Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 1
MUITO MAIS QUE UM JOGO: TORCIDAS ATIVISTAS E A DEFESA COLETIVA
DE CAUSAS CONTENCIOSAS NO FUTEBOL
MUCHO MÁS QUE UN JUEGO: LAS AFICIONES ACTIVISTAS Y LA DEFENSA
COLECTIVA DE CAUSAS CONTENCIOSAS EN EL FÚTBOL
MUCH MORE THAN A GAME: ACTIVIST FOOTBALL FANS AND THE
COLLECTIVE DEFENSE OF CONTENTIOUS CAUSES IN FOOTBALL
Gerson de Lima OLIVEIRA1
e-mail: gersonoliveira@unipampa.edu.br
Matheus Mazzilli PEREIRA2
e-mail: matheus.mazzilli@ufrgs.br
Eduardo Georjão FERNANDES3
e-mail: eduardo.g.fernandes@gmail.com
Como referenciar este artigo:
OLIVEIRA, G. L.; PEREIRA, M. M.; FERNANDES, E. G. Muito
mais que um jogo: Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas
contenciosas no futebol. Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência
Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-
0107. DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058
| Submetido em: 07/07/2023
| Revisões requeridas em: 10/09/2023
| Aprovado em: 15/02/2024
| Publicado em: 17/04/2024
Editora:
Profa. Dra. Simone Diniz
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Universidade Federal do Pampa (Unipampa), São Borja RS Brasil. Doutor e mestre em Sociologia pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor e pesquisador na Unipampa.
2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre RS Brasil. Doutor e Mestre em
Sociologia (UFRGS). Professor do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia
da UFRGS.
3
Universidade Vila Velha (UVV), Vila Velha ES Brasil. Doutor e mestre em Sociologia pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política (UVV).
Muito mais que um jogo: Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas contenciosas no futebol
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 2
RESUMO: Os recentes protestos das torcidas autodenominadas antifascistas têm ampliado a
visibilidade das ações de caráter político promovidas por torcedores de futebol. Como definir
conceitualmente tais ações de forma a diferenciá-las das demais atividades realizadas por
torcidas de futebol? Nesse artigo, sugerimos que o conceito de “ativismo” definido como a
defesa coletiva de causas contenciosas é uma chave analítica profícua para o estudo deste
fenômeno. Em busca de evidências de ativismo junto a torcidas de futebol, realizamos uma
revisão não sistemática da literatura sobre torcedores de futebol e política no Brasil e uma
pesquisa empírica exploratória junto às torcidas a partir de um levantamento documental em
mídias sociais e de entrevistas com seus membros. Os resultados indicaram a existência de tal
fenômeno ao evidenciar que o futebol é um campo marcado por conflitos diversos em relação
aos quais as “torcidas ativistas” têm agido coletivamente na defesa de causas contenciosas.
PALAVRAS-CHAVE: Futebol. Torcidas. Ativismo. Movimentos sociais. Política.
RESUMEN: Las recientes protestas de aficiones autodenominadas antifascistas em Brasil han
aumentado la visibilidad de las acciones políticas promovidas por los aficionados al fútbol.
¿Cómo podemos definir conceptualmente tales acciones para diferenciarlas de otras
actividades de aficiones de fútbol? En este artículo, sugerimos que el concepto de “activismo”
definido como la defensa colectiva de causas contenciosas es una clave analítica relevante
para el estudio de este fenómeno. En busca de evidencias de activismo entre las aficiones de
fútbol, llevamos a cabo una revisión no sistemática de la literatura sobre los aficionados al
fútbol y la política en Brasil y una investigación empírica exploratoria sobre las aficiones
basada en una encuesta documental en las redes sociales y en entrevistas con sus miembros.
Los resultados indicaran la existencia de tal fenómeno al mostrar que el fútbol es un campo
marcado por diferentes conflictos en relación a los cuales las “aficiones activistas” han
actuado colectivamente en defensa de causas contenciosas.
PALABRAS CLAVE: Fútbol. Aficiones. Activismo. Movimientos sociales. Política.
ABSTRACT: The recent protests of the so-called anti-fascist football fans have increased the
visibility of political actions promoted by them. How can we conceptually define such actions
to differentiate them from the other activities carried out by football fans? In this article we
suggest that the concept of activism” defined as the collective defense of contentious causes
is a useful analytical key for studying this phenomenon. In search of evidence of activism among
football fans, we carried out a non-systematic review of the literature on football fans and
politics in Brazil and exploratory empirical research among football fan groups based on
documentary research on social media and interviews with their members. The results indicated
the existence of such a phenomenon by showing that football is a field marked by different
conflicts in relation to which the “activist fans” have acted collectively in defense of contentious
causes.
KEYWORDS: Football. Football Fans. Activism. Social movements. Politics.
Gerson de Lima OLIVEIRA; Matheus Mazzilli PEREIRA e Eduardo Georjão FERNANDES
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 3
Introdução
Entre os meses de maio e junho de 2020, em meio à “primeira onda” da pandemia de
Covid-19 no Brasil, uma disputa era travada nas ruas de diversas grandes cidades brasileiras.
Apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro, que protagonizavam uma série de protestos
contra as políticas de isolamento social e a própria democracia, encontraram opositores até
então inesperados, que buscavam ocupar as ruas em reação à extrema direita: torcidas
organizadas de futebol. Sua principal motivação era a defesa da democracia (Souza, 2020).
Como ressaltou um dos fundadores da torcida Gaviões da Fiel do Sport Club Corinthians
Paulista em entrevista à BBC:
Fomos fundados na ditadura militar com o objetivo de fazer um movimento
de dentro da torcida para dentro do clube para derrubar a ditadura que existia
lá. Conseguimos isso nas eleições seguintes. A Gaviões sempre participou de
campanhas políticas. O que a gente quer dizer dessa vez é que esses
(manifestantes) contra a Constituição são minoria. A rua não é de vocês e vai
ter luta (Souza, 2020).
Dois anos depois, torcidas de futebol novamente sairiam do noticiário esportivo para
ocupar as editorias políticas dos grandes veículos brasileiros. Semanas após as eleições que
reconduziram Luiz Inácio Lula da Silva para um terceiro mandato presidencial, bloqueios de
vias públicas eram realizados pelos apoiadores do agora candidato derrotado Jair Bolsonaro.
Eles novamente encontraram em seu caminho as torcidas organizadas de futebol. Grupos de
torcedores organizaram ações “fura-bloqueios” para interromper os atos de extrema-direita.
Nesse caso, as motivações eram variadas. Ainda que alguns dos torcedores manifestassem
críticas aos protestos bolsonaristas e a intenção de defender o resultado das eleições, outros
justificaram suas ações de outra forma: queriam ver os jogos de seus times no Campeonato
Brasileiro de Futebol. Como afirmou o líder da torcida Galoucura do Clube Atlético Mineiro
(conhecido como “Galo”) em vídeo que teve ampla circulação nas redes sociais: “Nós vamos
apagar tudo. Pode passar todo mundo. Nós vamos ver o jogo do Galo” (Torcidas organizadas…,
2022).
As interconexões entre futebol e ativismo político certamente não são novidade no
Brasil. Torcedores e jogadores de futebol se mobilizaram em torno de pautas diversas nas
últimas décadas, como na experiência daDemocracia Corintiana” na década de 1980 ou ainda
na construção da pioneira Coligay por torcedores do Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense no final
da década de 1970, entre diversos outros casos. A análise de tais iniciativas, contudo, tem
Muito mais que um jogo: Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas contenciosas no futebol
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 4
recebido atenção limitada do campo de estudos de movimentos sociais e dos ativismos no
Brasil.
Uma problemática importante que obstaculiza a incorporação de tais fenômenos por
esse campo diz respeito à sua definição conceitual. Afinal, como pensar conceitualmente as
ações de torcedores de futebol marcadas por caráter político? E como diferenciá-las das diversas
outras atividades realizadas pelas torcidas de futebol? Essas são as problemáticas centrais deste
artigo. Nosso argumento sugere que o conceito de “ativismo” é uma chave analítica profícua
para o exame dessas questões.
Partimos aqui da definição de “ativismo” proposta por Abers (2021). Esse conceito é
relevante para os objetivos deste trabalho, uma vez que amplia a atenção analítica para ações
contenciosas não necessariamente circunscritas a atores vinculados a organizações de
movimentos sociais. A autora estrutura esse conceito a partir de duas grandes dimensões:
Primeiro, ativismo é ação orientada para a defesa de causas contenciosas (...).
Sejam causas favoráveis ou contrárias a mudanças na organização
institucional das relações de poder, essa parte do conceito incorpora o caráter
conflituoso em geral associado aos movimentos sociais (...). Segundo, entendo
que ativismo envolve a ação coletiva. (...) Em geral, ativismo é realizado por
atores que, uma vez que agem coletivamente em prol de causas, participam de
movimentos sociais, entendidos como um tipo de rede (DIANI, 1992). Mas a
ação coletiva do ativismo também pode ocorrer por fora de movimentos
sociais por meio de outros tipos de redes, como de servidores públicos ou
grupos de profissionais (Abers, 2021, p. 31).
Em suma, este conceito propõe que ativismo envolve a defesa coletiva de causas
contenciosas. Esse artigo sugere, assim, que quando torcidas de futebol agem coletivamente na
defesa de causas contenciosas, podemos defini-las a partir do conceito de “ativismo”. Nesses
casos, propomos denominá-las “torcidas ativistas”.
