Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025004, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1079 1
DA FAZENDA AO GREEN BONDS: UM ESTUDO DE CASO NA ELITE DO
AGRONEGÓCIO BRASILEIRO
DE LA GRANJA A LOS BONOS VERDES: UN ESTUDIO DE CASO EN LA ÉLITE DEL
AGRONEGOCIO BRASILEÑO
FROM FARM TO GREEN BONDS: A CASE STUDY IN THE BRAZILIAN
AGRIBUSINESS ELITE
Salli BAGGENSTOSS1
e-mail: salli@unemat.br
Júlio Cesar DONADONE2
e-mail: donadojc@uol.com.br
Como referenciar este artigo:
BAGGENSTOSS, S.; DONADONE, J. C. Da fazenda ao green
bonds: um estudo de caso na elite do agronegócio brasileiro. Teoria
& Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00,
e025004, 2025. e-ISSN: 2236-0107. DOI: 10.14244/tp.v34i00.1079
| Submetido em: 1011/2023
| Revisões requeridas em: 17/05/2024
| Aprovado em: 09/06/2025
| Publicado em: 14/08/2025
Editora:
Profa. Dra. Simone Diniz
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Doutor em Engenharia de Produção (PPGEP). Mestrado
Engenharia de Produção (PPGEP).
2
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Professor Titular da Universidade Federal de São Carlos. Bolsista
produtividade 2 do CNPq. Coordenador do Núcleo de Sociologia Econômica e das Finanças (NESEFI).
Da fazenda ao green bonds: um estudo de caso na elite do agronegócio brasileiro
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025004, 2025. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 10.14244/tp.v34i00.1079 2
RESUMO: O objetivo do artigo é analisar as transformações e reconfigurações da elite por
meio do mapeamento de um caso do agronegócio no Brasil. Destarte, propôs-se analisar o
processo de conversão de um agente do espaço econômico em relação ao campo político e suas
influências, a reconversão dos capitais e a legitimidade. Com abordagem qualitativa, objetivo
descritivo e auxílio da prosopografia, o agente pesquisado foi Blairo Borges Maggi, empresário
do agronegócio que se destaca no campo político nacional. Dentre os resultados, observou-se
que o poder simbólico conferido pela relação com a empresa familiar facilitou a inserção em
outros espaços, como na política. O título de “rei da soja” legitima a eleição como governador,
e outro título simbólico leva o agente e a empresa a se reorganizarem e traçarem novas
estratégias para mitigar impactos e buscar a estabilização. Para a expansão, internacionalização
e financeirização são estratégias nas quais a empresa e a família iniciam a imersão.
PALAVRAS-CHAVE: Transformações organizacionais, político, empresário, sociologia
econômica.
RESUMEN: El objetivo del artículo es analizar las transformaciones y reconfiguraciones de
la élite mediante el mapeo de un caso de agronegocios en Brasil. Por lo tanto, se propuso
analizar el proceso de conversión de un agente del espacio económico en relación con el campo
político y sus influencias, la reconversión del capital y la legitimidad. Con un enfoque
cualitativo, objetivo descriptivo y asistencia de la prosopografía, el agente investigado fue
Blairo Borges Maggi, empresario agroindustrial que se destaca en el campo político nacional.
Entre los resultados, se observó que el poder simbólico que confiere la relación con la empresa
familiar facilitó la inserción en otros espacios, como la política. El título de “rey de la soja”
legitimó su elección como gobernador. Otro tulo simbólico llevó al agente y a la empresa a
reorganizarse y trazar nuevas estrategias para mitigar impactos y buscar la estabilización.
Para la expansión, la internacionalización y la financiarización son estrategias en las que la
empresa y la familia empiezan a sumergirse.
PALABRAS CLAVE: Transformaciones organizacionales, gente de negocios, político,
sociología económica.
ABSTRACT: The objective of the article is to analyze the transformations and reconfigurations
of the elite by mapping an agribusiness case in Brazil. To this end, it was proposed to analyze
the process of conversion of an agent from the economic space in relation to the political field
and its influences, the reconversion of capital, and its legitimacy. With a qualitative approach,
descriptive objective, and assistance from prosopography, the agent researched was Blairo
Borges Maggi, an agribusiness entrepreneur who stands out in the national political field.
Among the results, it was observed that the symbolic power conferred by the relationship with
the family business facilitated insertion in other spaces, such as politics. The title of soy king
legitimized his election as governor. Another symbolic title led the agent and company to
reorganize and outline new strategies to mitigate impacts and seek stabilization. Expansion,
internationalization, and financialization are strategies in which the company and the family
begin to immerse themselves.
KEYWORDS: Organizational transformations, businesspeople, politician, economic
sociology.
Salli BAGGENSTOSS e Júlio Cesar DONADONE
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025004, 2025. e-ISSN: 2236-0107
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Introdução
Ao anunciar a intenção de sua terceira candidatura à presidência do Brasil, Luiz Inácio
Lula da Silva buscou apoio de Blairo Maggi para intensificar o diálogo com o agronegócio.
Após ser eleito, o presidente Lula escolheu Carlos Fávaro, nome apoiado por Blairo Maggi,
como o novo ministro da Agricultura. Esses anúncios, realizados ainda em 2022, refletem a
presença de uma liderança que, mesmo afastada oficialmente do cenário político desde 2019,
mantém seu status quando se trata da elite do agronegócio no país.
As relações do agricultor e empresário Blairo Maggi com o cenário político são o escopo
deste estudo, que busca, por meio da análise de sua trajetória, compreender como um agente
que exerce liderança e representatividade em um setor econômico expressivo no país transita
na área política com significativa influência.
Estudos que exploram as trajetórias econômicas e as relações políticas são recorrentes
no campo da sociologia econômica (Ambiel; Donadone, 2021; Coradini, 1996; Saint Martin,
2008; Silva; Oliveira, 2015). Compreender como os agentes exploram as relações entre os
espaços político e econômico tem sido de interesse múltiplo e justifica este estudo, que pretende
contribuir ao avaliar como ocorre a transmissão de influência entre esses espaços, com foco no
agronegócio e na política. Nesse sentido, apresenta-se o propósito deste artigo: avaliar como o
agente, outrora intitulado “rei da soja”, passou de agricultor e empresário para o campo político
e, mesmo ao se afastar oficialmente deste último, ainda mantém um papel ativo nos bastidores.
Este estudo envolve o agente Blairo Borges Maggi, terceiro e único filho (as outras
quatro são filhas) de AndAntônio Maggi, empreendedor no setor do agronegócio que iniciou
as atividades com plantio de sementes de soja no interior do estado do Paraná. O grupo familiar
Amaggi foi fundado por André Maggi em 1977 e, na década de 1990, surge como destaque na
produção de soja no estado de Mato Grosso, no Brasil e no mundo.
Como fundamento metodológico, foi utilizada uma abordagem qualitativa e objetivo
descritivo para análise da trajetória do agente, com auxílio da prosopografia. Para a coleta dos
dados, foram utilizadas biografias publicadas, revistas, entrevistas e notícias disponibilizadas
em mídia, ponderando a dificuldade no acesso direto ao agente.
