a representação política pode ter um caráter idealizador e ultrapassar os limites definidos pelas instituições e pelas formas em que a cidadania se manifesta geograficamente. As preferências do eleitor são representadas numa eleição em que se constituem um governo e uma oposição, permitindo a todos participarem na criação de um órgão representativo (Urbinati; Warren, 2008).

De forma mais objetiva, a dimensão territorial é essencial para a formulação das listas eleitorais de candidatos ao Legislativo e dos nomes ao Executivo estadual e municipal. Os formuladores das listas partidárias consideram uma distribuição mínima de candidatos geograficamente e privilegiam aqueles vinculados a setores específicos do eleitorado na disputa legislativa (Nicolau, 2006). O território organiza as disputas políticas e influencia materialmente como as discussões são conduzidas. O apoio de lideranças locais ou grupos de moradores é comum nas estratégias de campanha eleitoral, visto que a estratégia de vizinhança e bairro é muito relevante para os candidatos angariarem grupos de eleitores geograficamente organizados (Nicolau, 2006; Zolnerkevic, Raffo, 2013; Gelape, 2017).

O valor do território é ainda mais acentuado no sistema eleitoral de lista aberta proporcional para os cargos no Poder Legislativo, em comparação com outros sistemas proporcionais. A lista aberta permite que diversas lógicas eleitorais, ao expressarem seus votos, possam emergir, incluindo a lógica territorial. Ademais, em um contexto de preponderância do Executivo e de sua forte influência nas eleições proporcionais, a campanha baseada em redutos eleitorais geográficos ganha proeminência. A pesquisa de André Borges et al. (2016) indica que as clivagens de governo e oposição são uma variável explicativa para a distribuição geográfica do voto, e que coalizões governamentais tendem a dispersar votos no território.

O município é a escala de análise desta pesquisa, pois nele ocorre a expressão política mais concreta do conjunto de territórios e grupos sociais. A escala municipal emerge em um contexto de busca por mais cidadania e poder local no Brasil. O federalismo brasileiro, conforme definido pela engenharia política da Constituição de 1988, permite que o município seja o local onde as decisões políticas mais diretas são tomadas, justamente porque é onde as

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pessoas fazem política e as políticas públicas são efetivamente executadas. O federalismo, ao descentralizar o poder, impõe limites à ação da sociedade local sobre seu próprio território (Castro, 2005).


Metodologia e limitações


Para investigar a distribuição de votos de supostos milicianos, adotamos uma abordagem quantitativa e exploratória baseada na análise de autocorrelação espacial. As unidades espaciais analisadas foram as zonas eleitorais (ZEs), definidas pela latitude e longitude de cada uma, conforme detalhado nos anexos. Utilizamos o software RouteConverter para geocodificar as ZEs a partir dos endereços fornecidos pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), resultando em um arquivo KML. Importante ressaltar que as zonas eleitorais sofreram reorganização em 2017, de acordo com a Resolução n° 982/2017 do TRE- RJ, alterando os locais usados nas eleições após 2016. Os dados georreferenciados foram inclusos nos anexos deste estudo, e o software Geoda foi utilizado para gerar as estatísticas de autocorrelação espacial e correlação espacial entre os candidatos.

A zona eleitoral é uma unidade de análise artificial, criada pela Justiça Eleitoral a partir de um conjunto de dados. Sua utilização foi uma estratégia adotada devido à ausência de localizações das seções eleitorais do Rio de Janeiro antes de 2017, período que abrange nossa análise, incluindo as eleições de 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016. Embora essa escolha tenha viabilizado a pesquisa, ela impõe limitações significativas. Primeiramente, as ZEs não correspondem exatamente ao local de votação do eleitor, sendo apenas agrupamentos de seções eleitorais de uma região administrativa e, muitas vezes, não representam o mesmo bairro do eleitor. Além disso, as ZEs podem não refletir o local de residência dos eleitores, o que pode gerar distorções nos resultados empíricos apresentados. Idealmente, deveríamos trabalhar com seções eleitorais, onde há maior probabilidade de que os eleitores votem e residam4, proporcionando uma representação mais precisa de suas preferências políticas espaciais. No entanto, devido à redefinição das zonas e seções eleitorais pelo TRE-RJ nos últimos anos e ao grande volume de dados, optamos por não seguir esse caminho.

Duas unidades de medição foram adotadas para se enquadrar na tipologia de Ames

(2003). A primeira se refere à dimensão entre concentração e dispersão. Candidatos


4 O recadastramento e a biometria realizadas para eleições mais recentes aumentou as chances de que essa vinculação ocorra, porém não cabe aos anos analisados.

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concentrados são aqueles mais expressivos em determinadas zonas, com resultados eleitorais semelhantes nos distritos vizinhos onde tiveram alta expressão eleitoral. Candidatos dispersos tiveram votação espalhada pelas zonas eleitorais, sem resultados necessariamente similares nos distritos vizinhos ou sem concentração de votos em zonas eleitorais adjacentes (Terron et al. 2012).

A classificação foi realizada a partir do Índice de Moran I ou Índice de Moran Global com peso de queen contiguity5. Este índice é capaz de medir a autocorrelação entre territórios e indicar a existência de clusters ou outliers nos padrões de votação. Baseando-se no principal estudo sobre o tema no Brasil, de Sonia Terron et al. (2012), o índice foi calculado com o percentual de votos do candidato por zona eleitoral e classificado entre concentrados e dispersos com base na média total dos valores obtidos.

Embora os valores devessem idealmente ser calculados anualmente, devido à baixa amostra anual da pesquisa, optou-se por uma abordagem agregada, o que é mais uma das limitações deste trabalho. Como discutido por André Borges et al. (2016), a eleição e a reeleição são processos distintos e complexos que são difíceis de comparar. Além disso, devido à falta de constância dos trabalhos na área, que adotam unidades espaciais de análise variadas (Gelape, 2017) e formas de cálculo distintas, a comparação se mostrou inviável, e os resultados podem ser conflitivos. Assim, nosso objetivo é identificar padrões entre os candidatos analisados, sem a intenção de comparar o conjunto de candidatos à vereança no Rio de Janeiro.

Para classificar a dimensão entre dominância ou compartilhamento, estipulou-se um valor para definir dominantes como candidatos que capturam uma expressiva fatia do eleitorado na zona e compartilhados como aqueles que dividem seu eleitorado com outros candidatos. Segundo Silva (2011), todos os candidatos que obtiveram o dobro de votos do segundo colocado na zona eleitoral e, ao menos, 10% de todo o distrito foram considerados dominantes. Este critério permite identificar os candidatos que se destacam nas zonas eleitorais sem considerá-los dominantes apenas pelo resultado representativo na zona eleitoral, considerando o impacto no total de eleitores na zona, abordagem não considerada em estudos anteriores como os de Corrêa (2011), Carvalho et. al (2010), Ames (2003), Terron et al. (2012) e Silva (2009). O índice de Ames de dominância média, conforme Avelino et al. (2011), não considera a heterogeneidade da distribuição de votos entre os distritos ou municípios, ignorando o fator de



5 O queen contiguity é recomendado para lidar com possíveis erros no arquivo dos polígonos, nesse caso, dos polígonos das zonas eleitorais. O site do Geoda traz informações mais detalhadas sobre o uso, a diferença do rock como peso e algumas recomendações para o uso das estatísticas espaciais do software: https://geodacenter.github.io/workbook/4a_contig_weights/lab4a.html#queen-contiguity

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ponderação, o que torna o índice inadequado para verificar a concentração, pois é sensível apenas à votação do candidato no distrito, refletindo apenas o número absoluto de votos e não uma proporção mais significativa.