Como evidenciam os exemplos desta Introdução, a defesa de causas contenciosas nem
sempre é a motivação por trás das ações de torcidas de futebol, uma vez que torcedores agem
coletivamente por diversos outros motivos que não a defesa de tais causas, ainda que estas ações
tenham eventuais efeitos políticos, como sugerem alguns dos atos “fura-bloqueio”. Contudo,
como buscaremos demonstrar, exemplos de ativismo entre torcedores de futebol são numerosos.
A literatura brasileira sobre ativismo para além das ões de atores vinculados a
organizações de movimentos sociais têm se concentrado, em grande medida, na análise da
defesa coletiva de causas contenciosas no interior das instituições políticas (Abers, 2015; 2019;
2021; Cayres, 2017; Pereira, 2020; Zanoli, 2019). No entanto, estudos indicam que diversas
outras instituições sociais são desafiadas por ativistas, tais como os partidos políticos (Della
Gerson de Lima OLIVEIRA; Matheus Mazzilli PEREIRA e Eduardo Georjão FERNANDES
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 5
Porta; Chironi, 2015; Feitosa, 2022; Oliveira, 2021; Pereira, 2023), a ciência (Szwako; Sousa,
2022), a religião (Abers; Silva; Tatagiba, 2022) e até mesmo as forças armadas (Katzenstein,
1990). Embora nos casos mais visíveis de mobilização de torcidas citados anteriormente seu
ativismo se dirija ao Estado como alvo, descreveremos neste artigo vários casos em que
torcedores de futebol organizados em rede desafiam as instituições que influenciam a prática e
o consumo deste esporte, que envolvem o Estado, mas não se limitam a ele, incluindo empresas,
os clubes de futebol, as federações de futebol e as próprias torcidas.
Assim, este artigo contribui para o campo de estudos de movimentos sociais e dos
ativismos de diversas maneiras. Em primeiro lugar, propõe uma definição conceitual para a
mobilização coletiva de torcedores de futebol capaz de conectá-la a esse campo, o conceito de
“torcidas ativistas”, bem como uma tipologia para classificar tais torcidas. Em segundo lugar,
contribui para os debates sobre ativismo de duas maneiras: a) ao evidenciar um novo conjunto
de práticas social e politicamente relevantes que podem ser abrigadas por esse conceito em
dados casos, aquelas de torcidas de futebol; e b) ao evidenciar um conjunto de instituições em
oposição às quais o ativismo desses atores pode ser observado, tais como o Estado, os clubes e
federações de futebol e as próprias torcidas. Em terceiro lugar, explora de forma inicial dilemas
que torcedores ativistas vivenciam na construção de suas relações com outros grupos de
torcedores.
Com o intuito de desenvolver tais contribuições, este artigo está dividido da seguinte
forma. Na próxima seção, descrevemos os procedimentos metodológicos que utilizamos ao
longo da pesquisa de caráter exploratório que deu origem a este artigo. Nas seções seguintes,
buscamos demonstrar como o conhecimento existente sobre torcidas de futebol no Brasil e
as evidências da pesquisa exploratória por nós realizada indicam que diversas iniciativas de
torcedores brasileiros se enquadram na definição de “torcidas ativistas” por nós proposta. Para
isso, em primeiro lugar, se o ativismo envolve a defesa de causas contenciosas, é necessário
evidenciar que o futebol é um campo marcado por conflitos em relação aos quais torcedores
podem defender interesses e apresentar seus posicionamentos. Em segundo lugar, buscamos
evidenciar que, diante de tais conflitos potenciais, alguns grupos de torcedores de futebol
constroem identidades que articulam a defesa de causas aos seus pertencimentos clubísticos no
interior desse campo contencioso, agindo coletivamente para defendê-las. Em terceiro lugar, a
partir do caso de torcidas antifascistas, exploramos como a articulação entre a defesa de causas
contenciosas e o pertencimento clubístico pode dar origem a dilemas e conflitos vivenciados
pelos torcedores. Por fim, traçamos nossas considerações finais.
Muito mais que um jogo: Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas contenciosas no futebol
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 6
Procedimentos metodológicos
O objetivo principal da pesquisa que deu origem a esse texto foi o de identificar
experiências de ativismo entre torcidas de futebol, refletindo conceitualmente a respeito delas.
Para isso, estabelecemos dois objetivos específicos: a) buscar evidências que nos auxiliassem a
caracterizar o futebol como um campo contencioso e; b) identificar iniciativas de defesa
coletiva de causas contenciosas por grupos de torcedores nesse campo.
Para atingir esses objetivos, primeiramente, realizamos uma revisão não sistemática da
literatura brasileira sobre as relações entre torcidas de futebol e política. Foram realizadas
buscas no repositório Google Acadêmico a partir de palavras-chave, além de acionados alertas
sobre novas publicações a respeito do tema
4
. No total, selecionamos 45 textos para leitura e
análise a partir dessas buscas. Eventualmente após esse procedimento, incluímos novos textos
em nossa base na medida em que tomávamos conhecimento destes. Os artigos que efetivamente
foram utilizados para o alcance dos nossos objetivos estão elencados no Quadro 1, tendo
contribuído para ambos os objetivos específicos estipulados:
Quadro 1 - Publicações selecionadas para a revisão não sistemática da literatura brasileira
sobre as relações entre torcidas de futebol e a política
Autor
Ano
Revista
Área da
Revista
Marcos Alves de Souza
1996
Cadernos Pagu
Interdisciplinar
José Jairo Vieira
2003
Teoria &
Pesquisa
Ciência
Política
Édison Gastaldo
2005
Horizontes
Antropológicos
Antropologia
Arlei Sander Damo
2007
Revista Gênero
Interdisciplinar
Martin Curi; Edmundo
de Drummond Alves
Junior; Igor Alves de
Melo; Luiz Fernando
Rojo; Melina Aurora
Terra Ferreira; Robson
Campaneruti de Silva
2008
Revista Brasileira
de Ciências do
Esporte
Educação
Física
Gustavo Andrada
Bandeira
2010
Revista Brasileira
de Educação
Educação
Heloísa Helena Baldy
dos Reis
2010
Revista Brasileira
de Ciências do
Educação
Física
4
Foram utilizadas as palavras-chave “futebol e política”, “torcidas de futebol e política”, “futebol e protesto”,
“torcidas de futebol e protesto”. A utilização dessas palavras-chave justifica-se pela amplitude dos termos, o que
permitiu a coleta de um conjunto relevante de textos - com diferentes abordagens e provenientes de distintas áreas
do conhecimento - sobre as relações entre torcidas de futebol e a política.
Gerson de Lima OLIVEIRA; Matheus Mazzilli PEREIRA e Eduardo Georjão FERNANDES
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 7
Esporte
Fernando Marinho
Mezzandri; Saulo
Esteves de Camargo
Prestes; André Mendes
Capraro; Fernando
Renato Cavichiolli;
Wanderley Marchi
Júnior
2011
Revista Brasileira
de Educação
Física e Esporte
Educação
Física
Arlei Sander Damo
2012
História:
Questões &
Debates
História
Marcos Alvito
2013
Tempo
Ciências
Humanas
Gustavo Andrada
Bandeira e Fernando
Seffner
2013
Espaço Plural
Ciências
Humanas,
Educação e
Letras
Heloisa Helena Baldy
dos Reis; Felipe Tavares
Paes Lopes; Mariana
Zuaneti Martins
2014
Motrivivência
Educação
Física
Mauricio Rodriguez
Pinto; Marco Bettine
Almeida.
2014
Revista Brasileira
de Estudos do
Lazer
Interdisciplinar
Édison Gastaldo
2016
Logos
Comunicação
Arlei Sander Damo
2017
Sociabilidades
Urbanas Revista
de Antropologia e
Sociologia
Antropologia e
Sociologia
Felipe Tavares Paes
Lopes; Bernardo Borges
Buarque de Hollanda
2018
Tempo
Ciências
Humanas
Gustavo Andrada
Bandeira e Fernando
Seffner
2019
Diversidade e
Educação
Educação
Caio Lucas Morais
Pinheiro
2021
Locus: Revista de
História
História
Irlan Simões Santos
2021
Esporte e
Sociedade
Ciências
Sociais e
Humanas
Fonte: autoria própria
Para atingir o segundo dos objetivos específicos da pesquisa, nos apoiamos, ainda, em
evidências de uma pesquisa empírica exploratória. Buscando identificar exemplos de grupos de
torcedores que realizam ações coletivas marcadas pela defesa de causas contenciosas,
realizamos um mapeamento via mídias sociais (Facebook, Instagram e Twitter) de perfis de
Muito mais que um jogo: Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas contenciosas no futebol
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 8
torcidas e redes de torcidas que se articulam politicamente em torno de causas contenciosas.
Nosso levantamento inicial utilizou o termo de busca “torcida antifascista”, uma vez que este
era o recorte inicial de nossa investigação. Contudo, ao nos depararmos com uma diversidade
maior de experiências de ativismo por torcidas de futebol, mobilizamos novos termos em uma
segunda rodada de buscas, a saber: “torcida popular”, “torcida LGBTQIA+”, “torcida
feminista” e “torcida + movimento negro”.
Desde já, destacamos que este não é um levantamento sistemático e exaustivo, sendo
necessário o uso de uma diversidade maior de termos de busca devidamente testados e
consolidados para tal empreitada de forma a superar as dificuldades aqui encontradas. Por
exemplo, a existência de diversas torcidas que utilizam termos como “rubro-negro” e
“alvinegro” em seus nomes dificultou o mapeamento de grupos dedicados ao combate ao
racismo no futebol em nossa pesquisa preliminar. Ademais, nosso levantamento apenas mapeia
a existência nas mídias digitais de determinados grupos de torcedores que defendem causas
contenciosas, não sendo possível verificar sua participação efetiva nos estádios ou sua ação
política fora da esfera virtual. Contudo, acreditamos que tal levantamento cumpre o objetivo da
pesquisa, isto é, identificar mesmo que preliminarmente a existência do fenômeno que aqui
denominamos de “torcidas ativistas”.