A possibilidade de uma gestão de comunicação apresenta-se como um argumento
plausível para a escolha de Blairo Maggi pelo silêncio, uma postura que se estende a toda a
família Maggi. Uma entrevista poderia incitar a análise de um sujeito “reflexivo” a um agente
atuante e, nessa concepção, também a trajetória de Blairo Maggi deve ser compreendida como
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os “diferentes estados sucessivos da estrutura da distribuição das diferentes espécies de capital
que estão em jogo no campo considerado” (Bourdieu, 1996, p. 190).
Apesar de uma entrevista não ter sido viabilizada, a opção de continuar a pesquisa com
o auxílio de outras fontes se justificou ao se compreender que o acesso a diferentes tipos de
informações, como entrevistas concedidas a revistas ou jornais, discursos e a biografia póstuma
de seu pai, entre outros, carrega suas intenções, pois foram “ditas” e publicadas em momentos
que o agente considerou propícios. A esses elementos, acrescentam-se outros dados que
contribuem para a composição deste estudo. Os excertos selecionados seguem uma ordem
cronológica com o intuito de evidenciar as relações e tensões entre os espaços transitados.
A seguir, serão apresentados conceitos e discussões teóricas que envolvem o tema para,
na sequência, apresentar o estudo de caso. Optou-se pelo relato conjunto do empresário/político
e da empresa, visto que as ações direcionadas ao primeiro repercutiram no grupo, permitindo
que os impactos fossem acompanhados de forma mais objetiva.
Estudo das elites e implicações
O termo elite carrega um sentido amplo e de definição imprecisa, remetendo à noção de
dirigentes, privilegiados, classe de influentes, categoria favorecida, grupo dominante (Heinz,
2006; Saint Martin, 2008). Apesar disso, a noção de elite sustenta estudos de grupos de
indivíduos que ocupam posições relevantes em um determinado espaço e dispõem de poder,
influência e privilégios que não são compartilhados por todos os membros dessa sociedade
(Heinz, 2006). Assim, por meio de uma análise mais apurada dos atores situados no topo da
hierarquia, busca-se compreender a complexidade de suas relações e objetivos com o grupo
envolvido.
Saint Martin (2008, p. 49) reforça que os interesses nos estudos de elite ocorrem:
pelas relações que unem ou que às vezes opõem, através de conflitos ou de
lutas, os diferentes grupos dominantes, assim como pelas relações que as elites
têm com outros grupos sociais e pelos modos de ação e de decisão, ou de
deliberação. Da mesma forma, as transformações em curso, as recomposições,
reconversões e a internacionalização crescente são temas que apresentam
questões e suscitam pesquisas.
Sob esse prisma, Ambiel e Donadone (2021) focaram seus estudos nas relações de poder
entre os campos, em que os agentes convertem capitais visando ao capital político, ocupando
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posições estratégicas, como conselhos, cargos eletivos e representações classistas, de forma a
angariar benefícios e conseguir vantagens do Estado. Para os autores, os agentes que possuem
interesses em determinadas deliberações buscam uma forma de obter entrada nos espaços de
poder, seja por meio de influência ou integrando-se como membros efetivos.
Para entender como se constituem as relações de poder, Saint Martin (2008) indica ser
imperativo analisar os diferentes atores que detêm mais ou menos recursos sociais, econômicos,
culturais e simbólicos no espaço pleiteado e entre diferentes grupos de elites envolvidos na
decisão ou posição desejada. As interações entre os agentes de determinado campo são
entendidas em função da posição que cada um ocupa no espaço e de seus capitais econômico,
cultural, social e simbólico (Bourdieu, 1989).
As interações que os agentes sociais hábeis exercem, segundo Fligstein (2009), formam
quadros alternativos para a organização do campo, multiplicando-os e convencendo outros a
cooperar na construção e reprodução de ordens sociais locais, o que acaba por fortalecer o poder
simbólico do agente. Dessa forma, os capitais do agente são elementares na reprodução da
estrutura produzida, obtida através de seu poder simbólico, que produz significações e as
difunde como legítimas (Bourdieu, 1989).
Nos estudos de Heredia, Palmeira e Leite (2010), ressalta-se que o “papel do Estado”
permanece atuante por meio de políticas setoriais e globais ou, ainda, na tentativa de estabelecer
um marco regulatório no campo das relações de trabalho e do meio ambiente. Destarte, fazer
parte ou buscar formas de entrada no meio político significa ter condições de defender interesses
e objetivos da elite que o agente representa, quiçá dele mesmo.
Os membros da elite econômica tendem a usar suas relações com membros da elite
política para se inserirem em novos espaços, conforme assegurado por Ambiel e Donadone
(2021). Essas interações são arranjadas em ambientes da alta sociedade, reservados às elites
nacionais, visando à entrada no campo político, facilitada quando o agente dispõe de uma boa
rede de relações.
Os agentes que possuem mais capitais têm mais facilidade nessa reconversão, que, para
Saint Martin (Jardim; Martins, 2022), trata-se dos deslocamentos no espaço social de atores ou
de grupos de atores provocados por grandes transformações ou por transformações mais
estruturais, com o abandono de posições estabelecidas e o ingresso em novos setores. Esses
agentes veem a oportunidade de converter seus capitais profissionais e econômicos para outros
objetivos.
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Essas transformações podem decorrer da dinâmica do mercado. Para Fligstein (1990),
essa dinâmica é resultado de uma sobreposição entre o Estado e outros agentes do campo, como
as organizações. Quando o Estado promove alguma modificação, o campo precisa se adequar
às novas condições existentes. Fligstein e McAdam (2011) definem campo como espaços
socialmente construídos em que atores com variados recursos disputam por vantagens. Nas
disputas pelo domínio do espaço almejado, que pode surgir em sua dinâmica, os diferentes
capitais e recursos dos agentes são elementares para alcançar poder e obter seu controle.
Os conceitos descritos neste referencial são utilizados para compor o suporte teórico
empregado nas análises referentes às relações e transformações do agente, neste estudo de caso
Estudo das elites e implicações
A fundação das Sementes Maggi remonta a 1977, quando o empreendedor André
Antônio Maggi decidiu abandonar o setor madeireiro e focar na produção de sementes de soja
em São Miguel do Iguaçu, no Paraná. O patriarca, nascido em Torres, no Rio Grande do Sul,
após o casamento com Lúcia Borges Maggi, partiu para o oeste paranaense em busca de
oportunidades. Iniciou sua carreira como funcionário em uma serraria e, após alguns anos,
adquiriu a empresa.
Com a escassez de madeira na região paranaense e o declínio nos negócios, somados ao
início das atividades da Usina de Itaipu, André Maggi passou a dedicar-se ao plantio de
sementes. Em 1974, conseguindo financiamento junto ao Banco Regional de Desenvolvimento
do Extremo Sul, com sede em Curitiba, o empresário adquiriu um armazém da fábrica Kepler
Weber para sua produção, uma ação inovadora naquele período.
