LA GEOGRAFÍA DEL VOTO DE LOS PARAMILITARES EN LA CIUDAD DE RÍO DE JANEIRO
THE GEOGRAPHY OF THE PARAMILITARY GROUP'S VOTE IN CITY OF RIO DE JANEIRO
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LINS, I. N.; MACHADO, C. A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro. Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236- 0107. DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1083 | |
| Submetido em: 21/11/2023 | Revisões requeridas em: 15/04/2024 | Aprovado em: 19/05/2024 | Publicado em: 11/12/2024 |
Editora: | Profa. Dra. Simone Diniz |
Editor Adjunto Executivo: | Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz |
1 Doutorando em ciência política no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Núcleo de Pesquisa Flora Tristán: representações, conflitos e direitos. Brasília, DF, Brasil. 2 Professor Adjunto do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (IPOL-UnB) e coordenador do Núcleo de Pesquisa Flora Tristán: representações, conflitos e direitos. Brasília, DF, Brasil.
A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro
RESUMEN: La relación entre milicias y política en Río de Janeiro es analizada, con un enfoque en la distribución geográfica de los votos de los candidatos al concejo vinculados a estos grupos. Se utilizaron datos electorales de 2000 a 2016, información de la CPI de Milicias y fuentes periodísticas para mapear la presencia de milicias en zonas electorales y analizar el desempeño de los candidatos. Aplicando la tipología de Ames (2003), se constató que, aunque algunos candidatos mostraban concentración de votos, el dominio electoral fue la excepción. La influencia territorial de las milicias no implica un control total del voto, indicando la presencia de otros actores políticos. Se observaron variaciones en la correlación espacial de los votos de los candidatos vinculados al mismo grupo, revelando influencias compartidas o patrones distintos. Se concluye que el control territorial por parte de las milicias no garantiza un dominio electoral absoluto, sugiriendo la necesidad de estudios futuros sobre la compleja interacción entre crimen organizado, política y elecciones.
PALABRAS CLAVE: Milicias. Control territorial. Geografía electoral. Elecciones municipales. Política local.
ABSTRACT: The relationship between paramilitary groups (milícias) and politics in Rio de Janeiro is analyzed, focusing on the geographical distribution of votes for council candidates linked to these groups. Electoral data from 2000 to 2016, information from the CPI of Militias, and journalistic sources were used to map the presence of paramilitary groups (milícias) in electoral zones and analyze candidate performance. Applying Ames' (2003) typology, it was found that although some candidates showed vote concentration, electoral dominance was the exception. The territorial influence of paramilitary groups (milícias) does not imply total vote control, indicating the presence of other political actors. Variations in the spatial correlation of votes for candidates linked to the same group were observed, revealing shared influences or distinct patterns. It is concluded that territorial control by paramilitary groups (milícias) does not guarantee absolute electoral dominance, suggesting the need for future studies on the complex interaction between organized crime, politics, and elections.
KEYWORDS: Paramilitary groups. Territorial control. Electoral geography. Municipal elections local politics.
Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO
Desde o início dos anos 2000, o cenário eleitoral no Rio de Janeiro tem sido marcado pela presença de milicianos, como candidatos ou intermediadores das campanhas. Políticos como Nadinho de Rio das Pedras, Jorge Babu, Jerominho, sua filha Carminha Jerominho e a família Brazão exemplificam a penetração de milicianos na política institucional. A combinação de um crescente almejo eleitoral, domínio sobre um vasto eleitorado e controle territorial rigoroso tem sido a chave para o sucesso eleitoral nas últimas duas décadas, transformando as eleições em um elemento da economia criminal das milícias.
Apesar das ações do Estado contra as milícias, sobretudo no âmbito penal, levando muitas de suas atividades para a clandestinidade, especialmente após a CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), a influência desses grupos permanece significativamente ativa. As investigações sobre o fenômeno são predominantemente etnográficas e observacionais na literatura brasileira. No entanto, o Relatório Final da CPI das Milícias ofereceu uma rica fonte de dados, revelando nomes de políticos ligados a esses grupos e detalhando suas estratégias eleitorais.
Este estudo se dedica a explorar os padrões espaciais dos votos desses candidatos, através de análise espacial das bases eleitorais em eleições proporcionais de lista aberta. Nosso objetivo é verificar se o apoio das milícias resulta em votos nas regiões que dominam e se o perfil dos votos desses vereadores é mais concentrado nessas áreas. Especificamente, analisaremos a aplicabilidade da tipologia de Ames (2003) para entender esses candidatos e se nossa abordagem espacial fornece uma representação estatisticamente confiável e teoricamente sólida. A hipótese central é que os candidatos milicianos exibem um padrão de votação distintivo, dominante e concentrado nas áreas que controlam. A metodologia empregada é quantitativa e exploratória, utilizando a análise de autocorrelação espacial para examinar as zonas eleitorais.
Este trabalho evidencia como o controle territorial, as milícias e as eleições estão intrinsecamente ligados. Mapas demonstram a correspondência entre zonas eleitorais e áreas sob influência miliciana, ressaltando o impacto desses grupos nas eleições. Além disso, exploramos o crescimento populacional nas regiões milicianas e sua importância política. Por fim, serão abordadas as ligações entre grupos milicianos e vereadores, permitindo comparações nos padrões de distribuição de votos. Os vereadores são divididos com base nos grupos aos quais estão supostamente vinculados, buscando identificar correlações entre votos em diferentes eleições e a atuação conjunta ou afiliação a grupos milicianos.
A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro
O sistema eleitoral organiza a vida eleitoral através de um conjunto de regras que determinam como os votos se convertem em cadeiras nos poderes Legislativo e Executivo. O Brasil adota o sistema proporcional de lista aberta para preencher as cadeiras no Legislativo, um método considerado mais pluralista. Este sistema, por ser proporcional e não majoritário, evita que um único partido ou candidato ocupe todos os assentos ou um assento principal. Ele permite, em tese, que diversos grupos políticos, partidos ou coligações ganhem cadeiras, mesmo sem alcançar a maioria dos assentos. Isso influencia as estratégias partidárias e individuais dos candidatos, encorajando os partidos a apresentar candidaturas que reflitam alguma diversidade regional e incentivando os candidatos a buscar nichos específicos do eleitorado (Sachet, 2018).
O sistema eleitoral de lista aberta motiva os candidatos a se diferenciar de seus colegas de partido ou concorrentes locais ao focar em segmentos específicos da população. Isso torna vantajoso buscar apoio consistente nas geografias eleitorais dos municípios, pois o voto e a campanha se centram mais no candidato do que no partido. Neste sistema, os candidatos tendem a adotar estratégias de conquista de voto local, diferentemente do que acontece no sistema de lista fechada (Jankowski, 2016). Os candidatos muitas vezes são derrotados por outros da própria lista partidária devido à concorrência interna, onde o voto partidário tem valor reduzido e os candidatos frequentemente perdem por não atingirem uma votação suficiente, apesar do desempenho do partido. Frequentemente, candidatos não são reeleitos por serem superados por outros na própria lista partidária (Nicolau, 2006; Sonia Terron, 2010; Jankowski, 2016).
Dessa forma, a lista aberta obriga o candidato a competir com outros do mesmo partido, exigindo estratégias de campanha mais personalizadas e uma reputação atraente o suficiente para garantir a preferência dos eleitores (Jankowski, 2016). Esse cenário reforça a estrutura de campanhas personalistas que prevalecem no Brasil.
A relativa independência dos candidatos em relação aos partidos é marcante no sistema de lista aberta, onde não há uma ordem pré-estabelecida pelos partidos para os eleitos. Isso privilegia os candidatos bem conhecidos e bem financiados na corrida eleitoral, levando os partidos a se voltarem cada vez mais para estratégias típicas de clientelismo político em detrimento de dinâmicas mais ideológicas de disputa político-eleitoral (Sachet, 2018). No sistema atual, o partido tem um poder reduzido de influência no voto, e a conexão fora da estrutura partidária se torna mais relevante para a maioria dos candidatos a cargos proporcionais.
Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO
O foco principal no jogo eleitoral é o candidato, tornando a vida municipal decisiva para a eleição de deputados federais e estaduais, assim como para a competição por cargos de vereador. Além disso, existe uma predominância do tipo de prestação de contas geográfico, com candidatos priorizando regiões onde receberam votação expressiva (Nicolau, 2006). Pesquisas empíricas, como a de Jankowski (2016), mostram que os candidatos recebem mais votos quando residem perto de seus distritos eleitorais, sugerindo que o contato e a proximidade residencial com os eleitores ajudam a formar um reduto eleitoral ou distrito informal. O eleitor valoriza a conexão do candidato com o território, e os candidatos adotam perfis regionalizados e estratégias de campanha e atuação parlamentar focadas localmente.
Barry Ames (2012) explica que, no sistema proporcional de lista aberta, os candidatos não precisam de grandes fatias de eleitorado ou do eleitorado médio. Eles podem concentrar seus votos em “coortes” de eleitores específicos, buscando benefícios geograficamente individualizáveis para viabilizar uma política local clientelista. Apesar de idealmente buscarem votos em todas as regiões do distrito eleitoral (a cidade ou o estado), os candidatos ao Legislativo delimitam suas campanhas a partir de lógicas geográficas. É comum a existência de intermediários que controlam o acesso a grupos de eleitores através de uma combinação entre coerção violenta e distribuição de cargos e favores. Os políticos oferecem participação em contratos públicos e benefícios financeiros para esses intermediários. Quanto maior o controle e as barreiras impostas pelos intermediários, mais os políticos pagam para acessar os votos (Ames, 2012; Trudeau, 2022). A geografia eleitoral explora por que candidatos recebem apoio eleitoral variado em diferentes localidades, examinando os fatores que interagem complexamente nesse contexto (Soares; Terron, 2008). As estratégias eleitorais refletem a lógica de dominação subnacional, onde presidentes e governadores cooptam apoio mediante a distribuição de cargos e recursos estatais, influenciando a competição partidária (Borges et al., 2016). Ames (2003) propõe uma tipologia para analisar os padrões de votação nas eleições para deputados federais, considerando as características de distribuição de votos nos municípios ou distritos eleitorais, conforme a tabela abaixo.
Dominante | Compartilhado | |
Concentrado | Votos altamente concentrados em locais específicos com um candidato claramente predominante. | Votos concentrados em locais específicos, mas divididos entre múltiplos candidatos. |
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Disperso | Votos espalhados amplamente, com um candidato liderando em várias áreas. | Votos distribuídos amplamente, sem um único candidato predominante em muitas áreas. |
Fonte: Elaboração própria.
O primeiro padrão, concentrados-dominantes, é caracterizado pelo domínio eleitoral em grupos específicos de municípios ou bairros. Nesses locais, as redes familiares ou políticas do candidato frequentemente têm uma tradição de influência, ou são formados acordos com líderes locais para garantir apoio. Este cenário, conforme descrito por André Borges et al. (2016), indica que os parlamentares conseguem acumular uma quantidade significativa de votos em uma região-chave, estabelecendo uma base eleitoral sólida.