Além deste mapeamento, realizamos quatro entrevistas exploratórias com integrantes
de torcidas autodenominadas antifascistas com o objetivo de acessar informações sobre como
agem politicamente os torcedores, como eles interpretam as relações entre futebol e política e
como se constituem as suas redes de ação coletiva. Foram entrevistados dois membros da
torcida Coluna Vermelha (do Sport Club Internacional, doravante denominado no presente
artigo apenas como Internacional”), um membro da Tribuna 77 (do Grêmio de Foot-Ball Porto-
Alegrense, doravante denominado neste artigo apenas como “Grêmio”) e um integrante da rede
Torcidas Antifascistas Unidas - Nordeste (TAU-NE).
As entrevistas foram realizadas com membros de torcidas autodenominadas
antifascistas por dois motivos: pelo protagonismo que este perfil de torcidas ativistas estava
exercendo no contexto das notícias que apresentamos na Introdução deste artigo e por
entendermos que a relação entre futebol e posicionamento político antifascista representa no
universo das torcidas ativistas uma espécie de “guarda-chuva” sob o qual são englobadas uma
série de outras causas como antirracismo, antielitização, defesa dos direitos LGBTQIA+,
feminismo, entre outras. As características dos informantes da pesquisa e das entrevistas
realizadas são resumidas no Quadro 2.
Gerson de Lima OLIVEIRA; Matheus Mazzilli PEREIRA e Eduardo Georjão FERNANDES
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 9
Quadro 2 - Torcedores entrevistados
Entrevista
Torcida
Identidade
de Gênero
Raça/Cor
Data da
Entrevista
Duração da
Entrevista
1
Coluna Vermelha
(Internacional)
Mulher
Cisgênero
Branca
4/8/2020
1h 15min
2
Tribuna 77 (Grêmio)
Homem
Cisgênero
Branca
7/8/2020
1h 38min
3
Coluna Vermelha
(Internacional)
Homem
Cisgênero
Branca
19/8/2020
1h 53 min
4
TAU-NE (multi-
torcidas)
Homem
Cisgênero
Branca
2/6/2021
1h 37 min
Fonte: autoria própria
Por fim, no que se refere à análise dos dados assim produzidos, realizamos dois
conjuntos de procedimentos. Quanto ao levantamento realizado em mídias digitais, construímos
um banco de dados em uma planilha na qual identificamos e sistematizamos as seguintes
informações dos perfis levantados: clube ao qual a torcida está vinculada; estado e região na
qual a torcida atua; e o “tipo” da torcida, estabelecido através da análise das causas e identidades
a elas relacionadas. Essa tipologia das torcidas ativistas foi construída por nós indutivamente
através da análise do material e será apresentada na seção na qual estes dados são analisados.
no que se refere às entrevistas, realizamos uma análise de conteúdo com auxílio de
um software de análise qualitativa de dados auxiliada por computadores (CAQDAS). Nesse
caso, as categorias utilizadas também foram construídas indutivamente e nos permitiram
identificar: a) as causas defendidas pelas torcidas; b) sua participação em protestos; c) suas
relações com a política institucional; d) as dinâmicas de violência e repressão no qual estiveram
envolvidas e; e) os conflitos existentes entre torcidas. Nas três seções seguintes, apresentamos
os resultados destes levantamentos.
O futebol como campo contencioso
Se o ativismo, conforme definido por Abers (2021), envolve a defesa coletiva de causas
contenciosas, sua ocorrência pressupõe a existência de um campo de conflito. Se em instituições
como o Estado e os partidos políticos a existência de conflitos políticos pode ser tomada como
um pressuposto de constatação quase evidente, esse certamente não é o caso do futebol. Um
olhar superficial sobre esse campo pode gerar a impressão de que disputas relacionadas ao
Muito mais que um jogo: Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas contenciosas no futebol
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 10
futebol estão meramente associadas às “paixões clubísticas” ou ainda às rivalidades entre
torcidas de uma mesma agremiação. Contudo, a literatura existente sobre esse campo revela a
presença de diversos conflitos de natureza política, econômica e cultural desde a invenção deste
esporte - a exemplo dos casos de “times de fábrica” que eram impedidos de disputar os mesmos
campeonatos que os times universitários da elite na Inglaterra do século XIX. Destacamos aqui
- e pensando especificamente no caso brasileiro contemporâneo - aqueles que envolvem
questões relativas à classe, raça, gênero e sexualidade.
Os conflitos de classe no campo do futebol têm sido abordados por trabalhos que
analisam fenômenos diversos, tais como a promulgação do Estatuto do Torcedor em 2003 e a
construção de novas “arenas” para os jogos de futebol no Brasil. Ambos os casos revelam que
o futebol é permeado por desigualdades de classe e que decisões tomadas por estruturas de
poder como o Estado, as federações de futebol e os próprios clubes podem diminuí-las ou
ampliá-las. Desta forma, tais intervenções se constituem como objetos de conflitos nesse
campo, mesmo que em potencial.
No caso do Estatuto do Torcedor, por exemplo, a aprovação dessa legislação criou
normas relativas a temas como a transparência nas regras dos certames desportivos, as
condições de segurança no interior e no acesso aos estádios, a infraestrutura, a organização e o
oferecimento de serviços de alimentação e higiene nos estádios, a vendas de ingressos para
partidas esportivas, entre outros (Curi et al., 2008; Mezzadri et al., 2011; Reis, 2010). Tais
normas têm sido analisadas criticamente por parte da literatura (Curi et al., 2008; DOS Reis;
Lopes; Martins, 2014).
Diversos estudos têm indicado como essa legislação pode ter como “efeito colateral” a
ampliação das desigualdades de classe no futebol. Críticas têm sido direcionadas à lógica de
“mercantilização do futebol” na qual o Estatuto do Torcedor estaria apoiado, que tomaria o
esporte como um “produto” e os torcedores como seus meros “consumidores”. A exigência de
mudanças na infraestrutura dos estádios para o oferecimento deste “produto”, por exemplo,
tenderia a gerar um aumento dos custos dos ingressos, marginalizando torcedores de classes
populares, problema em relação ao qual o Estatuto não apresenta soluções (Curi et al., 2008;
Dos Reis; Lopes; Martins, 2014).
Ademais, a nova conformação dos estádios imporia uma “forma de torcer” estranha à
lógica de determinados grupos de torcedores, em especial das torcidas organizadas e dos
torcedores de classe popular. Freitas (2005), por exemplo, identifica que nos estratos de classe
superiores o futebol é pensado como um produto de lazer e divertimento e como uma forma de
Gerson de Lima OLIVEIRA; Matheus Mazzilli PEREIRA e Eduardo Georjão FERNANDES
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 11
“sair da rotina”. para as classes populares, o esporte ganha traços de uma “razão de viver”.
Tais lógicas geram uma relação distinta de tais grupos de torcedores com o estádio. Dessa
forma, a exigência de numeração dos assentos nos ingressos delimitada pelo Estatuto, por
exemplo, entraria em conflito com a lógica de ocupação dos espaços do estádio pelas torcidas
populares de futebol, reforçando uma atitude de “mero espectador” ou “consumidor” entre
torcedores, condizente com as formas de consumo das classes médias e alta (Curi et al., 2008;
Dos Reis; Lopes; Martins, 2014).
Por fim, no Estatuto do Torcedor, os torcedores ainda seriam vistos crescentemente
como responsáveis pela violência nos estádios brasileiros, lógica expressa, por exemplo, na
determinação de videomonitoramento obrigatório das movimentações dos torcedores em dias
de jogos. Dessa maneira, reforça-se a tendência de repressão às torcidas organizadas e aos
setores populares, alvos preferenciais da ação repressiva estatal junto aos estádios (Curi et al.,
2008; Dos Reis; Lopes; Martins, 2014).
Às regulamentações exigidas pelo Estatuto do Torcedor somam-se outras iniciativas,
como a realização de megaeventos esportivos no Brasil - tais como os Jogos Panamericanos de
2007, a Copa das Confederações em 2013, a Copa do Mundo de Futebol masculino de 2014 e
as Olimpíadas de 2016 -, os quais teriam ampliado o processo de “elitização” e de “arenização
5
do futebol no país. A realização desses megaeventos na década de 2010 teria ampliado as
desigualdades de classe no futebol brasileiro ao reforçar processos já existentes de aumento dos
custos dos ingressos e de imposição de formas de “consumir” o esporte nos estádios, cada vez
mais afastando as classes populares destes espaços (Santos, 2021). Assim, processos como a
implementação de novas políticas voltadas ao futebol, bem como a realização de megaeventos
esportivos se constituem como objetos de conflito - ainda que potenciais - em torno da elitização
e da “arenização do futebol”, fortemente atravessados pelas desigualdades de classe.
Outro conjunto de conflitos que atravessam o futebol se conecta às relações entre raça,
gênero e sexualidade. Estudos sobre esse tema evidenciam que o futebol é marcado por intensas
desigualdades, relações de poder e violência envolvendo esses fatores e suas intersecções.
