Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 3, e023028, 2023. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.3.1038 1
CONSIDERAÇÕES SOBRE A POLÍTICA E A ECONOMIA NA ARGENTINA DO
TEMPO PRESENTE (1983-2020)
CONSIDERACIONES SOBRE POLÍTICA Y ECONOMÍA EN LA ARGENTINA
ACTUAL (1983-2020)
CONSIDERATIONS ON POLITICS AND ECONOMY IN PRESENT-DAY ARGENTINA
(1983-2020)
Iuri CAVLAK1
e-mail: i.cavlak@unifesp.br
Como referenciar este artigo:
CAVLAK, I. Considerações sobre a política e a economia na
Argentina do tempo presente (1983-2020). Teoria & Pesquisa:
Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 3, e023028,
2023. e-ISSN: 2236-0107. DOI:
https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.3.1038
| Submetido em: 29/04/2023
| Revisões requeridas em: 07/06/2023
| Aprovado em: 22/10/2023
| Publicado em: 20/12/2023
Editores:
Profa. Dra. Simone Diniz
Prof. Dr. Eduardo de Lima Caldas
Profa. Dra. Mércia Kaline Freitas Alves
Dr. Vinícius Silva Alves
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo SP Brasil. Professor de Teoria da História.
Considerações sobre a política e a economia na Argentina do tempo presente (1983-2020)
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 3, e023028, 2023. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.3.1038 2
RESUMO: O presente trabalho é uma tentativa de reconstituição histórica dos principais
momentos políticos e econômicos da Argentina, entre o fim da última ditadura militar até o
momento atual (2022). Para isso, utilizo de bibliografia brasileira e argentina articulada aos
dados e estatísticas oficiais do governo argentino. O objetivo é tentar refletir sobre mudanças e
continuidades nas variáveis citadas, em uma comparação ligeira com o Brasil a respeito de
determinadas conjunturas. O método se apega à história comprada e à história do tempo
presente. Embora ainda sem um necessário aprofundamento e complexidade, essa investigação
demonstra a mudança contumaz entre governos mais e menos liberais, de maior apego ao
monetarismo para os de maior ligação com políticas sociais, como se fosse a mudança periódica
necessária para a manutenção da economia de mercado tal como ela se vem configurando na
América do Sul.
PALAVRAS-CHAVE: História. Política. Economia. Tempo Presente.
RESUMEN: Este trabajo es un intento de reconstruir la historia de los principales momentos
políticos y económicos de Argentina, desde el final de la última dictadura militar hasta la
actualidad. Para hacerlo, recurrí a bibliografía brasileña y argentina, combinada con datos y
estadísticas oficiales del gobierno argentino. El objetivo es intentar reflexionar sobre cambios
y continuidades en las variables mencionadas, en una ligera comparación con Brasil respecto
a determinadas coyunturas. El método se basa en la historia comprada y en la historia del
presente. Aunque todavía no haya alcanzado la profundidad y complejidad necesarias, esta
investigación demuestra el continuo cambio entre gobiernos más y menos liberales, de los que
tienen un mayor apego al liberalismo a los que tienen una mayor conexión con las políticas
sociales, como si este fuera el cambio periódico necesario para mantener la economía de
mercado tal como se ha configurado en América del Sur.
PALABRAS CLAVE: Historia. Política. Economía. Actualidad.
ABSTRACT: The present work aims at a historical reconstitution of the main political and
economic moments in Argentina, between the end of the last military dictatorship until the
present moment. For this, Brazilian and Argentine bibliography articulated with the official
data and statistics of the Argentine government are utilized. The objective is to try to reflect on
changes and continuities in the mentioned variables, in a brief comparison with Brazil
regarding certain conjunctures. The method clings to purchased history and the history of the
present time. Although still without a necessary deepening and complexity, this research
demonstrates the persistent change between more or less liberal governments, from a greater
attachment to liberalism to those with a greater connection with social policies, as if it were the
periodic change necessary for the maintenance of the market economy as it has been shaping
up in South America.
KEYWORDS: History. Politics. Economy. Present Time.
Iuri CAVLAK
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 3, e023028, 2023. e-ISSN: 2236-0107
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Introdução
Ao contrário do que ocorreu no Brasil, a Argentina iniciou o período da pandemia do
Covid-19 com um governo de centro-esquerda, após uma vitória de Alberto Fernandez e
Cristina Kirchner conquistada contra a direita, representada pela chapa Mauricio Macri e
Miguel Pichetto. Macri intentava a reeleição, e escolheu o peronista Pichetto em lugar da então
vice-presidenta, Gabriela Michetti. Fernandez venceu o pleito, ocorrido em 27 de outubro de
2019, com pouco mais de 48% dos votos válidos (quase 13 milhões de votos), contra 40% de
seu oponente (quase 11 milhões de votos), e assumiu a presidência em 10 de dezembro de 2019,
menos de três meses antes da explosão da pandemia no mundo
2
.