Em contraste, o padrão concentrados compartilhados, envolve candidatos que atraem eleitores em diversas regiões, especialmente em grandes cidades e capitais onde o eleitorado é extenso e disperso. Esses candidatos não dominam um único local, mas têm apelo entre grupos de eleitores que se identificam com temas específicos ou políticas particulares, em vez de benefícios diretos. Este modelo, explicado por Borges et al. (2016), mostra uma dinâmica eleitoral onde o apoio é menos sobre influência territorial e mais sobre conexão com preocupações amplas dos eleitores.
O terceiro tipo, dispersos compartilhados, refere-se a candidatos que atraem grupos pequenos de eleitores dentro de um mesmo município ou estado, como é o caso de muitos candidatos religiosos. Esses indivíduos recebem votos de eleitores espalhados geograficamente e têm menos dependência de redes locais. Os votos são mais ideológicos, mobilizando minorias por todo o estado. Borges et al. (2016) destacam que esses candidatos geralmente têm experiência em cargos estaduais ou nacionais, o que os torna conhecidos em uma escala mais ampla.
Por fim, o padrão dispersos-dominados está associado a candidatos burocratas de nível estadual ou políticos que mantêm alianças com líderes locais, muitas vezes em contextos que sugerem relações clientelistas. Esses parlamentares têm uma votação dispersa por diversos municípios, mas com uma dominância considerável onde possuem redes estabelecidas. Esse grupo é composto por políticos que anteriormente ocuparam cargos que lhes permitiram implementar políticas públicas diretamente, criando uma base de apoio através de benefícios distribuídos.
Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO
As milícias são a mais destacada manifestação da interação entre o crime organizado, o Estado e a política territorial no contexto criminal brasileiro, sobretudo a nível subnacional. Originaram-se de grupos de extermínio compostos por policiais militares, outros agentes estatais e assassinos de aluguel. Na década de 1980, esses policiais, conhecidos como “polícia mineira”, começaram a coletar informações sobre atividades ilícitas em Rio das Pedras, um bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, para extorquir criminosos3. Esses grupos eram notórios por espancar e assassinar criminosos em troca de pagamentos periódicos (Zaluar; Conceição, 2007; Silva et al., 2008, Alves, 2020). Segundo Manso (2020), o conhecimento detalhado dos policiais sobre a dinâmica criminal nas periferias do Rio de Janeiro facilitou a formação dessas milícias. O termo “polícia mineira” derivou da prática de “minerar” ou “garimpar” as favelas à procura de criminosos ricos o suficiente para formar alianças ou para serem extorquidos. Através da oferta de segurança privada e da exploração de criminosos locais, a “polícia mineira” expandiu sua atuação para outros bairros do Rio, marcando o início das milícias. Este grupo evoluiu incluindo pistoleiros, líderes políticos e associações locais, culminando na formação da “Liga da Justiça”, como a imprensa e pesquisadores começaram a referir-se às milícias a partir de 2006 (Misse, 2011).
As milícias expandiram seu poder político, infiltrando-se no Executivo, Legislativo e
até no Judiciário, estabelecendo uma extensa rede dentro do poder público (Zaluar; Conceição, 2007; Arias, 2009). Arias (2013) observa que as milícias se dedicam ativamente à política formal, controlando grupos cívicos e mobilizando atores armados nas regiões onde operam, influenciando diretamente nos processos eleitorais e nas políticas públicas. Os consórcios delitivos das milícias demonstram duas capacidades políticas decorrentes de sua governança criminal: a consolidação territorial, tanto interna quanto nas áreas periféricas sob seu controle, lhes confere acesso e influência sem precedentes sobre eleitores em potencial. Além disso, a autonomia em relação a organizações políticas convencionais, como partidos e movimentos sociais, permite que exerçam uma influência substancial nos processos eleitorais (Trudeu, 2022). Pesquisas recentes de Lins e Machado (2023) sugerem que as milícias vão além da simples adoção de estratégias de organizações políticas tradicionais, regulamentando efetivamente o processo político e assumindo funções de instituições políticas locais.
3 Nos anos 50 e 60, o "Grupo de Diligências Especiais" e a "Scuderie Le Cocq", compostos pela Polícia do Rio de Janeiro, eram os principais grupos de extermínio do país. Seu modelo de atuação se espalhou pelo país (MISSE, 2011: 21).
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O território é a principal fonte de disputas entre grupos do crime organizado e constitui o principal objeto de dominação política dos milicianos nas periferias do Rio de Janeiro (Manso, 2020). O território não só organiza uma série de processos políticos formais e é crucial para a formulação de políticas públicas, mas também representa a condição primária para a representação política desde a formação do Estado moderno. A emergência de uma classe dirigente na modernidade veio junto com a concepção de território, marcada por um controle rigoroso sobre a circulação de bens e pessoas. Este controle e submissão territorial facilitaram a centralização do poder político, como Iná Elias de Castro (2005) argumenta.
Nadia Urbinati e Mark Warren (2008) consideram o território como a régua para o compartilhamento de poder e um fundamento principal para organizar a representação política. Seguindo essa lógica, o local de residência define onde o indivíduo pode votar, ser votado e a quem pode dar ou receber votos, territorializando os fenômenos políticos (Castro, 2005).
A política, vista como a intermediação e expressão dos conflitos sociais, tem sua base material e simbólica no território (Castro, 2005). A importância do território vai além do voto; quando se considera os territórios eleitorais, o peso das campanhas, o exercício do mandato e a accountability vertical podem ser exercidos a partir da lógica local (Terron, 2010). Em um Estado federativo, as eleições são organizadas primordialmente a partir das dinâmicas espaciais dos estados e municípios. O que inclui: a organização espacial das eleições, especialmente a definição de distritos eleitorais; a variação espacial dos padrões de votação em relação à variação das características da população; a influência de fatores regionais em atitudes e decisões de votação; padrões espaciais de representação política que resultam na tradução de votos em cadeiras em um corpo representativo; variações espaciais no nível de poder e a implementação de políticas que refletem nos padrões de representação (Zolnerkevic; Raffo, 2013).
Do ponto de vista da geografia política, a representação é uma relação entre a comunidade política de um território (nacional ou subnacional) e os representantes. A representação política baseada na territorialidade emergiu como uma forma de trazer os complexos conflitos de interesse para as arenas da política institucional, especialmente ao Poder Legislativo. O Estado, como principal espaço do fazer político, reflete a importância do território que legitima e fundamenta o domínio estatal e sua estrutura de poder político- territorial. Assim, o espaço estatal é onde ocorrem a maioria dos conflitos políticos e o território fundamenta as ações políticas (Castro, 2005).
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Nesse contexto, surgem novas formas de representação política no campo da informalidade, já que a democracia transcende os mecanismos formais de tomada de decisão e a representação eleitoral não consegue capturar a totalidade e complexidade dos grupos políticos. Segundo Nadia Urbinati e Mark Warren (2008), as eleições são apenas um subconjunto representativo das formas complexas de representação política, onde o representado autoriza o representante a expressar seus interesses nas instituições políticas.
A legitimidade democrática é caracterizada pelo sistema eleitoral, mas a representação política pode ter um caráter idealizador e ultrapassar os limites definidos pelas instituições e pelas formas em que a cidadania se manifesta geograficamente. As preferências do eleitor são representadas numa eleição em que se constituem um governo e uma oposição, permitindo a todos participarem na criação de um órgão representativo (Urbinati; Warren, 2008).
De forma mais objetiva, a dimensão territorial é essencial para a formulação das listas eleitorais de candidatos ao Legislativo e dos nomes ao Executivo estadual e municipal. Os formuladores das listas partidárias consideram uma distribuição mínima de candidatos geograficamente e privilegiam aqueles vinculados a setores específicos do eleitorado na disputa legislativa (Nicolau, 2006). O território organiza as disputas políticas e influencia materialmente como as discussões são conduzidas. O apoio de lideranças locais ou grupos de moradores é comum nas estratégias de campanha eleitoral, visto que a estratégia de vizinhança e bairro é muito relevante para os candidatos angariarem grupos de eleitores geograficamente organizados (Nicolau, 2006; Zolnerkevic, Raffo, 2013; Gelape, 2017).
O valor do território é ainda mais acentuado no sistema eleitoral de lista aberta proporcional para os cargos no Poder Legislativo, em comparação com outros sistemas proporcionais. A lista aberta permite que diversas lógicas eleitorais, ao expressarem seus votos, possam emergir, incluindo a lógica territorial. Ademais, em um contexto de preponderância do Executivo e de sua forte influência nas eleições proporcionais, a campanha baseada em redutos eleitorais geográficos ganha proeminência. A pesquisa de André Borges et al. (2016) indica que as clivagens de governo e oposição são uma variável explicativa para a distribuição geográfica do voto, e que coalizões governamentais tendem a dispersar votos no território.
O município é a escala de análise desta pesquisa, pois nele ocorre a expressão política mais concreta do conjunto de territórios e grupos sociais. A escala municipal emerge em um contexto de busca por mais cidadania e poder local no Brasil. O federalismo brasileiro, conforme definido pela engenharia política da Constituição de 1988, permite que o município seja o local onde as decisões políticas mais diretas são tomadas, justamente porque é onde as
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pessoas fazem política e as políticas públicas são efetivamente executadas. O federalismo, ao descentralizar o poder, impõe limites à ação da sociedade local sobre seu próprio território (Castro, 2005).
Para investigar a distribuição de votos de supostos milicianos, adotamos uma abordagem quantitativa e exploratória baseada na análise de autocorrelação espacial. As unidades espaciais analisadas foram as zonas eleitorais (ZEs), definidas pela latitude e longitude de cada uma, conforme detalhado nos anexos. Utilizamos o software RouteConverter para geocodificar as ZEs a partir dos endereços fornecidos pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), resultando em um arquivo KML. Importante ressaltar que as zonas eleitorais sofreram reorganização em 2017, de acordo com a Resolução n° 982/2017 do TRE- RJ, alterando os locais usados nas eleições após 2016. Os dados georreferenciados foram inclusos nos anexos deste estudo, e o software Geoda foi utilizado para gerar as estatísticas de autocorrelação espacial e correlação espacial entre os candidatos.
A zona eleitoral é uma unidade de análise artificial, criada pela Justiça Eleitoral a partir de um conjunto de dados. Sua utilização foi uma estratégia adotada devido à ausência de localizações das seções eleitorais do Rio de Janeiro antes de 2017, período que abrange nossa análise, incluindo as eleições de 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016. Embora essa escolha tenha viabilizado a pesquisa, ela impõe limitações significativas. Primeiramente, as ZEs não correspondem exatamente ao local de votação do eleitor, sendo apenas agrupamentos de seções eleitorais de uma região administrativa e, muitas vezes, não representam o mesmo bairro do eleitor. Além disso, as ZEs podem não refletir o local de residência dos eleitores, o que pode gerar distorções nos resultados empíricos apresentados. Idealmente, deveríamos trabalhar com seções eleitorais, onde há maior probabilidade de que os eleitores votem e residam4, proporcionando uma representação mais precisa de suas preferências políticas espaciais. No entanto, devido à redefinição das zonas e seções eleitorais pelo TRE-RJ nos últimos anos e ao grande volume de dados, optamos por não seguir esse caminho.