5
A chamada “arenização” dos estádios significa a transformação dos clássicos estádios de futebol em construções
“modernas” que, segundo Oliveira Jr (2017) estão balizadas por três conceitos: multifuncionalidade; gestão
“racional” do espaço e do público; e preocupação constante com a segurança. O conceito tem origem nos estádios
construídos na Europa a partir da década de 1990, denominados arena em inglês, cujo caso mais emblemático foi
o da Amsterdam Arena - do Ajax - inaugurada em 1996 e rebatizada de Johan Cruijff Arena em 2018. As arenas
estadunidenses (de basquete, beisebol, gridiron, hóquei e soccer) também influenciaram o futebol com a realização
da Copa do Mundo de futebol masculino naquele país em 1994. O processo de arenização, portanto, significa a
transformação dos estádios de futebol em construções arquitetônicas voltadas para a promoção de diversos
espetáculos - geralmente atendendo a fins mercadológicos - e para a própria espetacularização do esporte a fins de
atender os chamados “padrão FIFA” e “padrão UEFA”.
Muito mais que um jogo: Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas contenciosas no futebol
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 12
Também evidenciam que práticas e discursos adotados por instituições como o Estado, os
clubes e federações de futebol, a mídia, bem como as práticas cotidianas de sociabilidade entre
torcedores e profissionais no esporte podem reforçar ou problematizar tais desigualdades. Dessa
forma, as diversas práticas políticas e culturais relativas à raça, gênero e sexualidade no futebol
se constituem como objetos de conflito potencial nesse campo.
Nesse tópico, o trabalho de Souza (1996) fornece reflexões pioneiras. Segundo o autor,
“o futebol também pode ser entendido como um espetáculo ritualístico onde são representados
dramas relacionados à nação, ao gênero e à raça” (1996, p.150). No que se refere à raça, o
pesquisador destaca a construção discursiva do “futebol-arte” como a suposta representação
típica do “futebol brasileiro”, evidenciando as conexões entre tal representação e estereótipos
raciais associados aos jogadores negros, como a malandragem” e aginga” Ao mesmo tempo,
estereótipos raciais, como a “passividade” ou o “nervosismo” também são associados às causas
de eventuais “fracassos” do futebol brasileiro, como no caso da derrota da seleção nacional na
final da Copa do Mundo de 1950, fortemente associada pelo discurso midiático ao desempenho
do goleiro negro Barbosa. Dessa forma, também no campo do futebol o mito da democracia
racial” estaria presente, enaltecendo as supostas qualidades da “miscigenação racial” da
sociedade brasileira e ocultando as violências e discriminações raciais instituídas por esse
discurso e presentes na sociedade brasileira (Souza, 1996).
De forma semelhante, Vieira (2003) busca desconstruir mitos que sugerem que o futebol
é um campo marcado pela inexistência de desigualdades raciais, os quais afirmam, por exemplo,
que este esporte forneceria a atletas negros um espaço para mobilidade social livre de obstáculos
raciais. Para isso, realizou uma pesquisa junto a jogadores de futebol no estado do Rio de
Janeiro. Seus dados indicam que, apesar da maior presença de jogadores negros nesse campo
profissional, tais jogadores tendem a estar concentrados na base da pirâmide salarial da
categoria, que suas experiências de mobilidade de classe intergeracional são relativamente raras
se comparadas à percepção do senso comum e que os atletas negros percebem mais
frequentemente que atletas brancos a existência de racismo no esporte, em particular, por parte
das próprias torcidas.
as relações entre torcidas, gênero e sexualidade foram exploradas em profundidade
por estudos etnográficos que analisam como a dramatização de gênero ocorre em diversos
contextos concretos de interação social entre torcedores. Essas pesquisas dão especial atenção
à construção do futebol não apenas como o espaço associado ao “masculino”, mas também
Gerson de Lima OLIVEIRA; Matheus Mazzilli PEREIRA e Eduardo Georjão FERNANDES
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 13
como o espaço de afirmação de uma certa masculinidade hegemônica, dando origem a
desigualdades e conflitos em torno de gênero e sexualidade no esporte.
Tal processo de construção do futebol como um espaço “masculino” teria início ainda
nas práticas do esporte em brincadeiras entre crianças. Ao analisar interações entre crianças de
diferentes gêneros em jogos de futebol de rua, Damo (2007), por exemplo, argumenta que o
futebol se constitui como espaço para o aprendizado e de internalização de papéis de gênero,
em especial, relativos ao “masculino”, sugerindo que
Assim como brincar de boneca é uma forma de experimentar-se no papel de
mãe, jogar futebol é uma forma de aprender a ser homem, embora jamais tenha
ouvido quem quer que seja expressar isso aberta e publicamente,
possivelmente porque essas categorias estão naturalizadas em nossas
representações ordinárias (Damo, 2007, p. 147).
Na medida em que o futebol na infância se apresenta tacitamente como espaço para o
aprendizado de padrões hegemônicos de masculinidade, meninas são excluídas desse espaço,
uma vez que sua presença poderia romper com a associação entre o esporte e a masculinidade.
Dessa forma, se o futebol se apresenta na experiência dos meninos como um constrangimento
relativo à internalização de formas de agir prescritas a eles, na experiência das meninas, esse
esporte se apresenta como exclusão (Damo, 2007).
Além de afastar o “feminino” do campo do futebol, tais representações criam ainda uma
masculinidade prescrita em torno do tema, dando origem a processos de violência e exclusão
de pessoas com orientações sexuais e identidades e expressões de gênero que fogem à cis-
heteronormatividade. Gastaldo (2005), por exemplo, analisa como em bares em que jogos de
futebol são assistidos é construída uma masculinidade pautada pelas chamadas relações
jocosas futebolísticas”, baseadas no antagonismo em relação aos torcedores do time rival e nas
brincadeiras e provocações que “não devem ser levadas a sério”.
nos estádios de futebol, estudos indicam que performances de masculinidade estariam
pautadas pela expressão de emoções tidas como “masculinas” - como a raça (na defesa do time),
a violência (em especial, aquela de conotação homofóbica) - e pela atribuição de caráter
subalterno à masculinidade dos times rivais (novamente aqui, a partir de dispositivos de caráter
homofóbico). De forma paradoxal, contudo, essas pesquisas apontam que estádios de futebol
também se apresentariam para os homens como um dos poucos espaços de sociabilidade em
que a expressão de afeto entre eles (quando torcedores do mesmo time) é socialmente permitida
e valorizada, ainda que dentro dos limites delineados anteriormente (Bandeira, 2010; 2012;
Bandeira; Seffner, 2013; 2019).
Muito mais que um jogo: Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas contenciosas no futebol
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 14
Em suma, tais pesquisas evidenciam que o futebol é um campo marcado por
desigualdades, violências e conflitos políticos e culturais em torno de temas como classe, raça,
gênero e sexualidade. Políticas públicas, discursos e práticas da mídia e dos clubes e federações
de futebol e até mesmo as práticas cotidianas de sociabilidade dos torcedores estão marcadas
por diversas desigualdades, relações de poder e violências relacionadas a esses fatores. Ações
de diversas instituições e grupos sociais produzem efeitos sobre estas desigualdades, tornando-
se objetos de conflito, ao menos potencialmente. Para que esses fenômenos de fato se
constituam como objeto de conflito, contudo, é necessário que atores ajam coletivamente na
defesa de causas a ele relacionadas. Buscaremos demonstrar na próxima seção que esse
processo tem ocorrido entre torcedores brasileiros.
Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas contenciosas
Uma vez delimitado que o futebol é um campo atravessado por desigualdades,
violências e, assim, conflitos potenciais, é preciso analisar se evidências de que tais
fenômenos têm sido alvo da ação coletiva de torcedores que defendem causas a elas
relacionadas, ou seja, se em relação a esse campo contencioso podemos identificar a ação de
torcidas ativistas.
Torcidas de futebol foram, em muitos casos, interpretadas a partir de premissas que as
caracterizaram meramente pela ideia de “massa”, “povo” ou “multidão”. Tais visões estão
frequentemente associadas a uma leitura negativa do futebol baseada nas ideias do “vício” ou
da “alienação”, diminuindo a capacidade de agência dos torcedores. Em oposição a estas
premissas, pesquisas têm demonstrado que as dinâmicas comunicativas e de sociabilidade de
torcedores de futebol - em espaços como os estádios e os bares - envolvem uma densa rede de
práticas de construção de identidades coletivas, não podendo ser lidas como mero fenômeno
irracional de comportamento de massa (Alvito, 2013; Damo 2012; 2017; Gastaldo, 2016).
Tais práticas de sociabilidade podem gerar identidades coletivas e práticas de diversas
naturezas. Parte da literatura explorou como tais práticas ajudam a construir identidades
coletivas baseadas no “pertencimento clubístico” e marcadas por oposições entre o “nós” e o
“eles”, em alguns casos, expressas na forma de violência (Alvito, 2013; Damo 2012; 2017;
Gastaldo, 2016). estudos como aqueles examinados na seção anterior indicam que tais
práticas de sociabilidade podem, em muitos casos, estar marcadas pela reprodução de discursos
Gerson de Lima OLIVEIRA; Matheus Mazzilli PEREIRA e Eduardo Georjão FERNANDES
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 15
e práticas racistas, sexistas e LGBTfóbicas, assim contribuindo para a reprodução de estruturas
de poder e desigualdade.
Nosso esforço nesta seção é indicar - por meio de evidências de literatura revisada e de
nossa pesquisa exploratória - que tais práticas de sociabilidade dão origem, em muitos casos, a
identidades que sustentam a ação coletiva na defesa de causas contenciosas, ou seja, ao
ativismo. Nesse sentido, se dentre as formas de pertencimento que as torcidas engendram
algumas tendem a reforçar determinados estereótipos historicamente construídos e relações de
poder neles sustentadas, outras podem promover causas que os desafiam.