Cristina Fernández Kirchner havia sido presidenta da república entre os anos de 2007 e
2015. Seu falecido marido, Néstor Kirchner, por sua vez, havia governado o país entre 2003 e
2007 ambos oriundos do Partido Justicialista (Peronista), de sua ala considerada de centro-
esquerda.
A situação da economia argentina, no início de 2020, apresentava sinais problemáticos.
A dívida externa alcançava impressionantes 89,4% do PIB, 1 dólar valia 58 pesos e a inflação
havia fechado 2019 em 53,8%. A população argentina vivendo na pobreza alcançava a cifra de
35,5%, sendo 8% na indigência (FERNÁNDEZ; PRETI, 2020).
O governo de Macri é apontado pela maioria dos analistas como o principal responsável
por essa situação, por conta de políticas de arrocho fiscal, majoração das tarifas públicas e cortes
nas políticas de compensação de renda.
O objetivo deste artigo é refletir sobre a história recente da Argentina, desde a saída do
último regime militar até a última década, com o foco nas variáveis políticas e econômicas,
tendo em vista as diferenças e semelhanças com o Brasil no mesmo período. A hipótese é que,
problematizando algumas questões fulcrais do país vizinho, dentro de uma angulação
diacrônica, poderemos melhor compreender os elementos estruturais e conjunturais do
capitalismo tardio tais como se apresentaram e se apresentam na América do Sul, constrangendo
e proporcionando oportunidades, ao mesmo tempo, aos dois maiores países da região.
Basicamente, delimito o período em tela em dois arranjos temporais que, em alguns
momentos, coincidiram no tempo, enquanto em outros momentos, foram disruptivos. Estruturas
formadas numa junção de crise externa e interna onde, em alguns ciclos, foi possível a
articulação de governos com maior intervenção na economia e com políticas industrializantes
2
Disponível em: https://www.argentina.gob.ar/interior/dine/resultados-y-estadisticas/elecciones-2019. Acesso
em: 09 mar. 2023.
Considerações sobre a política e a economia na Argentina do tempo presente (1983-2020)
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acopladas à distribuição de renda, e em outros, governos ancorados no ideário liberal,
desregulamentando o setor produtivo e operando com políticas de arrocho fiscal e desemprego.
Sem dúvida, uma simplificação, utilizada aqui no sentido dado por Max Weber, um tipo ideal
mirando maior concisão e inteligibilidade (WEBER, 1999).
O método é a utilização da bibliografia histórica articulada com a História Comparada
(BLOCH, 1963), um alicerce para avançar algumas intepretações sobre o tempo presente
argentino e sua relação com o entorno regional. Como afirmou Maria Ligia Prado:
Comparar o Brasil com os demais países da América Latina sempre me
pareceu um desafio estimulante. Na medida em que a história de cada país
latino-americano corre paralelamente às demais, atravessando situações
sincrônicas bastante semelhantes - a colonização ibérica, a independência
política, a formação dos Estados Nacionais, a preeminência inglesa e depois
norte-americana, para ficar nas temáticas tradicionais não há, no meu ponto
de vista como escapar às comparações (PRADO, 2005, p. 17).
Reitero a questão de articulação com a História Comparada, porque não intentei realizar
uma história comparada tout court, senão justapor algumas conjunturas e a cronologia da
história argentina em relação ao Brasil dentro do recorte proposto. Assim sendo, o texto que se
segue quiçá esteja mais afinado às questões da história do tempo presente (FERREIRA, 2000).
A consulta às fontes primárias deteve-se nas estatísticas dos órgãos oficiais do governo
argentino. Separei a bibliografia conforme julguei a qualidade do trabalho, seu viés crítico,
disponibilidade e importância no campo intelectual daqui e de lá.
Questões de História Comparada entre Brasil e Argentina
Em 2005, foi publicado no Brasil o livro dos historiadores Boris Fausto e Fernando
Devoto, o qual traça mais de um século e meio de história comprada entre os dois principais
países da América do Sul (FAUSTO; DEVOTO, 2005).
A premissa tem a ver com conjunturas semelhantes numa longa duração. As
independências de ambos, entre 1816 e 1822, se desprendendo das metrópoles ibéricas. A
sequência na construção dos Estados Nacionais, pautada numa democracia restrita e num
aparelho de estado oligárquico. A crise política em 1930, que levou a derrubada dos governos
de Hipólito Yrigoyen e Washington Luís. O contexto do imediato pós-guerra, que impulsionou
líderes políticos embasados em fortes movimentos populares: peronismo e varguismo (em
1945, o “queremismo”, em defesa da continuidade de Getúlio Vargas no poder até ser votada
uma nova constituição, em muito se assemelhou à campanha para libertar Perón e alçá-lo como
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candidato à presidência da República). Em suma, o “populismo” (MACKINNON; PETRONE,
1998).