Duas unidades de medição foram adotadas para se enquadrar na tipologia de Ames
(2003). A primeira se refere à dimensão entre concentração e dispersão. Candidatos
4 O recadastramento e a biometria realizadas para eleições mais recentes aumentou as chances de que essa vinculação ocorra, porém não cabe aos anos analisados.
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concentrados são aqueles mais expressivos em determinadas zonas, com resultados eleitorais semelhantes nos distritos vizinhos onde tiveram alta expressão eleitoral. Candidatos dispersos tiveram votação espalhada pelas zonas eleitorais, sem resultados necessariamente similares nos distritos vizinhos ou sem concentração de votos em zonas eleitorais adjacentes (Terron et al. 2012).
A classificação foi realizada a partir do Índice de Moran I ou Índice de Moran Global com peso de queen contiguity5. Este índice é capaz de medir a autocorrelação entre territórios e indicar a existência de clusters ou outliers nos padrões de votação. Baseando-se no principal estudo sobre o tema no Brasil, de Sonia Terron et al. (2012), o índice foi calculado com o percentual de votos do candidato por zona eleitoral e classificado entre concentrados e dispersos com base na média total dos valores obtidos.
Embora os valores devessem idealmente ser calculados anualmente, devido à baixa amostra anual da pesquisa, optou-se por uma abordagem agregada, o que é mais uma das limitações deste trabalho. Como discutido por André Borges et al. (2016), a eleição e a reeleição são processos distintos e complexos que são difíceis de comparar. Além disso, devido à falta de constância dos trabalhos na área, que adotam unidades espaciais de análise variadas (Gelape, 2017) e formas de cálculo distintas, a comparação se mostrou inviável, e os resultados podem ser conflitivos. Assim, nosso objetivo é identificar padrões entre os candidatos analisados, sem a intenção de comparar o conjunto de candidatos à vereança no Rio de Janeiro.
Para classificar a dimensão entre dominância ou compartilhamento, estipulou-se um valor para definir dominantes como candidatos que capturam uma expressiva fatia do eleitorado na zona e compartilhados como aqueles que dividem seu eleitorado com outros candidatos. Segundo Silva (2011), todos os candidatos que obtiveram o dobro de votos do segundo colocado na zona eleitoral e, ao menos, 10% de todo o distrito foram considerados dominantes. Este critério permite identificar os candidatos que se destacam nas zonas eleitorais sem considerá-los dominantes apenas pelo resultado representativo na zona eleitoral, considerando o impacto no total de eleitores na zona, abordagem não considerada em estudos anteriores como os de Corrêa (2011), Carvalho et. al (2010), Ames (2003), Terron et al. (2012) e Silva (2009). O índice de Ames de dominância média, conforme Avelino et al. (2011), não considera a heterogeneidade da distribuição de votos entre os distritos ou municípios, ignorando o fator de
5 O queen contiguity é recomendado para lidar com possíveis erros no arquivo dos polígonos, nesse caso, dos polígonos das zonas eleitorais. O site do Geoda traz informações mais detalhadas sobre o uso, a diferença do rock como peso e algumas recomendações para o uso das estatísticas espaciais do software: https://geodacenter.github.io/workbook/4a_contig_weights/lab4a.html#queen-contiguity
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ponderação, o que torna o índice inadequado para verificar a concentração, pois é sensível apenas à votação do candidato no distrito, refletindo apenas o número absoluto de votos e não uma proporção mais significativa.
Nome completo | Nome na urna | Partido(s) | Eleições | Resultado | N° na urna | Status no momento da |
Jerônimo Guimarães Filho | Jerominho | MDB | 2000 | Eleito | 15670 | Assassinado |
2004 | Eleito | |||||
Josinaldo Francisco da Cruz | Nadinho | AVANTE | 2000 | Eleito | 70625 | |
Nadinho de Rio das Pedras | DEM | 2004 | Suplente | 25100 | ||
2008 | Suplente | 25100 | ||||
Luiz André Ferreira da Silva | Deco | PR | 2004 | Suplente | 56770 | Em liberdade condiciona |
2008 | Suplente | 22770 | ||||
Cristiano Girão Matias | Cristiano Girão | PMN | 2004 | Suplente | 23233 | |
2008 | Eleito por média | 23233 | ||||
Jorge Luiz Haut | Jorge Babu | PT | 2000 | Eleito por média | 13444 | |
2004 | Eleito | 13444 | ||||
Carmen Glória Guinâncio Guimarães | Carminha Jerominho | Solidariedade | 2008 | Eleita por média | 70670 | |
2012 | Não eleita | 70670 |
6 A presente pesquisa concluída em 2022, o status foi obtido através de matérias jornalísticas.
7 Jerominho foi preso por extorsão em Campo Grande em 2022, mas em seguida foi assassinado. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-01/ex-vereador-e-policial-civil-jerominho-e-preso- novamente- no-rio. Último acesso: 12/05/2022. https://g1.globo.com/rj/rio-de- janeiro/noticia/2022/08/04/quem-e-jerominho- ex-vereador.ghtml > Último acesso: 19 set. 2022.
8 Após denunciar a atuaçã de milicianos, Nadinho foi assassinado. Disponível em: https://extra.globo.com/casos-de- policia/ex-vereador-nadinho-de-rio-das-pedras-assassinado-em-atentado-na- barra-298609.html > Último acesso: 12 maio 2022.
9 Deco está em liberdade condicional desde 2019. Disponível em: < https://noticias.uol.com.br/ultimas- noticias/agencia-estado/2020/09/07/ex-vereador-acusado-de-homicidio-faz-campanha.html > Último acesso em: 12 maio 2022.
10 Cristiano Girão está preso desde 2021. Disponível em: < https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas- noticias/2022/05/11/jogos-de-azar-armas-e-marielle-suspeitas-e-acusacoes-contra-ronnie-lessa.htm > Último acesso em: 12 maio 2022.
11 Condenado por formação de quadrilha. Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2018/05/12/cpi- milicias-politicos/ > Último acesso em: 12 maio 2022.
12 Presa em 2021 por adquirir celulares roubados em esquema que a polícia aponta como relacionado às milícias. Disponível em: < https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/02/25/operacao-mira-receptadores-de- eletronicos-roubados-no-rj.ghtml > Último acesso em: 12 maio 2022.
Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO
Marcello Siciliano | Marcello Siciliano | PHS | 2016 | Eleito por média | 31888 | Em liberdade, após ser preso por suspeita de participação na morte da ex-vereadora |
Jair Barbosa Tavares | Zico Bacana | 2004 2016 | Suplente Eleito por quociente partidário | 31201 | Baleado no período eleitoral de 2020, em Marechal Hermes, região dominada por milicianos e seu principal | |
Francisco Félix Valente | Chiquinho Sepetiba | PFL/DEM | 2004 e 2008 | Suplente | Preso, foi enunciado por organização criminosa e lavagem de dinheiro | |
Luiz Monteiro da Silva | Doem | PTC | 2008 | Suplente | 36007 | Preso, foi enunciado por organização criminosa e lavagem de |
Marcio Amaral Castilho | Marcio | PRB | 2008 | Suplente | 10311 | |
Jurani Ferreira | Jurani | PSL | 2008 | Suplente | 17017 |
13 Apesar das investigações serem sigilosas, a relação de Siciliano com a morte de Marielle Franco foi aventada diversas vezes, ele chegou a ser preso. Além disso, várias reportagens, baseadas em investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro, indicam o relacionamento do vereador com milicianos.
14 O ex-vereador Zico Bacana foi vítima de uma tentativa de assassinato durante sua campanha em 2020, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Além de ser citado na CPI, ele também depôs no inquérito que investiga a morte de Marielle Franco.
15 Doem foi denunciado pelo Ministério Público, para além da CPI das Milícias.
16 Segundo o Ministério Público, foi assassinado pelo miliciano Nem do Gás, Luis Antonio Guimarães Lima. Disponível em: https://extra.globo.com/casos-de-policia/miliciano-acusado-pelo-ministerio-publico-de- assassinar-pm-em-campo-grande-2093209.html.
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Israel Barbosa Gonçalves | Israel | PTB | 2008 | Suplente | 14007 | |
João Francisco | Chiquinho | MDB | 2008 – 2012 - | Deputado | ||
Inácio Brazão | Brazão | 2016 | federal, é | |||
investigado | ||||||
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Fonte: Elaboração própria, baseado nos dados do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), fontes de cunho jornalístico e no Relatório Final da CPI das Milícias da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Há mais de uma década, Alba Zaluar e Isabel Conceição (2007) destacaram um intenso movimento de agenciamento político dos territórios controlados por milicianos. Em sua pesquisa etnográfica, Zaluar observou que a Associação de Amigos e Moradores de Rio das Pedras promoveu uma campanha para regularizar o título eleitoral dos moradores. O foco era transferir títulos de eleitores registrados em outros municípios ou estados e regularizar a situação cadastral daqueles com impedimentos, especialmente nordestinos residentes nos bairros da Zona Norte que não tinham transferido seu título para a cidade. O objetivo era garantir a eleição de Nadinho como vereador, e, para isso, kombis contratadas pelos milicianos transportavam os moradores aos cartórios eleitorais do TRE-RJ.
Este episódio ressalta a relevância das eleições na dinâmica da economia política das milícias e a maneira como o território conecta esses grupos às eleições, particularmente devido à sua forte dependência territorial. Conforme ilustrado pelo ‘Mapa 1’, que acompanha este texto, pelo menos 48 das 97 zonas eleitorais da cidade do Rio de Janeiro têm algum contato com regiões dominadas por milícias. Embora isso não signifique que todas estas zonas estejam
17 Investigações sugerem o relacionamento dos Brazão com o Escritório do Crime. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/07/12/caso-marielle-franco-escritorio-do-crime-
milicia-familia-brazao-escutas.htm. Investigações apontam o relacionamento de Chiquinho Brazão com milicianos da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro: https://theintercept.com/2020/06/22/investigacao-marielle-expoe- conexoes-vereadores-milicias/.
Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO
sob influência direta das milícias ou que o voto seja totalmente condicionado por ações milicianas, é evidente que o poder de influência desses grupos abrange uma vasta área da cidade.
Em vermelho: zonas eleitorais da cidade do Rio de Janeiro; Em azul: territórios com presença de milícias.
Fonte: Elaboração própria, baseado nos dados do Mapa dos grupos armados do Rio de Janeiro18 e do Tribunal Eleitoral Regional do Rio de Janeiro.
