Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 1
É A ONDA POPULISTA NAS AMÉRICAS UM MESMO FENÔMENO? UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO DAS ATITUDES POPULISTAS DOS CIDADÃOS
1
¿ES LA RONDA POPULISTA EN LAS AMÉRICAS EL MISMO FENÓMENO? UN
ESTUDIO EXPLORATORIO DE LAS ACTITUDES POPULISTAS DE LOS
CIUDADANOS
IS THE POPULIST WAVE IN THE AMERICAS THE SAME PHENOMENON? AN
EXPLORATORY STUDY OF CITIZENS’ POPULIST ATTITUDES
Valeria CABRERA2
e-mail: valeriacabreira@gmail.com
Fabíola Brigante DEL PORTO3
e-mail: delporto@unicamp.br
Como referenciar este artigo:
CABRERA, V.; DEL PORTO, F. B. É a onda populista nas
américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das
atitudes populistas dos cidadãos. Teoria & Pesquisa: Revista de
Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN:
2236-0107. DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081
| Submetido em: 18/11/2023
| Revisões requeridas em: 27/02/2024
| Aprovado em: 17/05/2024
| Publicado em: 14/08/2025
Editora:
Profa. Dra. Simone Diniz
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Este artigo apresenta resultados da pesquisa de pós-doutorado da primeira autora, intitulada “Qualidade da
democracia em análise comparada: as condições da democracia partidária e as possibilidades do partidarismo”
(processo n.º 2021/15152-7).
2
Mestra e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Pesquisadora de pós-
doutorado no Centro de Estudos de Opinião Pública (CESOP/Unicamp), Campinas São Paulo (SP) Brasil.
3
Graduada em Ciências Sociais. mestra e doutora em Ciência Política, todos pela UNICAMP. Pesquisadora C
do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop/Unicamp) e Editora Associada da Revista OPINIÃO PÚBLICA,
publicação do Cesop.
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 2
RESUMO: Este artigo busca contribuir para o debate acerca da validade de medidas empíricas
de atitudes populistas para mensurar a difusão do fenômeno em nível individual. Para isso,
consideramos dados pós-eleitorais coletados no Brasil (2018), no Chile (2017), na Costa Rica
(2019), em El Salvador (2021), no Peru (2021), no México (2019), no Uruguai (2019) e nos
Estados Unidos (2016) pelo Comparative Study of Electoral Systems (CSES) e avaliamos como
atitudes políticas relacionadas ao populismo se associam, formando diferentes expressões do
fenômeno na opinião pública. Analisamos se as dimensões atitudinais planejadas para o Módulo
5 do CSES (antielitismo, desafios à democracia representativa e rejeição a grupos externos)
confirmam-se na prática e, além disso, verificamos as semelhanças e diferenças na composição
dos mapas atitudinais do populismo nos distintos contextos. Nossa análise revelou que, apesar
de algumas especificidades nos diferentes países, de modo geral, as atitudes políticas referentes
ao populismo se organizaram em torno das dimensões planejadas. As atitudes antielites foram
preponderantes na América Latina, enquanto, nos Estados Unidos, destacaram-se as atitudes
anti-imigrantes e os desafios à democracia.
PALAVRAS-CHAVE: Antielitismo. Anti-imigração. Rejeição a minorias. Apoio a der forte.
Populismo.
RESUMEN: Este artículo busca contribuir al debate sobre la validez de medidas empíricas de
actitudes populistas para medir la difusión del fenómeno a nivel individual. Para ello,
consideramos datos postelectorales recopilados en Brasil (2018), Chile (2017), Costa Rica
(2019), El Salvador (2021), Perú (2021), México (2019), Uruguay (2019) y en Estados Unidos
(2016) por el Comparative Study of Electoral Systems (CSES) y evaluamos cómo las actitudes
políticas relacionadas con el populismo se asocian para formar diferentes expresiones del
fenómeno en la opinión pública. Analizamos si las dimensiones actitudinales previstas para el
Módulo 5 del CSES (antielitismo, desafíos a la democracia representativa y rechazo a grupos
externos) se confirman en la práctica y, además, verificamos las similitudes y diferencias en la
composición de los mapas actitudinales de Populismo en diferentes contextos. Nuestro análisis
reveló que, a pesar de algunas especificidades en diferentes países, en general, las actitudes
políticas respecto al populismo se organizaron en torno a las dimensiones planificadas. Las
actitudes anti-élite fueron preponderantes en América Latina, mientras que las actitudes
antiinmigrantes y los desafíos a la democracia fueron preponderantes en Estados Unidos.
PALABRAS CLAVE: Antielitismo. Antiinmigración. Rechazo a las minorías. Apoyo a un líder
fuerte. Populismo.
ABSTRACT: This article seeks to contribute to the debate about the validity of empirical
measures of populist attitudes to measure the diffusion of the phenomenon at the individual
level. To do this, we consider post-election data collected in Brazil (2018), Chile (2017), Costa
Rica (2019), El Salvador (2021), Peru (2021), Mexico (2019), Uruguay (2019) and in the
United States (2016) by the Comparative Study of Electoral Systems (CSES) and we evaluated
how political attitudes related to populism are associated to form different expressions of the
phenomenon in public opinion. We analyze whether the attitudinal dimensions planned for
Module 5 of the CSES (anti-elitism, challenges to representative democracy, and rejection of
external groups) are confirmed in practice, and, in addition, we verify the similarities and
differences in the composition of attitudinal maps of populism in different contexts. Our analysis
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 3
revealed that, despite some specificities in different countries, in general, political attitudes
regarding populism were organized around the planned dimensions. Anti-elite attitudes were
preponderant in Latin America, while anti-immigrant attitudes and challenges to democracy
were preponderant in the United States.
KEYWORDS: Anti-elitism. Anti-immigration. Rejection of minorities. Support for a strong
leader. Populism.
Introdução
Diferentes estudos (Akkerman et al., 2014; Castanho Silva et al., 2020; Jungkunz et al.,
2021) encontraram resultados opostos sobre o poder explicativo de atitudes políticas
relacionadas ao populismo diante da recente ascensão ao poder de líderes populistas autoritários
por via eleitoral. Nesse cenário, tornou-se proeminente a relevância do contexto eleitoral para
explicar o êxito de diferentes expressões de populismo (Jungkunz et al., 2021). Incluído nisso,
importa avaliar as diferenças de atitudes dos indivíduos de sociedades distintas para explicar o
êxito de expressões locais de populismo.
Para mensurar atitudes populistas, o Módulo 5 do Comparative Studies of Electoral
Systems (CSES) incluiu em seu questionário uma bateria dividida em três temas atinentes ao
fenômeno: 1) a relação do público com as elites políticas, 2) atitudes que desafiam a democracia
representativa em relação à regra da maioria e 3) percepções sobre grupos externos,
representados pelos imigrantes. O desenho dessa pesquisa, elaborado por Hobolt et al. (2016),
baseia-se na abordagem ideacional de populismo, a qual também adotamos aqui. Entretanto,
acrescenta algumas atitudes que, embora façam parte do contexto favorável à recente oferta de
candidaturas populistas de direita, extrapolam o chamado núcleo restrito do populismo, que
qualifica o fenômeno como thin-centred ideology (Mudde, 2004).
Neste artigo, utilizamos o conjunto de dados sobre atitudes populistas do CSES para
verificar como essas atitudes se distribuem em distintas sociedades. São considerados dados
pós-eleitorais coletados no Brasil (2018), no Chile (2017), na Costa Rica (2019), em El
Salvador (2021), no Peru (2021), no México (2019), no Uruguai (2019) e nos Estados Unidos
(2016). Em todos os países, os contextos eleitorais incluíram candidaturas fortes com discurso
que rejeita as elites que estão no poder e desafia a democracia representativa. Além disso, salvo
no México, as candidaturas apresentaram também características antipluralistas
4
.
4
Selecionamos todos os países latino-americanos presentes no Módulo 5 do CSES e optamos por adicionar a
eleição de 2016 nos Estados Unidos para termos o contraponto necessário à testagem de nossa hipótese. Entre
outros casos contemplados pelo CSES, decidimos pelos Estados Unidos em razão do contexto da eleição de Donald
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 4
Analisamos se as atitudes políticas que compõem a mensuração de populismo do CSES
acompanham, na prática, o desenho proposto por Hobolt et al. (2016). Por meio de análise
fatorial, exploramos as semelhanças e diferenças na forma como tais atitudes se combinam
estatisticamente, formando diferentes dimensões do fenômeno enquanto categorias empíricas
e, ao mesmo tempo, examinamos quais temas relacionados ao populismo se destacam na
opinião pública nos distintos contextos. Nossas hipóteses sugerem que: 1) as atitudes políticas
que compõem a mensuração de populismo formam as dimensões planejadas (antielitismo,
desafios à democracia representativa e rejeição a grupos externos) por Hobolt et al. (2016), mas
essas não se ordenam do mesmo modo nos vários países, o que reflete as importâncias distintas
dos temas em cada cenário; 2) o antielitismo é a dimensão sobressalente nos países latino-
americanos, mas não nos Estados Unidos, onde as opiniões negativas sobre imigrantes devem
ser preponderantes; e 3) os desafios à democracia representativa aparecem em segundo plano
em todos os países, mas, ainda assim, apresentam maior relevância nos países latino-americanos
do que nos Estados Unidos.
Este artigo se organiza da seguinte forma: na primeira seção, apresentamos o conceito
de populismo de Mudde, com base no qual as medidas do CSES foram criadas e que adotamos
neste artigo; na segunda seção, descrevemos o contexto eleitoral dos países selecionados; em
seguida, apresentamos as variáveis e a metodologia utilizada; por último, mostramos os
resultados encontrados, que confirmam, em parte, as nossas hipóteses.
Diferentes expressões de populismo e hipóteses
O conceito de populismo tem sido objeto de divergência na Ciência Política,
principalmente em razão da dificuldade dos autores de diferentes vertentes teóricas de encontrar
um núcleo temático comum que se adeque às diferentes experiências práticas. A questão
fundamental do debate gira em torno da ideia de que o populismo tem camadas associadas a
contextos locais e temporais específicos, o que dificulta a generalização de características
populistas e, em consequência, a formulação de uma definição universal suficientemente
abrangente. A demarcação do limite entre o populismo e outros fenômenos políticos está no
cerne desse impasse.