Tabela 2 – Candidatos à vereança no Rio de Janeiro com possível ligação com as milícias


Nome completo

Nome na urna

Partido(s)

Eleições

Resultado

N° na urna

Status no momento da

pesquisa6

Jerônimo Guimarães Filho

Jerominho


MDB

2000

Eleito

15670

Assassinado

7

2004

Eleito

Josinaldo Francisco da Cruz

Nadinho

AVANTE

2000

Eleito

70625


Assassinad o em 20098

Nadinho de

Rio das Pedras


DEM

2004

Suplente

25100

2008

Suplente

25100

Luiz André Ferreira da Silva

Deco


PR

2004

Suplente

56770

Em liberdade condiciona

l9

2008

Suplente

22770

Cristiano Girão Matias

Cristiano Girão


PMN

2004

Suplente

23233

Preso10

2008

Eleito por média

23233

Jorge Luiz Haut

Jorge Babu


PT

2000

Eleito por

média

13444

Condenado, mas em liberdade11

2004

Eleito

13444

Carmen Glória Guinâncio Guimarães

Carminha Jerominho


Solidariedade

2008

Eleita por média

70670

Presa12

2012

Não eleita

70670


6 A presente pesquisa concluída em 2022, o status foi obtido através de matérias jornalísticas.

7 Jerominho foi preso por extorsão em Campo Grande em 2022, mas em seguida foi assassinado. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-01/ex-vereador-e-policial-civil-jerominho-e-preso- novamente- no-rio. Último acesso: 12/05/2022. https://g1.globo.com/rj/rio-de- janeiro/noticia/2022/08/04/quem-e-jerominho- ex-vereador.ghtml > Último acesso: 19 set. 2022.

8 Após denunciar a atuaçã de milicianos, Nadinho foi assassinado. Disponível em: https://extra.globo.com/casos-de- policia/ex-vereador-nadinho-de-rio-das-pedras-assassinado-em-atentado-na- barra-298609.html > Último acesso: 12 maio 2022.

9 Deco está em liberdade condicional desde 2019. Disponível em: < https://noticias.uol.com.br/ultimas- noticias/agencia-estado/2020/09/07/ex-vereador-acusado-de-homicidio-faz-campanha.html > Último acesso em: 12 maio 2022.

10 Cristiano Girão está preso desde 2021. Disponível em: < https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas- noticias/2022/05/11/jogos-de-azar-armas-e-marielle-suspeitas-e-acusacoes-contra-ronnie-lessa.htm > Último acesso em: 12 maio 2022.

11 Condenado por formação de quadrilha. Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2018/05/12/cpi- milicias-politicos/ > Último acesso em: 12 maio 2022.

12 Presa em 2021 por adquirir celulares roubados em esquema que a polícia aponta como relacionado às milícias. Disponível em: < https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/02/25/operacao-mira-receptadores-de- eletronicos-roubados-no-rj.ghtml > Último acesso em: 12 maio 2022.

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Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO



Marcello Siciliano

Marcello Siciliano

PHS

2016

Eleito por média

31888

Em liberdade, após ser preso por suspeita de participação na morte da ex-vereadora

Franco13

Jair Barbosa Tavares

Zico Bacana


2004


2016

Suplente


Eleito por quociente partidário

31201

Baleado no período eleitoral de 2020, em

Marechal Hermes, região dominada por milicianos e seu principal

reduto eleitoral14

Francisco Félix Valente

Chiquinho Sepetiba

PFL/DEM

2004 e 2008

Suplente


Preso, foi enunciado por organização criminosa e lavagem de dinheiro

Luiz Monteiro da Silva

Doem

PTC

2008

Suplente

36007

Preso, foi enunciado por organização criminosa e lavagem de

dinheiro15

Marcio Amaral Castilho

Marcio

PRB

2008

Suplente

10311


Jurani Ferreira

Jurani

PSL

2008

Suplente

17017

Assassinado em 201116


13 Apesar das investigações serem sigilosas, a relação de Siciliano com a morte de Marielle Franco foi aventada diversas vezes, ele chegou a ser preso. Além disso, várias reportagens, baseadas em investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro, indicam o relacionamento do vereador com milicianos.

14 O ex-vereador Zico Bacana foi vítima de uma tentativa de assassinato durante sua campanha em 2020, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Além de ser citado na CPI, ele também depôs no inquérito que investiga a morte de Marielle Franco.

15 Doem foi denunciado pelo Ministério Público, para além da CPI das Milícias.

16 Segundo o Ministério Público, foi assassinado pelo miliciano Nem do Gás, Luis Antonio Guimarães Lima. Disponível em: https://extra.globo.com/casos-de-policia/miliciano-acusado-pelo-ministerio-publico-de- assassinar-pm-em-campo-grande-2093209.html.

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A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro



Israel Barbosa Gonçalves

Israel

PTB

2008

Suplente

14007


João Francisco

Chiquinho

MDB

2008 – 2012 -



Deputado

Inácio Brazão

Brazão


2016

federal, é





investigado





por





envolvimento





no





assassinato de





Marielle.





Investigações





apontam sua





ligação com





as milícias e





disputa com





Siciliano17

Fonte: Elaboração própria, baseado nos dados do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), fontes de cunho jornalístico e no Relatório Final da CPI das Milícias da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.


Domínio territorial e político: as zonas eleitorais


Há mais de uma década, Alba Zaluar e Isabel Conceição (2007) destacaram um intenso movimento de agenciamento político dos territórios controlados por milicianos. Em sua pesquisa etnográfica, Zaluar observou que a Associação de Amigos e Moradores de Rio das Pedras promoveu uma campanha para regularizar o título eleitoral dos moradores. O foco era transferir títulos de eleitores registrados em outros municípios ou estados e regularizar a situação cadastral daqueles com impedimentos, especialmente nordestinos residentes nos bairros da Zona Norte que não tinham transferido seu título para a cidade. O objetivo era garantir a eleição de Nadinho como vereador, e, para isso, kombis contratadas pelos milicianos transportavam os moradores aos cartórios eleitorais do TRE-RJ.

Este episódio ressalta a relevância das eleições na dinâmica da economia política das milícias e a maneira como o território conecta esses grupos às eleições, particularmente devido à sua forte dependência territorial. Conforme ilustrado pelo ‘Mapa 1’, que acompanha este texto, pelo menos 48 das 97 zonas eleitorais da cidade do Rio de Janeiro têm algum contato com regiões dominadas por milícias. Embora isso não signifique que todas estas zonas estejam


17 Investigações sugerem o relacionamento dos Brazão com o Escritório do Crime. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/07/12/caso-marielle-franco-escritorio-do-crime-

milicia-familia-brazao-escutas.htm. Investigações apontam o relacionamento de Chiquinho Brazão com milicianos da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro: https://theintercept.com/2020/06/22/investigacao-marielle-expoe- conexoes-vereadores-milicias/.

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sob influência direta das milícias ou que o voto seja totalmente condicionado por ações milicianas, é evidente que o poder de influência desses grupos abrange uma vasta área da cidade.

Mapa 1 – Zonas eleitorais do Rio de Janeiro e regiões dominadas por milícias


Em vermelho: zonas eleitorais da cidade do Rio de Janeiro; Em azul: territórios com presença de milícias.


Fonte: Elaboração própria, baseado nos dados do Mapa dos grupos armados do Rio de Janeiro18 e do Tribunal Eleitoral Regional do Rio de Janeiro.


18 Disponível em: https://erickgn.github.io/mapafc/

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A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro


Mapa 2 – Seções eleitorais do Rio de Janeiro e regiões dominadas por milícias


Em vermelho: seções da cidade do Rio de Janeiro; Em azul: territórios com presença de milícias.


Fonte: Elaboração própria, baseado nos dados do Mapa dos grupos armados do Rio de Janeiro e do Tribunal Eleitoral Regional do Rio de Janeiro.


No 'Mapa 2', que oferece um detalhamento mais aprofundado do que o anterior, é possível observar uma concentração de seções eleitorais em áreas de milícias nas Zonas Norte e Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Analisando os números de eleitores nessas zonas e referenciando a pesquisa de Alba Zaluar (2007), nota-se um crescimento populacional de eleitores nessas regiões superiores à média. Enquanto o crescimento médio nas zonas eleitorais foi de 15,54% entre os anos 2000 e 2016, nas regiões dominadas por milícias, esse índice atingiu aproximadamente 31,54%, conforme os dados anexos.

Especificamente, a Zona Eleitoral n° 179, que abrange as seções eleitorais de Rio das Pedras e Gardênia Azul, ambas áreas de milícia, mas localizadas na Barra da Tijuca, apresentou um aumento de mais de 121% no número de eleitores no mesmo período. Outros exemplos a Zona Eleitoral n° 25, em Campo Grande, e a Zona Eleitoral n° 20, em Santa Cruz, que registraram crescimentos de mais de 137% e 91%, respectivamente.

O Gráfico 1 mostra que o crescimento do número de eleitores nas regiões de milícias foi mais acentuado. Além do crescimento populacional geral da cidade, o aumento no número de eleitores nessas áreas pode ser explicado pelo controle urbanístico dos milicianos sobre a ocupação territorial, que se intensificou nos últimos anos através de práticas como a grilagem. Essa dominação territorial não apenas modifica a paisagem urbana, mas também é

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acompanhada de coação e cooptação dos eleitores, pressionando-os a regularizar seus cadastros eleitorais em troca de vantagens, consolidando assim o poder político das milícias nessas regiões.