Com efeito, nos anos 1950, as agendas econômica e diplomática nacionalistas, de Perón
e Vargas, foram seguidas pelos governos nacional-desenvolvimentistas de Arturo Frondizi e
Juscelino Kubitschek, respectivamente. Depois ocorreram os golpes militares nos anos 1960 e
a abertura democrática nos anos 1980, com um período de planos econômicos contra a
hiperinflação (Raúl Alfonsin e José Sarney) seguidos de políticas neoliberais articuladas ao
chamado consenso de Washington (Carlos Menem e Fernando Collor / Fernando Henrique
Cardoso). Finalmente, os governos “pós-neoliberais” dos anos 2000 (Néstor Kirchner / Cristina
Fernández Kirchner e Luís Inácio “Lula” da Silva / Dilma Rousseff) e o retorno da direita
neoliberal ao aparelho de Estado (Maurício Macri e Michel Temer) para, em seguida, reiniciar
um novo período de centro esquerda, no tempo presente (Alberto Fernández / Lula da Silva em
seu terceiro mandato).
Obviamente que perpassam várias e importantes diferenças, como a ausência de
monarquia e o menor grau de incidência de africanos escravizados na Argentina do século XIX,
a ausência de um movimento popular (União Cívica Radical) e universitário (Reforma
Universitária) no Brasil no início do culo XX, o sinal trocado nos regimes pós 1930,
oligárquico e agropecuarista, na Argentina, centralizador e industrializante no Brasil. E a
dissonância nas presidências de Perón (1946-1952) e Eurico Gaspar Dutra / início do segundo
governo Vargas no mesmo período.
Outrossim, as quatro interrupções militares na Argentina no pós-guerra (1955, 1962,
1966 e 1976), foram dessemelhantes da única brasileira (1964). O Processo de Reorganização
Nacional (1976) apresentou um sentido anti-industrialista e monetarista, enquanto no Brasil
ainda estavam em vigência as políticas de corte keynesianas. Nos anos 1990, o peronismo, pela
sua ala direita, reteve o controle do Estado, enquanto o Partido dos Trabalhadores encabeçou a
principal oposição ao projeto tucano, o que talvez ajude a explicar a maior profundidade do
processo do neoliberalismo na Argentina em relação ao Brasil.
Em 2001, a Argentina se encontrava numa situação muito mais desesperadora do ponto
de vista econômico e social, ao ponto de cinco presidentes comandarem o país em menos de 15
dias (fins de dezembro de 2001 e início de janeiro de 2002), ao passo que, no Brasil, embora
numa grave crise, se deu sem trauma o pleito que apeou o Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB) do poder central e deu lugar ao PT e a Lula, em outubro de 2002.
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Para encerrar as ressalvas, diria que a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 também seria
disruptiva nessa comparação, uma vez que uma extrema direita antissistema não foi o que Macri
apresentou. E ainda, a dimensão do peronismo no sistema político argentino é algo que o
sociólogo Juan Carlos Torres definiu como “o sistema político em si mesmo”, oficialismo e
oposição ao mesmo tempo, algo deveras diferente em relação ao Brasil (TORRES, 1999).
Buscaria então nessa dialética de semelhanças e diferenças uma angulação
metodológica para interpretar os principais fatos políticos que, a meu juízo, configuraram a
atual realidade de ambos os países, começando com a saída dos regimes militares, nos anos
1980, em ambos os países até o final do mandato de Maurício Macri, na Argentina.
A redemocratização na Argentina e o Neoliberalismo
Na Argentina, ao contrário do Brasil, a ditadura recrudesceu no final dos anos 1970, a
partir do golpe de Estado de 24 de março de 1976, intitulado “Processo de Reorganização
Nacional”. Através dele, um grupo de militares linha dura assumiu o poder de Estado e
implementou um dos regimes mais violentos da história contemporânea da América do Sul. De
acordo com alguns cálculos, cerca de 30 mil pessoas foram mortas e milhares de outras
torturadas e afetadas pela repressão. Tendo em vista o tamanho da população à época, cerca de
25 milhões de habitantes, e sua concentração em Buenos Aires, pode-se estimar a tragédia social
causada (NUNCA MÁS, 1984).