Trump naquele ano, que se tornou, possivelmente, o caso mais emblemático da ascensão da extrema-direita
populista ao poder em sociedades de democracias avançadas.
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 5
Esse debate tem levado à reflexão acerca dos reais riscos oferecidos pelo populismo à
democracia. Avaliar essa questão requer, entretanto, dissociar o fenômeno de atributos
frequentemente relacionados às experiências práticas (Mudde; Kaltwasser, 2012). Os temas
relevantes em contextos determinados ajudam a compreender particularidades, as quais, uma
vez identificadas, contribuem para discriminar elementos generalizáveis do fenômeno. Por
conseguinte, é crucial notar que o populismo tem sido uma ferramenta utilizada por políticos
de diferentes posicionamentos ideológicos justamente por não ter qualquer compromisso com
valores-chave (Taggart, 2000).
Por exemplo, os partidos populistas de extrema-direita na Europa convergem em torno
de uma ideologia central que incorpora elementos de nacionalismo, autoritarismo e populismo.
Em contrapartida, na América Latina, o fenômeno tem se acomodado de maneira versátil tanto
ao neoliberalismo quanto à promoção do papel estatal na economia (Mudde; Kaltwasser, 2012).
Ainda na experiência latino-americana, também tem sido comum a figura de líderes
carismáticos. Nos Estados Unidos, por sua vez, pelo menos até o século XIX, não havia
liderança preponderante. Assim, o populismo aparece não apenas em muitos lugares e épocas,
mas também em diferentes formas (Taggart, 2000).
Principalmente a partir dos anos 2000, alguns dos principais teóricos ocidentais do
populismo (Canovan, 2005; Mudde, 2004; 2017; Mudde; Kaltwasser, 2012; 2013; Panizza,
2005; Taggart, 2000) aderiram a um consenso sobre a necessidade de definir um conceito
mínimo para analisar adequadamente o fenômeno em suas várias expressões. Com isso, em
especial, a noção de que todas as formas de populismo envolvem algum tipo de apelo ao povo
e manifestam-se em rejeição às elites, vistas como minorias detentoras do poder em prejuízo
do povo, predominou (Canovan, 1984). Entretanto, as categorias povo e elites têm seus
significados sempre definidos pelos líderes populistas nas mais diversas experiências do
fenômeno.
Como consequência, a experiência populista revela formas contrastantes de reivindicar
a representação do povo, que é posto no centro do debate, mas com frequência sob diferentes
definições. Assim, não obstante o povo seja apresentado de maneira comum como uma
identidade política coletiva, refere-se a diferentes coletividades em experiências distintas
(Canovan, 2005). Nessa esteira, Taggart (2000) acrescentou a noção de que a análise do
fenômeno é mais produtiva ao tomar-se o compromisso com o povo como derivado da sensação
de heartland, isto é, da concepção idealizada de comunidade, de onde os populistas extraem
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 6
seus valores e a visão acerca do seu eleitorado. Com isso, não há similaridade entre o conteúdo
das práticas populistas de apelo ao povo que permita identificar o populismo a partir dele.
Para Taggart (2000), uma característica generalizável, entretanto, é que a representação
política é o espaço de expressão do populismo. Ou seja, a política representativa está sempre
sujeita ao aparecimento do populismo, na medida em que líderes com características associadas
ao fenômeno envolvem-se na disputa por cargos de poder e na tomada de decisão justamente
ao reconhecer crises no processo de representação. Por isso, tais líderes evitariam aprofundar-
se em temas complexos atinentes à estrutura da representação democrática, agindo de forma
simplista para enfatizar as deficiências da política representativa. Mudde e Kaltwasser (2012)
veem como exagerada, entretanto, a interpretação de que, em razão disso, o populismo seria
prejudicial à democracia representativa, uma vez que os populistas não se opõem à
representação pelo povo, mas sim pela elite.
Nesse contexto, ganhou espaço uma abordagem específica do fenômeno como conjunto
de ideias refletindo uma forma comum de ver o mundo dividido pela luta maniqueísta entre as
vontades das pessoas comuns e da elite. Essa abordagem, conhecida como ideacional, evitou
associar o populismo a recursos materiais ou organizacionais, como a liderança carismática ou
determinado perfil de políticas econômicas (Hawkins; Kaltwasser, 2018). Segundo Mudde
(2017), muitos teóricos utilizam abordagens ideacionais, a exemplo de Ernesto Laclau, para
quem populismo é essencialmente discurso; de Panizza, que o populismo como uma forma
de identificação; e de Kazin, que o entende como linguagem. Seja qual for a definição adotada,
todos esses autores consideram que o populismo trata de ideias sobre o povo e a elite.
Sob essa perspectiva, Mudde (2004; 2007; 2017) é responsável por uma das definições
ideacionais mais célebres atualmente. Segundo o autor, o populismo é um conjunto de ideias
que divide o mundo com base na moralidade, de modo que a defesa do povo puro contra a elite
corrupta está associada a fazer a coisa certa”, o que somente é possível na medida em que a
categoria povo é tomada como homogênea. Assim, o populismo é definido como “uma
ideologia que considera, em última análise, a sociedade dividida em dois grupos homogêneos
e antagônicos, ‘o povo puro’ versus ‘a elite corrupta’, e que argui que a política deve ser uma
expressão da volonté générale (vontade geral) do povo” (Mudde, 2004, p. 543, tradução nossa).
A abordagem ideacional reconhece a existência de populismos distintos e sustenta que,
apesar de o populismo instigar uma luta maniqueísta entre o bem e o mal, na prática a sua
combinação com outras ideologias pode amenizar prejuízos à política democrática existente
hoje no Ocidente. Se a ideologia de líderes e grupos populistas incluir características pluralistas,
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 7
o populismo, então, torna-se uma característica ideológica frágil desses atores. Em
contrapartida, a combinação com o nacionalismo, por exemplo, adquire caráter excludente, pois
tende a separar minorias étnicas e imigrantes da noção de povo (Mudde, 2004; 2017).
Assim, embora adotemos o conceito de populismo de Mudde (2004), devemos
esclarecer que os diferentes conceitos da abordagem ideacional tendem a atender ao consenso
dos principais teóricos ocidentais sobre o tema em relação às características centrais do
populismo, a fim de que seja possível criar um parâmetro para as pesquisas empíricas nas
diversas regiões do mundo, apesar das especificidades dos casos práticos. Nesse aspecto, a
assunção de um núcleo restrito, ao qual o conceito nimo se dedica a definir, propõe-se a
desviar a análise empírica da flexibilidade ideológica das distintas experiências populistas. A
ideia é que o conceito possibilite investigar exclusivamente a influência desse núcleo restrito
sobre a política representativa, de forma que o impacto de ideologias acessórias, que marcam
as experiências locais e temporais, fique em segundo plano (Mudde; Kaltwasser, 2012).
Considerando as diferentes expressões que o populismo assume em contextos locais,
Hobolt et al. (2016) definiram as atitudes populistas dos cidadãos a partir de um construto
tridimensional que abrange visões críticas das elites políticas; rejeição a grupos externos; e
atitudes que desafiam a democracia representativa (ver Quadro 1 na Seção 3). Segundo os
autores, ainda que tais atitudes extrapolem a noção de populismo como thin-centred ideology,
a análise combinada dessas três dimensões em diferentes contextos permitiria avançar na
compreensão das variações das atitudes populistas em suas experiências práticas, que podem
ou não aparecer em diferentes contextos.
Com esse enfoque ampliado, Quinlan e Tinney (2019) estudaram o impacto de atitudes
populistas na eleição para presidente nos Estados Unidos e na eleição geral na Irlanda, ambas
em 2016, a partir de resultados da quinta onda do CSES. Neste estudo, além da rejeição às elites
políticas, foram incluídas variáveis que buscavam captar sentimento anti-imigrantes,
sentimentos nativistas e apoio a um líder forte que subverta as leis (o qual, segundo os autores,
representaria a liderança que “sabe” o que o povo quer e torna seus desejos realidade). Cada
uma dessas dimensões foi adicionada separadamente em modelos logísticos explicativos do
voto, modelos esses que contaram ainda com variáveis tradicionalmente associadas à escolha
eleitoral avaliação retrospectiva da economia, autolocalização ideológica e identificação
partidária.
Os resultados mostraram que pelo menos uma das atitudes populistas teve impacto sobre
a escolha eleitoral em cada um dos países: nos Estados Unidos, os sentimentos anti-imigrantes,
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 8
os sentimentos nativistas e o apoio ao líder forte tiveram, nessa ordem nos respectivos modelos,
efeito sobre o voto reportado para presidente em 2016. Por outro lado, o efeito do antielitismo
político foi fraco e não significativo. Já na Irlanda, apenas o antielitismo político contribuiu, e
de modo expressivo, para explicar o voto.
Ainda que, nos dois casos, o papel de quaisquer dimensões atitudinais populistas sobre
o voto tenha sido diminuto frente às demais variáveis explicativas, os resultados apontaram
para a plausibilidade da ideia de que uma onda populista enquanto oferta era favorecida por
atitudes populistas do público. Isso porque nenhum dos dois países é tradicional e
historicamente associado ao populismo. Ademais, como foram diferentes atitudes populistas
que se associaram ao voto nos dois países, Quinlan e Tinney (2019) apontaram para a
necessidade de uma visão mais nuançada da ideia de que haveria uma única onda populista em
curso.
Paralelamente, o estudo de Jungkunz et al. (2021), que procurou compreender a
influência das atitudes do núcleo restrito de populismo, centradas na relação do público com as
elites políticas, sobre o voto em diferentes contextos, também ressaltou a existência de
variedades de populismo em diferentes contextos sociais e políticos no cenário atual.