Gráfico 1 – Número de eleitores por tipo de território


Fonte: Elaboração própria, baseado nos dados do TSE, Mapa dos grupos armados do Rio de Janeiro e do TER- RJ.


De toda sorte, para maior robustez do dado, é preciso inserir uma variável independente de controle, o crescimento populacional por região da cidade. Esse parâmetro é essencial para compreender o aumento do poder político das milícias ao longo do tempo. Além disso, diversas pesquisas destacam como as milícias influenciaram o projeto urbano do Rio de Janeiro, contribuindo para o adensamento populacional nos bairros periféricos.

Quando se analisa o domínio territorial sob o controle armado das milícias, fica evidente a restrição do poder de controle político e da liberdade dos eleitores. Isso ocorre por duas razões principais. Primeiramente, há o risco de aumento da repressão em casos em que os políticos apoiados pelas milícias não sejam eleitos. Essa coerção política é amplamente documentada na literatura especializada (Manso, 2020; Alves, 2020; Arias, 2013; Lins, 2023; Trudeau, 2022).

Em segundo lugar, mesmo na ausência de ameaças diretas ou violência física, a própria dinâmica da economia criminal cria incentivos para que os moradores votem em candidatos apoiados pelas milícias. A não eleição desses candidatos pode levar à redução do apoio do poder público e ameaçar as estruturas de poder político e econômico local. Isso significa que,

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A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro


independentemente da concordância com práticas criminais, os eleitores podem enfrentar prejuízos significativos. Por exemplo, as milícias que controlam a distribuição de terras e a construção ilegal podem colocar os moradores em risco de desalojamento, caso a ocupação seja reconhecida como ilegal pelo governo. Trabalhadores de empreendimentos irregulares também podem perder seus empregos. Em suma, as consequências de um desfavorecimento eleitoral se estendem por toda a comunidade, configurando uma situação em que o benefício é condicionado ao apoio político fornecido ao “cliente” das milícias.


O perfil dos vereadores


O perfil dos candidatos à vereança ligados às milícias é analisado com base em uma variável-chave, conforme descrito na tipologia de Ames (2003), que é o marco teórico- metodológico fundamental na geografia eleitoral. Essa variável é utilizada para avaliar a dominância ou o compartilhamento e a concentração ou dispersão dos resultados eleitorais dos vereadores.

A análise dos dados revela que a maioria dos vereadores apresenta um padrão de compartilhamento, com casos de dominância sendo excepcionais. A Tabela a seguir ilustra que apenas quatro candidatos se desviaram dessa tendência, com dois deles aparecendo em mais de uma eleição. Apesar de obterem alta votação, esses candidatos raramente alcançaram dominância em suas zonas eleitorais, com exceção dos casos detalhados a seguir. Ainda que tenha participação expressiva na eleição, esses candidatos dividem com outros a zona eleitoral. Nadinho, em duas ocasiões, Deco, Chiquinho Brazão, também em dois pleitos consecutivos, e Zico, se destacaram dos demais, dominando a zona eleitoral com pelo menos 10% do total de votos e o dobro dos votos do segundo colocado em suas respectivas eleições.

Esses candidatos tiveram votações expressivas nos pleitos em que concorreram e foram classificados como dominantes em comparação com outros candidatos.

Entretanto, é importante destacar que uma votação elevada não necessariamente garante a dominância em uma zona eleitoral. Existem candidatos que conseguem concentrar a maioria de seus votos em uma única zona eleitoral e, consequentemente, podem dominá-la, mesmo sem um número elevado de votos totais. Esta análise sublinha que a capacidade de dominar uma zona eleitoral não é diretamente proporcional ao total de votos recebidos, evidenciando a complexidade da influência eleitoral nas áreas controladas por milícias.


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Tabela 3 – Desempenho detalhado candidatos com perfil dominante nas Zonas Eleitorais (ZE)

Candidato

Eleição

ZE

Votos

Percentual de votos obtidos na ZE

Percentual acima do segundo

colocado19

Nadinho

2004

179

15.239

19%

234%

Nadinho

2008

179

10.296

11%

209%

Deco

2008

13

5.311

11%

119%

Brazão

2008

180

10745

13%

496%

Brazão

2012

180 e 182

180: 8188

182: 7654

Ambos 10%

180: 240%

182: 238%

Fonte: Elaboração própria, baseado nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Tribunal Regional do Rio de Janeiro (TRE-RJ).


A Tabela 3 não apenas identifica os políticos com um perfil eleitoral dominante, mas também destaca aqueles com uma influência significativa na política local dos bairros do Rio de Janeiro e que possuem fortes redes clientelistas. O perfil dominante de Nadinho de Rio das Pedras, Deco e Chiquinho Brazão ressalta seu controle territorial e a capacidade de atuar como chefes locais. Essa dominância é especialmente marcante nas áreas onde eles exercem uma atuação política intensa e mantêm controle territorial: Nadinho de Rio das Pedras em Rio das Pedras e Gardênia Azul, Deco em Jacarepaguá, e Chiquinho Brazão em Tanque e Taquara. Todas essas regiões são rigorosamente controladas por grupos milicianos.

Os outros vereadores foram classificados como compartilhados, conforme indica a Tabela 4. A análise dos resultados sugere uma divisão entre perfis dispersos e compartilhados, sem um padrão claro nesse eixo, mas com uma tendência geral de que a maioria dos candidatos tem um perfil de votação compartilhado. Isso inclui até mesmo aqueles com um número de votos acima da média, que, contrariamente ao esperado, não demonstram uma expressão eleitoral dominante, mas sim compartilhada. Essa observação sublinha a complexidade das dinâmicas eleitorais nas regiões controladas por milícias, onde a influência política pode se manifestar de maneiras diversas e não necessariamente se traduzir em uma votação majoritariamente concentrada ou dominante.


19 100% é o aumento mínimo de vantagem sobre o segundo colocado e 10% é o valor mínimo de votos que o candidato precisa ter no total de votos na Zona Eleitoral.

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A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro


Tabela 4 – Distribuição dos candidatos a partir da tipologia de Ames


Fonte: Elaboração própria, com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral e utilizando o Geoda.


A média dos resultados obtidos entre concentrado e compartilhado foi de 0,2085, indicando a possibilidade de segmentar os padrões de votação dos candidatos milicianos ao analisar os dados por zonas eleitorais. No entanto, conforme discutido na seção metodológica deste estudo, não é possível fazer uma comparação direta com o conjunto geral de candidatos. Em geral, a maioria dos candidatos milicianos apresentou um padrão de votação disperso. Portanto, considerando ambos os eixos da classificação da tipologia de Ames (2003), o perfil mais prevalente é disperso e compartilhado.

O padrão de votação compartilhado sugere que esses candidatos receberam muitos votos em regiões com um alto número de eleitores, conforme apontado por Terron et al. (2012). Essa observação é corroborada pelo aumento da população eleitoral em bairros com presença de milícias. Além disso, o padrão disperso revela o estabelecimento de redes de clientelas que são, por natureza, mais fragmentadas e menos concentradas. Este fenômeno reflete a natureza da

Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0107. DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1083 20

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influência política das milícias, que, embora extensa, não necessariamente se traduz em uma dominância eleitoral abrangente em áreas específicas, mas sim em uma ampla dispersão de apoio em múltiplas regiões. Um apoio contíguo pelo território da cidade.


As conexões entre as milícias e seus candidatos


Criamos uma tabela que detalha as conexões dos políticos com grupos milicianos. O nível de envolvimento varia significativamente: alguns políticos são líderes desses grupos, enquanto outros desempenham papéis mais periféricos nas organizações. Além disso, muitos deles estão associados a mais de um grupo miliciano e mantêm relações com outros, o que lhes permite fazer campanha em diferentes territórios. O objetivo desta análise é comparar o padrão de distribuição dos votos e as conexões entre os locais de votação desses políticos e as áreas vizinhas.