Em nosso mapeamento preliminar realizado a partir de páginas e perfis no Facebook,
Instagram e Twitter
6
, identificamos 148 organizações e perfis de torcedores de 81 clubes em 20
estados brasileiros, mais o Distrito Federal, que constroem suas identidades articulando seu
“pertencimento clubístico” ou de forma mais geral sua “paixão pelo futebol” à defesa de causas
diversas. Quanto ao formato organizativo, destacamos a existência de grupos com atuação local
e fortemente vinculados aos seus clubes, bem como a existência de redes que buscam articular
torcidas de diversos clubes que atuam em torno de determinada causa.
Em nossa análise, a partir das causas defendidas e das identidades mobilizadas pelas
torcidas ativistas, as classificamos a partir da seguinte tipologia: as “torcidas populares”, as
“torcidas antirracistas”, as “torcidas feministas e de mulheres”, as “torcidas LGBTQIA+”, as
“torcidas antifascistas”, as “torcidas pela democracia” e as “torcidas de esquerda”
7
. A seguir,
buscamos explorar em detalhes as características dos cinco primeiros desses tipos de torcidas
ativistas. Em linhas gerais, enquanto os quatro primeiros desses tipos de torcidas estabelecem
relações predominantes (ainda que não exclusivas) com causas relacionadas a classes sociais,
raça, gênero e sexualidade respectivamente, as chamadas “torcidas antifascistas” articulam em
sua identidade muitas dessas causas a partir de uma releitura da noção de “antifascismo”.
6
Nesse ponto, cabe destacar novamente que, em decorrência dos limites dos nossos procedimentos metodológicos,
não é possível verificar se tais grupos de torcedores têm atuação limitada às redes sociais da internet, ou se tais
agrupamentos de fato se constituem como grupos de torcedores que se organizam para assistir em conjunto aos
jogos de seus times e para agir coletivamente fora do âmbito digital. Tampouco é possível estabelecer o número
de torcedores que compõem tais grupos. Contudo, acreditamos que a existência de tais perfis fornece indícios
preliminares que, complementados às evidências da literatura indicadas a seguir, apontam para a existência de
ativismo entre torcedores, mesmo que em alguns casos no formato do “ativismo digital” (Von Bülow; Gobbi; Dias,
2022).
7
Nos referimos aqui a perfis de torcidas que em suas identidades, articulam seu pertencimento clubístico,
principalmente, à defesa de ideologias políticas de esquerda, como o socialismo, o comunismo ou o anarquismo.
Exemplos incluem o grupo “Flanarquia” (Clube de Regatas Flamengo) e o Vascomunistas (Clube de Regatas Vasco
da Gama).
Muito mais que um jogo: Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas contenciosas no futebol
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 16
No que se refere às “torcidas populares”, identificamos em nosso levantamento diversas
iniciativas desse tipo, tais como a “Frente Esquadrão Popular” (Esporte Clube Bahia), o
“Movimento Popular Coral” (Santa Cruz Futebol Clube) e a “Resistência Azul Popular”
(Cruzeiro Esporte Clube), para citar apenas alguns exemplos. Também se enquadram nessa
categoria torcidas organizadas de perfil mais “tradicional” que se massificam nas décadas de
1970 e 1980, desenvolvendo forte estrutura organizacional ao longo do tempo. É o caso, por
exemplo, da torcida Gaviões da Fiel, citada na Introdução deste artigo. Cabe destacar que,
além das torcidas identificadas em nosso levantamento nas dias sociais, estudos anteriores já
indicavam a existência de ações coletivas de torcedores de futebol direcionadas a criticar os
processos de “arenização” e elitização do esporte descritos na seção anterior (Oliveira, 2021;
Lopes; Hollanda, 2018).
Nas ações realizadas pelas torcidas por nós mapeadas, como a publicação de notas e a
realização de posts, identificamos pautas como a defesa da presença dos setores populares e de
seu modo de torcer nos estádios, o apoio a uma maior democratização dos clubes de futebol e
o resgate da importância das classes populares na história dos clubes. Dessa forma, causas
relacionadas a desigualdade de classes no futebol são essenciais nas iniciativas desses grupos.
Contudo, é possível também identificar ações vinculadas a outras questões, como a defesa do
isolamento social no período da pandemia de Covid-19 e notas de repúdio em relação a
violência contra mulheres nos estádios.
no que se refere às “torcidas antirracistas”, duas torcidas foram identificadas por meio
de nosso mapeamento: o “Coletivo Quilombo do Arruda” (Santa Cruz) e o “Negrada do Inter”
(Internacional). Aqui vale destacar novamente que essa foi a temática em relação à qual tivemos
maiores dificuldades metodológicas em nossa pesquisa, sendo necessários novos estudos para
a identificação mais precisa de torcidas vinculadas à luta antirracista. Ademais, identificamos
também iniciativas que buscam reunir diversas torcidas que defendem pautas antirracistas em
uma rede de torcidas, como é o caso do Movimento Futebol Antirracismo.
Entre as ações realizadas pelas torcidas que identificamos estão lives no YouTube e
posts em mídias sociais sobre temas como o antirracismo, a valorização de jogadores negros
que participaram da história dos clubes e a denúncia de situações de racismo ocorridas no
ambiente do futebol. Assim como ocorre com outras torcidas ativistas, cabe destacar que
observamos no perfil da torcida “Coletivo Quilombo do Arruda” pautas que ultrapassam o
contexto do esporte e do antirracismo, como a defesa da democracia e do Sistema Único de
Saúde (SUS).
Gerson de Lima OLIVEIRA; Matheus Mazzilli PEREIRA e Eduardo Georjão FERNANDES
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 17
Embora não se constitua exatamente como uma torcida ativista, outra iniciativa de
defesa de causas coletivas antirracistas por meio da ação coletiva no futebol a ser destacada é o
“Observatório da Discriminação Racial no Futebol”. O projeto é descrito em seu site “como um
importante instrumento de inclusão social e de luta contra a violência e a discriminação racial”
8
.
O Observatório busca monitorar casos de racismo no futebol - o que resulta em relatórios anuais
- e realizar ações educacionais para erradicar práticas racistas.
em relação às “torcidas feministas e de mulheres”, nosso mapeamento permitiu
identificar iniciativas como o “Coletivo Elis Vive” (Grêmio), a “Força Feminina Colorada”
(Internacional), o “Movimento Toda Poderosa Corinthiana” (Sport Club Corinthians Paulista)
e o “Movimento Coralinas” (Santa Cruz Futebol Clube), para citar apenas alguns exemplos.
Ademais, destacamos aqui também a existência da rede de torcidas “Movimento Feminino da
Arquibancada” que busca articular torcidas ativistas desse tipo vinculadas a diferentes clubes
brasileiros.
Esses grupos têm buscado defender a participação das mulheres no futebol, apoiando
causas que vão desde o crescimento de investimentos destinados ao futebol feminino pelos
clubes e federações até a ocupação pelas mulheres de diversos espaços ligados ao futebol (nas
arquibancadas como torcedoras, em campo na posição de árbitras e jogadoras, na mídia como
comentaristas esportivas etc.). Um exemplo de ação desse tipo que identificamos em nosso
levantamento nas mídias sociais e em uma entrevista por nós realizada é a campanha o
banheiro é delas”, em que o “Movimento Coralinas” defendeu a existência e maior presença de
banheiros femininos nos estádios, bem como o respeito a esses espaços pelos homens. Ademais,
algumas dessas torcidas também defendem pautas que transcendem a esfera esportiva, como o
voto em candidatas que se identificam com os direitos das mulheres, a luta contra a violência
de gênero, entre outras.
A atuação das torcidas feministas e de mulheres também envolve o combate a situações
de reprodução do machismo, do sexismo e da violência misógina no futebol. Recentemente,
por exemplo, acompanhamos o caso das jogadoras do time feminino do Corinthians, que se
manifestaram contra a contratação do técnico Cuca pelo time masculino, dado que ele foi
condenado pelo crime de estupro em 1989 na Suíça, mas nunca cumpriu a pena, prescrita
(TNH1, 2023). A pressão iniciada pelas jogadoras contou com o apoio de torcedoras do time e
gerou debates em programas esportivos e telejornais, culminando no pedido de demissão do
treinador uma semana após assumir o comando técnico do time (R7, 2023).
8
Disponível em: https://observatorioracialfutebol.com.br/apresentacao/. Acesso em: 14 dez. 2023.
Muito mais que um jogo: Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas contenciosas no futebol
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 18
no que se refere às “torcidas LGBTQIA+”, em nosso levantamento identificamos
grupos como a “Torcida LGBTricolor” (Esporte Clube Bahia), a “Coxa LGBTQ+” (Coritiba
Foot Ball Clube), a “Palmeiras Livre” (Sociedade Esportiva Palmeiras), dentre outros. Cabe
destacar aqui que estudos anteriores já haviam identificado a existência e a atuação de torcidas
LGBTQIA+ ou de “torcidas queer”, seja em experiências pioneiras, como no caso da Coligay
(Grêmio) ainda na década de 1970 (Anjos, 2022; Gerchmann, 2014), seja em iniciativas
contemporâneas que teriam se tornado cada vez mais numerosas de acordo com o diagnóstico
desses estudos (Bandeira; Seffner, 2019; Pinto, 2014; Pinto; Almeida, 2014).
Tais torcidas têm promovido ações que buscam enfrentar e divulgar casos de
LGBTfobia no futebol, promover eventos culturais e espaços seguros para a socialização de
torcedores LGBTQIA+ e realizar um enfrentamento direto à LGBTfobia nos estádios a partir
da utilização de símbolos desse movimento em arenas esportivas. A exemplo do que ocorre com
os demais tipos de torcida, também nesse caso podemos identificar ações que não estão
exclusivamente relacionadas à pauta LGBTQIA+ e ao futebol, como a defesa da vacinação.