18 Disponível em: https://erickgn.github.io/mapafc/
A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro
Em vermelho: seções da cidade do Rio de Janeiro; Em azul: territórios com presença de milícias.
Fonte: Elaboração própria, baseado nos dados do Mapa dos grupos armados do Rio de Janeiro e do Tribunal Eleitoral Regional do Rio de Janeiro.
No 'Mapa 2', que oferece um detalhamento mais aprofundado do que o anterior, é possível observar uma concentração de seções eleitorais em áreas de milícias nas Zonas Norte e Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Analisando os números de eleitores nessas zonas e referenciando a pesquisa de Alba Zaluar (2007), nota-se um crescimento populacional de eleitores nessas regiões superiores à média. Enquanto o crescimento médio nas zonas eleitorais foi de 15,54% entre os anos 2000 e 2016, nas regiões dominadas por milícias, esse índice atingiu aproximadamente 31,54%, conforme os dados anexos.
Especificamente, a Zona Eleitoral n° 179, que abrange as seções eleitorais de Rio das Pedras e Gardênia Azul, ambas áreas de milícia, mas localizadas na Barra da Tijuca, apresentou um aumento de mais de 121% no número de eleitores no mesmo período. Outros exemplos a Zona Eleitoral n° 25, em Campo Grande, e a Zona Eleitoral n° 20, em Santa Cruz, que registraram crescimentos de mais de 137% e 91%, respectivamente.
O Gráfico 1 mostra que o crescimento do número de eleitores nas regiões de milícias foi mais acentuado. Além do crescimento populacional geral da cidade, o aumento no número de eleitores nessas áreas pode ser explicado pelo controle urbanístico dos milicianos sobre a ocupação territorial, que se intensificou nos últimos anos através de práticas como a grilagem. Essa dominação territorial não apenas modifica a paisagem urbana, mas também é
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acompanhada de coação e cooptação dos eleitores, pressionando-os a regularizar seus cadastros eleitorais em troca de vantagens, consolidando assim o poder político das milícias nessas regiões.
Fonte: Elaboração própria, baseado nos dados do TSE, Mapa dos grupos armados do Rio de Janeiro e do TER- RJ.
De toda sorte, para maior robustez do dado, é preciso inserir uma variável independente de controle, o crescimento populacional por região da cidade. Esse parâmetro é essencial para compreender o aumento do poder político das milícias ao longo do tempo. Além disso, diversas pesquisas destacam como as milícias influenciaram o projeto urbano do Rio de Janeiro, contribuindo para o adensamento populacional nos bairros periféricos.
Quando se analisa o domínio territorial sob o controle armado das milícias, fica evidente a restrição do poder de controle político e da liberdade dos eleitores. Isso ocorre por duas razões principais. Primeiramente, há o risco de aumento da repressão em casos em que os políticos apoiados pelas milícias não sejam eleitos. Essa coerção política é amplamente documentada na literatura especializada (Manso, 2020; Alves, 2020; Arias, 2013; Lins, 2023; Trudeau, 2022).
Em segundo lugar, mesmo na ausência de ameaças diretas ou violência física, a própria dinâmica da economia criminal cria incentivos para que os moradores votem em candidatos apoiados pelas milícias. A não eleição desses candidatos pode levar à redução do apoio do poder público e ameaçar as estruturas de poder político e econômico local. Isso significa que,
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independentemente da concordância com práticas criminais, os eleitores podem enfrentar prejuízos significativos. Por exemplo, as milícias que controlam a distribuição de terras e a construção ilegal podem colocar os moradores em risco de desalojamento, caso a ocupação seja reconhecida como ilegal pelo governo. Trabalhadores de empreendimentos irregulares também podem perder seus empregos. Em suma, as consequências de um desfavorecimento eleitoral se estendem por toda a comunidade, configurando uma situação em que o benefício é condicionado ao apoio político fornecido ao “cliente” das milícias.
O perfil dos candidatos à vereança ligados às milícias é analisado com base em uma variável-chave, conforme descrito na tipologia de Ames (2003), que é o marco teórico- metodológico fundamental na geografia eleitoral. Essa variável é utilizada para avaliar a dominância ou o compartilhamento e a concentração ou dispersão dos resultados eleitorais dos vereadores.
A análise dos dados revela que a maioria dos vereadores apresenta um padrão de compartilhamento, com casos de dominância sendo excepcionais. A Tabela a seguir ilustra que apenas quatro candidatos se desviaram dessa tendência, com dois deles aparecendo em mais de uma eleição. Apesar de obterem alta votação, esses candidatos raramente alcançaram dominância em suas zonas eleitorais, com exceção dos casos detalhados a seguir. Ainda que tenha participação expressiva na eleição, esses candidatos dividem com outros a zona eleitoral. Nadinho, em duas ocasiões, Deco, Chiquinho Brazão, também em dois pleitos consecutivos, e Zico, se destacaram dos demais, dominando a zona eleitoral com pelo menos 10% do total de votos e o dobro dos votos do segundo colocado em suas respectivas eleições.
Esses candidatos tiveram votações expressivas nos pleitos em que concorreram e foram classificados como dominantes em comparação com outros candidatos.
Entretanto, é importante destacar que uma votação elevada não necessariamente garante a dominância em uma zona eleitoral. Existem candidatos que conseguem concentrar a maioria de seus votos em uma única zona eleitoral e, consequentemente, podem dominá-la, mesmo sem um número elevado de votos totais. Esta análise sublinha que a capacidade de dominar uma zona eleitoral não é diretamente proporcional ao total de votos recebidos, evidenciando a complexidade da influência eleitoral nas áreas controladas por milícias.
Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO
Candidato | Eleição | ZE | Votos | Percentual de votos obtidos na ZE | Percentual acima do segundo |
Nadinho | 2004 | 179 | 15.239 | 19% | 234% |
Nadinho | 2008 | 179 | 10.296 | 11% | 209% |
Deco | 2008 | 13 | 5.311 | 11% | 119% |
Brazão | 2008 | 180 | 10745 | 13% | 496% |
Brazão | 2012 | 180 e 182 | 180: 8188 182: 7654 | Ambos 10% | 180: 240% 182: 238% |
Fonte: Elaboração própria, baseado nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Tribunal Regional do Rio de Janeiro (TRE-RJ).
A Tabela 3 não apenas identifica os políticos com um perfil eleitoral dominante, mas também destaca aqueles com uma influência significativa na política local dos bairros do Rio de Janeiro e que possuem fortes redes clientelistas. O perfil dominante de Nadinho de Rio das Pedras, Deco e Chiquinho Brazão ressalta seu controle territorial e a capacidade de atuar como chefes locais. Essa dominância é especialmente marcante nas áreas onde eles exercem uma atuação política intensa e mantêm controle territorial: Nadinho de Rio das Pedras em Rio das Pedras e Gardênia Azul, Deco em Jacarepaguá, e Chiquinho Brazão em Tanque e Taquara. Todas essas regiões são rigorosamente controladas por grupos milicianos.
Os outros vereadores foram classificados como compartilhados, conforme indica a Tabela 4. A análise dos resultados sugere uma divisão entre perfis dispersos e compartilhados, sem um padrão claro nesse eixo, mas com uma tendência geral de que a maioria dos candidatos tem um perfil de votação compartilhado. Isso inclui até mesmo aqueles com um número de votos acima da média, que, contrariamente ao esperado, não demonstram uma expressão eleitoral dominante, mas sim compartilhada. Essa observação sublinha a complexidade das dinâmicas eleitorais nas regiões controladas por milícias, onde a influência política pode se manifestar de maneiras diversas e não necessariamente se traduzir em uma votação majoritariamente concentrada ou dominante.
19 100% é o aumento mínimo de vantagem sobre o segundo colocado e 10% é o valor mínimo de votos que o candidato precisa ter no total de votos na Zona Eleitoral.
A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro
Fonte: Elaboração própria, com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral e utilizando o Geoda.
A média dos resultados obtidos entre concentrado e compartilhado foi de 0,2085, indicando a possibilidade de segmentar os padrões de votação dos candidatos milicianos ao analisar os dados por zonas eleitorais. No entanto, conforme discutido na seção metodológica deste estudo, não é possível fazer uma comparação direta com o conjunto geral de candidatos. Em geral, a maioria dos candidatos milicianos apresentou um padrão de votação disperso. Portanto, considerando ambos os eixos da classificação da tipologia de Ames (2003), o perfil mais prevalente é disperso e compartilhado.
O padrão de votação compartilhado sugere que esses candidatos receberam muitos votos em regiões com um alto número de eleitores, conforme apontado por Terron et al. (2012). Essa observação é corroborada pelo aumento da população eleitoral em bairros com presença de milícias. Além disso, o padrão disperso revela o estabelecimento de redes de clientelas que são, por natureza, mais fragmentadas e menos concentradas. Este fenômeno reflete a natureza da
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influência política das milícias, que, embora extensa, não necessariamente se traduz em uma dominância eleitoral abrangente em áreas específicas, mas sim em uma ampla dispersão de apoio em múltiplas regiões. Um apoio contíguo pelo território da cidade.
Criamos uma tabela que detalha as conexões dos políticos com grupos milicianos. O nível de envolvimento varia significativamente: alguns políticos são líderes desses grupos, enquanto outros desempenham papéis mais periféricos nas organizações. Além disso, muitos deles estão associados a mais de um grupo miliciano e mantêm relações com outros, o que lhes permite fazer campanha em diferentes territórios. O objetivo desta análise é comparar o padrão de distribuição dos votos e as conexões entre os locais de votação desses políticos e as áreas vizinhas.
Grupo miliciano ou bairro onde atua/atuava a milícia | Vereador com indícios de ligação com grupo, na posição de chefia ou de associado |
Gardênia Azul | Cristiano Girão, Marcello Siciliano, Cristiano Brazão |
Rio das Pedras | Nadinho, Carminha Jerominho, Jorge Babu, Jerominho, Chiquinho Brazão |
Liga da Justiça | Jerominho, Carminha Jerominho, Jorge Babu, Chiquinho Sepetiba, Israel |
Pessoal do Deco | Deco, Doen |
Praça Seca | Doen |
Guadalupe | Zico Bacana, Cristiano Girão |
Recreio dos Bandeirantes – Comunidade Terreirão | Girão |
Comunidades da Linha, Mata Quatro e Eternit | Zico |
Pedra de Guaratiba | Jorge Babu |
Guaratiba e Jardim Maravilha | Jerominho, Jurani |
Realengo | Jerominho |
Escritório do Crime | Marcello Siciliano, Chiquinho Brazão |
Fonte: Elaboração própria, com base nas informações da CPI das Milícias (2008) e do relatório do inquérito da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da Polícia Civil (2018).