Tabela 5 – Grupo miliciano ao qual os candidatos e os vereadores estão supostamente ligados


Grupo miliciano ou bairro onde atua/atuava a milícia

Vereador com indícios de ligação com grupo, na posição de chefia ou de associado

Gardênia Azul

Cristiano Girão, Marcello Siciliano, Cristiano Brazão

Rio das Pedras

Nadinho, Carminha Jerominho, Jorge Babu, Jerominho, Chiquinho Brazão

Liga da Justiça

Jerominho, Carminha Jerominho, Jorge Babu,

Chiquinho Sepetiba, Israel

Pessoal do Deco

Deco, Doen

Praça Seca

Doen

Guadalupe

Zico Bacana, Cristiano Girão

Recreio dos Bandeirantes – Comunidade Terreirão

Girão

Comunidades da Linha, Mata Quatro e Eternit

Zico

Pedra de Guaratiba

Jorge Babu

Guaratiba e Jardim Maravilha

Jerominho, Jurani

Realengo

Jerominho

Escritório do Crime

Marcello Siciliano, Chiquinho Brazão

Fonte: Elaboração própria, com base nas informações da CPI das Milícias (2008) e do relatório do inquérito da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da Polícia Civil (2018).


A partir dessas ligações, comparamos duas eleições para cada possibilidade, usando anos eleitorais diferentes. Utilizamos o Índice de Moran I Bivariado para identificar correlações positivas, negativas ou nulas entre os valores das zonas eleitorais vizinhas de um candidato em comparação com outro que atua em um território similar ou no mesmo grupo miliciano. Essa análise se baseia nos dados coletados pela CPI das Milícias.


Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0107. DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1083 21

A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro


Gardênia Azul


O principal nome da milícia de Gardênia Azul foi o ex-vereador Girão, que seria líder do grupo segundo a CPI das Milícias, e mais tarde o vereador Siciliano é apontado como bem relacionado na região. Os Brazão são apontados como chefes do grupo e da região atualmente. Os dados da própria CPI já indicavam a disputa territorial e poder na região em 2008. Se aprofundou também a disputa entre os Brazão e Siciliano no local20.

A comparação do Moran Global Bivariado mostra uma correlação positiva entre os valores observadores nas regiões vizinhas das zonas eleitorais de Cristiano Girão e Marcello Siciliano, com a resultado entre 0,225 e 0,190. A comparação entre Chiquinho Brazão e Cristiano Girão teve um valor estatisticamente positivo e não nulo. Nos principais redutos eleitorais a votação é comparável. Em Gardênia e Rio das Pedras os votos são altos dos dois. No entanto, nas regiões onde teve uma votação mediana, Chiquinho Brazão se diferenciou de Girão, que teve poucos votos.

Existe um indício de repetição do positivo padrão de distribuição de votos entre as zonas eleitorais que são vizinhas. Brazão fez muito mais votos que Girão em todas as eleições, mas a distribuição de seus votos tem alguma similaridade. Comparar os resultados de Girão em 2004 e Brazão em 2008 mostra que eles se igualaram no desempenho em Gardênia Azul e Rio das Pedras. Entretanto, os dois também tem visíveis diferenças, que se devem mais ao sucesso eleitoral de Brazão do que uma diferença substantiva dos votos recebidos. Enquanto Brazão foi dominante com mais de 10 mil votos em Taquara, Girão fez 383. Nos anos seguintes de comparação, Brazão consolidou seu desempenho nos bairros onde Girão teve sucesso.

Por outro lado, Chiquinho Brazão e Marcello Siciliano, que já foram apontados como suspeitos de ligação com mandantes e executores do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco, tem uma correlação espacial positiva. Isso indica que a distribuição de seus votos, seja das votações baixas e altas, tem uma lógica parecida de distribuição geográfica. A correlação foi de 0,224 e 0,256 quando comparados em diferentes anos eleitorais.

Os políticos foram apontados por investigações policiais como chefes nas relações de clientela em Gardênia Azul. Os Brazão, no entanto, com o declínio de Girão após sua prisão, supostamente assumiram o controle da milícia local e aprofundaram a disputa por hegemonia



20 Investigação paralela da morte da ex-vereadora Marielle Franco, a Polícia Federal identificou uma disputa aliados de Chiquinho Brazão e Marcello Sicilliano pelo espaço comunitário de Gardênia Azul. Disponível em: < https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/04/15/caso-marielle-franco-o-campo-da-discordia- entre-os-brazao-e-siciliano.htm.

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Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO


local com Siciliano, por isso a distribuição de votação similar. Em 2016, Marcello Siciliano fez

1.423 votos para vereador na zona eleitoral 179, situada na Barra e que atende as regiões com presença de milícias, Gardênia Azul e Rio das Pedras. No mesmo período, Chiquinho Brazão fez 6.811 votos. Um decréscimo de quase 16% em relação aos 8.103 votos obtidos em 2012 e ao crescimento que vinha obtendo anteriormente, 1.791 votos em 2004 e 3.332 votos em 2008. Siciliano chegou a enfrentar o pai de Chiquinho Brazão, Domingos Brazão, nas eleições para deputado estadual e vencer na região.


Rio das Pedras


O ex-vereador Nadinho foi apontado como o chefe da milícia da região pela CPI das Milícias. Além disso, Carminha Jerominho, Jerominho, Jorge Babu e Chiquinho Brazão teriam conexões dos milicianos na dinâmica local, apesar de não serem indicados com posição de poder relevante na região.

Em comparação entre a ex-vereadora Carminha Jerominho e Nadinho, a correlação do índice de Moran Global Bivariado é inexistente. Os dados mostram que existiu uma pequena variação entre a comparação dos resultados eleitorais. O resultado indica que os valores das zonas vizinhos dos candidatos são inversamente ligados, com a intensidade estatística variando entre -0,021 e -0,042. Carminha Jerominho não teve sucesso nos redutos eleitorais de Nadinho e o contrário é válido. No bairro dos milicianos Jacarepaguá (Zona Eleitoral 13), enquanto Nadinho fez 5.465 votos em 2004, Carminha Jerominho fez apenas 13 votos. Em Santa Cruz e Campo Grande, Carminha tem um número expressivamente maior. No bairro de Gardênia Azul e Rio das Pedras, principal reduto de Nadinho e onde ele chegou ter a dominância dos votos, ele fez expressivos 15.239 votos e Carminha Jerominho 16 votos.

Os resultados comparados entre o chefe de Rio das Pedras, Nadinho, também chamado de Nadinho de Rio das Pedras na disputa eleitoral, e Jorge Babu, não foram expressivos em nenhum dos anos comparados. O índice de Moran entre Nadinho e Babu variou entre -0,041 e 0,010 quando comparados a partir do mesmo período. O resultado da comparação entre Jerominho e Nadinho também teve resultado de correlação negativo no cálculo do Moran Global comparado e baixa variação entre os anos de comparação, com uma variação entre - 0,053 e -0,045. Nadinho controlava a Liga da Justiça em Rio das Pedras antes de ser assassinado em 2009, grupo comandado pelos irmãos Jerominho e Natalino. Mas Jerominho não teve sucesso eleitoral na região, apesar da conexão com o miliciano assassinado. Os principais


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A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro


resultados dos redutos eleitorais de Nadinho e Jerominho são destoantes. Ao comparar a performance deles nos anos 2000, além do número de votos despassados em zonas eleitorais em que um deles teve votação mediada e o outro votação baixíssima, chama atenção para o desempenho nas zonas eleitorais mais fortes.

A comparação entre Nandinho e o vereador Chiquinho Brasão indica uma correlação espacial baixa. Ainda que não muito forte, o Índice de Moran apresentou uma variação positiva. Nos dois extremos, os índices não estão distantes, na comparação da eleição de 2012 de Brazão com a 2000 de Nadinho o valor foi de 0,187. O valor mais baixo foi de 0,068. Um olhar mais detalhado revela que existem pontos de contato entre os candidatos, mas existem divergências significativas entre os redutos eleitorais. Apesar da indicação de conexão com milícias de Rio das Pedras, os candidatos à vereança não igualaram seu padrão de desempenho em locais vizinhos com Nadinho, o líder local. De modo geral, a correlação foi baixa, sendo o resultado mais significante o de Chiquinho Brazão em relação a Nadinho. Indicando, em consonância com os dados apresentados na seção anterior, uma forte dominância de Nadinho na área em detrimento ao compartilhamento de votos onde é mais forte.