As décadas de 1960 e 1970 foram significativas para o agronegócio mundial. Com a
chamada “revolução verde”, incentivada pela Fundação Rockefeller e pela Fundação Ford e
adotada pelo Banco Mundial, foi difundido o uso de sementes híbridas, acompanhadas de
fertilizantes químicos e maquinário agrícola para alta produtividade (Pereira, 2016). Para tanto,
facilitou-se o acesso ao financiamento agrícola, especialmente em países subdesenvolvidos.
Assim, enquanto subsidiaram a sua agricultura, os EUA e a Europa Ocidental
pressionavam - junto com o Banco Mundial - os países subdesenvolvidos a
adotarem a revolução verde mediante a compra de máquinas e insumos
químicos produzidos nos países centrais (Pereira, 2016, p. 230).
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Sob a tese de que os agricultores eram abertos a incentivos econômicos e estavam dispostos
à otimização da produção, seguindo critérios capitalistas de rentabilidade (Pereira, 2016), o
Banco Mundial implantava suas estratégias nos países em desenvolvimento. No Brasil, vários
programas de incentivo ao desenvolvimento do setor foram criados nesse período, como o
Programa de Desenvolvimento dos Cerrados, no qual a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural e a Companhia de
Desenvolvimento Agrícola realizavam experimentos com a soja na região central do Brasil.
Incorporando essas estratégias, João Baptista de Figueiredo, ao assumir a presidência em 1979,
lançou um programa de incentivo à agricultura com o slogan “Plante que o João garante!”.
Também em 1979, enquanto seu filho Blairo Maggi estudava agronomia na
Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, André Maggi adquiriu a primeira fazenda na
região de Itiquira, em Mato Grosso, acompanhando as migrações sulistas para a região Centro-
Oeste, incentivadas por políticas públicas.
Nesse cenário de expansão do agronegócio, em 1983, foi inaugurado o primeiro
armazém do então grupo Maggi, em sua terceira propriedade no município de Itiquira (MT). A
inauguração contou com a presença do governador do estado, Frederico Campos.
Nos anos seguintes, a expansão das áreas produtivas continuou, com investimentos em
fazendas no oeste do estado. A região era considerada promissora para o plantio de grãos, sendo
foco de investimentos no projeto “Itamarati Norte”, de Olacyr de Moraes, pioneiro no plantio
de soja na região do Cerrado ainda na década de 1970. Como maior produtor individual de soja
no mundo no período, Olacyr de Moraes foi considerado o primeiro “rei da soja”.
Na região que atualmente corresponde ao município de Sapezal (MT), André Maggi
participou ativamente da criação do município e foi eleito seu primeiro prefeito em 1996. Como
no local havia carência de infraestrutura, foi inaugurada, em 1992, a primeira Pequena Central
Hidrelétrica (PCH) do grupo, visando garantir energia aos empreendimentos que se instalavam
na área.
O ano de 1994 foi fundamental para a família e para o grupo: o filho Blairo Maggi
iniciou sua carreira política como suplente de um senador representante do agronegócio; o
município de Sapezal foi instituído, criado pela Lei Estadual n.º 6.534, de 19 de setembro de
1994. Além disso, foram iniciadas pelo grupo as negociações do projeto Corredor noroeste de
Exportação e da navegação entre Porto Velho (RO) e Itacoatiara (AM), em parceria com o
governo do estado do Amazonas.
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Como é possível observar, as interações com o campo político são recorrentes na família
e têm significativa presença na biografia póstuma de André Maggi (Baptista, 2018). São
mencionadas participações em eleições municipais, negociações com auxílio de políticos,
inaugurações com a presença de políticos de diversos partidos e registros de visitas a Brasília.
Para Ambiel e Donadone (2022, p. 435), “os acordos discutidos diretamente entre os agentes
econômicos e do Estado favorecem a manipulação dos projetos na direção de satisfazer as
partes”.
A própria expansão do grupo segue uma agenda política de governo com incentivos
significativos para a aquisição de terras nas regiões do Cerrado e da Amazônia (Heredia,
Palmeira; Leite, 2010; Oliveira, 2017). Por tratar-se de colonização, havia carência de
infraestrutura. Assim, as relações com os agentes políticos proporcionaram vantagens ao
desenvolvimento regional e, consequentemente, ao crescimento do grupo.
É importante ressaltar as relações de troca, como a do senador Jonas Pinheiro (PFL-
MT), que se afirmava representante do agronegócio, buscando, como suplente, um legítimo e
próspero agricultor: Blairo Maggi. Por outro lado, a participação do Estado é fundamental na
liberação de financiamentos para a expansão do grupo. Com o financiamento do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em 1997, foi inaugurada a
Hermasa Navegação da Amazônia S/A, na presença do Presidente da República Fernando
Henrique Cardoso. Também nesse ano, por benefícios advindos do BNDES, foi criada a
Fundação André Maggi para ser responsável pelo gerenciamento do hospital construído em
Sapezal. O hospital inaugurado foi nomeado Renato Sucupira, em homenagem ao presidente
do BNDES naquele período.
O falecimento do fundador de uma empresa é um momento importante de ruptura entre
concepções, de posicionamento para a nova gestão, de sua afirmação e legitimação. A morte
do fundador e patriarca André Maggi, em 2001, deu início à reestruturação e implantação da
governança do grupo, agora renomeado como Amaggi. A ferramenta adotada foi a holding
familiar, que, segundo Mamede e Mamede (2017), possibilita a separação das áreas
operacionais das áreas puramente patrimoniais. Os autores ressaltam o uso da holding para
facilitar o planejamento societário e sucessório, representando uma configuração mais
adequada para guardar e gerir o controle acionário nas organizações. Isso se alinha com os
deslocamentos indicados por Saint Martin (Jardim; Martins, 2022), nesse caso motivados pela
necessidade de reestruturação interna.
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Enquanto a empresa retomava os investimentos com a inauguração da primeira
esmagadora de grãos e da segunda PCH em 2002, Blairo Maggi consolidava sua trajetória com
seus capitais acumulados (Bourdieu, 1989), convertendo-os em influência dentro de outro
espaço de lutas simbólicas, agora o campo político.
A extensa área de soja plantada entre os anos 1990 e o início dos anos 2000 conferiu a
André Maggi o tulo de “rei da soja” por torná-lo o mais recente maior produtor de soja do
mundo. Com seu falecimento, o título foi herdado pelo filho. Assim, em 2003, o “rei da soja”
foi eleito governador de Mato Grosso, sendo considerado um autêntico representante no estado,
que tem como base econômica o agronegócio. “Ser” do agronegócio era importante, mas
também ser um exemplo de empresário próspero no setor e ter uma história de vida no estado
foram aspectos que contribuíram para sua eleição, na qual obteve mais de 50% dos votos válidos
em sua primeira disputa eleitoral.
O poder econômico do agente pode ser representado pelas extensas áreas de terra
produzidas, mas também o seu poder simbólico. O poder simbólico, para Bourdieu (1989),
é similar ao obtido pela força física ou econômica, mas somente é exercido se for reconhecido
como poder, ou seja, não seja imposto. “O poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível,
o qual pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão
sujeitos ou mesmo que o exercem” (Bourdieu, 1989, p. 8).