Comparando resultados da quinta onda do CSES para trinta países, o estudo demonstrou que
tais atitudes apenas explicavam o apoio a partidos e líderes populistas enquanto estes se
apresentavam como candidatos oposicionistas; porém, falhavam quando se tratava de explicar
o voto em lideranças populistas no poder. Nesses casos, quanto maior o sentimento de
antielitismo político, menor foi a chance de votar em líderes populistas.
Tendo em vista esses resultados, examinamos neste artigo se o construto tridimensional
desenhado por Hobolt et al. (2016) para a mensuração das atitudes relacionadas ao populismo
(Quadro 1, adiante) se estabelece na prática e, além disso, analisamos as semelhanças e
diferenças na composição dos mapas atitudinais do fenômeno nos vários países. Nossas
hipóteses são que: primeiro, o construto de Hobolt et al. (2016) ajusta-se, sim, aos diferentes
contextos analisados, mas que as dimensões propostas (atitudes sobre elites políticas, desafios
à democracia representativa e atitudes sobre grupos externos) ordenam-se de modo distinto nos
vários países. Segundo, supomos que atitudes críticas em relação às elites políticas sejam a
dimensão sobressalente nos países latino-americanos, enquanto, nos Estados Unidos, opiniões
negativas sobre imigrantes sejam as preponderantes. Terceiro, os desafios à democracia
representativa devem aparecer em segundo plano em todos os países, mas, ainda assim,
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 9
apresentar maior relevância nos países latino-americanos do que nos Estados Unidos, tendo em
vista o histórico de crises político-institucionais e de rupturas democráticas nos primeiros.
Contexto
Os países incluídos na análise
5
permitem comparar como o fenômeno populista-
autoritário se estabelece nas percepções dos cidadãos de diferentes contextos: Brasil, Chile e
Uruguai são democracias recentes, estabelecidas após ditaduras civil-militares de direita, e que,
nas eleições em estudo, assistiram à ascensão da extrema-direita ou da direita conservadora; a
Costa Rica é o país latino-americano de democracia mais longeva, mas que, nos últimos anos,
também vive cenário de instabilidade política; El Salvador protagonizou a vitória de candidato
com discurso antielites e antipolítica em oposição aos dois principais partidos que
protagonizaram as eleições presidenciais nos trinta anos anteriores; o México, diante da crise
de segurança pública e de escândalos de corrupção que envolveram não apenas o partido
governista como seu tradicional opositor, elegeu político conhecido, mas ligado a partido
menor; o Peru, onde, além dos problemas econômicos, de segurança pública e de escândalos de
corrupção, o contexto eleitoral foi marcado pela grave crise do coronavírus; por fim, os Estados
Unidos, onde Donald Trump venceu em 2016.
Detalhamos a seguir aspectos contextuais de cada um dos países.
Brasil
O tema do populismo não despertou o interesse de estudiosos brasileiros até a eleição
geral de 2018 no período democrático recente, quando Jair Bolsonaro foi eleito presidente da
República (Tamaki; Fuks, 2020). Ao adotar retórica semelhante à de Donald Trump, cuja
eleição havia representado a chegada de uma onda global de ascensão de políticos populistas
de extrema-direita ao centro da economia mundial, a vitória de Bolsonaro acendeu, em
consequência, o alerta sobre a viabilidade eleitoral de líderes com tais características na
América Latina.
O Brasil vinha passando por um período de crise política alguns anos, somando
problemas econômicos, escândalos de corrupção e manifestações populares em massa, o que
culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) menos de dois anos após sua
5
Ver nota 1.
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 10
reeleição. O vice-presidente, Michel Temer (Movimento Democrático Brasileiro), assumiu o
poder e governou o país sob muitas críticas e resultados insuficientes (Hunter; Power, 2019). A
insatisfação popular generalizada com a classe política formou terreno propício para a ascensão
de Bolsonaro, líder supostamente outsider
6
, que se opunha às políticas socialmente liberais
adotadas pelos governos petistas, e linha-dura (o ex-capitão apresentava discurso de nostalgia
em relação ao regime militar brasileiro e de menosprezo aos mecanismos e instituições da
democracia).
Sob uma perspectiva socialmente conservadora, Bolsonaro construiu a noção de “povo”
englobando na categoria todos aqueles que preservavam os valores cristãos tradicionais,
enquanto a elite corrupta incluía todos os que contribuíram para o enfraquecimento desses
valores, em especial a esquerda e, preferencialmente, o PT (Tamaki; Fuks, 2020).
Chile
O Chile tem partidos políticos de direita, originados no período da ditadura do general
Pinochet, estabelecidos e competitivos: o Renovación Nacional (RN) e o Unión Demócrata
Independiente, que com frequência formam aliança nas eleições chilenas. Ao mesmo tempo em
que essa origem facilitou a relação desses partidos com certos setores da sociedade, como o
empresarial, limitou sua expansão eleitoral entre votantes favoráveis à democracia, que não
aceitam em nenhuma hipótese violação de direitos humanos (Rovira Kaltwasser, 2019).
Em 2017, diante de cenário de intensa insatisfação popular com o segundo mandato da
socialista Michelle Bachelet (2014-2017), Sebastián Piñera, candidato de centro-direita do
Renovación Nacional (RN), foi reconduzido à presidência do Chile (empresário e representante
da direita conservadora, mas crítico da ditadura de Pinochet, Piñera havia antecedido a
socialista no governo nacional 2010-2013 sendo o primeiro presidente de direita após o
período ditatorial). Assim, a direita se manteve competitiva ao longo dos anos por ter se
moderado, a fim de acompanhar as mudanças na sociedade chilena. Em 2017, a vitória de Piñera
teve o apoio de setores radicalizados e moderados da direita na coalizão “Vamos Chile” (Rovira
Kaltwasser, 2019). Formada para derrotar o governo Bachelet, a coalizão prometia crescimento
econômico, redução do desemprego e segurança, em contexto em que a reforma da Lei de
6
Mesmo tendo sido deputado federal por 28 anos, Bolsonaro conseguiu se apresentar como outsider e convencer
sobre a sua contraposição às elites políticas no ensejo dos 14 anos em que o PT esteve no poder.
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 11
Migrações estava em debate e passava a ser objeto de atenção pública, tendo em vista o aumento
da presença de imigrantes no país, sobretudo desde os anos 2010 (Villanueva, 2018).
Costa Rica
Um dos principais aspectos que caracterizou os últimos anos da política da Costa Rica
foi a reação religiosa ao avanço da laicidade do Estado, que gerou, por exemplo, críticas às
políticas estatais de educação sexual, aos direitos das mulheres e à chamada ideologia de
gênero. A Igreja Católica, respaldada por grupos ultraconservadores, como o Opus Dei, passou
a exercer pressão sobre as autoridades e a mobilizar os fiéis contra esses temas, enquanto setores
evangélicos cresceram e passaram a ganhar influência, inclusive por meio da criação de partidos
políticos. Em 2018, os setores religiosos, em aliança, tiveram êxito em concentrar o debate
eleitoral na disputa sobre os direitos da diversidade sexual, o que foi acirrado pela resolução da
Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que decidiu a favor do casamento de
pessoas do mesmo sexo na Costa Rica duas semanas antes da eleição (Villena Fiengo, 2018).
Embora derrotado pelo candidato governista de centro-esquerda Carlos Alvarado
(Partido da Ação Cidadã PAC), Fabricio Alvarado, candidato do Partido Restauración
Nacional (PRN), foi o vencedor do primeiro turno. Associado a grupos religiosos evangélicos
neopentecostais, Fabricio Alvarado sequer aparecia nas pesquisas de intenção de voto no ano
anterior. No entanto, despontou quando o governo realizou a consulta à CIDH, o que foi
amplamente divulgado na imprensa e aproveitado pelo PRN e seus apoiadores na campanha de
Fabricio Alvarado
7
.
El Salvador
A criminalidade e a corrupção eram os problemas centrais de El Salvador na eleição
(2019), em que Nayib Bukele ascendeu ao poder pelo Gran Alianza por la Unidad Nacional,
partido conservador e de direita populista nacionalista. Na ocasião, embora não pudesse ser
considerado exatamente um político de carreira recente
8
, Bukele se apresentou como candidato
7
Durante a campanha eleitoral de 2022, embora o tema dos direitos sexuais tenha se mantido, deixou de centralizar
o debate político (Diaz-Gonzalez, 2022).
8
Bukele ocupou seu primeiro cargo político em 2012, quando venceu como “alcalde” do pequeno município de
Nuevo Cuscatlán, ainda como candidato de centro-esquerda pela Frente Farabundo Martí de Liberación Nacional.
Apesar de aparecer como a renovação progressista da política, em poucos meses passou a atuar de maneira
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 12
outsider em contexto em que os dois principais partidos políticos (Alianza Republicana
Nacional [ARENA] e a Frente Farabundo Martí de Libertación Nacional [FMLN])
apresentavam graves problemas de legitimidade (Masek; Aguasvivas, 2021).
Segundo Masek e Aguasvivas (2021), após um golpe militar em 1979 e intenso conflito
armado nos anos 1980, os acordos de paz de 1992 converteram El Salvador em modelo de
transição para uma democracia imperfeita, mas estável, caracterizada por um bipartidarismo
constante, baseado nas duas forças que até então se enfrentavam pelas armas. Todavia, a
ARENA, o partido conservador, manteve o poder por duas décadas e apenas em 2009 a FMLN,
esquerdista, conquistou a presidência.
Diante de escândalos de corrupção envolvendo ex-presidentes das duas agremiações,
bem como da incapacidade de ambas de resolverem a violência sistêmica, Bukele obteve êxito
ao manter associação vaga tanto com a esquerda como com a direita, apesar da sua retórica
sempre agressiva e disruptiva em relação aos adversários. Ainda, Bukele procurou articular
forças heterogêneas que tivessem em comum a crítica ao establishment (Roque Baldovinos,
2021).
México
Andrés Manuel López Obrador (AMLO) foi um dos prefeitos mais populares da história
da Cidade do México, até renunciar ao cargo em 2005 para concorrer à presidência em 2006
pelo Partido de la Revolución Democrática (PRD). López Obrador foi vencido, em votação
acirrada, pelo candidato governista Felipe Calderón Hinojosa, do Partido Acción Nacional.