Liga da Justiça


Jerominho é o líder da Liga da Justiça e emplacou Carminha Jerominho como sua sucessora nas tentativas de conseguir uma cadeira na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Jorge Babu, Chiquinho Sepetiba e Israel também tem conexões com o grupo que atua principalmente em Campo Grande, Rio das Pedras e Santa Cruz. Sua filha, Carminha, tem a votação com a distribuição geográfica mais similar à de Jerominho e a correlação estatísticas mais significativa dentre as comparações possíveis. Os Jerominho têm uma expressiva votação nas regiões com presença de milícia, mas sem ter perfil dominante em nenhuma delas. Carminha teve 11 mil votos a menos que o pai. Mas em comum, nas regiões onde obteve sua maior votação foram as mesmas que Jerominho.

Carminha Jerominho e Jorge Babu tem uma correlação espacial relevante quando visto em relação as demais análises. Os dados apontam uma possível transferência de votos também de Babu para Carminha, principal herdeira do capital político da Liga da Justiça após o afastamento de grandes figuras, como seu pai, Jerominho, e o próprio Babu. Em comparação da eleição de Babu em 2004 e Carminha Jerominho em 2008, o índice de Moran I foi de 0,419. A intensidade do Moran I na comparação entre Carminha em 2012 e Babu em 2004 foi um


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pouco menor, devida à redução dos votos totais de Carminha Jerominho, ficando em 0,325. É também possível encontrar correlação entre a distribuição de Carminha e Sepetiba, quando comparado em anos distintos. Os dados da comparação entre os desempenhos eleitorais de 2004 e 2008, respectivamente, apontam um índice de correlação de 0,369 e o dado relativo à comparação entre 2008 e 2012 apresenta um índice de Moran de 0,356.

A comparação dos votos de Carminha Jerominho e Israel é aproximada dos dados apresentados anteriormente. Na comparação entre a eleição de Israel em 2008 e Carminha Jerominho em 2012, o índice de Moran ficou em 0,420 e de 0,488 quando comparado o resultado eleitoral do ano de 2008 de ambos.

A votação de Israel em 2008 e de Carminha em 2012 não foi suficiente para os eleger. Os dois foram suplentes no período. A semelhança da sua distribuição eleitoral é dada sobretudo pelas regiões em que os dois tiveram votações pequenas ou que correspondem a valores medianos do total de votação obtido por eles. Nenhum chama atenção, já que Israel não conseguiu sucesso eleitoral notável nas regiões de milícias ou em outras, com exceção da Zona Eleitoral n.º 25, que atende Guaratiba e parte do bairro de Santa Cruz, controlados por milícias. Chiquinho Sepetiba e Jerominho apresentam uma comparação similar à de Sepetiba com Carminha, devido ao padrão de voto familiar associado aos Jerominhos. Os resultados eleitorais de Sepetiba em 2004 e 2008 e de Jerominho em 2000 e 2004 demonstram uma correlação positiva de 0,384 e 0,443, respectivamente. Em 2008, Chiquinho Sepetiba obteve 346 votos e Jerominho, 479 votos, na Zona Eleitoral n.º 240, na região de Santa Cruz, bairro dominado pelas milícias. Na Zona Eleitoral n.º 243, que atende Guaratiba, Jerominho recebeu 3.443 votos, enquanto Sepetiba obteve 628 votos, representando mais de 6% do total de votos recebidos por Jerominho. Por fim, no principal reduto eleitoral de Chiquinho Sepetiba, a Zona Eleitoral n.º 25, que abrange os bairros de Sepetiba e Santa Cruz, Jerominho obteve 697 votos, enquanto

Chiquinho recebeu 4.617 votos.

O índice de correlação entre os votos de Israel e Jerominho foi um dos mais altos encontrados. Comparando Israel com Jerominho em 2000, o Índice Moran I foi de 0,530, e na eleição de Jerominho em 2004, o índice foi ainda mais forte, atingindo 0,547. Embora Israel tenha obtido uma votação relativamente baixa em comparação com Jerominho, seu principal reduto foi nos bairros de Sepetiba, atendidos pela Zona Eleitoral n.º 25, uma área com presença de milicianos. Em 2008, Israel obteve 431 votos nesta região, enquanto em outras áreas não ultrapassou 200 votos. Jerominho, por sua vez, obteve mais de 600 votos na região de Sepetiba, um número significativo, embora representasse um percentual baixo do total de seus votos.

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A correlação entre Jorge Babu e Chiquinho Sepetiba é inferior à comparação entre esses dois e os Jerominhos. A comparação entre a eleição de Sepetiba em 2004 e a de Babu em 2000 resultou em um índice de apenas 0,087. A correlação aumentou nas eleições subsequentes, com a comparação entre as eleições de Babu em 2004 e Sepetiba em 2008, apresentando um índice de 0,357.

Por fim, os resultados comparados entre Israel e Chiquinho Sepetiba variam entre 0,179 e 0,229 no Índice Moran I. Ambos disputaram e apresentaram maior expressividade eleitoral na mesma região, Sepetiba. Na Zona Eleitoral n.º 25, que engloba os bairros de Sepetiba e Santa Cruz, Israel obteve 431 votos em 2004, seu maior número de votos em uma zona eleitoral. Já Chiquinho Sepetiba recebeu 4.617 votos em 2004 e 5.504 votos em 2008.


Pessoal do Deco


CPI das Milícias aponta o ex-vereador Luiz André Ferreira da Silva, Deco, de chefiar o grupo conhecido por “Pessoal do Deco”. O político chegou a ser condenado por envolvimento com o crime organizado e preso. Segundo a CPI, e outras fontes jornalísticas, Praça Seca, Campinho, Tanque e Quintino, nas zonas norte e oeste da cidade, eram as regiões com gerência de Deco. Jurani, apesar da pouca expressão eleitoral, é citado por sua influência e alianças com o grupo. Ele foi assassinado por disputas de poder entre milicianos.

Os dados, no entanto, não apontam uma correlação entre o padrão de dados de Deco e Jurani. Pelo contrário, é negativamente baixa a pujança do Índice de Moran entre eles. Os dados gerados apresentam um resultado de -0,036 na comparação entre o resultado eleitoral de Deco em 2004 e Jurani em 2008 e de -0,046 na comparação entre a eleição de 2008 de ambos.


Guadalupe


A CPI das Milícias citou Zico Bacana como um dos políticos relacionados aos grupos milicianos na Zona Norte do Rio de Janeiro. Zico tem fortes conexões com a região de Guadalupe. Nela, o candidato teve 67% do seu total de votos em 2008, mais de 2 mil apenas na Zona Eleitoral n° 23. Fontes jornalísticas e investigações policiais indicam também uma possível conexão entre Zico e Girão26. O resultado entre Cristiano Girão e Zico Bacana apresentou um valor abaixo de 0,1 para o Índice de Moran nos dois anos comparados. No primeiro, na eleição de Girão em 2008 e de Zico em 2016, o valor foi de 0,013. Na eleição de Girão em 2004 e de Zico Bacana em 2008, o resultado foi menor, de 0,017.

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Guaratiba e Jardim Maravilha


Jurani, que era policial militar, foi morto pelas milícias. Conforme indicado no Relatório Final da CPI das Milícias, ele e Jerominho teriam relações com as milícias de Guaratiba e Jardim Maravilho. Ambos possuem votação expressiva na região, e Zico Bacana também obteve algum sucesso nas áreas de atuação da Liga da Justiça. Por isso, a correlação de 0,490 nas eleições de Jerominho em 2004 e de 0,495 em 2000, quando comparada com Zico em 2008, é relevante. O principal reduto de Jurani foi a Zona Eleitoral n.º 25, que abrange os bairros de Guaratiba e Sepetiba, onde obteve 1.063 votos. Jerominho também teve uma votação considerável, com 697 votos em 2004. Em outra Zona Eleitoral que atende Guaratiba (n.º 243), Jurani obteve 707 votos, enquanto Jerominho registrou 738 e 3.448 votos em 2000 e 2004, respectivamente.


Considerações finais


A análise dos dados revela um perfil mais compartilhado do que dominante entre os candidatos à vereança vinculados às milícias, contradizendo a hipótese inicial de que esses candidatos dominariam completamente suas zonas eleitorais. Mesmo com votações expressivas, esses candidatos frequentemente dividem o espaço eleitoral com outros candidatos bem votados. A maioria não é sequer o mais votado em sua principal zona eleitoral. As exceções ocorrem com candidatos de grande expressão e controle territorial, como Nadinho de Rio das Pedras, Deco em Jacarepaguá e Chiquinho Brazão em Taquara, o que indica a existência de uma rede de clientela bem-sucedida na conversão de apoio político ou coerção em votos. Todas essas zonas eleitorais incluem seções eleitorais em territórios dominados por milícias. Não se exclui a existência e o sucesso de outras redes de clientela, como a Liga da Justiça dos Jerominho, mas a análise aponta para a permeabilidade de outros nomes nesses territórios e um controle que nem sempre é tão eficaz na conversão de votos.