Esse reconhecimento do poder pode ser observado por meio dos eleitores que o
elegeram, mas também é percebido pelos patrocínios recebidos em sua campanha. Silva (2020)
levantou a relação dos doadores para sua campanha em 2002. Além de doações do próprio
grupo, empresas da elite do agronegócio, como Bunge Fertilizantes S/A, Syngenta Proteção de
Cultivos LTDA, Fertipar Fertilizantes Paraná LTDA, ainda bancos contribuíram, como no caso
do Banco Crédito Real Minas Gerais S/A. Como assevera a autora: “[…] podemos pensar que
a elite agrária, ao se mobilizar e financiar a campanha de um dos seus representantes, também
garantiu acesso ao Estado e às políticas públicas” (Silva, 2020, p. 147). A entrada de Blairo no
campo político passa a ser facilitada pela rede de boas relações, amparada em seu acúmulo de
capitais (Ambiel; Donadone, 2022).
Faz-se recorrente reportar a justificativa divulgada pelo agente para sua candidatura ao
governo de Mato Grosso: “o investimento pessoal e familiar seria uma forma de retribuir ao
povo mato-grossense, com desenvolvimento social e sustentável, o sucesso empresarial que
teve dentro do Estado. Ser governador também era um sonho, que ele resolveu bancar” (Folha
de São Paulo, 2002, apud Silva, 2020, p. 140). A autora entende que não hegemonia no
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espaço empresarial, por isso “houve a necessidade de sua candidatura como representante do
bloco de poder do empresariado do agronegócio” (Silva, 2020, p. 141).
Em sua gestão como governador, o agronegócio em Mato Grosso foi alavancado por
políticas públicas, especialmente na infraestrutura, parte responsável pelo escoamento da
produção. Com isso, os índices de desmatamento também tiveram crescimento acelerado,
despertando a atenção do mundo por ambos os motivos.
No segundo ano de seu mandato, em 2005, a Organização Não Governamental (ONG)
Greenpeace conferiu ao governador Blairo Maggi o título simbólico de “Motosserra de Ouro
por ser considerado um incentivador do desmatamento na Amazônia. Aos olhos do mundo, o
agente que era o “rei da soja”, um exemplo que afirmava garantir a produção de alimento ao
planeta, passou a ser considerado o “rei do desmatamento”.
A título de contextualização, em 2004, havia um cenário mundial de preocupação com
a sustentabilidade, que abordava a inclusão dos termos environmental”, social e
governance e convocava as instituições financeiras a assumirem a responsabilidade
socioambiental de suas ações. Esse movimento foi iniciado pelo secretário-geral da ONU, Kofi
Annan, com o documento “Who Cares Wins”, publicado pelo Pacto Global e Banco Mundial.
As sequelas daquele título simbólico ecoaram, causando mudanças nas estratégias, nos
embates e, principalmente, nos agentes do espaço considerado. Empresas internacionais
consumidoras de soja passaram a pressionar seus fornecedores no Brasil: não consumiriam soja
associada ao desmatamento, à invasão de terras indígenas e à escravidão (Adario, 2016). O
embargo econômico mundial alterou o cenário do agronegócio nacional e de todos os
envolvidos.
Especificamente no caso analisado, uma das primeiras mudanças se reflete nos discursos
proferidos pelo agente, que passa a flexibilizar a atuação do agronegócio, incorporando a
sustentabilidade e buscando legitimidade na necessidade de produzir alimentos para o mundo.
Como exemplos, os discursos anteriores à atribuição do título: “para mim, um aumento
de 40% no desmatamento não significa nada e não sinto a menor culpa pelo que estamos
fazendo aqui” (Rohter, 2003); “Esse negócio de floresta não tem o menor futuro” (Elia, 2005).
Após a repercussão, os novos discursos indicam a flexibilidade: “O empresário está tranquilo.
Blairo Maggi não desmata mais” (Mourão, 2005); “Os produtores brasileiros possuem uma
consciência muito grande da importância da preservação ambiental, que não existe em nenhum
outro país do mundo” (Petroli, 2016).
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Para mitigar as forças opositoras, servem os discursos, que são fontes para o encontro
dos pontos de apoio morais faltosos e incorporam dispositivos de justiça (Boltanski; Chiapello,
2009). Assim, devido à grande repercussão gerada, houve a necessidade de acalmar os
mercados e divulgar a crença de que o agronegócio é sustentável e essencial para o mundo.
Fligstein (2007) considera que ajustes são elaborados por atores sociais hábeis de acordo com
a atual organização do campo, da posição ocupada nele e dos movimentos realizados pelas
habilidades sociais dos agentes de outros grupos nesse espaço.
O embargo imposto pelo mercado internacional à soja brasileira, cuja repercussão foi
amplificada pelo título “Motosserra de Ouro”, provocou a criação do acordo denominado
“Moratória da Soja” em 2006. Trata-se de um pacto comercial promovido pela Associação
Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) e pela Associação Brasileira dos
Exportadores de Cereais, com a participação do governo e da sociedade civil. Nesse pacto, seus
signatários assumiram o compromisso de não comercializar e financiar grãos produzidos em
áreas no Bioma Amazônia desmatadas ilegalmente após 2006 (ABIOVE, 2022). As tradings
signatárias do pacto se comprometeram a não comprar soja originária dessas áreas. Entre elas
estão multinacionais como ADM, Bunge, Cargill, LDC e a Amaggi.
Apesar das sequelas geradas, Blairo Maggi permaneceu como representante legítimo do
agronegócio e foi reeleito governador de Mato Grosso em 2007. A votação, maior que na
primeira eleição, superou os 65% dos votos válidos. Nessa segunda eleição, o número de
doadores para sua campanha aumentou em 313% (Silva, 2020); contudo, não se manteve a
hegemonia do agronegócio, ampliando seu leque de apoiadores oriundos de diversos setores.
De acordo com dados levantados por Silva (2020) junto ao Tribunal Superior Eleitoral,
um dos maiores doadores pessoais foi Mauro Mendes (eleito em 2019 governador de Mato
Grosso), proprietário da empresa Bimetal, também doadora. A empresa foi beneficiada por
renúncia fiscal desde 2003 com o Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de
Mato Grosso, criado na gestão de Blairo Maggi. Em 2015, a empresa decretou falência e
ingressou com pedido de recuperação judicial.
Em seu segundo mandato e declarando apoio oficial ao governo Lula, as viagens de
Blairo Maggi ao exterior como governador incluíram o papel de divulgar que a produção de
grãos não promove o desmatamento ilegal e de difundir o discurso de que o agronegócio tem o
papel de alimentar o mundo. Esse destaque foi apresentado por Dinheiro Rural (2007) sobre
uma dessas viagens: “Maggi, o embaixador do agronegócio. O governador Blairo Maggi visitou
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dez cidades na Europa, defendeu a carne brasileira e travou batalhas contra ativistas
ambientais”.