Nesse período, o caso mexicano tornou-se emblemático para estudar os efeitos do populismo
sobre democracias não consolidadas, porque López Obrador reivindicava a defesa da
soberania do povo e denunciava a corrupção da elite (Bruhn, 2012; Sarsfield, 2023). No entanto,
suas táticas, que envolviam descredibilizar o órgão eleitoral do país, não foram bem aceitas
pelos eleitores do PRD, e o partido perdeu apoio na eleição legislativa de 2009. Em 2012, após
ser novamente derrotado na eleição presidencial, López Obrador criou o partido Movimiento
de Regeneración Nacional, pelo qual se candidatou à presidência em 2018 e se consagrou
vencedor.
autoritária (Roque Baldovinos, 2021). Desde esse momento, o político mantém estreitas relações com grupos
empresariais importantes (ele próprio tinha uma empresa de publicidade e é filho de empresário).
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 13
López Obrador foi eleito em um contexto de insatisfação massiva dos cidadãos com a
desigualdade, a exclusão, a violência e a corrupção do regime de transição à democracia desde
o ano de 2000, com o colapso do projeto autoritário do Partido Revolucionário Institucional
(PRI) (Olvera, 2021). AMLO sucedeu o governo de Peña Nieto (2012-2018), do PRI. Embora
a administração de Peña Nieto, que marcou o retorno do PRI ao governo mexicano, tenha
começado bem avaliada com a realização do “Pacto por México”, acordo político nacional para
impulsionar o crescimento econômico, o presidente não demonstrou a mesma habilidade para
combater a impunidade e a corrupção, e sua gestão caiu em descrédito. A crise se intensificou
em 2017, com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e as incertezas que essa vitória
gerou para o povo mexicano, a desvalorização acelerada da moeda mexicana e a crescente
inflação, o que motivou protestos em muitas cidades do país (Carrilo, 2020).
Peru
O Peru tem no governo de Alberto Fujimori (1990-2000) o caso mais emblemático de
populismo. Eleito mobilizando setores marginalizados da sociedade contra as elites políticas, o
que acabou por conduzir a um severo conflito entre os poderes Executivo e Legislativo,
Fujimori fechou o Congresso, dissolveu a Constituição e restringiu a atuação do Poder
Judiciário. Ainda assim, teve forte apoio popular e foi reeleito em 1995, transformando a
democracia peruana em um autoritarismo competitivo (Levitsky; Loxon, 2012).
Originadas nesse período, duas opções eleitorais tornaram-se as principais competidoras
nas eleições presidenciais: Keiko Fujimori, filha de Alberto Fujimori e candidata de perfil
conservador, e Pedro Pablo Kuczysnki, candidato de perfil liberal tecnocrata. Em 2018, Keiko
Fujimori foi presa preventivamente em decorrência da operação Lava Jato. Isso contribuiu para
que, na eleição seguinte, em 2021, houvesse uma grande fragmentação da direita no país,
dividindo os votos tradicionalmente destinados a esses candidatos entre outras opções.
Entretanto, Keiko Fujimori, que participava da eleição como representante da Frente
Popular, defendendo o legado de seu pai, a validade da Constituição peruana de 1993 e o modelo
econômico orientado para o mercado, foi para o segundo turno contra o candidato de extrema-
esquerda, Pedro Castillo, do partido Peru Libre, que prometeu mudar a Constituição e o modelo
econômico neoliberal por uma economia popular de mercado. Professor e líder sindical, que
nunca havia ocupado um cargo eletivo e ficou conhecido no país por liderar uma longa greve
de professores em 2017, Castillo terminou sendo eleito presidente. Essa vitória se deu em uma
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 14
eleição marcada
9
pela apatia generalizada dos cidadãos e por uma fragmentação eleitoral e
incerteza sem precedentes no país, cenário que ajuda a compreender por que os eleitores, dentro
da numerosa oferta de candidaturas, optaram pelas opções mais radicais e com duvidosas
credenciais democráticas (Muñoz, 2021).
Uruguai
Na eleição de 2019, o Frente Amplio (FA), com Daniel Martínez, alcançou pela quinta
vez consecutiva o primeiro lugar. Dessa vez, entretanto, não conseguiu vencer no primeiro
turno. Como, desde o ano anterior, o país vivia cenário de declínio econômico, de alta da
inflação e do desemprego, havia incerteza sobre a capacidade de reeleição do FA (Townsend-
Bell, 2019). Nesse contexto, o Partido Nacional, de Luis Alberto Lacalle Pou, segundo
colocado, formou a Coalición Multicolor com outros competidores de centro-direita, a qual
despontou confiante e venceu um FA desalentado no segundo turno (Cardarello; Luján;
Schimidt, 2022).
A eleição de 2019 foi marcada pela ascensão de partidos políticos de direita e de
extrema-direita: o Partido de la Gente, que participou da eleição com o empresário Edgardo
Novick; o Partido de la Orden Republicana, que competiu com o coronel reformado Hugo
Grossi; e o Cabildo Abierto, que apresentou Guido Rios, ex-Chefe do Exército, como candidato.
Esses partidos defenderam pautas socialmente conservadoras e enfatizam a ordem e a segurança
pública (Townsend-Bell, 2019).
Analisando pesquisas de intenção de voto, Caetano, Selios e Nieto (2019) apontaram
que, ainda que esses partidos e candidaturas apresentassem preferência diminuta frente às
opções partidárias tradicionais, atingiam, pela primeira vez desde 2000, mais de 10 pontos na
escala de intenções de voto. O crescimento dessas candidaturas disruptivas pode ter sido reflexo
das mudanças negativas nas percepções cidadãs não apenas sobre o desempenho
governamental, mas das próprias instituições da democracia, com o consequente aumento do
desinteresse pela política e do apoio ao regime.
9
A disputa presidencial de 2021 se destinava a substituir um governo de transição formado em novembro de 2020,
quando uma crise política iniciada pelo congresso, que depôs o presidente Martin Vizcarra, fez com que o Peru
tivesse dois diferentes presidentes em uma única semana.
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 15
Estados Unidos
Ao longo dos anos, os dois principais partidos dos Estados Unidos, Democrata e
Republicano, foram se modificando e tornaram-se mais homogêneos e polarizados, sobretudo
no que diz respeito a questões culturais. Desse modo, os Democratas passaram a ser cada vez
mais socialmente liberais, enquanto os Republicanos, cada vez mais socialmente
conservadores. Esse movimento atraiu os mais jovens para o partido Democrata e os mais
idosos para o partido Republicano. Em 2016, quando os principais candidatos Republicanos
foram derrotados por Donald Trump nas primárias, a radicalização socialmente conservadora,
proveniente de facção populista autoritária do partido, ficou evidente (Norris; Inglehart, 2019).
No ensejo do declínio do crescimento da economia norte-americana, o Republicano prometeu
em sua campanha priorizar os nacionais americanos, em oposição às elites corruptas,
responsáveis pela liberalização social e pela abertura à diversidade étnica e sexual.
Segundo esses autores, a ascensão de Trump tem precedente no país, como as
campanhas de Jimmy Carter e Ronald Reagan e, mais recentemente, a criação da organização
Tea Party, formada por homens brancos, conservadores, autoritários, com forte apelo racista e
ressentidos com as políticas de bem-estar social. Embora outras empreitadas populistas tenham
aparecido na história política dos Estados Unidos, nenhum líder político com esse perfil havia
conseguido tanta aceitação dentro do partido, tampouco chegado à presidência do país (Norris;
Inglehart, 2019; Quinlan; Tinney, 2019).
Na próxima seção, apresentamos os dados e as estratégias metodológicas utilizadas para
analisar como as atitudes políticas relacionadas ao populismo se estruturam nesses diferentes
contextos.
Dados e mensuração
Como mencionado anteriormente, os dados utilizados na análise fazem parte do Módulo
5 do CSES. Com o objetivo específico de investigar as atitudes populistas do público, o Módulo
5 do CSES incluiu não apenas atitudes críticas às elites políticas (questões E3004_2 a E3004_4;
E3004_7 e E3007), como também outros dois temas-chave associados às atitudes populistas
autoritárias entre os cidadãos: atitudes em relação a grupos externos representados pelos
imigrantes (E3005_3 a E3005_5) e atitudes que desafiam a democracia representativa
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 16
(E3004_5 e E3004_6), a regra da maioria (E3005_2) e processos pluralistas de barganha e
compromisso (E3004_1) (Hobolt et al., 2016).
As questões incluídas no Módulo 5 do CSES para representar cada um desses temas
estão apresentadas no Quadro 1
10
. Salvo a variável E3007 (medida de percepção da corrupção),
que foi formulada com alternativas de respostas em quatro níveis
11
, as demais decorrem de
escalas Likert formuladas em cinco pontos, que visam captar o grau de concordância dos
respondentes com as atitudes. Essas escalas, portanto, variam de muita concordância à nenhuma
concordância, sendo que a opção intermediária (“nem concorda, nem discorda”) não foi
oferecida ao respondente, ou seja, trata-se de resposta espontânea.
Quadro 1: Atitudes correspondentes à mensuração de populismo do CSES segundo construto
tridimensional de Hobolt et al. (2016)
E3004_2
A maior parte dos políticos não se importa com as pessoas.
E3004_3
A maior parte dos políticos é confiável.
E3004_4
Os políticos são o principal problema do país.
E3004_7
A maior parte dos políticos se preocupa apenas com os interesses dos ricos e poderosos.
E3007
O quanto voacha que a corrupção está generalizada no país, por exemplo as propinas
entre políticos
E3004_5
Ter um líder forte no governo é bom para o país mesmo que o líder não cumpra as regras
para fazer as coisas.
E3004_6
O povo, e não os políticos, deveria tomar as decisões políticas mais importantes.
E3005_1
As minorias deveriam se adaptar aos costumes e tradições do Brasil12
E3005_2
A vontade da maioria deveria sempre prevalecer, mesmo que prejudique os direitos das
minorias.