O dado com menor respaldo na realidade refere-se à dimensão de dispersão e concentração. Embora os resultados apresentem divisões, há um número maior de casos de votações dispersas. Portanto, não é possível afirmar a existência de um perfil específico. A separação entre candidatos dispersos e concentrados não segue um padrão comum entre grupos de milicianos ou qualquer perfil particular entre eles.

Em resumo, os dados apresentados não permitem identificar um perfil consistente dos candidatos das milícias à Câmara Municipal do Rio de Janeiro no eixo de

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dispersão/compartilhamento. Isso ocorre devido à adoção das zonas eleitorais como unidade de análise e à ausência de comparações abrangentes com a população total de candidatos por ano. Por outro lado, no eixo compartilhado/dominante, os dados apresentam consistência ao comparar o desempenho dos candidatos em cada zona eleitoral por pleito.

Ao comparar os perfis de distribuição do voto dos candidatos listados, levando em consideração as indicações de grupos políticos feitas pela CPI das Milícias, foi realizada uma comparação entre duas eleições em anos distintos, utilizando o Índice de Moran I Bivariado. Essa análise teve como objetivo identificar correlações entre os valores das zonas eleitorais vizinhas de candidatos que compartilham atuação política em territórios semelhantes ou pertencem ao mesmo grupo miliciano, conforme registrado pela CPI.

No contexto de Gardênia Azul, figuras como Cristiano Girão, líder apontado pela CPI, e Marcello Siciliano, posteriormente identificado como influente na região, foram sujeitos de comparação. A correlação positiva entre as zonas eleitorais vizinhas desses candidatos revelou- se significativa, variando entre 0,225 e 0,190. Já a comparação entre Chiquinho Brazão e Cristiano Girão demonstrou uma correlação estatisticamente positiva, mas não nula, indicando diferenças nos redutos eleitorais, especialmente em votações medianas.

No que tange à região de Rio das Pedras, Nadinho, líder da milícia local, foi comparado a sua filha Carminha Jerominho e Jorge Babu. A análise indicou uma correlação inversamente ligada entre as zonas eleitorais vizinhas de Nadinho e Carminha Jerominho, ressaltando discrepâncias nos resultados eleitorais em diferentes redutos. Já a comparação entre Nadinho e Jorge Babu não revelou correlações expressivas. Importante destacar a presença de correlações positivas entre Siciliano e Chiquinho Brazão, apontando para uma distribuição similar de votos, indicando a continuidade da disputa por hegemonia local.

A análise da milícia Liga da Justiça envolveu Jerominho, Carminha Jerominho, Jorge Babu, Chiquinho Sepetiba e Israel. A correlação espacial significativa entre Carminha e Babu sugere uma possível transferência de votos entre ambos, especialmente após o afastamento de figuras proeminentes. Correlações entre Carminha Jerominho e Chiquinho, bem como entre Carminha e Israel, indicaram padrões similares de distribuição geográfica de votos.

Finalmente, para o grupo “Pessoal do Deco”, liderado por Luiz André Ferreira da Silva (Deco), não se observou uma correlação significativa entre os padrões eleitorais de Deco e Jurani. Ao contrário, a correlação revelou-se negativamente baixa, indicando diferenças substanciais nos resultados eleitorais entre esses líderes milicianos. De maneira parecida, em


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Guadalupe, a comparação entre Zico Bacana e Cristiano Girão mostrou correlações muito baixas, sugerindo padrões de votação distintos.

Em relação a Guaratiba e Jardim Maravilha, Jurani e Jerominho foram comparados a Zico Bacana. A correlação significativa entre Jerominho e Zico Bacana sugere uma possível influência compartilhada na distribuição geográfica de votos nessas regiões. Em síntese, as análises espaciais evidenciam padrões complexos e variados na distribuição de votos entre líderes milicianos e seus grupos, refletindo dinâmicas eleitorais singulares em diferentes regiões do Rio de Janeiro.


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Anexo 1 – Gráficos da comparação entre os candidatos


Gráfico 2 – Moran Global Bivariado: Cristiano Girão (2004) e Marcello Siciliano (2016)


Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do TSE.


Gráfico 41 – Moran Global Bivariado: Marielle Franco (2016) e Chiquinho Brazão (2012)


Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do TSE.


Gráfico 42 – Moran Global Bivariado: Marielle Franco (2016) e Marcello Siciliano (2016)


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Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do TSE.


Anexo 2 – Tabelas


Tabela 2 – Distribuição das Zonas Eleitorais por bairro e controle das milícias


Bairro

N° das zonas eleitorais

Controle de milícia

Milícia em território vizinho

Saúde

1,2, 193, 204

Não

Não

Laranjeiras

3, 16, 164

Sim, na Favela Julio Otoni

Não

Jardim Botânico

4, 17, 165, 166, 211

Não

Não

Copacabana

5, 18, 205, 206, 252

Não

Não

Maracanã

6, 19, 170, 228

Não

Não

Tijuca

1, 171

Não

Não

Engenho Novo

8

Não

Não

Barra

9, 13, 119, 179

Sim

Sim, Muzema, Rio das Pedras, Jacarepaguá, Gardênia Azul, Recreio dos

Bandeirantes (Favela do Fontela)

Piedade

10

Sim

Sim

Olaria

11, 21, 160, 161, 162,

188

Sim

Sim, Ramos

Cascadura

12, 118, 218, 219, 220

Sim

Sim, Campinho, Quitino Bocaiuva

Todos os santos

14, 207, 208

Não

Sim, Engenho de Dentro, Pilares

Marechal Hermes

15, 23, 217

Não

Guadalupe

Meier

20, 213, 214

Não

Sim, Lins de Vasconcelos

Irajá

22, 176, 190

Sim

Sim, Vigário Geral, Jardim

América, Brás de Pina

Bangu

24, 124, 230, 231, 232,

233, 234, 235, 236, 237,

238

Sim

Sim, Jacarepaguá, Campo Grande

Santa Cruz

25, 125, 240, 241, 243,

246

Sim

Sim, Campo Grande

Ilha do Governador

117, 191

Não


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Campo Grande

120, 122, 242, 244

Sim

Sim, Santa Cruz, Bangu, Jacarepaguá

Ramos

121

Sim

Sim, Complexo do Alemão

Deodoro

123, 178

Não

Sim, Guadalupe

Catete

163

Não

Sim

Guadalupe

167, 175

Sim

Sim, Costa Barros

Parada de Lucas

177

Não

Sim, Jardim América

Taquara

180, 182, 209, 210

Sim

Jacarepaguá, Tanque

Praça Seca

185

Sim

Campinho, Cascadura, Tanque

Vila da Penha

189

Não

Brás da Pina, Irajá

Portuguesa

192

Não

Não

Del Castilho

215, 216

Sim

Inhauma

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados Mapa dos grupos armados do Rio de Janeiro (Fogo Cruzado, o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense, o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, o Disque-Denúncia e a plataforma digital Pista News) e no Relatório.