Entre o internacional e a financeirização
O processo de internacionalização de uma empresa constitui um marco significativo de
sua expansão. As viagens de Blairo Maggi como governador coincidem com a abertura do
primeiro escritório internacional do grupo Amaggi em Roterdã (Holanda), em 2008. No ano
seguinte, ocorreu a aquisição de 51% das ações da esmagadora norueguesa Denofa, que,
posteriormente, foi totalmente adquirida pelo grupo. Em 2010, foi a vez de focar na Argentina,
com a abertura de outro escritório internacional, posteriormente somando-se escritórios no
Paraguai, Suíça, Singapura e, mais recentemente, na China.
A abertura de novos pontos de atuação com a circulação internacional é recorrente no
processo de expansão das empresas, como visualizado nos estudos sobre o setor sucroalcooleiro
de Saltorato e Mundo Neto (2008), sobre o grupo Gerdau por Ambiel e Donadone (2022), ou
do transporte aéreo brasileiro por Mundo Neto (2011). Para Seidl (2013), é possível constatar
o lugar central que o internacional tende a ocupar nos esquemas de legitimação dos mais
diversos grupos dirigentes, elemento que tem imprimido nova dinâmica na disputa pelo poder.
Isso também se evidencia na área do direito, conforme os estudos de Ponzilacqua (2017), que
afirmam haver um jogo internacional cujas variáveis político-econômicas e dinâmica específica
fomentam o desenvolvimento de um processo global de declínio da eficácia dos sistemas
nacionais de direito. A percepção é de que essa dinâmica reflete em vários campos, não se
restringindo ao direito apenas.
Para o processo de internacionalização, o grupo Amaggi deveria seguir as regras do jogo
internacional, em especial porque o mercado mundial se mantinha atento às repercussões sobre
o desmatamento na Amazônia. Nessa perspectiva, a empresa focou em legitimar ações
envolvendo sustentabilidade, criando uma diretoria e contratando uma especialista para dar
início às estratégias internas de responsabilidade socioambiental.
A implantação da ISO 14001 em 2005, a participação no Certificado de
Responsabilidade Social promovido pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso
(Baggenstoss; Donadone, 2010) por diversos anos, a aderência ao Pacto Global da ONU em
2009 e a obtenção da certificação Round Table on Responsible Soy Association em 2011 são
exemplos das estratégias desenvolvidas envolvendo a sustentabilidade. A incorporação foi
Salli BAGGENSTOSS e Júlio Cesar DONADONE
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significativa e, em 2013, Waldemir Ival Loto, então presidente executivo do grupo, discursou
no Global Compact Leaders Summit, evento promovido pela ONU, momento em que convidou
os principais líderes empresariais do planeta a pensarem um modelo de agricultura mais
sustentável em seus países (Amaggi, 2013).
Certificados, certificações, premiações, títulos, relatórios e participações em eventos
fazem parte da estratégia de reconhecimento e legitimação como empresa sustentável. Em 2016,
houve ainda a criação do próprio selo, o Amaggi Responsible Standard”, que promove o
gerenciamento da cadeia produtiva da soja de acordo com os compromissos socioambientais
assumidos. Os atos mencionados nos remetem à justificativa que Boltanski e Thévenot (1991)
relatam como combates dos agentes que são expostos em situações de desavença em um espaço
social, onde utilizam argumentos persuasivos para se defenderem.
Além da questão da sustentabilidade, o cenário de internacionalização também requer
novas estratégias do grupo para se adequar às exigências dos novos mercados em que pretende
atuar. Seidl (2013, p. 193) discorre sobre o processo de internacionalização:
Compreender a lógica das trocas, as estratégias de legitimação e imposição
dos modelos, objetivar os múltiplos atores em jogo (governos e grupos
dirigentes nacionais, ONGs, bancos, organismos internacionais,
universidades, multinacionais, escritórios de advocacia, think tanks) em
especial a figura-chave dos mediadores (brokers, passeurs) e as diversas
modalidades de luta estão no cerne dos questionamentos.
Pela sua atuação como trading em commodities do agronegócio, a Amaggi tem como
concorrentes o conhecido quarteto Archer Daniels Midland Company (ABCD, Bunge, Cargill
e LDC), que são consideradas as líderes mundiais no setor. As estratégias assumidas pelo grupo,
por vezes, são modelos que essas empresas testaram e fazem uso, ou mesmo modelos que o
mercado impõe a elas e, por ser uma desafiante (Fligstein, 2001), a Amaggi precisa jogar como
parte do jogo. É o caso da estratégia de integração vertical que todas utilizam, investimentos
em logística, até mesmo a não abertura de capital, como é o caso da Cargill, uma das maiores
empresas de capital privado do mundo.
Como desafiante, o caminho a ser percorrido até atingir a posição dominante é longo.
No entanto, estratégias podem facilitar esse trajeto. É o caso das joint ventures, comuns entre
as empresas do agronegócio e o quarteto ABCD. A Unitapajós é uma joint venture realizada
com a Bunge, em 2013, visando ao escoamento de grãos por meio do corredor norte, pela
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hidrovia Tapajós-Amazonas, que, posteriormente, agregou a Estação de Transbordo de Cargas
em Miritituba (Itaituba-PA) e o Terminal Portuário de Barcarena (PA).
A atuação da Amaggi na logística inclui a composição de outra joint venture, desta vez
com a Louis Dreyfus Company e a japonesa Zen-Noh Grain, no estado do Maranhão, com o
Porto de Grãos. Recentemente, a Amaggi, LDC, Cargill, ADM e TIP Bank formaram nova joint
venture nomeada de Carguero, um ambiente virtual voltado à negociação de frete e pagamento,
que envolve cerca de 100.000 motoristas de caminhão, embarcadores e transportadoras.
Mediante o exposto, Ambiel e Donadone (2022, p 432) esclarecem:
Assim como a organização da empresa se adequa aos seus interesses
estratégicos de crescimento, seus representantes se posicionam de maneira
relacional a ela. Na mesma proporção em que obtém prestígio por meio de
resultados prósperos, a empresa concede ao seu representante a posição de
porta-voz do setor de negócio em que se insere.
De tal modo que o grupo prospera, a trajetória de Blairo Maggi como político prossegue.
Conforme descrito anteriormente, as decisões do governador Blairo beneficiaram o setor do
agronegócio e, consequentemente, beneficiaram também o grupo. No entanto, houve casos em
que seus parceiros políticos tomaram as decisões, visando diretamente aos interesses do grupo.
Um exemplo disso é a aprovação, por seu sucessor Silval Barbosa no governo de Mato
Grosso (foi vice-governador de Blairo Maggi no segundo mandato), do projeto de lei que
institui a política de planejamento e ordenamento territorial — o Zoneamento Socioeconômico
e Ecológico do Estado (ZSEE) em 2011. O ZSEE foi criticado por ambientalistas,
considerado representante dos interesses do agronegócio. No ano seguinte, o Ministério Público
Estadual moveu uma liminar para sua suspensão, e a Comissão Nacional de Zoneamento o
considerou ilegal, rejeitando a nova proposta de zoneamento. O grupo Amaggi possui cinco
PCHs, e outras em projeto para construção, algumas delas envolvendo áreas indígenas que
foram motivo de conflitos (Galvão, 2020), diretamente afetadas pelo ZSEE proposto.