Ainda a exemplo dos demais tipos de torcidas ativistas, identificamos aqui também a
existência de uma rede que articula torcidas LGBTQIA+ de diversos clubes, a Canarinhos
LGBTQ. De acordo com informações contidas em site
9
, além de seu papel de articulação, a
rede é responsável pelo Observatório da LGBTfobia no Futebol, que produz levantamentos
sobre temas diversos relacionados a essa causa, como a respeito de casos de LGBTfobia no
futebol brasileiro, do posicionamento dos clubes brasileiros em afirmação dos direitos de
LGBTQIA+ no Dia Internacional do Orgulho LGBT e do uso da camisa de número “24” pelas
equipes em competições esportivas oficiais, dentre outros.
Destacamos aqui, por fim, as chamadas “torcidas antifascistas”, como a “Coral Antifa”
(Santa Cruz Futebol Clube), a “Antifascista Sport” (Sport Club do Recife), a “Vozão
Antifascista” (Ceará Sporting Club), a “Remo Antifascista” (Clube do Remo), a “Tribuna 77”
(Grêmio), a “Coluna Vermelha” (Internacional), a “Vasco Antifascista” (Clube de Regatas
Vasco da Gama), a “Flamengo Antifascista” (Clube de Regatas Flamengo), a “Cruzeiro
Antifascista” (Cruzeiro Esporte Clube), a “Coringão Antifa” (Sport Club Corinthians Paulista),
a “SPFC Antifascista” (São Paulo Futebol Clube), a “Dragão Antifascista” (Atlético Clube
Goianiense), a “Esmeraldinos Antifas” (Goiás Esporte Clube), dentre diversas outras.
Identificamos também em nosso levantamento redes de torcidas antifascistas, como a Torcidas
Antifascistas Unidas do Nordeste (TAU-Nordeste), a qual reúne torcidas da região Nordeste e,
9
Disponível em: https://canarinhoslgbtq.com.br/. Acesso em 14 dez. 2023.
Gerson de Lima OLIVEIRA; Matheus Mazzilli PEREIRA e Eduardo Georjão FERNANDES
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 19
atualmente, também do Norte, e a Torcidas Antifascistas Unidas (TAU-Brasil), a qual
englobaria um conjunto de torcidas antifascistas em todo o território nacional, mas que, segundo
um dos entrevistados, tem enfrentado maiores dificuldades de articulação, como exploraremos
na próxima seção. Cabe destacar aqui que estudos anteriores também identificaram a existência
de tais torcidas, apontando que elas compartilham entre si uma sociabilidade militante pautada
pela ideia de “resistência” às diversas desigualdades no futebol (Pinheiro, 2021; Soares; Zago,
2018).
Em nossas entrevistas exploratórias com torcedores vinculados a torcidas antifascistas,
identificamos que a noção de antifascismo mobilizada pelos torcedores é da consolidação de
uma identidade política para além de uma tática ou das características do antifascismo enquanto
movimento social nas décadas de 1920, 30 e 40 (Bray, 2019). As torcidas antifa do século XXI
caracterizam-se por serem essencialmente de esquerda - abarcando internamente torcedores de
diversas ideologias políticas desse campo - e por articularem em sua ação causas diversas, como
o combate às desigualdades relativas à classe, raça, gênero e sexualidade no futebol, além da
defesa de causas não estritamente relativas ao esporte, como a defesa da democracia. A partir
daqui, exploraremos brevemente como essas diversas causas se apresentam na experiência das
torcidas antifascistas por nós investigadas.
Em primeiro lugar, uma questão recorrente nas entrevistas e encontrada com frequência
nas postagens dos perfis identificados é a defesa da causa do “futebol popular” em oposição ao
processo de elitização e arenização dos estádios. Entrevistados que integram a Coluna Vermelha
(Internacional), a Tribuna 77 (Grêmio) e a TAU-NE indicaram a pauta de combate à
mercantilização e elitização do futebol como uma das principais bandeiras dos grupos,
contrapondo-se assim ao modelo do “futebol negócio” ou ao “futebol moderno”, sustentando
uma espécie de retorno às “raízes” do futebol, com estádios cheios, ingressos baratos e setores
populares, cenário característico do futebol brasileiro no século XX.
Nessa lógica, o processo de arenização do futebol é mencionado por alguns dos
entrevistados como um “estopim” importante para sua articulação política. O encarecimento de
ingressos ocasionado pela reformulação dos estádios e o consequente afastamento dos
torcedores de menor poder aquisitivo teria gerado reação de parte dos torcedores, alguns deles
aglutinados nas torcidas antifascistas. Esta reação teria gerado um aumento no número de
torcidas antifa, bem como sua articulação em redes para a produção de ações coletivas
articuladas. Esse ponto é particularmente salientado pelo integrante da Tribuna 77, devido ao
Muito mais que um jogo: Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas contenciosas no futebol
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 20
fato de o Grêmio ter passado por um processo de arenização com a construção de um novo
estádio, a “Arena do Grêmio”, inaugurada em 2012.
Em segundo lugar, as torcidas antifascistas por nós identificadas incorporam a causa
antirracista em suas práticas e discursos. O entrevistado da Tribuna 77 (Grêmio), por exemplo,
afirmou em entrevista que uma das principais preocupações que levaram à criação da torcida
foi a inconformidade com cânticos racistas usados por outras torcidas do Grêmio para ofender
os torcedores do rival Internacional. O entrevistado da Coluna Vermelha (Internacional), por
sua vez, salienta a relação histórica entre o seu clube e os movimentos quilombolas da cidade
de Porto Alegre e indica que atualmente os membros da Coluna Vermelha buscam reafirmar e
valorizar essa história. Uma das formas de ação adotadas, nesse sentido, seria a identificação
dos chamados “territórios colorados”, regiões de população majoritariamente negra em Porto
Alegre e historicamente identificadas com o Internacional.
Em terceiro lugar, causas relativas às desigualdades de gênero também se apresentam
na atuação e nos discursos das torcidas antifascistas. No caso da Tribuna 77, por exemplo, é
possível destacar a existência do “Coletivo Elis Vive”, organizado para dar conta de forma
específica dessa temática. a torcedora ligada à Coluna Vermelha (Internacional) indica que,
na perspectiva das torcidas antifascistas, a defesa de pautas ligadas às questões de gênero
deveria envolver a politização desse debate em uma postura crítica. Na compreensão da
torcedora, não bastaria, por exemplo, expor faixas que simplesmente indiquem a presença de
mulheres na arquibancada sem que sejam realizadas ações que combatam as consequências da
dominação masculina sobre os espaços do futebol.
Em quarto lugar, também as desigualdades relativas à orientação sexual e identidade de
gênero são destacadas pelos torcedores entrevistados. Nesse ponto, cabe destacar a atuação da
Tribuna 77 na valorização e no resgate da experiência da torcida Coligay, que por anos foi
utilizada como recurso para piadas homofóbicas de clubes rivais e entendida como motivo de
vergonha por torcedores gremistas. O perfil “Coligay Memória” nas mídias sociais é utilizado
de forma a provocar um reenquadramento desta experiência histórica, destacando, por exemplo,
a coexistência desta torcida com o período de retomada da conquista de títulos regionais,
nacionais e internacionais pelo clube na virada da década de 1970 para 1980.
Cabe destacar, por fim, que torcidas antifascistas não têm direcionado seus esforços
apenas para promover causas estritamente relacionadas ao “campo do futebol”. Redes de
torcidas antifascistas, por exemplo, atuaram de forma articulada para promover atos de oposição
ao governo Bolsonaro em 2020 e 2021, como ilustra o exemplo mencionado na Introdução
Gerson de Lima OLIVEIRA; Matheus Mazzilli PEREIRA e Eduardo Georjão FERNANDES
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 21
deste artigo. Outros exemplos recentes de pautas que levaram a ações articuladas entre torcidas
antifascistas foram, segundo o integrante da TAU-NE entrevistado, a oposição à reforma da
previdência e a defesa de ações de enfrentamento à pandemia da Covid-19.
Em suma, as evidências apresentadas nesta seção possibilitam compreender diversas
ações protagonizadas por torcidas de futebol como formas de ativismo. Torcedores agem
coletivamente, construindo organizações e redes de forma a coordenar a ação coletiva. Nessas
ações, defendem causas diversas, relacionadas a temas como as desigualdades de classe, raça,
gênero e sexualidade no futebol, bem como causas que transcendem o “mundo do futebol”,
como a defesa da democracia. Torcedores, assim, se engajam em ações coletivas na defesa de
causas contenciosas formando torcidas ativistas.
Entre a causa e o clube
Na seção anterior, indicamos que, em sua maioria, torcidas ativistas articulam em sua
identidade dois grandes referentes: a) a defesa de determinada causa e; b) o pertencimento a um
clube de futebol. Nessa seção, buscamos explorar as tensões e dilemas que surgem a partir dessa
articulação. Para isso, nos baseamos em grande medida nas entrevistas por nós realizadas junto
a torcedores vinculados às torcidas antifascistas dos clubes rivais de Porto Alegre, bem como
em uma entrevista realizada junto a um integrante da rede TAU-NE.
Em primeiro lugar, destacamos a existência de dificuldades enfrentadas por torcedores
em iniciativas que têm como objetivo produzir articulações entre ativistas que compartilham
determinada causa, mas que pertencem a clubes distintos, em especial, quando estes são rivais.
Torcedores entrevistados sugerem que, em determinadas situações, os pertencimentos e as
rivalidades existentes entre os clubes se sobrepõem ao compartilhamento de causas
contenciosas, criando atritos entre os ativistas. A categoria “clubismo” é mobilizada pelos
entrevistados para dar conta dessas situações.