E3004_1
O que as pessoas chamam de compromisso em política é, na verdade, apenas uma forma
de negociar os princípios.
E3005_3
Em geral, os imigrantes fazem bem à economia do país.
E3005_4
Os imigrantes prejudicam a cultura do país.
E3005_5
Os imigrantes aumentam as taxas de criminalidade no país.
Fonte: elaboração própria com base na descrição de Hobolt et al. (2016).
Elaboramos análises fatoriais exploratórias com rotação varimax e extração por
autovalor para cada um dos países em estudo, por entendermos que os três fatores compõem,
10
As questões, desenvolvidas a partir de medidas de Hawkins et al. (2012) e Akkerman et al. (2014), foram
debatidas e revisadas pelo comitê organizador do Módulo 5 do CSES após consulta aberta à comunidade
acadêmica (Hobolt et al., 2016).
11
Essa variável decorre da questão: “O quanto você acha que a corrupção está generalizada (no país), como, por
exemplo, as propinas entre políticos: muito generalizada, bem generalizada, pouco generalizada ou você acha que
isso dificilmente acontece?” 1. Muito generalizada 2. Bem generalizada 3. Pouco generalizada 4. Dificilmente
acontece (tradução do ESEB 2018).
12
Esta variável não faz parte da descrição de Hobolt et al. (2016), mas foi incluída por entendermos que permite
traçar panorama mais completo dos desafios à democracia representativa postos pelo populismo autoritário.
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 17
em tese, dimensões distintas e não relacionadas
13
. Ou seja, concordamos que, entre as
dimensões, existe um núcleo restrito de populismo, representativo da abordagem ideacional do
populismo e baseado na distinção moral entre o povo puro e a elite corrupta. Este núcleo deve
ser acompanhado, em dimensões separadas, de atitudes relacionadas aos grupos externos e às
visões do sistema político as quais se associam, sobretudo, às ideologias plenas (thick
ideologies) que os acompanham nos distintos contextos políticos e culturais.
Os resultados estão na seção seguinte.
Resultados
Como a ideia inicial era inserir todas as variáveis de Hobolt et al. (2016) na análise,
precisamos excluir o Uruguai, que a questão E3004_1, que mede a rejeição à prática político-
democrática de negociações e barganhas entre interesses e visões distintas, não foi perguntada
no país. Nesse primeiro resultado (Quadro 2), as análises geraram três fatores para cada um dos
países latino-americanos e dois para os Estados Unidos. Ademais, em cada contexto, as
variáveis produziram cargas fatoriais e combinações distintas. Assim, diferente do que
previmos, as variáveis não se reduziram exatamente ao construto tridimensional de Hobolt et
al. (2016).
13
Mesmo assim testamos as correlações entre os fatores e aferimos a existência de correlações muito baixas,
inferiores a 0,3 para todos os países.
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 1
Quadro 2: Diagrama das análises fatoriais exploratórias rotacionadas a partir das variáveis de Hobolt et al. (2016)
Brasil
Chile
Costa Rica
El Salvador
Estados Unidos
México
Peru
Fonte: elaboração própria com base no Módulo 5 do CSES.
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 1
No Brasil, o primeiro fator foi formado por atitudes em relação às elites políticas,
acrescidas de duas variáveis tratadas por Hobolt et al. (2016) como desafios à democracia
representativa (E3004_1, que afere a contrariedade dos respondentes às regras de barganha e
consenso na democracia representativa, e a E3004_6, que capta a noção de soberania do povo
por meio de formas diretas de democracia). O segundo fator, associado aos denominados
desafios à democracia representativa, incluiu as duas variáveis que avaliam as percepções sobre
a regra da maioria, mais a concordância com a ideia do der forte. A esse fator somou-se a
variável E3004_3, confiança nos políticos, que, curiosamente, aparece com sinal positivo,
assim como as demais que compõem o fator, embora seja a única formulada para representar
visão positiva sobre os temas abordados. Com isso, a confiança nos políticos aparece associada
ao apoio a um líder forte que subverta as leis e a visões contrárias às minorias. Finalmente, o
terceiro fator agrupou os três itens que versam sobre imigrantes, sugerindo o predomínio de
visões favoráveis a esse grupo. Delineada como atitudes em relação a grupos externos
(outgroups), foi a única dimensão que correspondeu exatamente ao proposto por Hobolt et al.
(2016).
No caso chileno, assim como no brasileiro, o primeiro fator foi formado pelas atitudes
sobre elites políticas, incluída a variável E3004_6, que afere a opinião sobre democracia direta.
No entanto, nesse caso, conforme esperado, a confiança nos políticos (variável E3004_3)
também esteve associada a esse fator, com efeito negativo. De modo diverso das demais
sociedades latino-americanas, o segundo fator extraído foi aquele relacionado a atitudes sobre
imigrantes, composto pelas três variáveis delineadas para essa dimensão. Assim, os desafios à
democracia representativa formaram apenas a última dimensão atrelada ao populismo no país,
a qual incluiu apenas duas variáveis, E3005_1 e E3005_2, que mensuram percepções sobre
direitos das minorias versus a regra da maioria
14
.
O fator preponderante na Costa Rica também foi aquele atrelado a visões sobre as elites
políticas, juntamente com a variável E3004_6, assim como encontrado para o Brasil e o Chile
15
.
De forma semelhante ao resultado para o Brasil, o segundo fator mais relevante foi o
correspondente aos desafios à democracia representativa, mas na Costa Rica composto apenas
pelas variáveis E3004_5 (apoio ao líder forte) e E3005_1 e E3005_2, que captam as visões dos
14
As variáveis E3004_1 e E3004_5 tiveram cargas fatoriais inferiores a 0,4 e, por isso, a rigor, não contribuem de
forma significativa para a dimensão a qual estiveram atreladas.
15
Nesse caso, a variável E3004_1 também teve carga fatorial abaixo do esperado e não foi considerada para a
composição do fator.
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 2
respondentes sobre a regra da maioria. Também repetindo o resultado brasileiro, o último fator
gerado no país incluiu as três atitudes sobre imigrantes.
No modelo para El Salvador, mais uma vez, a variável E3004_6 associou-se às atitudes
sobre elites políticas no primeiro fator. Por outro lado, a confiança nos políticos (variável
E3004_3), embora prevista, não apareceu junto a essa dimensão. Essa variável, de fato, teve
carga fatorial abaixo da adequada, assim como a variável E3004_1 e, de forma inédita, também
a variável E3007, que avalia a percepção da difusão da corrupção entre os políticos. A segunda
dimensão de populismo em El Salvador, representada pelos desafios à democracia
representativa, teve composição semelhante àquela da Costa Rica. a terceira dimensão, sobre
os imigrantes, foi formada por apenas duas questões (E3005_4, os imigrantes prejudicam a
cultura do país, e E3005_5, os imigrantes aumentam a criminalidade
16
), também com cargas
que apontam para opiniões favoráveis sobre esses grupos.
O modelo para o Peru foi o que mais se aproximou das dimensões propostas por Hobolt
et al. (2016): o primeiro fator incluiu todas as atitudes em relação a elites políticas. Ademais,
como planejado e repetindo o resultado da maioria dos países estudados, o terceiro fator foi
formado pelas três atitudes sobre imigrantes. A segunda dimensão, desafios à democracia
representativa, por sua vez, apenas não reproduziu o desenho original, pois a variável E3004_6
(apoio à democracia direta) não apresentou carga fatorial significativa.
Resultado semelhante foi encontrado para o xico em relação ao primeiro fator,
inclusive com a mesma ordem de significância estatística entre as variáveis correspondentes a
atitudes em relação a elites políticas. A principal diferença no caso mexicano em relação aos
demais países latino-americanos foi a desagregação das três atitudes anti-imigração em duas
dimensões distintas: a variável E3005_3, Os imigrantes fazem bem à economia do país,
associou-se a itens referentes a desafios à democracia representativa na segunda dimensão do
modelo, enquanto as variáveis E3005_4, Os imigrantes prejudicam a cultura do país, e
E3005_5, Os imigrantes aumentam as taxas de criminalidade, associaram-se às visões
contrárias às minorias na terceira dimensão.
Os resultados para os Estados Unidos diferiram dos encontrados para os países latino-
americanos. Primeiro, tal como previmos, a dimensão de atitudes em relação às elites políticas
não foi a sobressalente (embora sua composição seja semelhante à do Chile e da Costa Rica).
No caso estadunidense, todavia, a diferença mais importante foi o fato de que a análise fatorial
16
A variável E3005_3 (os imigrantes fazem bem à economia do país) apresentou a mesma carga fatorial nas
dimensões 2 e 3 e, assim, foi desconsiderada na análise.
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 3
produziu apenas dois fatores, sendo que o primeiro e mais relevante fator resultou da
combinação de variáveis atreladas aos desafios à democracia representativa (apoios à
democracia direta e ao líder forte e rejeição a minorias) e às três atitudes em relação aos
imigrantes. Entre essas variáveis, as atitudes sobre imigrantes (com sinais que denotam o
rechaço a eles) foram as que obtiveram maiores cargas fatoriais
17
.
Em suma, as atitudes em relação às elites políticas formaram o principal fator em todos
os países latino-americanos, mas não nos Estados Unidos. Ainda assim, apenas três desses itens
(E3004_2, E3004_4 e E3004_7) compuseram a mesma dimensão em todos os modelos para a
América Latina, além de apresentarem as cargas fatoriais mais elevadas. Isso sugere que o
núcleo mais restrito de populismo na região estrutura-se sobre as opiniões de que os políticos
não se importam com as pessoas, são o principal problema do país e se preocupam com
interesses dos ricos e poderosos. Nesse aspecto, é importante salientar que a variável E3004_7,
sobressalente em quatro países e segunda colocada em outros três, aborda o antielitismo
atrelado ao ressentimento de classe, indicando a possibilidade de que o núcleo restrito de
populismo nas Américas esteja, ainda, associado à disputa ideológica entre esquerda e direita.