Outro caso, este em causa própria, é o Projeto de Lei n.º 6.299/2002
3
, em que Blairo
Maggi, como suplente e ao substituir o senador Jonas Pinheiro, elaborou sua proposição. O
chamado “PL do veneno” está em tramitação desde 1999, recentemente com outros nomes
responsáveis, mas continua gerando polêmica no Congresso Nacional brasileiro (Agência
3
O projeto de lei propõe alteração na legislação atual para modificar o sistema de registro de agrotóxicos, seus
componentes e afins, desta forma liberando a entrada de novos produtos no mercado nacional que não são
permitidos pela lei atual.
Salli BAGGENSTOSS e Júlio Cesar DONADONE
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Senado, 2022). Esse projeto permitiria a negociação de novos defensivos agrícolas, insumos
que também são negociados pelo grupo Amaggi. A discussão do projeto envolve a bancada
rural, a bancada dos ambientalistas, além de pesquisadores, institutos, associações, fundações,
entre outros.
Como membro da bancada ruralista e representante do agronegócio, Blairo Maggi foi
nomeado Ministro da Agricultura do governo Michel Temer, em 2016. Atuou por dois anos e
teve seu nome envolvido em um escândalo denominado “Operação Carne Fraca”, além de ser
acusado de atos de corrupção pela Polícia Federal na “Operação Ararath”. Antes de sua saída
do ministério, em 2018, anunciou seu voto em Jair Bolsonaro (Borges, 2018) e, posteriormente,
divulgou seu afastamento da vida pública para cuidar dos negócios da família.
Em contrapartida, o grupo Amaggi, em âmbito interno e próximo a completar 40 anos,
empenha-se cada vez mais em vincular seu nome às práticas de sustentabilidade. Em 2017,
elaborou e publicou políticas de Posicionamento Global em Sustentabilidade, Compliance e
Integridade. Com novos projetos de implantação de PCHs, declarou-se usuário de energia
renovável, não-poluente e de baixo impacto ambiental, além de anunciar investimentos em 35
usinas fotovoltaicas classificadas como sustentáveis. Tais políticas são recorrentes em grandes
empresas, especialmente aquelas que assinaram o Pacto da Moratória da Soja, anteriormente
citado.
Paralelamente a isso, a estratégia de aquisições do grupo permanece: foi comprada a “vizinha”
Fazenda Itamarati, em 2018, dos herdeiros de Olacyr de Morais; em 2021, foram negociadas
áreas em Mato Grosso com o grupo O Telhar Agro; e, em 2022, em Rondônia, com o “rei da
pecuária” Garom Maia, novas áreas foram adquiridas (Amaggi, 2022).
Esses são alguns dos pontos em que o grupo se diferencia de seus principais
concorrentes. Um deles é o foco na produção de soja, milho e algodão, sendo que o quarteto
ABCD tem investimentos nos setores de cacau, açúcar, camarão, entre outros, mas não
especificamente nesses cereais. Outro item é a aquisição de terra como áreas produtivas, o que
não é recorrente no quarteto ABCD, mas tem sido fonte de interesse de investidores,
principalmente dos fundos private equity, que apostam em projetos greenfields, como os de
etanol discutidos por Saltorato e Mundo Neto (2008).
As apostas em projetos greenfields têm um fator relevante: o custo. As aquisições e
fusões têm sido inflacionadas pela demanda de mercado, como descrevem Saltorato e Mundo
Neto (2008). Assim, “partir do zero” apresenta-se como uma alternativa viável, especialmente
nas áreas de expansão da produção de grãos, que possuem valores menores que os de outras
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regiões. No entanto, é válido lembrar que essas áreas, que fazem parte do bioma amazônico e
do cerrado, estão frequentemente vinculadas às questões de desmatamento ilegal.
Ao completar quatro décadas de fundação, a Amaggi acumulou conhecimento e
expertise no que se refere ao preço da terra, investindo significativamente nesse setor. Judiney
Carvalho, ex-presidente executivo do grupo, afirmou à Reuters que a demanda por commodities
agrícolas brasileiras sustenta o plano de crescimento da empresa, tanto por meio de aquisições
quanto por projetos greenfields (Mano, 2021). Carvalho destacou a intenção do grupo ao
afirmar: “a forma como somos estruturados faz nossa tomada de decisão ser mais rápida se
comparada às ABCDs” (Mano, 2021), referindo-se às suas concorrentes diretas. A partir de
2018, foi colocado em operação o AL5 Bank, um banco próprio com operações de capital de
giro oferecidas aos produtores que negociam com o grupo Amaggi, com antecipação de
recursos aos fornecedores por meio de operações de desconto de recebíveis e operações de
crédito consignado aos funcionários.
A abertura do banco “vem ocupar estrategicamente uma lacuna deixada pelas
instituições do segmento” (AL5 Bank, 2023). O financiamento do plantio aos produtores
sempre foi feito pela Amaggi, em parte com recursos obtidos prioritariamente no exterior. De
acordo com dados da Forests & Finance (2022), coletados entre 2013 e 2022, o grupo arrecadou
US$ 544.196.396,01 em empréstimos corporativos de instituições financeiras como SMBC
Group (Japão), BNP Paribas (França), JPMorgan Chase (EUA) e do brasileiro BNDES. Apesar
de ser uma empresa de capital privado, esses passos têm sido dados indicando o caminho da
financeirização.
Seguindo o exemplo de outras empresas do agronegócio, como a SLC Agrícola, em
2021 a Amaggi lançou sua primeira operação no mercado internacional de dívidas com a
emissão de US$ 750 milhões em sustainability bonds, os chamados green bonds”, para captar
recursos e aplicar em projetos sustentáveis, alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável propostos no Pacto Global da ONU. Ao descreverem a reestruturação do mercado
de bioenergia rumo à financeirização, Saltorato e Mundo Neto (2008) realizam um mapeamento
dos movimentos de fusões, aquisições e fundos de participação para construir um espaço que
adere aos focos da sociologia das finanças e ao isomorfismo institucional, aspectos também
observados neste estudo.
O isomorfismo (Powell; Dimaggio, 1991) indica a análise dos atores e dos
comportamentos dos que os cercam, influenciando os modelos cognitivos e guiando suas ações,
comportamentos e decisões. Os modelos estão no mercado em que o grupo opera e deseja
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expandir, sendo recorrente seguir os caminhos indicados, muitas vezes já trilhados por disputas
que outras empresas tiveram de enfrentar para alcançar seu espaço. Portanto, ao atuar no
mercado do etanol, como deseja a Amaggi, é necessário conhecer e operar com as estratégias
recorrentes do mercado da bioenergia. Consequentemente, ao adotar essas estratégias, a
empresa demonstra um processo isomórfico que pode conduzir à financeirização.
Nessa perspectiva, a elite também passa a ser conduzida, indicando quais caminhos
possivelmente serão percorridos pelos herdeiros, abordagem dada na sequência.