As relações entre as torcidas ativistas da dupla GreNal ilustram esses casos. Ativistas
vinculados a ambos os clubes compartilham o diagnóstico da existência de dificuldades no
diálogo entre as torcidas. Uma importante controvérsia nesse caso é a relação estabelecida pela
torcida antifascista do Grêmio com as causas antirracista e popular. Essa controvérsia se
desenrola em um cenário no qual, ao longo do século XX, o clube e a torcida do Internacional
construíram uma imagem fortemente vinculada às classes populares - adotando, por exemplo,
a denominação informal de “Clube do Povo” - e à população negra do Rio Grande do Sul -
indicando, por exemplo, ter incluído jogadores negros em seu elenco antes do rival. Em
Muito mais que um jogo: Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas contenciosas no futebol
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 22
contraste a isso, nesse imaginário, o Grêmio foi associado às elites e, no se refere à dimensão
racial, além da inclusão tardia de jogadores negros de forma consistente em comparação ao
rival, indica-se o uso recorrente de termos racistas em cânticos de torcidas organizadas do clube.
Diante desse cenário, a torcida antifascista vinculada ao Grêmio, a Tribuna 77, tem
buscado reverter a associação do clube às elites brancas gaúchas a partir da elaboração de novas
narrativas sobre sua história, que destacam a presença e a relevância de jogadores, torcedores e
dirigentes negros na trajetória do clube, bem como a existência de membros de classes
populares em sua torcida. O grupo destaca, por exemplo, figuras como a de Lupicínio Rodrigues
- compositor do hino do Grêmio, que teria se tornado torcedor do clube diante da rejeição do
Internacional em relação à participação de agremiações negras nas competições municipais no
início do século XX - e episódios como a construção do Estádio Olímpico Monumental a partir
da mobilização popular.
Tais iniciativas são vistas criticamente por alguns ativistas das torcidas antifascistas do
Internacional. A ideia principal mobilizada por esses torcedores é de que o esforço de criação
de novas narrativas pela antifascista gremista criaria uma espécie de “revisionismo histórico”
que teria como efeito nocivo o apagamento do racismo na história e nas práticas do clube rival,
contribuindo para sua reprodução. De acordo com um de nossos informantes, diante desse
diagnóstico, a Coluna Vermelha teria optado por manter diálogo com a Tribuna 77 apenas
através da mediação de redes das quais ambos fazem parte.
A construção de redes de torcidas anifascistas se torna, assim, um processo complexo
que envolve a equalização entre o compartilhamento de causas e o choque de pertencimentos
clubísticos. A TAU-NE é citada como um exemplo de sucesso de construção de redes desse tipo
pelos entrevistados. Nesse caso, o compartilhamento de uma identidade regional parece ter sido
importante para que torcedores de clubes nordestinos rivais compartilhassem mais uma causa:
a defesa dos clubes da região em oposição ao domínio do eixo Sudeste-Sul no futebol brasileiro.
Contudo, os esforços de construção de redes nacionais entre torcidas antifascistas têm
encontrado maiores obstáculos, sendo o “clubismo” visto como um fator essencial para isso por
entrevistados da pesquisa.
Em segundo lugar, a articulação entre o pertencimento clubístico e a defesa de causas
contenciosas também gera eventuais conflitos entre as torcidas antifascistas e as demais torcidas
dos clubes às quais os ativistas estão vinculados, bem como com as direções das agremiações.
No caso da Tribuna 77, vinculada ao Grêmio, dois foram os principais conflitos destacados, em
particular, nos anos iniciais de atuação do grupo. Primeiro, a resistência das demais torcidas
Gerson de Lima OLIVEIRA; Matheus Mazzilli PEREIRA e Eduardo Georjão FERNANDES
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 23
organizadas do clube em abandonar os termos racistas presentes em seus cânticos, uma das
pautas que motivou a criação da antifascista gremista. Segundo, a existência de represálias aos
esforços da Tribuna 77 de valorização da experiência histórica da Coligay, pioneira no ativismo
LGBTQIA+ em torcidas de futebol brasileiras.
Já no caso da Coluna Vermelha, as principais dificuldades indicadas no diálogo com as
demais torcidas do clube estão relacionadas à LGBTfobia. Uma das entrevistadas relata, por
exemplo, que uma tentativa de construção de uma torcida organizada LGBTQIA+ própria no
clube foi abandonada uma vez que torcedores LGBTQIA+ relataram que se sentiam mais
seguros estando vinculados à Coluna Vermelha do que em um cenário em que atuassem como
uma torcida autônoma. Também foram relatados casos de conflitos com a direção do clube. O
nome “Coluna Vermelha” (antes “Internacional Antifascista”), por exemplo, foi adotado pelo
grupo após represálias da direção em relação ao uso do símbolo e do nome no clube pela torcida
por meio de processo judicial.
Em suma, nesta breve seção, buscamos demonstrar como a articulação entre a defesa de
causas contenciosas e o pertencimento clubístico - característica fundamental das identidades
de torcidas ativistas - gera, em diversos casos, obstáculos para a criação de redes. Se, de um
lado, os pertencimentos e rivalidade clubísticas podem potencializar controvérsias entre
torcidas ativistas de clubes diferentes dificultando sua articulação, de outro, a defesa de causas
contenciosas pode gerar conflitos com as demais torcidas organizadas do clube, no limite,
colocando em risco a própria segurança dos ativistas.
Considerações finais
Neste artigo, partimos da problemática acerca da definição conceitual de ações
marcadas por conotações políticas que têm sido levadas a cabo por torcidas de futebol no Brasil.
Nosso principal argumento sugere que, em alguns casos, ações de torcidas de futebol podem
ser entendidas através do conceito de “ativismo” tal como proposto por Abers (2021). A partir
disso, propomos o conceito de “torcidas ativistas” para definir aquelas torcidas que agem
coletivamente na defesa coletiva de causas contenciosas relacionadas ao futebol, mas não
apenas necessariamente circunscritas a esse esporte.
Buscamos na literatura existente sobre o tema e em uma pesquisa empírica preliminar
evidências da existência de tal fenômeno. Em primeiro lugar, se o ativismo consiste na defesa
coletiva de causas contenciosas, ela pressupõe a existência de conflitos. Dessa forma, buscamos
Muito mais que um jogo: Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas contenciosas no futebol
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 24
demonstrar que o futebol não é apenas um campo de paixões esportivas ou de negócios, mas
também um campo de conflitos marcado por desigualdades, violências e relações de poder
relativas a classe, raça, gênero e sexualidade.
A seguir, buscamos demonstrar a existência de experiências de engajamento de
torcedores nesses conflitos por meio da ação coletiva na defesa de causas contenciosas, ou seja,
do ativismo. Nosso mapeamento indicou a existência de um amplo número de grupos de
torcedores que articulam em suas identidades pertencimentos clubísticos e a defesa de causas
contenciosas, constituindo-se como torcidas ativistas. Tais atores defendem causas diversas
relacionadas aos variados conflitos mencionados anteriormente. Estruturam grupos informais,
organizações e redes para agir coletivamente na defesa de tais causas. Assim, desafiam as
diversas instituições ligadas ao futebol - como o Estado, as federações e clubes de futebol e as
próprias torcidas - e, em muitos casos, também se envolvem em conflitos que não estão
estritamente circunscritos ao esporte.
Por fim, exploramos como a compatibilização entre pertencimento clubístico e defesa
de causas contenciosas pode dar origem a tensões e conflitos entre torcidas. Por um lado, as
rivalidades clubísticas podem obstaculizar a construção de alianças entre torcidas ativistas e,
por outro, a defesa de causas pode dar origem a conflitos entre torcidas ativistas e outros perfis
de torcidas organizadas de um mesmo clube.
Ainda que neste artigo tenhamos nos baseado em uma revisão não sistemática da
literatura e em evidências de uma pesquisa ainda em estágio exploratório, acreditamos que as
evidências por nós levantadas indicam a relevância do fenômeno do ativismo no futebol e das
torcidas ativistas. Contudo, certamente pesquisas que empreguem métodos mais sistemáticos e
que investiguem a fundo os diferentes atores que mapeamos aqui são necessárias para que
possamos construir um panorama mais complexo acerca das táticas mobilizadas por esses
atores, de suas identidades, dos dilemas e conflitos por eles vivenciados, bem como de seus
impactos dentro e fora de campo.
REFERÊNCIAS
ABERS, R. Ativismo na Burocracia? O médio escalão do Programa Bolsa Verde. In:
CAVALCANTE, P.; LOTTA, G. Burocracia de médio escalão: perfil, trajetória e atuação.
Brasília: Enap, p. 143-175, 2015.
ABERS, R. Bureaucratic Activism: pursuing environmentalism inside Brazilian State. Latin
American Politics and Society, v. 61, n. 2, p. 21-44, 2019.
Gerson de Lima OLIVEIRA; Matheus Mazzilli PEREIRA e Eduardo Georjão FERNANDES
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 25
ABERS, R. Ativismo institucional: criatividade e luta na burocracia brasileira. Editora
UnB, 2021.
ABERS, R.; SILVA, M. K.; TATAGIBA, L. Em nome de Deus: os ativismos evangélicos
progressistas. In: TATAGIBA, L. et al. (org.). Participação e Ativismos: entre retrocessos e
resistências. Porto Alegre: Zouk, p. 157-182, 2022.
ALVITO, M. Maçaranduba neles! Torcidas organizadas e policiamento no Brasil. Tempo, v.
19, p. 81-94, 2013.
BANDEIRA, G. A. Um currículo de masculinidades nos estádios de futebol. Revista
Brasileira de Educação, v. 15, n. 44, p. 342-351, 2010.