Tabela 3 – Localização das Zonas Eleitorais da cidade do Rio de Janeiro


ZE

ENDEREÇO

BAIRRO

L

1

RUA SACADURA CABRAL, 226

SAUDE

-43.18976

2

RUA SACADURA CABRAL 226 FUNDOS SOBRADO

SAUDE

-43.18976

3

RUA CONDE DE BAEPENDI, 40

LARANJEIRAS

-43.17902

4

RUA JARDIM BOTÂNICO 1060

JARDIM BOTÂNICO

-43.224.4

5

RUA MIGUEL LEMOS 97 - TERREO

COPACABANA

-43.19272

6

AV. PROF. MANOEL DE ABREU 286

MARACANÃ

-43.23447

7

RUA ANTONIO BASILIO 76

TIJUCA

-43.23586

8

RUA 24 DE MAIO 931 - FUNDOS

ENGENHO NOVO

-43.267.8

9

AV AYRTON SENNA 2001 BLOCO C

BARRA

-43.36795

10

RUA ASSIS CARNEIRO 436

PIEDADE

-43.31197

11

RUA FILOMENA NUNES, 961

OLARIA

-43.26607

12

AV. DOM HELDER CAMARA 10121 - TERCEIRO ANDAR

CASCADURA

-4.332.48

13

AV. AYRTON SENNA 2001 BLOCO C - FRENTE

BARRA

-43.36795

14

RUA GETULIO 127

TODOS OS SANTOS

-43.28052

15

RUA JOAO VICENTE 1545

MARECHAL HERMES

-43.37056

16

RUA MINISTRO TAVARES DE LIRA 128

LARANJEIRAS

-43.179.1

17

RUA JARDIM BOTÂNICO 1060

JARDIM BOTÂNICO

-43.22450

18

RUA MIGUEL LEMOS 97 - 3 ANDAR

COPACABANA

-43.19272

19

AVENIDA PROFESSOR MANOEL DE ABREU 286

MARACANÃ

-43.23460

20

RUA DIAS DA CRUZ 787 - SEGUNDO ANDAR

MEIER

-43.29586

21

RUA FILOMENA NUNES 971

OLARIA

-43.26598


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22

AV. MONSENHOR FELIX 512- XIV REGIÃO ADMINISTRATIVA

IRAJÁ

-43.32321

23

RUA JOAO VICENTE 1545 A

MARECHAL HERMES

-43.37056

24

RUA FIGUEIREDO CAMARGO 1133 SALA 204

BANGU

-43.461.1

25

PRAÇA DA SUPERINTENDÊNCIA 420

SANTA CRUZ

-43.68653

117

PRAIA DA OLARIA, S/N - COCOTÁ

ILHA DO GOVERNADOR

-43.179.3

118

AV. DOM HELDER CAMARA, 10.121 - 2 ANDAR

CASCADURA

-43.32476

119

AV. AYRTON SENNA 2001 BLOCO C

BARRA

-43.36772

120

RUA TAQUAREMBÓ S/N- 2 ANDAR (REGIONAL DE CAMPO GRANDE)

CAMPO GRANDE

-4.357.28

121

RUA URANOS 1230 SALA 06

RAMOS

-43.263.9

122

RUA COXILHA S/N - ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE CAMPO GRANDE

CAMPO GRANDE

-43.573.5

123

RUA FERNÃO DIAS S/N

DEODORO

-43.38655

124

RUA FIGUEIREDO CAMARGO, N. 1133, SALA 303

BANGU

-43.461.1

125

RUA MARTINHO DE CAMPOS S/N POSTO AGRICOLA

SANTA CRUZ

-43.68564

160

RUA FILOMENA NUNES 961 - OLARIA

OLARIA

-43.26598

161

RUA LUCENA, S/N,OLARIA (ANTIGO FÓRUM,ATRÁS DO CLUBE OLARIA) 21.021-320

OLARIA

-43.26698

162

RUA LUCENA S/N (ANTIGO PREDIO DO FORUM LEOPOLDINA)

OLARIA

-43.26698

163

RUA MINISTRO TAVARES DE LIRA 128

CATETE

-4.346.10

164

RUA MINISTRO TAVARES DE LIRA 128

LARANJEIRAS

-4.346.10

165

RUA JARDIM BOTANICO 1060

JARDIM BOTÂNICO

-43.22452

166

RUA JARDIM BOTANICO 1060

JARDIM BOTÂNICO

-43.22452

167

ESTRADA DO CAMBOATÁ 2300, SALAS 201/203- GUADALUPE SHOPPING

GUADALUPE

-4.338.17

168

AV DOM HELDER CAMARA 4175 - 2 ANDAR

DEL CASTILHO

-43.274.2

169

AV. DOS DEMOCRATICOS 1090 (ABRIGO CRISTO REDENTOR)

HIGIENÓPOLIS

-4.327.42

170

AV. PROFESSOR MANUEL DE ABREU, 286

MARACANÃ

-43.23447

171

RUA ANTONIO BASILIO, 76

TIJUCA

-43.23586

173

RUA VISCONDE DE SANTA ISABEL 34 - 3. ANDAR

VILA ISABEL

-43.252.6

175

ESTRADA DO CAMBOATÁ, 2300, SALAS 204, GUADALUPE SHOPPING

GUADALUPE

-43.381.7

176

AV MONSENHOR FELIX, 512

IRAJÁ

-43.32321

177

AV. MONSENHOR FELIX 512

PARADA DE LUCAS

-43.32321

178

RUA FERNÃO DIAS S/N

DEODORO

-43.38655


Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0107. DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1083 35



A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro



179

AV. AYRTON SENNA 2001 BLOCO C BARRA DA TIJUCA

BARRA

-43.367.7

180

RUA GODOFREDO VIANA, 400

TAQUARA

-43.36783

182

RUA GODOFREDO VIANA, 400

TAQUARA

-43.36783

185

PRAÇA SECA 09

PRAÇA SECA

-4.335.15

188

RUA LEOPOLDINA REGO 754 - XI R.A.

OLARIA

-4.327.11

189

RUA ÁPIA 257 - SALAS 201/202/206

VILA DA PENHA

-4.330.15

190

AV. MONSENHOR FÉLIX 512 - XIV R.A.

IRAJÁ

-4.332.43

191

ESTRADA DA CACUIA, 1574

ILHA DO GOVERNADOR

-43.18142

192

RUA ORCADAS 435 - SALA 12 - XX RA (SUBPREFEITURA DA ILHA DO GOVERNADOR

PORTUGUESA

-43.20036

193

RUA SACADURA CABRAL, 226

SAUDE

-43.18966

204

RUA SACADURA CABRAL 226 - TERREO

SAUDE

-43.18966

205

RUA MIGUEL LEMOS 97 - 1 ANDAR

COPACABANA

-43.19272

206

RUA MIGUEL LEMOS 97 - 1 ANDAR

COPACABANA

-43.19272

207

RUA GETÚLIO 127

TODOS OS SANTOS

-43.28052

208

RUA GETÚLIO, 127/ SEGUNDO ANDAR

TODOS OS SANTOS

-43.28052

209

RUA GODOFREDO VIANA, 400

TAQUARA

-43.36783

210

RUA GODOFREDO VIANA, 400

TAQUARA

-43.36783

211

RUA JARDIM BOTÂNICO 1060

JARDIM BOTÂNICO

-43.22452

212

RUA JARDIM BOTÂNICO 1060

JARDIM BOTÂNICO

-43.22452

213

RUA DIAS DA CRUZ, 787, 3 ANDAR

MEIER

-43.29586

214

RUA DIAS DA CRUZ 720-A

MEIER

-43.29586

215

AV DOM HELDER CAMARA 4175 - 1 ANDAR

DEL CASTILHO

-43.27423

216

AV DOM HELDER CAMARA 4175 - 2 ANDAR

DEL CASTILHO

-43.27423

217

RUA XAVIER CURADO S/N (CETEP - FAETEC)

MARECHAL HERMES

-4.337.56

218

RUA SIDÔNIO PAIS, 54, LOJA 5

CASCADURA

-43.32592

219

RUA SIDÔNIO PAES, 54 LOJA 06

CASCADURA

-43.32592

220

RUA SIDÔNIO PAIS, 54 - LOJA 4

CASCADURA

-43.32592

228

AV. PROFESSOR MANOEL DE ABREU, 286

MARACANÃ

-43.23460

229

RUA HADDOCK LOBO, 72 - SALA 106

ESTÁCIO

-43.208.8

230

RUA FIGUEIREDO CAMARGO 1133 - SALA 205

BANGU

-4.346.10

231

RUA FIGUEIREDO CAMARGO, 1133, SALA 201

BANGU

-4.346.10

232

RUA FIGUEIREDO CAMARGO, 1133 SL 304

BANGU

-4.346.10

233

RUA FIGUEIREDO CAMARGO, 1.133 - SALA 202

BANGU

-4.346.10

234

RUA FIGUEIREDO CAMARGO, 1133, SALA 203

BANGU

-4.346.10


Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0107. DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1083 36

Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO



235

RUA FIGUEIREDO CAMARGO, 1133 SL. 302

BANGU

-4.346.10

236

RUA FIGUEIREDO CAMARGO, 1133/301

BANGU

-4.346.10

237

RUA FIGUEIREDO CAMARGO, 1133, SALA 305

BANGU

-4.346.10

238

RUA SILVA CARDOSO 349 SL 13 - XVII R.A.

BANGU

-4.346.10

240

RUA MARTINHO DE CAMPOS S/N

SANTA CRUZ

-43.68565

241

RUA MARTINHO DE CAMPOS S/N POSTO AGRICOLA

SANTA CRUZ

-43.68565

242

AV. CESARIO DE MELLO 3963

CAMPO GRANDE

-4.356.97

243

RUA MARTINHO DE CAMPOS S/N

SANTA CRUZ

-43.68565

244

RUA DOM PEDRITO 1 - XVIII R.A.