As novas gerações e os novos caminhos
Em relação ao conselho de governança da Amaggi, Blairo Maggi não exerceu nem
exerce cargo, apenas compõe uma das holdings que formam o grupo. Todavia, seu nome é
sempre vinculado ao grupo, quer seja como “do grupo Amaggi”, “acionista do grupo” ou
mesmo como seu porta-voz. O capital econômico, social, cultural e simbólico, neste processo
de reconversão de empresário a político, certamente foi expandido. Uma simples busca por
notícias pode indicar esse capital: “Mãe de Blairo é a única mulher entre os 10 mais ricos do
país” (Minuto MT, 2023).
Como exemplo dessa atuação como porta-voz do grupo, destaca-se o anúncio de Blairo
Maggi, em 2021, em reunião com o governador de Mato Grosso (Mauro Mendes, doador em
sua segunda eleição), sobre investimentos superiores a R$ 500 milhões em construção de
armazém, fábrica de fertilizantes, fábrica de biodiesel, nova PCH e aquisição de equipamentos
agrícolas (Assunção, 2021).
A representação exercida não difere em termos de empresa. De acordo com dados
disponíveis no endereço virtual do grupo, em 2022, a Amaggi informou que refez a distribuição
de capital do grupo, apresentado como shareholders”. O percentual de Lúcia Maggi reduziu-
se para 4,68% do capital, e o percentual das cinco holdings aumentou para 19,06% do capital.
As cinco holdings sinalizam os cinco filhos de Lúcia e André Maggi.
No quesito governança, o conselho de administração e a diretoria executiva são
apontados como os órgãos principais. Em 2022, do conselho fazia parte Lúcia Maggi, que o
presidiu inicialmente e, então, passou a conselheira. Com ela, também tinham assento uma das
filhas e dois genros, além de dois netos. No histórico, foram três presidentes que se alternaram
na direção do conselho desde a formação da governança no grupo: primeira gestão com Lúcia
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Maggi; na sequência, Pedro Jacyr Bongiolo, funcionário da empresa desde 1978; e,
recentemente, Sérgio Luiz Pizzatto, economista que também iniciou sua carreira no grupo em
1994 (Forbes, 2023), assumindo as funções em junho de 2023.
Lúcia Borges Maggi assumiu a direção da empresa em 2001, após o falecimento do
esposo e fundador André Maggi, com quem teve quatro filhas (Fátima, Rosângela, Marli e Vera)
e um filho, Blairo, formado em Agronomia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). De
acordo com a autobiografia publicada da matriarca, as filhas também estudaram no estado do
Paraná. Um exemplo é Rosângela Maggi Schmidt, a quarta filha, formada em Direito na
Universidade Católica do Paraná (Bustamante, 2012).
Saint Martin (2008) e Seidl (2013) corroboram que, nas análises de reconversão da elite,
há necessidade de observar:
“os modos de transmissão de diferentes recursos sociais aos membros da
família, com ênfase nos elementos educativos e culturais, na preservação e
ampliação controlada do capital de relações pessoais e, sobretudo, das alianças
matrimoniais — elemento decisivo na reprodução bem-sucedida dos grupos”
(Seidl, 2013, p. 203).
Destarte, ao levantar informações sobre os casamentos da segunda geração da família,
como descrito nas biografias dos fundadores, sugere-se que esses replicam os modelos de seus
genitores, sendo todos acomodados com cargos na empresa.
Lúcia Borges Maggi e Marli Maggi Pissolo aparecem na lista da Forbes em 2022 entre
as dez mulheres mais ricas do Brasil. Mãe e filha são viúvas, o que justifica o capital em seus
nomes. No caso dos genros Itamar Locks e Hugo Ribeiro, casados, respectivamente, com as
filhas Fátima Maggi e Vera Maggi, ambos constam como acionistas do grupo, com patrimônios
superiores a US$ 1,2 bilhão e, recentemente, foram relacionados em lista de bilionários do
agronegócio (Forbes, 2023).
De acordo com Leite e Assis (2022), é a dimensão de casamentos estáveis e duradouros
que ressalta a importância da família e da herança como transmissão de capitais perpetuados.
Em suas pesquisas, que incluem as bilionárias Maggi, identificaram que ocorre “diferenciação
de categorias de gênero que afasta as mulheres das classes altas do mundo profissional e as
coloca como ocupantes de conselhos consultivos das empresas quando herdeiras” (Leite;
Assis, 2022, p. 20).
Salli BAGGENSTOSS e Júlio Cesar DONADONE
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Fátima Maggi presidiu a Fundação André Maggi até 2015 (a nomenclatura foi alterada
para Fundação André e Lúcia Maggi — Falm), que então passou a ser gerida por Belisa Souza
Maggi, terceira geração da família. Seidl (2013) relata que essas inserções em associações
filantrópicas se conjugam como várias formas de celebração social da “tradição” familiar, da
“riqueza” e do “sucesso”. Atuando desde 1997, a instituição se apresenta como responsável pela
gestão do Investimento Social Privado da Amaggi, com editais destinados à seleção de projetos
que receberão investimentos.
Essa herdeira, filha de Blairo Maggi, é formada em Direito em uma universidade
particular de Curitiba e cursou liderança executiva em Harvard. A descrição em seu perfil revela
passos que parecem ser repetidos: presidente do Instituto Signativo, cofundadora da startup
Puppa Inovação, Educação e Desenvolvimento Humano Ltda.; sócia administradora da
Agropecuária Pirapora; e conselheira de Administração no AL5 Bank (Linkedin, 2023). Ela
cumpre seu papel na gestão da Falm e na reprodução bem-sucedida de uma elite, participando
em cargos do grupo, investindo em inovação e dando continuidade ao capital escolar, ao investir
em um instituto de inovação e desenvolvimento humano.
Nada obstante, em sua trajetória, relatada em publicação na Folha de São Paulo,
confirma a posse de uma área produtora de soja no município colonizado pelo avô, a qual
gerencia com auxílio do marido, formado em Administração. “É a continuação do legado dele”
(Trindade, 2022). Mais uma vez, o poder simbólico de Blairo Maggi é acionado: “filha do ‘rei
da soja’ quer deixar legado no agro e na educação” é o título dado à matéria.
Ao descrever a reprodução da elite e ao citar o exemplo das grandes écoles”, Saint
Martin (2008, p. 54) afirma:
Deve-se reconhecer-lhe esforços de adaptação e de modernização, os quais
não implicam, no entanto, uma transformação realmente importante, as
mudanças sendo com frequência apenas de fachada, concessões, em resposta
aos críticos, trazendo não mais do que progressos sutis.
É possível visualizar essa assertiva em relação ao descrito sobre a herdeira
anteriormente. busca por especialização em Harvard; entretanto, a graduação foi cursada no
Brasil. investimentos em inovação e educação; porém, o carro-chefe é apresentado como
dar seguimento ao legado, tal qual pai e avô foram, portanto, produzindo grãos.