A partir dessas ligações, comparamos duas eleições para cada possibilidade, usando anos eleitorais diferentes. Utilizamos o Índice de Moran I Bivariado para identificar correlações positivas, negativas ou nulas entre os valores das zonas eleitorais vizinhas de um candidato em comparação com outro que atua em um território similar ou no mesmo grupo miliciano. Essa análise se baseia nos dados coletados pela CPI das Milícias.
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A comparação do Moran Global Bivariado mostra uma correlação positiva entre os valores observadores nas regiões vizinhas das zonas eleitorais de Cristiano Girão e Marcello Siciliano, com a resultado entre 0,225 e 0,190. A comparação entre Chiquinho Brazão e Cristiano Girão teve um valor estatisticamente positivo e não nulo. Nos principais redutos eleitorais a votação é comparável. Em Gardênia e Rio das Pedras os votos são altos dos dois. No entanto, nas regiões onde teve uma votação mediana, Chiquinho Brazão se diferenciou de Girão, que teve poucos votos.
Existe um indício de repetição do positivo padrão de distribuição de votos entre as zonas eleitorais que são vizinhas. Brazão fez muito mais votos que Girão em todas as eleições, mas a distribuição de seus votos tem alguma similaridade. Comparar os resultados de Girão em 2004 e Brazão em 2008 mostra que eles se igualaram no desempenho em Gardênia Azul e Rio das Pedras. Entretanto, os dois também tem visíveis diferenças, que se devem mais ao sucesso eleitoral de Brazão do que uma diferença substantiva dos votos recebidos. Enquanto Brazão foi dominante com mais de 10 mil votos em Taquara, Girão fez 383. Nos anos seguintes de comparação, Brazão consolidou seu desempenho nos bairros onde Girão teve sucesso.
Por outro lado, Chiquinho Brazão e Marcello Siciliano, que já foram apontados como suspeitos de ligação com mandantes e executores do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco, tem uma correlação espacial positiva. Isso indica que a distribuição de seus votos, seja das votações baixas e altas, tem uma lógica parecida de distribuição geográfica. A correlação foi de 0,224 e 0,256 quando comparados em diferentes anos eleitorais.
Os políticos foram apontados por investigações policiais como chefes nas relações de clientela em Gardênia Azul. Os Brazão, no entanto, com o declínio de Girão após sua prisão, supostamente assumiram o controle da milícia local e aprofundaram a disputa por hegemonia
20 Investigação paralela da morte da ex-vereadora Marielle Franco, a Polícia Federal identificou uma disputa aliados de Chiquinho Brazão e Marcello Sicilliano pelo espaço comunitário de Gardênia Azul. Disponível em: < https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/04/15/caso-marielle-franco-o-campo-da-discordia- entre-os-brazao-e-siciliano.htm.
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local com Siciliano, por isso a distribuição de votação similar. Em 2016, Marcello Siciliano fez
1.423 votos para vereador na zona eleitoral 179, situada na Barra e que atende as regiões com presença de milícias, Gardênia Azul e Rio das Pedras. No mesmo período, Chiquinho Brazão fez 6.811 votos. Um decréscimo de quase 16% em relação aos 8.103 votos obtidos em 2012 e ao crescimento que vinha obtendo anteriormente, 1.791 votos em 2004 e 3.332 votos em 2008. Siciliano chegou a enfrentar o pai de Chiquinho Brazão, Domingos Brazão, nas eleições para deputado estadual e vencer na região.
O ex-vereador Nadinho foi apontado como o chefe da milícia da região pela CPI das Milícias. Além disso, Carminha Jerominho, Jerominho, Jorge Babu e Chiquinho Brazão teriam conexões dos milicianos na dinâmica local, apesar de não serem indicados com posição de poder relevante na região.
Em comparação entre a ex-vereadora Carminha Jerominho e Nadinho, a correlação do índice de Moran Global Bivariado é inexistente. Os dados mostram que existiu uma pequena variação entre a comparação dos resultados eleitorais. O resultado indica que os valores das zonas vizinhos dos candidatos são inversamente ligados, com a intensidade estatística variando entre -0,021 e -0,042. Carminha Jerominho não teve sucesso nos redutos eleitorais de Nadinho e o contrário é válido. No bairro dos milicianos Jacarepaguá (Zona Eleitoral 13), enquanto Nadinho fez 5.465 votos em 2004, Carminha Jerominho fez apenas 13 votos. Em Santa Cruz e Campo Grande, Carminha tem um número expressivamente maior. No bairro de Gardênia Azul e Rio das Pedras, principal reduto de Nadinho e onde ele chegou ter a dominância dos votos, ele fez expressivos 15.239 votos e Carminha Jerominho 16 votos.
Os resultados comparados entre o chefe de Rio das Pedras, Nadinho, também chamado de Nadinho de Rio das Pedras na disputa eleitoral, e Jorge Babu, não foram expressivos em nenhum dos anos comparados. O índice de Moran entre Nadinho e Babu variou entre -0,041 e 0,010 quando comparados a partir do mesmo período. O resultado da comparação entre Jerominho e Nadinho também teve resultado de correlação negativo no cálculo do Moran Global comparado e baixa variação entre os anos de comparação, com uma variação entre - 0,053 e -0,045. Nadinho controlava a Liga da Justiça em Rio das Pedras antes de ser assassinado em 2009, grupo comandado pelos irmãos Jerominho e Natalino. Mas Jerominho não teve sucesso eleitoral na região, apesar da conexão com o miliciano assassinado. Os principais
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resultados dos redutos eleitorais de Nadinho e Jerominho são destoantes. Ao comparar a performance deles nos anos 2000, além do número de votos despassados em zonas eleitorais em que um deles teve votação mediada e o outro votação baixíssima, chama atenção para o desempenho nas zonas eleitorais mais fortes.
A comparação entre Nandinho e o vereador Chiquinho Brasão indica uma correlação espacial baixa. Ainda que não muito forte, o Índice de Moran apresentou uma variação positiva. Nos dois extremos, os índices não estão distantes, na comparação da eleição de 2012 de Brazão com a 2000 de Nadinho o valor foi de 0,187. O valor mais baixo foi de 0,068. Um olhar mais detalhado revela que existem pontos de contato entre os candidatos, mas existem divergências significativas entre os redutos eleitorais. Apesar da indicação de conexão com milícias de Rio das Pedras, os candidatos à vereança não igualaram seu padrão de desempenho em locais vizinhos com Nadinho, o líder local. De modo geral, a correlação foi baixa, sendo o resultado mais significante o de Chiquinho Brazão em relação a Nadinho. Indicando, em consonância com os dados apresentados na seção anterior, uma forte dominância de Nadinho na área em detrimento ao compartilhamento de votos onde é mais forte.
Jerominho é o líder da Liga da Justiça e emplacou Carminha Jerominho como sua sucessora nas tentativas de conseguir uma cadeira na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Jorge Babu, Chiquinho Sepetiba e Israel também tem conexões com o grupo que atua principalmente em Campo Grande, Rio das Pedras e Santa Cruz. Sua filha, Carminha, tem a votação com a distribuição geográfica mais similar à de Jerominho e a correlação estatísticas mais significativa dentre as comparações possíveis. Os Jerominho têm uma expressiva votação nas regiões com presença de milícia, mas sem ter perfil dominante em nenhuma delas. Carminha teve 11 mil votos a menos que o pai. Mas em comum, nas regiões onde obteve sua maior votação foram as mesmas que Jerominho.
Carminha Jerominho e Jorge Babu tem uma correlação espacial relevante quando visto em relação as demais análises. Os dados apontam uma possível transferência de votos também de Babu para Carminha, principal herdeira do capital político da Liga da Justiça após o afastamento de grandes figuras, como seu pai, Jerominho, e o próprio Babu. Em comparação da eleição de Babu em 2004 e Carminha Jerominho em 2008, o índice de Moran I foi de 0,419. A intensidade do Moran I na comparação entre Carminha em 2012 e Babu em 2004 foi um
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pouco menor, devida à redução dos votos totais de Carminha Jerominho, ficando em 0,325. É também possível encontrar correlação entre a distribuição de Carminha e Sepetiba, quando comparado em anos distintos. Os dados da comparação entre os desempenhos eleitorais de 2004 e 2008, respectivamente, apontam um índice de correlação de 0,369 e o dado relativo à comparação entre 2008 e 2012 apresenta um índice de Moran de 0,356.
A comparação dos votos de Carminha Jerominho e Israel é aproximada dos dados apresentados anteriormente. Na comparação entre a eleição de Israel em 2008 e Carminha Jerominho em 2012, o índice de Moran ficou em 0,420 e de 0,488 quando comparado o resultado eleitoral do ano de 2008 de ambos.
A votação de Israel em 2008 e de Carminha em 2012 não foi suficiente para os eleger. Os dois foram suplentes no período. A semelhança da sua distribuição eleitoral é dada sobretudo pelas regiões em que os dois tiveram votações pequenas ou que correspondem a valores medianos do total de votação obtido por eles. Nenhum chama atenção, já que Israel não conseguiu sucesso eleitoral notável nas regiões de milícias ou em outras, com exceção da Zona Eleitoral n.º 25, que atende Guaratiba e parte do bairro de Santa Cruz, controlados por milícias. Chiquinho Sepetiba e Jerominho apresentam uma comparação similar à de Sepetiba com Carminha, devido ao padrão de voto familiar associado aos Jerominhos. Os resultados eleitorais de Sepetiba em 2004 e 2008 e de Jerominho em 2000 e 2004 demonstram uma correlação positiva de 0,384 e 0,443, respectivamente. Em 2008, Chiquinho Sepetiba obteve 346 votos e Jerominho, 479 votos, na Zona Eleitoral n.º 240, na região de Santa Cruz, bairro dominado pelas milícias. Na Zona Eleitoral n.º 243, que atende Guaratiba, Jerominho recebeu 3.443 votos, enquanto Sepetiba obteve 628 votos, representando mais de 6% do total de votos recebidos por Jerominho. Por fim, no principal reduto eleitoral de Chiquinho Sepetiba, a Zona Eleitoral n.º 25, que abrange os bairros de Sepetiba e Santa Cruz, Jerominho obteve 697 votos, enquanto
Chiquinho recebeu 4.617 votos.
O índice de correlação entre os votos de Israel e Jerominho foi um dos mais altos encontrados. Comparando Israel com Jerominho em 2000, o Índice Moran I foi de 0,530, e na eleição de Jerominho em 2004, o índice foi ainda mais forte, atingindo 0,547. Embora Israel tenha obtido uma votação relativamente baixa em comparação com Jerominho, seu principal reduto foi nos bairros de Sepetiba, atendidos pela Zona Eleitoral n.º 25, uma área com presença de milicianos. Em 2008, Israel obteve 431 votos nesta região, enquanto em outras áreas não ultrapassou 200 votos. Jerominho, por sua vez, obteve mais de 600 votos na região de Sepetiba, um número significativo, embora representasse um percentual baixo do total de seus votos.