Isso vale também para os Estados Unidos, ainda que, nesse país, a rejeição às elites políticas
não seja o principal tema associado ao fenômeno populista recente.
Quanto às outras dimensões, a separação dos temas da imigração e dos desafios à
democracia representativa (prevista na proposta de Hobolt et al. [2016]) ocorreu apenas nos
países latino-americanos, onde as atitudes associadas às opiniões sobre imigrantes apareceram
majoritariamente isoladas e com menor relevância estatística (exceto no Chile, onde as
percepções sobre os imigrantes ocuparam a segunda dimensão e com sinais que apontam para
a rejeição desse grupo). O México também constituiu um caso à parte, uma vez que o tópico
surgiu parcialmente mesclado aos desafios à democracia representativa (ou seja, a rejeição aos
imigrantes e às minorias apareceram no mesmo fator), o que é compreensível, haja vista a
importância que o tema ganha em razão da fronteira do país com os Estados Unidos. Aliás, não
por acaso, as atitudes anti-imigração foram as que obtiveram maiores cargas fatoriais no modelo
estadunidense, como anteriormente descrito e previsto por nossa segunda hipótese.
Em que pese a variável E3004_6 tenha apresentado a maior flutuação entre os países,
ora aparecendo em uma dimensão, ora em outra, foi a variável E3004_1 que contribuiu menos
17
Por último, cumpre mencionar que a percepção acerca das práticas de barganha e consenso na política (E3004_1)
carregou simultaneamente nos dois fatores com valores aproximados, não contribuindo, desse modo, para o
modelo.
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 4
com os modelos, não apresentando significância estatística em quatro das sociedades analisadas
e obtendo as cargas fatoriais mais baixas em outras duas. Diante desse resultado, rodamos as
análises fatoriais novamente, excluindo-se essa variável. Isso permitiu que o Uruguai, onde o
item não foi perguntado, fosse incluído na análise.
O Quadro 3 apresenta os resultados da análise fatorial para o Uruguai e os novos
resultados para os demais países.
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 1
Quadro 3: Diagrama das análises fatoriais exploratórias rotacionadas, excluída a variável E3004_1
Brasil
Chile
Costa Rica
El Salvador
Estados Unidos
México
Peru
Uruguai
Fonte: elaboração própria a partir do Módulo 5, CSES.
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 1
O modelo uruguaio também gerou três fatores que, com exceção da ausência da medida
de rejeição à atividade política, se comportaram exatamente como o desenho de Hobolt et al.
(2016). Assim, o primeiro fator é relativo a atitudes sobre elites políticas, o segundo, a desafios
à democracia representativa, e o terceiro, às atitudes sobre imigrantes. A dimensão de atitudes
sobre elites políticas foi formada exatamente pelas variáveis delineadas por Hobolt et al. (2016)
como parte desse fator, pois, embora a variável E3004_6 apareça nessa primeira dimensão, o
atingiu carga fatorial significativa.
No Brasil, o novo modelo conduziu a variável E3004_3, confiança nos políticos, ao
primeiro fator, associado a atitudes de rejeição às elites políticas, consoante havia sido
delineado por Hobolt et al. (2016). No modelo anterior, essa variável aparecia agregada aos
desafios à democracia representativa, com efeito inverso ao esperado; isto é, a confiança nos
políticos atrelava-se aos apoios à regra da maioria e ao líder forte. Agora, conforme esperado,
a variável, com efeito negativo, associa-se às visões críticas aos políticos.
em El Salvador, embora a variável E3004_1 não fosse significativa no modelo
anterior, sua retirada teve o efeito de deslocar a variável E3004_6 para o segundo fator, desafios
à democracia representativa, da forma como Hobolt et al. (2016) desenharam. Assim, a
dimensão de desafios à democracia representativa passou a ser composta pelas variáveis
E3004_5, E3004_6 e E3005_2, sendo que agora foi a percepção de que as minorias deveriam
se adaptar aos costumes do país (E3005_1) que deixou de ser significativa. Ademais, a
dimensão de atitudes em relação aos imigrantes manteve-se com apenas duas variáveis, mas
com uma mudança em sua composição, pois, enquanto a E3005_3 ganhou significância
estatística, a E3005_4 perdeu.
No México, com a retirada da variável E3004_1, três outros itens reposicionaram-se: a
variável E3004_6, antes componente do último fator, passou a compor o primeiro (atitudes
sobre elites políticas), enquanto as variáveis E3005_3 e E3005_4 inverteram-se em seus
posicionamentos. Dessa forma, agora a dimensão de atitudes em relação aos imigrantes foi
composta, de modo mais consistente, pelas variáveis E3005_4, imigrantes prejudicam a cultura
do país, e E3005_5, imigrantes aumentam a criminalidade. Com isso, foi a variável E3005_3,
imigrantes fazem bem à economia, que passou a associar-se ao fator de desafios à democracia
representativa, o que, de qualquer sorte, mantém a divisão do bloco de atitudes sobre imigrantes.
Salvo a ordem de relevância estatística das variáveis do último fator gerado, os
resultados do Chile repetiram o primeiro modelo, no qual a E3004_1 já não havia apresentado
significância estatística. Algo semelhante ocorreu para a Costa Rica e para os Estados Unidos,
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 2
mas, nesses casos, inclusive as ordens das variáveis se mantiveram. No Peru, a única
modificação foi a própria saída da variável E3004_1, que antes associava-se aos desafios da
democracia representativa.
Assim, a retirada da variável E3004_1, que entendemos como uma medida de rejeição
à atividade política, e o às elites em si, surtiu o efeito de agrupar na mesma dimensão as
percepções negativas sobre as elites políticas, de modo que a variável E3004_6 juntou-se a essa
dimensão em todos os países em que não o fazia nos modelos iniciais (com exceção de El
Salvador, onde o movimento da variável foi inverso). Embora essa variável tenha sido planejada
para mensurar o apoio a formas de democracia direta e, assim, constar como desafio à
democracia representativa, a contraposição do povo aos políticos parece ter ressaltado a visão
negativa sobre esses atores e, por isso, a variável associou-se mais frequentemente ao
antielitismo
18
. Outras mudanças aconteceram no Brasil, onde a variável E3004_3 (confiança
nos políticos), que compunha, com sinal positivo, a dimensão de desafios à democracia
representativa, foi deslocada para a dimensão de atitudes negativas em relação a elites políticas;
e em El Salvador, onde a medida de percepção da ocorrência de corrupção entre os políticos
passou a ser significativa (também no primeiro fator).
Cumpre destacar que, salvo no México e no Chile, as atitudes em relação às elites
políticas caminham em sentido inverso às atitudes sobre imigração, sugerindo a concomitância
de atitudes antielitistas e de atitudes favoráveis à imigração nos países analisados. Esse
resultado indica a possibilidade de formas pluralistas de populismo nas experiências dessas
sociedades, o que pode explicar, em alguma medida, a fragilidade do núcleo restrito de
populismo para explicar o voto em líderes populistas de direita em alguns dos países
considerados
19
.
De modo contrário, no Chile e no México, a rejeição a elites políticas acompanha o
mesmo sentido das atitudes de rejeição a imigrantes. Entretanto, é importante destacar que a
correlação entre as dimensões mencionadas foi baixa; isto é, apesar de os temas parecerem
caminhar juntos, atuam, em alguma medida, de maneira independente.
18
Ressalta-se ainda que, no Uruguai, a variável E3004_6 não foi significativa.
19
Abordamos a associação entre voto em líderes populistas de direita e atitudes populistas em artigo anterior
(referência excluída para o anonimato da avaliação).
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 3
Conclusão
Embora tenha crescido o interesse pelos possíveis efeitos de atitudes populistas sobre o
comportamento eleitoral, os estudos não buscam compreender como as atitudes populistas se
estruturam no mapa de referência dos cidadãos. Nossa análise revelou que, apesar de algumas
especificidades nos diferentes países, de modo geral, as atitudes políticas referentes ao
populismo se organizaram em torno das dimensões propostas por Hobolt et al. (2016)
antielitismo, desafios à democracia representativa e rejeição a grupos externos exceto nos
Estados Unidos, confirmando parcialmente a nossa primeira hipótese.
Não obstante, foi apenas com a retirada da variável E3004_1, que afere a contrariedade
dos respondentes com as regras de barganha e consenso na democracia representativa, que a
dimensão antielites emergiu de modo claro nos países latino-americanos. Nossa segunda
hipótese também foi parcialmente confirmada: atitudes antielites foram preponderantes na
América Latina e atitudes anti-imigrantes, nos Estados Unidos.
Porém, nesse país, as atitudes populistas não se agruparam segundo o desenho
tridimensional de Hobolt et al. (2016): as visões sobre imigrantes, embora tenham apresentado
as cargas fatoriais mais elevadas dentre todas as variáveis, juntaram-se aos desafios à
democracia representativa na primeira dimensão da análise fatorial. Com isso, nossa terceira
hipótese foi rejeitada. Uma interpretação possível é que a aproximação do tema com a rejeição
aos imigrantes tenha favorecido a relevância dessa dimensão nos Estados Unidos.
Ademais, se o tema da imigração demonstrou menor expressão na América Latina, isso
se deve ao fato de que as atitudes populistas estiveram mais associadas a percepções negativas
dos políticos em razão de ressentimento de classe. Esse resultado informa, portanto, um aspecto
paralelo à diferença regional: a importância de diferentes níveis de desenvolvimento
socioeconômico para o comportamento político. Somado a isso, duas das democracias mais
avançadas da América Latina, Uruguai e Costa Rica, não obtiveram resultados muito destoantes
em relação aos países vizinhos, indicando que as condições de desigualdades sociais profundas
na região têm importante relação com as atitudes antielitistas. que se ressalvar, ainda, que,
embora “mais avançadas”, tanto a Costa Rica quanto o Uruguai apresentaram, em anos recentes,
desgastes político-institucionais, com efeitos sobre as atitudes cidadãs.