BANDEIRA, G. A. Garra, força e bravura: representações de futebol gaúcho campeão da
América. 2012.
BANDEIRA, G. A.; SEFFNER, F. Futebol, gênero, masculinidade e homofobia: um jogo
dentro do jogo. Espaço Plural, v. 14, n. 29, p. 246-270, 2013.
BANDEIRA, G. A.; SEFFNER, F. Memórias da Coligay e o currículo de masculinidade dos
torcedores de futebol. Diversidade e Educação, v. 7, n. 2, p. 310-326, 2019.
BRAY, M. Antifa: o manual antifascista. São Paulo: Autonomia Literária, 2019.
CAYRES, D. C. Ativismo institucional e interações estado-movimentos sociais. BIB, n. 82, p.
81-104, 2017.
CUCA NÃO AGUENTA PRESSÃO e pede demissão do Corinthians. R7, São Paulo, 27 abr.
2023. Disponível em: https://esportes.r7.com/futebol/cuca-nao-aguenta-pressao-e-pede-
demissao-do-corinthians-27042023#/foto/1
CURI, M.; DE DRUMMOND ALVES JUNIOR, E.; ALVES DE MELO, I.; ROJO, L. F.;
TERRA FERREIRA, M. A.; CAMPANERUTI DE SILVA, R. Observatório do torcedor: o
estatuto. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 30, n. 1, p. 25-40, 2008.
DAMO, A. S. A dinâmica de gênero nos jogos de futebol a partir de uma etnografia. Revista
Gênero, v. 7, n. 2, p. 135-150, 2007.
DAMO, A. S. Paixão partilhada e participativa–o caso do futebol. História: Questões &
Debates, v. 57, n. 2, 2012.
DAMO, A. Das palavras e dos palavrões–um olhar antropológico sobre formas de
sociabilidade e construções narrativas nos estádios de futebol. Sociabilidades Urbanas
Revista de Antropologia e Sociologia, v. 1, p. 81-100, 2017.
DELLA PORTA, D.; CHIRONI, D. Movements in Parties: OcuppyPD. PArtecipazione e
COnflitto, v. 8, n. 1, p. 59-96, 2015.
DIANI, M. The concept of social movement. The sociological review, v. 40, n. 1, p. 1-25,
1992.
Muito mais que um jogo: Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas contenciosas no futebol
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 26
DOS REIS, H. H. B.; LOPES, F. T. P.; MARTINS, M. Z. Políticas públicas voltadas para
atletas e torcedores de futebol: argumentos para dissidentes. Motrivivência, v. 26, n. 42, p.
115-130, 2014.
FEITOSA, C. Movimento LGBTI+ e Partidos Políticos: a institucionalização partidária da
diversidade sexual e de gênero no Brasil. Tese (Doutorado em Ciência Política) - Instituto de
Ciência Política, Universidade de Brasília. Brasília, 2022.
GASTALDO, É. "O complô da torcida": futebol e performance masculina em bares.
Horizontes antropológicos, v. 11, p. 107-123, 2005.
GASTALDO, É. Arquibancada Cotidiana: jogos, sociabilidade e interação entre torcedores de
futebol no Brasil. Logos, v. 23, n. 1, 2016.
KATZENSTEIN, M. F. Feminism within American Institutions: Unobtrusive Mobilization in
the 1980s. Signs, v.16, n.1, p.27-54, 1990.
LOPES, F. T. P.; HOLLANDA, B. B. B. “Ódio eterno ao futebol moderno”: poder, dominação
e resistência nas arquibancadas dos estádios da cidade de São Paulo. Tempo, v. 24, p. 206-
232, 2018.
MEZZADRI, F. M.; PRESTES, S. E. C.; CAPRARO, A. M.; CAVICHIOLLI, F. R.,
MARCHI JÚNIOR, W. As interferências do Estado brasileiro no futebol e o estatuto de defesa
do torcedor. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 25, n. 03, p. 407-416,
2011.
OLIVEIRA, M. S. Movimentos Sociais em Interação com Partidos Políticos: a experiência do
movimento ambientalista com o Partido dos Trabalhadores. Opinião Pública, v. 27, n. 2, p.
585-622, 2021.
OLIVEIRA JÚNIOR, R. C. G. A reviravolta dos" fanáticos": arenização, agenciamentos
mercadológicos e novos movimentos políticos a partir do Sport Club Internacional. 2017.
PEREIRA, M. M. Ativismo Institucional no Poder Legislativo: confrontos políticos,
assessores ativistas e frentes parlamentares. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 31, p.
201-338, 2020.
PEREIRA, M. M. Movimentos Sociais, Partidos Políticos e Políticas Públicas. Novos
Estudos, v. 41, n. 3, p. 467-486, 2023.
PINHEIRO, C. L. M. O sequestro dos estádios de futebol: a dimensão simbólica das novas
arenas e a guinada antifascista transnacional nas torcidas. Locus: Revista de História, v. 27,
n. 1, p. 338-364, 2021.
PINTO, M. R.; ALMEIDA, M. B. As torcidas queer em campo: a emergência de grupos que
questionam a homofobia e o machismo no futebol. Revista Brasileira de Estudos do Lazer,
v. 1, n. 2, p. 105-116, 2014.
Gerson de Lima OLIVEIRA; Matheus Mazzilli PEREIRA e Eduardo Georjão FERNANDES
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 27
REIS, H. H. B. O Espetáculo Futebolístico e o Estatuto de Defesa do Torcedor. Rev. Bras.
Cienc. Esporte, v. 21, n. 3, p. 111-130, 2010.
SANTOS, I. S. Mercantilização do futebol e movimentos de resistência dos torcedores:
histórico, abordagens e experiências brasileiras. Esporte e Sociedade, n. 27, 2021.
SOARES, A. R.; ZAGO, L. F. Páginas das torcidas organizadas antifascistas no Facebook:
política, futebol e comunicação. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação
(INTERCOM). [S. l.: s. n.], 2018. p. 1-13.
SOUZA, F. Atos de torcidas contra Bolsonaro: o que levou as organizadas às ruas contra o
presidente durante a pandemia. BBC News Brasil, São Paulo, 02 jun. 2020. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-52899944
SOUZA, M. A. Gênero e Raça: a nação construída pelo futebol brasileiro. Cadernos Pagu, v.
6-7, p. 109-152, 1996.
SZWAKO, J. E. L.; SOUZA, R. Balbúrdia? Sobre anti-intelectualismo e ativismo científico
no Brasil contemporâneo. In: TATAGIBA, L. et al. (org.). Participação e Ativismos: entre
retrocessos e resistências. Porto Alegre: Zouk, p. 183-206, 2022.
TORCEDORAS DO CORINTHIANS protestam contra Cuca na sede do clube. R7, São
Paulo, 25 abr. 2023. Disponível em: https://www.tnh1.com.br/noticia/nid/torcedoras-do-
corinthians-protestam-contra-cuca-na-sede-do-clube/
TORCIDAS ORGANIZADAS e caravanas furam bloqueios nas estradas do Brasil. GZH,
Porto Alegre, 01 nov. 2022. Disponível em:
https://gauchazh.clicrbs.com.br/esportes/brasileirao/noticia/2022/11/torcidas-organizadas-e-
caravanas-furam-bloqueios-nas-estradas-do-brasil-cl9yhez8f005h01g7ju8qmhub.html.
VIEIRA, J. J. Considerações sobre Preconceito e Discriminação Racial no Futebol Brasileiro.
Teoria e Pesquisa, v. 42 e 43, p. 221-244, 2003.
VON BÜLOW, M.; GOBBI, D.; DIAS, T. O Conceito de Ativismo Digital: uma agenda para
além das fronteiras entre sistema político e sociedade civil. In: TATAGIBA, L. et al. (org.).
Participação e Ativismos: entre retrocessos e resistências. Porto Alegre: Zouk, p. 307-325,
2022.
ZANOLI, V. "Mais ativista do que gestora": Ativismo institucional no campo do movimento
LGBT em Campinas. Sociologia & Antropologia, v. 9, p. 495-517, 2019.
Muito mais que um jogo: Torcidas ativistas e a defesa coletiva de causas contenciosas no futebol
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 33, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v33i00.1058 28
CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Gostaríamos de agradecer às pareceristas anônimas da revista Teoria &
Pesquisa, cujos comentários muito contribuíram para a qualificação deste artigo.
Financiamento: A presente pesquisa não recebeu financiamento de quaisquer instituições.
Conflitos de interesse: Não identificamos nenhum tipo de conflito de interesses relativo à
presente publicação.
Aprovação ética: A pesquisa não passou pela análise de comitês de ética, mas respeitou
procedimentos éticos ligados à realização das entrevistas, como o esclarecimento dos
propósitos da pesquisa e dos usos a serem feitos dos materiais aos informantes, bem como
a anonimização dos dados.
Disponibilidade de dados e material: Os textos utilizados na revisão da literatura são de
acesso público. A base de dados construída a partir do levantamento de torcidas ativistas
nas mídias sociais pode ser fornecida a interessadas e interessados por meio de solicitação
aos autores. As entrevistas não estão disponíveis para acesso de terceiros com vistas à
manutenção do anonimato e dos acordos firmados junto a informantes da investigação.
Contribuições dos autores: Gerson de Lima Oliveira e Matheus Mazzilli Pereira
realizaram a coleta de dados qualitativos (entrevistas). Gerson de Lima Oliveira, Matheus
Mazzilli Pereira e Eduardo Georjão Fernandes realizaram os procedimentos para a revisão
de literatura (extração, leitura e sistematização de textos), o levantamento de dados junto às
redes sociais, a análise dos dados e a redação do artigo.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.