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A correlação entre Jorge Babu e Chiquinho Sepetiba é inferior à comparação entre esses dois e os Jerominhos. A comparação entre a eleição de Sepetiba em 2004 e a de Babu em 2000 resultou em um índice de apenas 0,087. A correlação aumentou nas eleições subsequentes, com a comparação entre as eleições de Babu em 2004 e Sepetiba em 2008, apresentando um índice de 0,357.
Por fim, os resultados comparados entre Israel e Chiquinho Sepetiba variam entre 0,179 e 0,229 no Índice Moran I. Ambos disputaram e apresentaram maior expressividade eleitoral na mesma região, Sepetiba. Na Zona Eleitoral n.º 25, que engloba os bairros de Sepetiba e Santa Cruz, Israel obteve 431 votos em 2004, seu maior número de votos em uma zona eleitoral. Já Chiquinho Sepetiba recebeu 4.617 votos em 2004 e 5.504 votos em 2008.
CPI das Milícias aponta o ex-vereador Luiz André Ferreira da Silva, Deco, de chefiar o grupo conhecido por “Pessoal do Deco”. O político chegou a ser condenado por envolvimento com o crime organizado e preso. Segundo a CPI, e outras fontes jornalísticas, Praça Seca, Campinho, Tanque e Quintino, nas zonas norte e oeste da cidade, eram as regiões com gerência de Deco. Jurani, apesar da pouca expressão eleitoral, é citado por sua influência e alianças com o grupo. Ele foi assassinado por disputas de poder entre milicianos.
Os dados, no entanto, não apontam uma correlação entre o padrão de dados de Deco e Jurani. Pelo contrário, é negativamente baixa a pujança do Índice de Moran entre eles. Os dados gerados apresentam um resultado de -0,036 na comparação entre o resultado eleitoral de Deco em 2004 e Jurani em 2008 e de -0,046 na comparação entre a eleição de 2008 de ambos.
A CPI das Milícias citou Zico Bacana como um dos políticos relacionados aos grupos milicianos na Zona Norte do Rio de Janeiro. Zico tem fortes conexões com a região de Guadalupe. Nela, o candidato teve 67% do seu total de votos em 2008, mais de 2 mil apenas na Zona Eleitoral n° 23. Fontes jornalísticas e investigações policiais indicam também uma possível conexão entre Zico e Girão26. O resultado entre Cristiano Girão e Zico Bacana apresentou um valor abaixo de 0,1 para o Índice de Moran nos dois anos comparados. No primeiro, na eleição de Girão em 2008 e de Zico em 2016, o valor foi de 0,013. Na eleição de Girão em 2004 e de Zico Bacana em 2008, o resultado foi menor, de 0,017.
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Jurani, que era policial militar, foi morto pelas milícias. Conforme indicado no Relatório Final da CPI das Milícias, ele e Jerominho teriam relações com as milícias de Guaratiba e Jardim Maravilho. Ambos possuem votação expressiva na região, e Zico Bacana também obteve algum sucesso nas áreas de atuação da Liga da Justiça. Por isso, a correlação de 0,490 nas eleições de Jerominho em 2004 e de 0,495 em 2000, quando comparada com Zico em 2008, é relevante. O principal reduto de Jurani foi a Zona Eleitoral n.º 25, que abrange os bairros de Guaratiba e Sepetiba, onde obteve 1.063 votos. Jerominho também teve uma votação considerável, com 697 votos em 2004. Em outra Zona Eleitoral que atende Guaratiba (n.º 243), Jurani obteve 707 votos, enquanto Jerominho registrou 738 e 3.448 votos em 2000 e 2004, respectivamente.
A análise dos dados revela um perfil mais compartilhado do que dominante entre os candidatos à vereança vinculados às milícias, contradizendo a hipótese inicial de que esses candidatos dominariam completamente suas zonas eleitorais. Mesmo com votações expressivas, esses candidatos frequentemente dividem o espaço eleitoral com outros candidatos bem votados. A maioria não é sequer o mais votado em sua principal zona eleitoral. As exceções ocorrem com candidatos de grande expressão e controle territorial, como Nadinho de Rio das Pedras, Deco em Jacarepaguá e Chiquinho Brazão em Taquara, o que indica a existência de uma rede de clientela bem-sucedida na conversão de apoio político ou coerção em votos. Todas essas zonas eleitorais incluem seções eleitorais em territórios dominados por milícias. Não se exclui a existência e o sucesso de outras redes de clientela, como a Liga da Justiça dos Jerominho, mas a análise aponta para a permeabilidade de outros nomes nesses territórios e um controle que nem sempre é tão eficaz na conversão de votos.
O dado com menor respaldo na realidade refere-se à dimensão de dispersão e concentração. Embora os resultados apresentem divisões, há um número maior de casos de votações dispersas. Portanto, não é possível afirmar a existência de um perfil específico. A separação entre candidatos dispersos e concentrados não segue um padrão comum entre grupos de milicianos ou qualquer perfil particular entre eles.
Em resumo, os dados apresentados não permitem identificar um perfil consistente dos candidatos das milícias à Câmara Municipal do Rio de Janeiro no eixo de
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dispersão/compartilhamento. Isso ocorre devido à adoção das zonas eleitorais como unidade de análise e à ausência de comparações abrangentes com a população total de candidatos por ano. Por outro lado, no eixo compartilhado/dominante, os dados apresentam consistência ao comparar o desempenho dos candidatos em cada zona eleitoral por pleito.
Ao comparar os perfis de distribuição do voto dos candidatos listados, levando em consideração as indicações de grupos políticos feitas pela CPI das Milícias, foi realizada uma comparação entre duas eleições em anos distintos, utilizando o Índice de Moran I Bivariado. Essa análise teve como objetivo identificar correlações entre os valores das zonas eleitorais vizinhas de candidatos que compartilham atuação política em territórios semelhantes ou pertencem ao mesmo grupo miliciano, conforme registrado pela CPI.
No contexto de Gardênia Azul, figuras como Cristiano Girão, líder apontado pela CPI, e Marcello Siciliano, posteriormente identificado como influente na região, foram sujeitos de comparação. A correlação positiva entre as zonas eleitorais vizinhas desses candidatos revelou- se significativa, variando entre 0,225 e 0,190. Já a comparação entre Chiquinho Brazão e Cristiano Girão demonstrou uma correlação estatisticamente positiva, mas não nula, indicando diferenças nos redutos eleitorais, especialmente em votações medianas.
No que tange à região de Rio das Pedras, Nadinho, líder da milícia local, foi comparado a sua filha Carminha Jerominho e Jorge Babu. A análise indicou uma correlação inversamente ligada entre as zonas eleitorais vizinhas de Nadinho e Carminha Jerominho, ressaltando discrepâncias nos resultados eleitorais em diferentes redutos. Já a comparação entre Nadinho e Jorge Babu não revelou correlações expressivas. Importante destacar a presença de correlações positivas entre Siciliano e Chiquinho Brazão, apontando para uma distribuição similar de votos, indicando a continuidade da disputa por hegemonia local.
A análise da milícia Liga da Justiça envolveu Jerominho, Carminha Jerominho, Jorge Babu, Chiquinho Sepetiba e Israel. A correlação espacial significativa entre Carminha e Babu sugere uma possível transferência de votos entre ambos, especialmente após o afastamento de figuras proeminentes. Correlações entre Carminha Jerominho e Chiquinho, bem como entre Carminha e Israel, indicaram padrões similares de distribuição geográfica de votos.
Finalmente, para o grupo “Pessoal do Deco”, liderado por Luiz André Ferreira da Silva (Deco), não se observou uma correlação significativa entre os padrões eleitorais de Deco e Jurani. Ao contrário, a correlação revelou-se negativamente baixa, indicando diferenças substanciais nos resultados eleitorais entre esses líderes milicianos. De maneira parecida, em
Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO
Guadalupe, a comparação entre Zico Bacana e Cristiano Girão mostrou correlações muito baixas, sugerindo padrões de votação distintos.
Em relação a Guaratiba e Jardim Maravilha, Jurani e Jerominho foram comparados a Zico Bacana. A correlação significativa entre Jerominho e Zico Bacana sugere uma possível influência compartilhada na distribuição geográfica de votos nessas regiões. Em síntese, as análises espaciais evidenciam padrões complexos e variados na distribuição de votos entre líderes milicianos e seus grupos, refletindo dinâmicas eleitorais singulares em diferentes regiões do Rio de Janeiro.
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A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do TSE.
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do TSE.
Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do TSE.
Bairro | N° das zonas eleitorais | Controle de milícia | Milícia em território vizinho |
Saúde | 1,2, 193, 204 | Não | Não |
Laranjeiras | 3, 16, 164 | Sim, na Favela Julio Otoni | Não |
Jardim Botânico | 4, 17, 165, 166, 211 | Não | Não |
Copacabana | 5, 18, 205, 206, 252 | Não | Não |
Maracanã | 6, 19, 170, 228 | Não | Não |
Tijuca | 1, 171 | Não | Não |
Engenho Novo | 8 | Não | Não |
Barra | 9, 13, 119, 179 | Sim | Sim, Muzema, Rio das Pedras, Jacarepaguá, Gardênia Azul, Recreio dos Bandeirantes (Favela do Fontela) |
Piedade | 10 | Sim | Sim |
Olaria | 11, 21, 160, 161, 162, 188 | Sim | Sim, Ramos |
Cascadura | 12, 118, 218, 219, 220 | Sim | Sim, Campinho, Quitino Bocaiuva |
Todos os santos | 14, 207, 208 | Não | Sim, Engenho de Dentro, Pilares |
Marechal Hermes | 15, 23, 217 | Não | Guadalupe |
Meier | 20, 213, 214 | Não | Sim, Lins de Vasconcelos |
Irajá | 22, 176, 190 | Sim | Sim, Vigário Geral, Jardim América, Brás de Pina |
Bangu | 24, 124, 230, 231, 232, 233, 234, 235, 236, 237, 238 | Sim | Sim, Jacarepaguá, Campo Grande |
Santa Cruz | 25, 125, 240, 241, 243, 246 | Sim | Sim, Campo Grande |
Ilha do Governador | 117, 191 | Não |
A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro
Campo Grande | 120, 122, 242, 244 | Sim | Sim, Santa Cruz, Bangu, Jacarepaguá |
Ramos | 121 | Sim | Sim, Complexo do Alemão |
Deodoro | 123, 178 | Não | Sim, Guadalupe |
Catete | 163 | Não | Sim |
Guadalupe | 167, 175 | Sim | Sim, Costa Barros |
Parada de Lucas | 177 | Não | Sim, Jardim América |
Taquara | 180, 182, 209, 210 | Sim | Jacarepaguá, Tanque |
Praça Seca | 185 | Sim | Campinho, Cascadura, Tanque |
Vila da Penha | 189 | Não | Brás da Pina, Irajá |
Portuguesa | 192 | Não | Não |
Del Castilho | 215, 216 | Sim | Inhauma |
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados Mapa dos grupos armados do Rio de Janeiro (Fogo Cruzado, o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense, o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, o Disque-Denúncia e a plataforma digital Pista News) e no Relatório.