De modo geral, portanto, as dimensões de populismo sugeriram uma visão populista de
viés nacionalista nos Estados Unidos, com menor relevância das atitudes de rejeição a elites
políticas (embora o ressentimento de classe também tenha predominado nessa dimensão no
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 4
país). Isso porque o apoio à regra da maioria, característica central da tensão entre populismo e
democracia liberal, aparece associado no país às atitudes anti-imigração. Já na América Latina,
os temas estão dissociados, verificando-se a presença de atitudes antielites e de atitudes
favoráveis à proteção de minorias caminhando no mesmo sentido na maioria dos casos, embora
as dimensões não estejam correlacionadas.
Esses resultados indicam, portanto, que o contexto latino-americano separa a rejeição a elites
políticas do pluralismo, motivo pelo qual é possível propor a interpretação de que o populismo
na região, no mínimo, não mobiliza o tema. Entretanto, suspeita-se que tal resultado tenha
relação com a manutenção do predomínio do populismo de esquerda, centrado em classe, na
América Latina. Tal interpretação requer, não obstante, uma investigação mais ampla. Por
enquanto, é possível apenas afirmar que, apesar das diferentes expressões de populismo, o
desenho proposto por Hobolt et al. (2016) ajusta-se razoavelmente às experiências latino-
americanas, mas não à estadunidense.
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 5
REFERÊNCIAS
AKKERMAN, A.; MUDDE, C.; ZASLOVE, A. How populist are the people? Measuring
populist attitudes in voters. Comparative Political Studies, v. 47, n. 9, p. 1324-1353, 2014.
Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0010414013512600. Acesso em: 15
jan. 2025.
BRUHN, K. To Hell with Your Corrupt Institutions!: AMLO and Populism in Mexico. In:
MUDDE, C.; ROVIRA KALTWASSER, C. (eds.). Populism in Europe and the Americas:
Threat or Corrective for Democracy? Cambridge: Cambridge University Press, 2012. p.
88–112.
CAETANO, G.; SELIOS, L.; NIETO, E. Descontentos y “cisnes negros”: las elecciones en
Uruguay en 2019. Araucaria. Revista Iberoamericana de Filosofia, Politica,
Humanidades y Relaciones Internacionales, ano 21, n. 42, p. 277-311, 2019. Disponível
em: https://revistascientificas.us.es/index.php/araucaria/article/view/10792. Acesso em: 15
jan. 2025.
CANOVAN, M. “People”, Politicians and Populism. Government and Opposition, v. 19, n.
3, p. 312-327, 1984. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/journals/government-
and-opposition/article/people-politicians-and-
populism1/42ED160143FC20DBB239C8972C607B34. Acesso em: 15 jan. 2025.
CANOVAN, M. The People. Cambridge: Polity Press, 2005.
CARDARELLO, S. A.; LUJÁN, D.; SCHMIDT, N. Uruguai no final do ciclo progressivo:
uma análise do processo eleitoral de 2019. Civitas – Revista de Ciências Sociais, Porto
Alegre, v. 22, 2022. Disponível em: 10.15448/1984-7289.2022.1.39801. Acesso em: 14 jan.
2025.
CASTANHO SILVA, B.; JUNGKUNZ, S.; HELBLING, M.; LITTVAY, L. An empirical
comparison of seven populist attitudes scales. Political Research Quarterly, v. 73, n. 2, p.
409-424, 2020. Disponível em:
https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1065912919833176. Acesso em: 15 jan. 2025.
CARRILO, A. La izquierda populista en México: amenaza o correctivo para la democracia?
In: CADENA-ROA, J.; LEYVA, M. Las izquierdas mexicanas hoy. Las vertientes de la
izquierda. México: Universidad Nacional Autónoma de México, Instituto de Investigaciones
Sociales, Centro de Investigaciones Interdisciplinarias en Ciencias y Humanidades: Ficticia
Editorial, 2020.
DÍAZ‑GONZÁLEZ, J. A. Identificación religiosa e intención de voto en Costa Rica durante la
elección presidencial de 2022. Revista de Estudios Sociales, Bogotá, n. 82, p. 159–178,
2022. Disponível em: 10.7440/res82.2022.09. Acesso em: 14 jan. 2025.
HAWKINS, K.; KALTWASSER, C. Introduction: the ideational approach. In: HAWKINS,
K.; CARLIN, R.; LITTVAY, L.; KALTWASSER, C. The Ideational Approach to Populism:
Concept, Theory, and Analysis. Londres: Routledge, 2018.
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 6
HOBOLT, S.; ANDUIZA, E.; CARKOGLU, A.; LUTZ, G.; SAUGER, N. Democracy
divided? People, politicians and the politics of populism. CSES Planning Committee’s
Module 5 Final Report, 2016.
HUNTER, W.; POWER, T. Bolsonaro and Brazil's illiberal backlash. Journal of Democracy,
v. 30, n. 1, p. 68-82, 2019. Disponível em:
https://library.brown.edu/create/openingthearchives/wp-
content/uploads/sites/19/2020/06/project_muse_713723.pdf. Acesso em: 15 jan. 2025.
JUNGKUNZ, S.; FAHEY, R. A.; HINO, A. How populist attitudes scales fail to capture
support for populists in power. PloS ONE, v. 16, n. 12, p. 1-20, 2021. Disponível em:
https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0261658. Acesso em: 15
jan. 2025.
LEVITSKY, S.; LOXTON, J. Populism and Competitive Authoritarianism: The Case of
Fujimori’s Peru. In: MUDDE, C.; ROVIRA KALTWASSER, C. (eds.). Populism in Europe
and the Americas: Threat or Corrective for Democracy? New York: Cambridge University
Press, 2012. p. 160-181.
MASEK, V.; AGUASVIVAS, L. Consolidando el poder en El Salvador: el caso de Nayib
Bukele. Ecuador Debate, n. 112, p. 157-173, 2021. Disponível em:
https://repositorio.flacsoandes.edu.ec/handle/10469/17482. Acesso em: 15 jan. 2025.
MUDDE, C. The populist zeitgeist. Government and Opposition, v. 39, n. 3, p. 541-563,
2004. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/journals/government-and-
opposition/article/populist-zeitgeist/2CD34F8B25C4FFF4F322316833DB94B7. Acesso em:
15 jan. 2025.
MUDDE, C. Populism: an ideational approach. In: KALTWASSER, C.; TAGGART, P. A.;
ESPEJO, P. O.; OSTIGUY, P. The Oxford Handbook of Populism. Oxford: Oxford
University Press, 2017.
MUDDE, C.; KALTWASSER, C. Populism in Europe and the Americas: Threat or
Corrective for Democracy? Nova York: Cambridge University Press, 2012.
MUDDE, C.; KALTWASSER, C. Exclusionary vs. inclusionary populism: Comparing
contemporary Europe and Latin America. Government and Opposition, v. 48, p. 147-174,
2013. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/journals/government-and-
opposition/article/exclusionary-vs-inclusionary-populism-comparing-contemporary-europe-
and-latin-america/AAB33C1316BE16B8E4DE229519362E27. Acesso em: 15 jan. 2025.
MUÑOZ, P. América Latina erupciona: Perú gira al populismo. Elecciones, v. 20, n. 22, p.
283-304, 2021. Disponível em:
https://revistas.onpe.gob.pe/index.php/elecciones/article/view/217. Acesso em: 15 jan. 2025.
NORRIS, P.; INGLEHART, R. Cultural Backlash: Trump, Brexit, and Authoritarian
Populism. New York: Cambridge University Press, 2019.
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 7
OLVERA, A. Polarización como base del populismo: el caso de México. ECUADOR
Debate, n. 112, p. 113-138, 2021. Disponível em:
https://repositorio.flacsoandes.edu.ec/handle/10469/17480. Acesso em: 15 jan. 2025.
PANIZZA, F. Populism and the Mirror of Democracy. Nova York: Verso, 2005.
QUINLAN, S; TINNEY, D. A populist wave or metamorphosis of a chameleon? Populist
attitudes and the vote in 2016 in the United States and Ireland. The Economic and Social
Review, v. 50, n. 2, p. 281-324, 2019. Disponível em: https://www.esr.ie/article/view/1183.
Acesso em: 15 jan. 2025.
ROQUE BALDOVINOS, R. Nayib Bukele: populism and democratic implosion in El
Salvador. Andamios. 2021, v. 18, n. 46, p. 233-255. Disponível em:
https://doi.org/10.29092/uacm.v18i46.844. Acesso em: 14 jan. 2025.
ROVIRA KALTWASSER, C. La (sobre)adaptación programática de la derecha chilena y la
irrupción de la derecha populista radical. Colombia Internacional, n. 99, p. 29–61, 2019.
Disponível em: https://doi.org/10.7440/colombiaint99.2019.02. Acesso em: 14 jan. 2025.
SARSFIELD, R. Entre el pueblo bueno y la élite corrupta. Narrativa populista y polarización
afectiva en las redes sociales en México. Revista Mexicana de Opinión Pública, ano 18, n.
35, p. 13–34, 2023. Disponível em: 10.22201/fcpys.24484911e.2023.35.85518. Acesso em:
14 jan. 2025.
TAGGART, P. Populism. Philadelphia: Open University Press, 2000.
TAMAKI, E. R.; FUKS, M. Populism in Brazil’s 2018 General Elections: an analysis of
Bolsonaro’s campaign speeches. Lua Nova, n. 109, p. 103-127, 2020. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ln/a/R5B5YRLm8C5vKxLVk3FdNrg. Acesso em: 15 jan. 2025.
TOWNSEND-BELL, E. E. Uruguay 2018: A Year of Mixed Signals and Open Questions.
Revista de Ciencia Política, Santiago, v. 39, n. 2, p. 367-390, 2019. Disponível em:
https://doi.org/10.4067/S0718-090X2019000200367. Acesso em: 14 jan. 2025.
VILLANUEVA, S. Propuestas para regular las migraciones en Chile y la obstinación del
securitismo. URVIO – Revista Latinoamericana de Estudios de Seguridad, n. 23, p. 110-
126, 2018. Disponível em: https://revistas.flacsoandes.edu.ec/urvio/article/view/3571. Acesso
em: 15 jan. 2025.