CAMPO GRANDE

-43.573.0

245

ANTIGA ESTRADA RIO-SAO PAULO 176

CAMPO GRANDE

-4.355.95

246

RUA MARTINHO DE CAMPOS S/N POSTO AGRÍCOLA

SANTA CRUZ

-43.68565

252

RUA MIGUEL LEMOS 97 3 ANDAR

COPACABANA

-43.19272

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro.


Tabela 4 – Número de eleitores por Zonas Eleitorais


N° da ZE

BAIRRO

2000

2004

2008

2012

2016

Variação

1

SAUDE

32527

31366

29632

28784

28357

-12,82%

2

SAUDE

49166

49063

48278

48424

49511

0,70%

3

LARANJEIRAS

47445

44340

43604

43011

42330

-10,78%

4

JARDIM BOTÂNICO

50049

49754

49247

49414

49210

-1,68%

5

COPACABANA

41142

38337

37327

36814

35859

-12,84%

6

MARACANÃ

35225

34225

33216

32483

31762

-9,83%

7

TIJUCA

75423

72156

71725

72131

72571

-3,78%

8

ENGENHO NOVO

47428

49310

49534

49654

51460

8,50%

9

BARRA

41753

57969

75154

94034

111397

166,80%

10

PIEDADE

50353

52233

52747

52796

53442

6,13%

11

OLARIA

43551

43844

43724

43624

43730

0,41%

12

CASCADURA

23608

23550

23079

22592

22129

-6,26%

13

BARRA

58899

57607

57134

58125

59329

0,73%

14

TODOS OS SANTOS

39320

37654

37069

36476

35865

-8,79%

15

MARECHAL HERMES

38551

37817

36528

35378

34693

-10,01%


Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0107. DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1083 37

A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro


16

LARANJEIRAS

54001

51041

50557

50225

50195

-7,05%

17

JARDIM BOTÂNICO

53583

53067

51683

50809

49447

-7,72%

18

COPACABANA

34034

33037

31915

31155

29985

-11,90%

19

MARACANÃ

51335

51992

51451

50546

49697

-3,19%

20

MEIER

42507

44316

45250

46089

46947

10,45%

21

OLARIA

40814

45979

49516

54264

58331

42,92%

22

IRAJÁ

66914

67619

66670

65856

65783

-1,69%

23

MARECHAL HERMES

49836

51534

51831

52537

53611

7,57%

24

BANGU

53956

57594

59594

61634

64058

18,72%

25

SANTA CRUZ

31831

43727

55018

63908

75454

137,05%


117

ILHA DO GOVERNADOR


49806


50248


48725


47960


47290


-5,05%

118

CASCADURA

33468

38067

40215

42017

44164

31,96%

119

BARRA

46678

55393

64816

73193

79216

69,71%

120

CAMPO GRANDE

39432

45205

51001

69547

75349

91,09%

121

RAMOS

34468

34032

32445

31732

31057

-9,90%

122

CAMPO GRANDE

47115

53756

61082

67871

76102

61,52%

123

DEODORO

43550

47124

48733

51579

52140

19,72%

124

BANGU

35191

34328

33362

32651

32131

-8,70%

125

SANTA CRUZ

39385

42074

46347

49810

55617

41,21%

160

OLARIA

44954

44464

43483

43235

43269

-3,75%

161

OLARIA

64326

70227

76259

80482

84665

31,62%

162

OLARIA

44847

42853

43096

43315

43840

-2,25%

163

CATETE

51570

46827

45890

45652

44994

-12,75%

164

LARANJEIRAS

32598

32195

31615

31634

32260

-1,04%

165

JARDIM BOTÂNICO

33142

31986

30637

29644

28600

-13,70%

166

JARDIM BOTÂNICO

36142

36034

35601

35770

36024

-0,33%

167

GUADALUPE

54046

58916

64688

68843

71316

31,95%

168

DEL CASTILHO

40104

39790

39239

39449

40274

0,42%

169

HIGIENÓPOLIS

52688

52036

51112

51186

52542

-0,28%


Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0107. DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1083 38



Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO



170

MARACANÃ

51541

52812

53016

53409

53887

4,55%

171

TIJUCA

42475

42567

41747

41646

42026

-1,06%

173

VILA ISABEL

38779

36740

36158

36649

37501

-3,30%

175

GUADALUPE

35417

49852

51749

52727

53625

51,41%

176

IRAJÁ

44177

45305

46276

47251

48324

9,39%

177

PARADA DE LUCAS

48893

48980

48349

47920

47670

-2,50%

178

DEODORO

32752

34982

36362

36367

38452

17,40%

179

BARRA

54753

79711

94205

107299

121087

121,15%

180

TAQUARA

73269

73612

77968

82249

87037

18,79%

182

TAQUARA

51414

13790

68490

78072

86695

68,62%

185

PRAÇA SECA

46220

49708

54279

57939

61664

33,41%

188

OLARIA

42458

44771

45437

45838

47085

10,90%

189

VILA DA PENHA

40522

42626

43802

45225

47073

16,17%

190

IRAJÁ

41679

43111

43747

43829

44150

5,93%


191

ILHA DO GOVERNADOR


46711


50704


53027


55647


58642


25,54%

192

PORTUGUESA

58567

60933

62299

63766

65060

11,09%

193

SAUDE

32000

34203

37012

39225

39572

23,66%

204

SAUDE

39498

38555

37850

37196

36320

-8,05%

205

COPACABANA

37768

33867

32556

31650

30955

-18,04%

206

COPACABANA

34674

35037

34724

34604

34301

-1,08%

207

TODOS OS SANTOS

27765

28905

29201

29487

29946

7,86%

208

TODOS OS SANTOS

33502

32561

31086

29992

28926

-13,66%

209

TAQUARA

35162

35766

35847

36054

36168

2,86%

210

TAQUARA

34135

37160

39846

42342

44599

30,65%

211

JARDIM BOTÂNICO

57278

63729

67288

71008

75755

32,26%

212

JARDIM BOTÂNICO

27976

27694

26883

26396

26022

-6,98%

213

MEIER

47629

46640

45159

44410

44235

-7,13%

214

MEIER

49519

49930

49771

49887

49850

0,67%

215

DEL CASTILHO

41134

41335

40920

40515

40518

-1,50%

216

DEL CASTILHO

37654

39254

40401

41152

43783

16,28%


Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0107. DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1083 39

A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro



217

MARECHAL HERMES

51238

50615

50233

50026

50081

-2,26%

218

CASCADURA

51586

53721

54254

54721

55043

6,70%

219

CASCADURA

60342

61207

61665

61839

62846

4,15%

220

CASCADURA

34601

37356

38813

40801

42872

23,90%

228

MARACANÃ

30717

28278

27473

26602

25973

-15,44%

229

ESTÁCIO

55601

54656

55836

57730

60547

8,90%

230

BANGU

38451

43418

47534

52359

58021

50,90%

231

BANGU

34536

36467

37956

39175

40637

17,67%

232

BANGU

34180

34258

33653

33112

33008

-3,43%

233

BANGU

38595

43509

45225

46844

48284

25,10%

234

BANGU

37200

41881

44229

46162

48263

29,74%

235

BANGU

40044

38679

38503

38092

37940

-5,25%

236

BANGU

25677

24481

23530

23107

22631

-11,86%

237

BANGU

39648

39833

40128

40442

42187

6,40%

238

BANGU

34556

39190

41909

44839

47833

38,42%

240

SANTA CRUZ

47928

44795

44620

44432

44443

-7,27%

241

SANTA CRUZ

38599

44821

50430

56208

62235

61,23%

242

CAMPO GRANDE

51047

52353

53707

64937

68893

34,96%

243

SANTA CRUZ

41734

52462

64261

52118

63519

52,20%

244

CAMPO GRANDE

36711

35709

35067

34973

35915

-2,17%

245

CAMPO GRANDE

46198

55238

60479

64393

68141

47,50%

246

SANTA CRUZ

55588

65305

76608

85795

96353

73,33%

252

COPACABANA

40269

42842

43828

44816

45444

15,54%


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Anexo 3 – Gráficos do Índice de Moran por candidato


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A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro


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Fonte: Elaboração própria, baseado em dados do Superior Tribunal Eleitoral (TSE).


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