ZE | ENDEREÇO | BAIRRO | L |
1 | RUA SACADURA CABRAL, 226 | SAUDE | -43.18976 |
2 | RUA SACADURA CABRAL 226 FUNDOS SOBRADO | SAUDE | -43.18976 |
3 | RUA CONDE DE BAEPENDI, 40 | LARANJEIRAS | -43.17902 |
4 | RUA JARDIM BOTÂNICO 1060 | JARDIM BOTÂNICO | -43.224.4 |
5 | RUA MIGUEL LEMOS 97 - TERREO | COPACABANA | -43.19272 |
6 | AV. PROF. MANOEL DE ABREU 286 | MARACANÃ | -43.23447 |
7 | RUA ANTONIO BASILIO 76 | TIJUCA | -43.23586 |
8 | RUA 24 DE MAIO 931 - FUNDOS | ENGENHO NOVO | -43.267.8 |
9 | AV AYRTON SENNA 2001 BLOCO C | BARRA | -43.36795 |
10 | RUA ASSIS CARNEIRO 436 | PIEDADE | -43.31197 |
11 | RUA FILOMENA NUNES, 961 | OLARIA | -43.26607 |
12 | AV. DOM HELDER CAMARA 10121 - TERCEIRO ANDAR | CASCADURA | -4.332.48 |
13 | AV. AYRTON SENNA 2001 BLOCO C - FRENTE | BARRA | -43.36795 |
14 | RUA GETULIO 127 | TODOS OS SANTOS | -43.28052 |
15 | RUA JOAO VICENTE 1545 | MARECHAL HERMES | -43.37056 |
16 | RUA MINISTRO TAVARES DE LIRA 128 | LARANJEIRAS | -43.179.1 |
17 | RUA JARDIM BOTÂNICO 1060 | JARDIM BOTÂNICO | -43.22450 |
18 | RUA MIGUEL LEMOS 97 - 3 ANDAR | COPACABANA | -43.19272 |
19 | AVENIDA PROFESSOR MANOEL DE ABREU 286 | MARACANÃ | -43.23460 |
20 | RUA DIAS DA CRUZ 787 - SEGUNDO ANDAR | MEIER | -43.29586 |
21 | RUA FILOMENA NUNES 971 | OLARIA | -43.26598 |
Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO
22 | AV. MONSENHOR FELIX 512- XIV REGIÃO ADMINISTRATIVA | IRAJÁ | -43.32321 |
23 | RUA JOAO VICENTE 1545 A | MARECHAL HERMES | -43.37056 |
24 | RUA FIGUEIREDO CAMARGO 1133 SALA 204 | BANGU | -43.461.1 |
25 | PRAÇA DA SUPERINTENDÊNCIA 420 | SANTA CRUZ | -43.68653 |
117 | PRAIA DA OLARIA, S/N - COCOTÁ | ILHA DO GOVERNADOR | -43.179.3 |
118 | AV. DOM HELDER CAMARA, 10.121 - 2 ANDAR | CASCADURA | -43.32476 |
119 | AV. AYRTON SENNA 2001 BLOCO C | BARRA | -43.36772 |
120 | RUA TAQUAREMBÓ S/N- 2 ANDAR (REGIONAL DE CAMPO GRANDE) | CAMPO GRANDE | -4.357.28 |
121 | RUA URANOS 1230 SALA 06 | RAMOS | -43.263.9 |
122 | RUA COXILHA S/N - ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE CAMPO GRANDE | CAMPO GRANDE | -43.573.5 |
123 | RUA FERNÃO DIAS S/N | DEODORO | -43.38655 |
124 | RUA FIGUEIREDO CAMARGO, N. 1133, SALA 303 | BANGU | -43.461.1 |
125 | RUA MARTINHO DE CAMPOS S/N POSTO AGRICOLA | SANTA CRUZ | -43.68564 |
160 | RUA FILOMENA NUNES 961 - OLARIA | OLARIA | -43.26598 |
161 | RUA LUCENA, S/N,OLARIA (ANTIGO FÓRUM,ATRÁS DO CLUBE OLARIA) 21.021-320 | OLARIA | -43.26698 |
162 | RUA LUCENA S/N (ANTIGO PREDIO DO FORUM LEOPOLDINA) | OLARIA | -43.26698 |
163 | RUA MINISTRO TAVARES DE LIRA 128 | CATETE | -4.346.10 |
164 | RUA MINISTRO TAVARES DE LIRA 128 | LARANJEIRAS | -4.346.10 |
165 | RUA JARDIM BOTANICO 1060 | JARDIM BOTÂNICO | -43.22452 |
166 | RUA JARDIM BOTANICO 1060 | JARDIM BOTÂNICO | -43.22452 |
167 | ESTRADA DO CAMBOATÁ 2300, SALAS 201/203- GUADALUPE SHOPPING | GUADALUPE | -4.338.17 |
168 | AV DOM HELDER CAMARA 4175 - 2 ANDAR | DEL CASTILHO | -43.274.2 |
169 | AV. DOS DEMOCRATICOS 1090 (ABRIGO CRISTO REDENTOR) | HIGIENÓPOLIS | -4.327.42 |
170 | AV. PROFESSOR MANUEL DE ABREU, 286 | MARACANÃ | -43.23447 |
171 | RUA ANTONIO BASILIO, 76 | TIJUCA | -43.23586 |
173 | RUA VISCONDE DE SANTA ISABEL 34 - 3. ANDAR | VILA ISABEL | -43.252.6 |
175 | ESTRADA DO CAMBOATÁ, 2300, SALAS 204, GUADALUPE SHOPPING | GUADALUPE | -43.381.7 |
176 | AV MONSENHOR FELIX, 512 | IRAJÁ | -43.32321 |
177 | AV. MONSENHOR FELIX 512 | PARADA DE LUCAS | -43.32321 |
178 | RUA FERNÃO DIAS S/N | DEODORO | -43.38655 |
A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro
179 | AV. AYRTON SENNA 2001 BLOCO C BARRA DA TIJUCA | BARRA | -43.367.7 |
180 | RUA GODOFREDO VIANA, 400 | TAQUARA | -43.36783 |
182 | RUA GODOFREDO VIANA, 400 | TAQUARA | -43.36783 |
185 | PRAÇA SECA 09 | PRAÇA SECA | -4.335.15 |
188 | RUA LEOPOLDINA REGO 754 - XI R.A. | OLARIA | -4.327.11 |
189 | RUA ÁPIA 257 - SALAS 201/202/206 | VILA DA PENHA | -4.330.15 |
190 | AV. MONSENHOR FÉLIX 512 - XIV R.A. | IRAJÁ | -4.332.43 |
191 | ESTRADA DA CACUIA, 1574 | ILHA DO GOVERNADOR | -43.18142 |
192 | RUA ORCADAS 435 - SALA 12 - XX RA (SUBPREFEITURA DA ILHA DO GOVERNADOR | PORTUGUESA | -43.20036 |
193 | RUA SACADURA CABRAL, 226 | SAUDE | -43.18966 |
204 | RUA SACADURA CABRAL 226 - TERREO | SAUDE | -43.18966 |
205 | RUA MIGUEL LEMOS 97 - 1 ANDAR | COPACABANA | -43.19272 |
206 | RUA MIGUEL LEMOS 97 - 1 ANDAR | COPACABANA | -43.19272 |
207 | RUA GETÚLIO 127 | TODOS OS SANTOS | -43.28052 |
208 | RUA GETÚLIO, 127/ SEGUNDO ANDAR | TODOS OS SANTOS | -43.28052 |
209 | RUA GODOFREDO VIANA, 400 | TAQUARA | -43.36783 |
210 | RUA GODOFREDO VIANA, 400 | TAQUARA | -43.36783 |
211 | RUA JARDIM BOTÂNICO 1060 | JARDIM BOTÂNICO | -43.22452 |
212 | RUA JARDIM BOTÂNICO 1060 | JARDIM BOTÂNICO | -43.22452 |
213 | RUA DIAS DA CRUZ, 787, 3 ANDAR | MEIER | -43.29586 |
214 | RUA DIAS DA CRUZ 720-A | MEIER | -43.29586 |
215 | AV DOM HELDER CAMARA 4175 - 1 ANDAR | DEL CASTILHO | -43.27423 |
216 | AV DOM HELDER CAMARA 4175 - 2 ANDAR | DEL CASTILHO | -43.27423 |
217 | RUA XAVIER CURADO S/N (CETEP - FAETEC) | MARECHAL HERMES | -4.337.56 |
218 | RUA SIDÔNIO PAIS, 54, LOJA 5 | CASCADURA | -43.32592 |
219 | RUA SIDÔNIO PAES, 54 LOJA 06 | CASCADURA | -43.32592 |
220 | RUA SIDÔNIO PAIS, 54 - LOJA 4 | CASCADURA | -43.32592 |
228 | AV. PROFESSOR MANOEL DE ABREU, 286 | MARACANÃ | -43.23460 |
229 | RUA HADDOCK LOBO, 72 - SALA 106 | ESTÁCIO | -43.208.8 |
230 | RUA FIGUEIREDO CAMARGO 1133 - SALA 205 | BANGU | -4.346.10 |
231 | RUA FIGUEIREDO CAMARGO, 1133, SALA 201 | BANGU | -4.346.10 |
232 | RUA FIGUEIREDO CAMARGO, 1133 SL 304 | BANGU | -4.346.10 |
233 | RUA FIGUEIREDO CAMARGO, 1.133 - SALA 202 | BANGU | -4.346.10 |
234 | RUA FIGUEIREDO CAMARGO, 1133, SALA 203 | BANGU | -4.346.10 |
Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO
235 | RUA FIGUEIREDO CAMARGO, 1133 SL. 302 | BANGU | -4.346.10 |
236 | RUA FIGUEIREDO CAMARGO, 1133/301 | BANGU | -4.346.10 |
237 | RUA FIGUEIREDO CAMARGO, 1133, SALA 305 | BANGU | -4.346.10 |
238 | RUA SILVA CARDOSO 349 SL 13 - XVII R.A. | BANGU | -4.346.10 |
240 | RUA MARTINHO DE CAMPOS S/N | SANTA CRUZ | -43.68565 |
241 | RUA MARTINHO DE CAMPOS S/N POSTO AGRICOLA | SANTA CRUZ | -43.68565 |
242 | AV. CESARIO DE MELLO 3963 | CAMPO GRANDE | -4.356.97 |
243 | RUA MARTINHO DE CAMPOS S/N | SANTA CRUZ | -43.68565 |
244 | RUA DOM PEDRITO 1 - XVIII R.A. | CAMPO GRANDE | -43.573.0 |
245 | ANTIGA ESTRADA RIO-SAO PAULO 176 | CAMPO GRANDE | -4.355.95 |
246 | RUA MARTINHO DE CAMPOS S/N POSTO AGRÍCOLA | SANTA CRUZ | -43.68565 |
252 | RUA MIGUEL LEMOS 97 3 ANDAR | COPACABANA | -43.19272 |
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro.