VILLENA FIENGO, S. ¿“Conservadores” vs “Progresistas”? religión, política y derechos
humanos en Costa Rica. Tensões Mundiais, Fortaleza, v. 17, n. 35, p. 121-146, 2021.
Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/tensoesmundiais/issue/view/426. Acesso
em: 14 jan. 2025.
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 8
APÊNDICE A
Distribuição das variáveis
Brasil
Concorda
totalmente
Concorda em
parte
Nem concorda
nem discorda
Discorda em
parte
Discorda
totalmente
E3004_1
44,6
24,6
6,4
11,6
12,8
E3004_2
67,2
13,3
2,6
8,5
8,3
E3004_3
5,9
9,6
2,5
16,8
65,2
E3004_4
58,2
15,3
3,9
11,9
10,7
E3004_5
24,2
19,6
4,4
14,4
37,5
E3004_6
59,5
18,1
4,1
8,9
8,7
E3004_7
68,1
13,2
3,0
8,4
7,2
E3005_1
39,2
19,5
5,3
13,7
22,4
E3005_2
24,0
16,1
5,8
16,6
37,5
E3005_3
39,5
23,0
7,6
15,8
24,2
E3005_4
16,2
12,6
6,0
21,2
44,0
E3005_5
22,2
13,5
6,0
19,3
39,0
Brasil
Muito generalizada
Um pouco
generalizada
Não muito
generalizada
Não acontece
E3007
84,0
8,4
4,5
3,1
Chile
Concorda
totalmente
Concorda em
parte
Nem concorda
nem discorda
Discorda em
parte
Discorda
totalmente
E3004_1
4,5
26,2
29,6
33,1
6,6
E3004_2
29,2
46,5
12,6
8,7
3,0
E3004_3
2,2
5,6
13,5
50,9
27,7
E3004_4
20,6
36,9
23,3
14,4
4,8
E3004_5
10,4
24,6
25,3
30,3
9,3
E3004_6
22,6
39,8
23,4
12,7
1,6
E3004_7
28,2
43,0
19,1
8,6
1,1
E3005_1
9,2
38,9
19,4
28,0
4,5
E3005_2
6,2
28,5
22,9
36,1
6,4
E3005_3
8,0
33,1
25,8
26,3
6,7
E3005_4
6,9
21,1
16,9
44,0
11,0
E3005_5
9,4
22,6
21,2
37,3
9,6
Chile
Muito generalizada
Um pouco
generalizada
Não muito
generalizada
Não acontece
E3007
57,6
33,0
8,4
1,0
Costa Rica
Concorda
totalmente
Concorda em
parte
Nem concorda
nem discorda
Discorda em
parte
Discorda
totalmente
E3004_1
26,4
16,4
14,2
17,4
25,6
E3004_2
51,1
17,8
9,6
9,1
12,4
E3004_3
6,5
8,3
9,6
22,3
53,3
E3004_4
38,1
19,2
12,9
12,6
17,2
E3004_5
23,0
16,5
11,1
13,0
36,3
E3004_6
40,7
17,5
16,7
11,4
13,6
E3004_7
57,8
19,0
7,7
7,2
8,3
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 9
E3005_1
19,8
11,1
6,2
15,0
47,9
E3005_2
22,7
11,3
7,7
15,0
43,3
E3005_3
17,6
18,9
21,8
16,8
25,0
E3005_4
21,8
17,9
19,7
17,5
23,2
E3005_5
23,0
18,4
15,5
16,2
26,9
Costa Rica
Muito generalizada
Um pouco
generalizada
Não muito
generalizada
Não acontece
E3007
86,2
11,3
1,7
0,7
El Salvador
Concorda
totalmente
Concorda em
parte
Nem concorda
nem discorda
Discorda em
parte
Discorda
totalmente
E3004_1
10,8
27,8
17,0
26,3
18,0
E3004_2
30,3
28,6
9,1
15,6
16,3
E3004_3
6,8
22,3
12,7
30,8
27,3
E3004_4
26,9
29,2
13,5
17,5
12,8
E3004_5
30,0
25,0
11,4
19,0
14,6
E3004_6
37,2
30,4
13,2
11,9
7,3
E3004_7
45,9
24,5
7,9
10,4
11,3
E3005_1
32,8
31,4
11,9
12,7
11,2
E3005_2
23,9
32,6
14,1
16,2
13,2
E3005_3
19,3
30,8
17,0
19,6
13,2
E3005_4
11,5
24,2
22,0
27,7
14,6
E3005_5
12,5
19,4
14,5
29,3
24,2
El Salvador
Muito generalizada
Um pouco
generalizada
Não muito
generalizada
Não acontece
E3007
77,3
15,6
5,3
1,8
México
Concorda
totalmente
Concorda em
parte
Nem concorda
nem discorda
Discorda em
parte
Discorda
totalmente
E3004_1
9,5
32,7
28,0
20,5
9,4
E3004_2
25,3
34,7
18,9
14,9
6,2
E3004_3
4,1
17,4
19,4
32,3
26,7
E3004_4
25,1
33,9
21,9
14,3
4,8
E3004_5
6,9
25,1
26,8
25,2
16,0
E3004_6
17,0
34,5
25,1
16,7
6,7
E3004_7
24,0
36,8
19,8
13,5
5,9
E3005_1
7,5
27,6
24,4
26,1
14,4
E3005_2
8,7
22,7
29,5
23,2
15,9
E3005_3
8,8
28,1
30,5
23,8
8,7
E3005_4
5,8
24,1
26,6
26,9
16,5
E3005_5
5,8
22,8
27,0
27,9
16,4
México
Muito generalizada
Um pouco
generalizada
Não muito
generalizada
Não acontece
E3007
40,1
42,7
14,2
3,0
Peru
Concorda
totalmente
Concorda em
parte
Nem concorda
nem discorda
Discorda em
parte
Discorda
totalmente
E3004_1
6,0
24,9
24,4
36,5
8,2
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 10
E3004_2
22,9
48,0
5,8
16,7
6,7
E3004_3
3,3
7,9
8,7
59,6
20,5
E3004_4
19,0
46,9
13,4
16,0
4,7
E3004_5
7,2
30,5
15,8
38,8
7,8
E3004_6
8,9
48,7
15,1
22,2
5,1
E3004_7
23,1
56,3
6,9
9,6
4,1
E3005_1
9,3
45,8
15,4
24,2
5,2
E3005_2
9,8
46,3
16,5
24,5
3,0
E3005_3
3,0
25,0
21,3
44,0
6,7
E3005_4
8,5
42,2
18,6
26,1
4,7
E3005_5
18,7
55,5
12,1
11,6
2,2
Peru
Muito generalizada
Um pouco
generalizada
Não muito
generalizada
Não acontece
E3007
90,4
6,5
1,5
1,6
Uruguai
Concorda
totalmente
Concorda em
parte
Nem concorda
nem discorda
Discorda em
parte
Discorda
totalmente
E3004_1
E3004_2
11,6
43,8
6,2
36,7
1,7
E3004_3
0,6
24,8
8,3
59,1
7,1
E3004_4
5,2
30,3
5,1
54,5
4,8
E3004_5
5,4
37,1
2,4
46,3
8,8
E3004_6
13,8
61,1
5,5
19,1
0,6
E3004_7
6,7
38,9
5,7
44,2
4,5
E3005_1
2,7
45,2
3,6
43,0
5,6
E3005_2
2,9
39,8
3,0
46,9
7,5
E3005_3
3,9
50,9
8,8
34,0
2,4
E3005_4
3,1
35,0
2,8
54,5
4,5
E3005_5
1,5
14,2
2,3
66,5
15,5
Uruguai
Muito generalizada
Um pouco
generalizada
Não muito
generalizada
Não acontece
E3007
26,3
39,4
28,3
6,0
Estados Unidos
Concorda
totalmente
Concorda em
parte
Nem concorda
nem discorda
Discorda em
parte
Discorda
totalmente
E3004_1
6,7
28,8
32,2
21,0
11,3
E3004_2
12,7
37,3
22,7
22,8
4,5
E3004_3
1,6
16,5
24,2
39,9
17,8
E3004_4
11,8
31,8
32,5
18,0
5,9
E3004_5
9,3
28,4
22,1
24,1
16,2
E3004_6
19,1
35,8
23,8
16,1
5,2
E3004_7
17,9
43,9
20,4
14,6
3,1
E3005_1
23,6
35,2
20,9
12,1
8,3
E3005_2
6,6
18,9
28,7
24,5
21,4
E3005_3
15,9
35,4
27,3
14,7
6,7
E3005_4
4,9
14,6
25,8
27,4
27,3
E3005_5
6,1
22,4
30,1
20,5
21,0
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 11
Estados Unidos
Muito generalizada
Um pouco
generalizada
Não muito
generalizada
Não acontece
E3007
27,4
47,7
21,9
3,0
APÊNDICE B
Resultados associados às Análises Fatoriais
Incluída
E3004_1
Brasil
Chile
Costa
Rica
El
Salvador
México
Peru
Uruguai
Estados
Unidos
KMO
0,748
0,690
0,733
0,630
0,734
0,701
0,841
Barlett
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
Variância
49,585
49,327
47,549
46,603
47,774
43,560
48,279
Excluída
E3004_1
Brasil
Chile
Costa
Rica
El
Salvador
México
Peru
Uruguai
Estados
Unidos
KMO
0,728
0,680
0,621
0,742
0,713
0,759
0,823
Barlett
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
Variância
51,895
52,421
43,190
51,198
46,515
51,843
49,654
APÊNDICE C
Loading plot e scree plot por país com a totalidade das varáveis de Hobolt et al. (2016)
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 12
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 13
APÊNDICE D
Loadings plot e scree plot por país, excluída a variável E3004_1
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 14
Valeria CABRERA e Fabíola Brigante DEL PORTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 15
É a onda populista nas américas um mesmo fenômeno? Um estudo exploratório das atitudes populistas dos cidadãos
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025007, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1081 16
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação
Revisão, formatação, normalização e tradução