A terceira e a quarta geração da família são formadas por 16 netos e 23 bisnetos de Lúcia
e AndMaggi, constantes na autobiografia da matriarca. Os relatos sobre os netos revelam que
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a maioria cursou a graduação em Curitiba, alguns em Agronomia, mas também em Comércio
Exterior, Economia, Psicologia e Administração. Também é relatado que vários tiveram
experiência no exterior, onde alguns até residiram fora do país por alguns anos. As informações
sobre a família Maggi são restritas, o que tem razão de ser. Todavia, é possível observar que,
nos enlaces matrimoniais publicados da terceira geração, é enfatizado o sobrenome “Maggi”,
tornando possível afirmar que a preservação da dinastia continua sendo garantida, somada aos
novos agregados.
A aposta em inovação tem sido uma das estratégias incutidas pela terceira geração ao
grupo. Leonardo Maggi Ribeiro, neto de André Maggi e sobrinho de Blairo Maggi, se
autodenomina “chefe da provocação” e atua como o headde inovação do grupo, conforme
entrevista concedida ao Plant Project (, 2020). Com formação em Administração por uma
universidade particular do Paraná e um MBA nos EUA, com passagem pelo Vale do Silício, seu
nome está vinculado a termos como startups, climate-tech, agro hub, agri-tech e investidor-
anjo, entre outros na área de inovação.
Em uma entrevista, Leonardo Ribeiro delineia o rumo que os herdeiros devem seguir no
grupo: “plantar é como uma startup todo ano. Renova a cada safra”. Ainda:
hoje fazemos corporate venture de uma forma brejeira. Na família Maggi cada
um tem seu business. Um ou outro faz pequenos investimentos em tecnologia,
seja anjo, seja seed. Um fundo de corporate venture capital é um movimento
natural para nós. Muito em breve vai acontecer de forma mais estruturada (,
2020).
Belisa Maggi, em uma parte da entrevista anteriormente descrita, revelou que ela e mais
11 herdeiros estavam se preparando para a sucessão com um programa de desenvolvimento de
acionistas e famílias empresárias oferecido por uma escola de negócios renomada no país.
Pensando na sustentabilidade de uma empresa familiar, asseverou ainda que está em estudo a
implantação de um family office (Trindade, 2022). Essa foi uma estratégia que a multinacional
Cargill implantou com o intuito de auxiliar no gerenciamento das necessidades da família e
promover o engajamento e aprendizado entre as gerações mais jovens.
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Considerações finais
As investigações realizadas para este artigo buscaram analisar as transformações e
recomposições na elite do agronegócio resultantes do ingresso de um agente do setor econômico
do agronegócio ao campo político.
Ao concluir, alguns apontamentos ainda se fazem necessários. Em primeiro plano,
destaca-se a relação entre o agente estudado e a empresa familiar que, ao carregar o sobrenome,
lhe confere também poder simbólico. O nome familiar Maggi não possuía herança de
pertencimento a uma elite, mas, com o crescimento do grupo, tornou-se uma referência no
agronegócio mundial em poucas décadas (e gerações).
Essa notoriedade facilitou a inserção em outros campos, como o político. Ser o “rei da
soja” abriu uma passagem direta e legitimada ao cargo de governador de um estado em que o
agronegócio é a base econômica (assim como ao atuar como suplente de senador do MT). Tal
constatação é também mencionada nos relatos de Ambiel e Donadone (2022) sobre o grupo
Gerdau e Jorge Gerdau. Todavia, diferenciando-se da família Gerdau, a família Maggi construiu
seu capital em duas gerações, pai e filhos, em quase meio século.
A reconversão do empresário bem-sucedido, possuidor de capitais que lhe permitiram
abrir novos caminhos, como o político, amparado na rede de relações que construiu, não foi
suficiente para evitar o impacto de um título simbólico como o da “motosserra de ouro”. Esse
acontecimento afetou significativamente tanto o agente quanto a empresa. As principais críticas
e movimentações, como os embargos, foram internacionais, e a reestruturação da empresa
precisou ser reavaliada e reformulada. Com o objetivo de expansão, a internacionalização
tornou-se uma estratégia fundamental.
Para recomposição dos espaços fragilizados, Blairo Maggi, a empresa e demais
envolvidos precisaram se reorganizar e buscar novas estratégias como forma de mitigar os
impactos e alcançar estabilidade, tanto no setor do agronegócio quanto no setor político. Apesar
do capital simbólico acumulado e da rede de relações construída pelo agente, também foi
necessário utilizar sua habilidade social, conforme descrito por Fligstein (2007), que envolve
agentes de diversos espaços para elaborar ajustes que possam acomodar as críticas. Os agentes
devem demonstrar capacidade de articular suas aspirações de justiça e fundamentar suas
justificativas em convenções normativas (Boltanski; Thévenot, 1991). Neste caso, pode-se
afirmar que os resultados foram bem-sucedidos, pois ocorreu a reeleição como governador e o
grupo iniciou seu projeto de internacionalização.
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Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025004, 2025. e-ISSN: 2236-0107
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O passo dado para atuar fora do país demanda mudanças estratégicas para operar em
novos mercados, especialmente considerando que o grupo Amaggi permanece em destaque na
mídia, atrelado ao desmatamento na Amazônia. Para isso, é comum buscar modelos de
referência, devidamente testados e legitimados. Assim, a financeirização acaba sendo um
caminho a ser percorrido, dado que os principais concorrentes do grupo operam estratégias
nesse sentido. Conceitos como holding, governança corporativa, CEO, acionistas e publicação
de relatórios são exemplos de novos arranjos organizacionais envolvidos nesse processo. O
isomorfismo ocorre quando os atores compreendem e adotam o comportamento daqueles que
podem servir como exemplo, reformulando seus modelos cognitivos com base nisso, muitas
vezes sem que as partes envolvidas percebam.
A internacionalização e a financeirização são estratégias frequentemente adotadas pelas
principais empresas que atuam no agronegócio, assim como por outras grandes empresas que
visam expandir seus negócios. O grupo também está imerso nesse universo e está preparando a
próxima geração para atuar nessa perspectiva. “Esse é um caminho natural a ser seguido”,
afirma o herdeiro Leonardo Maggi Ribeiro (, 2020).
Como parte da reprodução da elite, ainda não foi abordada a questão de quem será o
herdeiro político, ou se haverá um, pois ainda não houve manifestação pública sobre o assunto.
Foi possível encontrar relatos de familiares que investiram em políticos que não eram apoiados
por Blairo Maggi, prestes a completar 70 anos, em tempo de possuir um.
De fato, é importante compreender que o capital acumulado pelo agente decorre de sua
trajetória, intervenções, transferências e conversões que demandaram suas habilidades. Se,
atualmente, ele exerce influência no campo político, mesmo sem ser um agente efetivo (político
eleito), isso se deve a esse capital acumulado. Caso haja um herdeiro político nesse espaço, é
provável que trace seu próprio caminho, embora certamente se beneficie da experiência do
antecessor. A reprodução do capital político ainda não está configurada, o que pode sugerir uma
direção para futuras investigações.
Salli BAGGENSTOSS e Júlio Cesar DONADONE
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 34, n. 00, e025004, 2025. e-ISSN: 2236-0107
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