N° da ZE | BAIRRO | 2000 | 2004 | 2008 | 2012 | 2016 | Variação |
1 | SAUDE | 32527 | 31366 | 29632 | 28784 | 28357 | -12,82% |
2 | SAUDE | 49166 | 49063 | 48278 | 48424 | 49511 | 0,70% |
3 | LARANJEIRAS | 47445 | 44340 | 43604 | 43011 | 42330 | -10,78% |
4 | JARDIM BOTÂNICO | 50049 | 49754 | 49247 | 49414 | 49210 | -1,68% |
5 | COPACABANA | 41142 | 38337 | 37327 | 36814 | 35859 | -12,84% |
6 | MARACANÃ | 35225 | 34225 | 33216 | 32483 | 31762 | -9,83% |
7 | TIJUCA | 75423 | 72156 | 71725 | 72131 | 72571 | -3,78% |
8 | ENGENHO NOVO | 47428 | 49310 | 49534 | 49654 | 51460 | 8,50% |
9 | BARRA | 41753 | 57969 | 75154 | 94034 | 111397 | 166,80% |
10 | PIEDADE | 50353 | 52233 | 52747 | 52796 | 53442 | 6,13% |
11 | OLARIA | 43551 | 43844 | 43724 | 43624 | 43730 | 0,41% |
12 | CASCADURA | 23608 | 23550 | 23079 | 22592 | 22129 | -6,26% |
13 | BARRA | 58899 | 57607 | 57134 | 58125 | 59329 | 0,73% |
14 | TODOS OS SANTOS | 39320 | 37654 | 37069 | 36476 | 35865 | -8,79% |
15 | MARECHAL HERMES | 38551 | 37817 | 36528 | 35378 | 34693 | -10,01% |
A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro
16 | LARANJEIRAS | 54001 | 51041 | 50557 | 50225 | 50195 | -7,05% |
17 | JARDIM BOTÂNICO | 53583 | 53067 | 51683 | 50809 | 49447 | -7,72% |
18 | COPACABANA | 34034 | 33037 | 31915 | 31155 | 29985 | -11,90% |
19 | MARACANÃ | 51335 | 51992 | 51451 | 50546 | 49697 | -3,19% |
20 | MEIER | 42507 | 44316 | 45250 | 46089 | 46947 | 10,45% |
21 | OLARIA | 40814 | 45979 | 49516 | 54264 | 58331 | 42,92% |
22 | IRAJÁ | 66914 | 67619 | 66670 | 65856 | 65783 | -1,69% |
23 | MARECHAL HERMES | 49836 | 51534 | 51831 | 52537 | 53611 | 7,57% |
24 | BANGU | 53956 | 57594 | 59594 | 61634 | 64058 | 18,72% |
25 | SANTA CRUZ | 31831 | 43727 | 55018 | 63908 | 75454 | 137,05% |
117 | ILHA DO GOVERNADOR | 49806 | 50248 | 48725 | 47960 | 47290 | -5,05% |
118 | CASCADURA | 33468 | 38067 | 40215 | 42017 | 44164 | 31,96% |
119 | BARRA | 46678 | 55393 | 64816 | 73193 | 79216 | 69,71% |
120 | CAMPO GRANDE | 39432 | 45205 | 51001 | 69547 | 75349 | 91,09% |
121 | RAMOS | 34468 | 34032 | 32445 | 31732 | 31057 | -9,90% |
122 | CAMPO GRANDE | 47115 | 53756 | 61082 | 67871 | 76102 | 61,52% |
123 | DEODORO | 43550 | 47124 | 48733 | 51579 | 52140 | 19,72% |
124 | BANGU | 35191 | 34328 | 33362 | 32651 | 32131 | -8,70% |
125 | SANTA CRUZ | 39385 | 42074 | 46347 | 49810 | 55617 | 41,21% |
160 | OLARIA | 44954 | 44464 | 43483 | 43235 | 43269 | -3,75% |
161 | OLARIA | 64326 | 70227 | 76259 | 80482 | 84665 | 31,62% |
162 | OLARIA | 44847 | 42853 | 43096 | 43315 | 43840 | -2,25% |
163 | CATETE | 51570 | 46827 | 45890 | 45652 | 44994 | -12,75% |
164 | LARANJEIRAS | 32598 | 32195 | 31615 | 31634 | 32260 | -1,04% |
165 | JARDIM BOTÂNICO | 33142 | 31986 | 30637 | 29644 | 28600 | -13,70% |
166 | JARDIM BOTÂNICO | 36142 | 36034 | 35601 | 35770 | 36024 | -0,33% |
167 | GUADALUPE | 54046 | 58916 | 64688 | 68843 | 71316 | 31,95% |
168 | DEL CASTILHO | 40104 | 39790 | 39239 | 39449 | 40274 | 0,42% |
169 | HIGIENÓPOLIS | 52688 | 52036 | 51112 | 51186 | 52542 | -0,28% |
Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO
170 | MARACANÃ | 51541 | 52812 | 53016 | 53409 | 53887 | 4,55% |
171 | TIJUCA | 42475 | 42567 | 41747 | 41646 | 42026 | -1,06% |
173 | VILA ISABEL | 38779 | 36740 | 36158 | 36649 | 37501 | -3,30% |
175 | GUADALUPE | 35417 | 49852 | 51749 | 52727 | 53625 | 51,41% |
176 | IRAJÁ | 44177 | 45305 | 46276 | 47251 | 48324 | 9,39% |
177 | PARADA DE LUCAS | 48893 | 48980 | 48349 | 47920 | 47670 | -2,50% |
178 | DEODORO | 32752 | 34982 | 36362 | 36367 | 38452 | 17,40% |
179 | BARRA | 54753 | 79711 | 94205 | 107299 | 121087 | 121,15% |
180 | TAQUARA | 73269 | 73612 | 77968 | 82249 | 87037 | 18,79% |
182 | TAQUARA | 51414 | 13790 | 68490 | 78072 | 86695 | 68,62% |
185 | PRAÇA SECA | 46220 | 49708 | 54279 | 57939 | 61664 | 33,41% |
188 | OLARIA | 42458 | 44771 | 45437 | 45838 | 47085 | 10,90% |
189 | VILA DA PENHA | 40522 | 42626 | 43802 | 45225 | 47073 | 16,17% |
190 | IRAJÁ | 41679 | 43111 | 43747 | 43829 | 44150 | 5,93% |
191 | ILHA DO GOVERNADOR | 46711 | 50704 | 53027 | 55647 | 58642 | 25,54% |
192 | PORTUGUESA | 58567 | 60933 | 62299 | 63766 | 65060 | 11,09% |
193 | SAUDE | 32000 | 34203 | 37012 | 39225 | 39572 | 23,66% |
204 | SAUDE | 39498 | 38555 | 37850 | 37196 | 36320 | -8,05% |
205 | COPACABANA | 37768 | 33867 | 32556 | 31650 | 30955 | -18,04% |
206 | COPACABANA | 34674 | 35037 | 34724 | 34604 | 34301 | -1,08% |
207 | TODOS OS SANTOS | 27765 | 28905 | 29201 | 29487 | 29946 | 7,86% |
208 | TODOS OS SANTOS | 33502 | 32561 | 31086 | 29992 | 28926 | -13,66% |
209 | TAQUARA | 35162 | 35766 | 35847 | 36054 | 36168 | 2,86% |
210 | TAQUARA | 34135 | 37160 | 39846 | 42342 | 44599 | 30,65% |
211 | JARDIM BOTÂNICO | 57278 | 63729 | 67288 | 71008 | 75755 | 32,26% |
212 | JARDIM BOTÂNICO | 27976 | 27694 | 26883 | 26396 | 26022 | -6,98% |
213 | MEIER | 47629 | 46640 | 45159 | 44410 | 44235 | -7,13% |
214 | MEIER | 49519 | 49930 | 49771 | 49887 | 49850 | 0,67% |
215 | DEL CASTILHO | 41134 | 41335 | 40920 | 40515 | 40518 | -1,50% |
216 | DEL CASTILHO | 37654 | 39254 | 40401 | 41152 | 43783 | 16,28% |
A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro
217 | MARECHAL HERMES | 51238 | 50615 | 50233 | 50026 | 50081 | -2,26% |
218 | CASCADURA | 51586 | 53721 | 54254 | 54721 | 55043 | 6,70% |
219 | CASCADURA | 60342 | 61207 | 61665 | 61839 | 62846 | 4,15% |
220 | CASCADURA | 34601 | 37356 | 38813 | 40801 | 42872 | 23,90% |
228 | MARACANÃ | 30717 | 28278 | 27473 | 26602 | 25973 | -15,44% |
229 | ESTÁCIO | 55601 | 54656 | 55836 | 57730 | 60547 | 8,90% |
230 | BANGU | 38451 | 43418 | 47534 | 52359 | 58021 | 50,90% |
231 | BANGU | 34536 | 36467 | 37956 | 39175 | 40637 | 17,67% |
232 | BANGU | 34180 | 34258 | 33653 | 33112 | 33008 | -3,43% |
233 | BANGU | 38595 | 43509 | 45225 | 46844 | 48284 | 25,10% |
234 | BANGU | 37200 | 41881 | 44229 | 46162 | 48263 | 29,74% |
235 | BANGU | 40044 | 38679 | 38503 | 38092 | 37940 | -5,25% |
236 | BANGU | 25677 | 24481 | 23530 | 23107 | 22631 | -11,86% |
237 | BANGU | 39648 | 39833 | 40128 | 40442 | 42187 | 6,40% |
238 | BANGU | 34556 | 39190 | 41909 | 44839 | 47833 | 38,42% |
240 | SANTA CRUZ | 47928 | 44795 | 44620 | 44432 | 44443 | -7,27% |
241 | SANTA CRUZ | 38599 | 44821 | 50430 | 56208 | 62235 | 61,23% |
242 | CAMPO GRANDE | 51047 | 52353 | 53707 | 64937 | 68893 | 34,96% |
243 | SANTA CRUZ | 41734 | 52462 | 64261 | 52118 | 63519 | 52,20% |
244 | CAMPO GRANDE | 36711 | 35709 | 35067 | 34973 | 35915 | -2,17% |
245 | CAMPO GRANDE | 46198 | 55238 | 60479 | 64393 | 68141 | 47,50% |
246 | SANTA CRUZ | 55588 | 65305 | 76608 | 85795 | 96353 | 73,33% |
252 | COPACABANA | 40269 | 42842 | 43828 | 44816 | 45444 | 15,54% |
Igor Novaes LINS e Carlos MACHADO
A geografia do voto das milícias na cidade do Rio de Janeiro
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Fonte: Elaboração própria, baseado em dados do Superior Tribunal Eleitoral (TSE).