Para além disso, os militares argentinos colocaram em prática uma política
desindustrializante, visando aplastar o movimento operário. A ideia motriz era retornar à
Argentina rural, exportadora de carne e grãos e importadora de manufaturas, onde não haveria
conflitos urbanos ou movimentos organizados de contestação. O resultado imediato foi um
recuo econômico deveras acentuado, oxigenando o setor financeiro – a época da plata dulce -,
aumentando a dívida externa e gerando perda de competitividade da produção nacional
(BEIRED, 1996). O país acabou ficando bem atrás do Brasil na complexidade do parque
produtivo e influência na economia sul-americana. A modernização dos portos de Santos e
Paranaguá ajudou a reduzir a importância centenária do porto de Buenos Aires, enquanto a
hidrelétrica de Itaipu sedimentou parte da vizinhança na órbita brasileira (BANDEIRA, 2003).
Acumulando mortes com recessão econômica, pareceu à parcela dos militares que
ocupavam o poder que uma guerra os salvaria desses problemas, donde a invasão das ilhas
Malvinas Falklands, que pertenciam e pertencem aos ingleses, em abril de 1982. Acreditavam
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eles no apoio ou, ao menos, na neutralidade dos EUA, até como recompensa pelo extermínio
das esquerdas e abertura da economia, o que não se concretizou. Confiavam no TIAR (Tratado
Interamericano de Assistência Recíproca), assinado em 1947, que determinava a obrigação dos
norte-americanos de estarem ao lado dos países desse bloco em caso de guerra (BEIRED, 1996).
Na primeira quinzena de junho de 1982 a guerra estava terminada, com a rendição dos
argentinos, ao custo de 700 mortos e desaparecidos e 1.300 feridos (ROMERO, 1994).
A partir de então, uma volta à democracia se desenhou inelutável, com a convocação
das eleições gerais e a vitória, em 30 de outubro de 1983, do candidato da UCR (União Cívica
Radical), Raúl Alfonsín. Em relação ao Brasil, pode-se dizer que a transição se deu com os
militares platinos numa posição muito mais frágil, vistos como cruéis internamente pela Guerra
Suja e fracos externamente pela perda da Guerra das Malvinas
3
. Outrossim, havia uma situação
crítica na economia:
O PIB per capita de 1982 era 15% menor que o de 1975, e o PIB industrial era
25% menor que o de 1970. Os salários reais, 40% mais baixos. A participação
dos assalariados no PIB passara de 45% em 1974, para 34% em 1993
(NOVARO; PALERMO, 2007, p. 715).
O historiador José Luis Beired considera que o grupo castrense à frente do Processo de
Reorganização Nacional” fazia parte de “uma cultura política do nacionalismo de extrema
direita” (BEIRED, 1996, p. 77). Penso que eram da mesma estirpe dos militares brasileiros “do
porão”, seus coetâneos, representados na figura do Gal. Sylvio Frota, ministro do Exército no
governo de Ernesto Geisel, anticomunista ferrenho e defensor da sevícia e do fechamento ainda
mais do regime. No Brasil, essa força foi momentaneamente derrotada em 1977, com o
afastamento de Frota, a escolha de Figueiredo para a sucessão presidencial e o respectivo plano
de anistia e abertura “lenta, gradual e segura” (GASPARI, 2004). Voltaria nos anos 2010, como
ver-se-á, uma vez que esses militares brasileiros não foram em nenhum momento enquadrados
e punidos pela lei, ao contrário de seus consortes argentinos.
O governo de Alfonsín foi um dos mais complexos da década de 1980 no subcontinente.
Ele teve que lidar com hiperinflação, apuração dos crimes do antigo regime, punição dos
militares e um processo de aprofundamento da internacionalização da economia. Estabeleceu,
junto ao governo de José Sarney, a Declaração de Foz do Iguaçu, em novembro de 1985, tida
como marco inaugural do Mercosul. Sofreu com os motins dos militares de extrema direita
(BEIRED, 1996).
3
Guerra Suja é como ficou conhecida a repressão militar sobre a sociedade argentina na ditadura.
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Assim, Alfonsín viu se liquefazer sua sustentação política no último ano de mandato,
em 1989. Dois anos antes, a UCR já havia perdido a maioria no legislativo e sido derrotada em
todas as eleições para os governadores de província, com exceção de Córdoba e Rio Negro
(ROMERO, 1994).
Na eleição presidencial de maio de 1989, o candidato da UCR, Eduardo Angeloz, foi
derrotado pelo peronista Carlos Saúl Menem, um político então conhecido por ter sido
governador de La Rioja e preso pelos militares. Com o aguçamento da crise inflacionária,
Alfonsín passou o poder a Carlos Menem dois meses após a eleição, isto é, cinco meses antes
do previsto.
É controverso na literatura política da Argentina o quanto surpreendeu a presidência de
Carlos Menem, a partir de então:
Menen demonstrou uma capacidade notável de reunir em torno de si todos os
segmentos do peronismo, desde deres sindicais (...) até ex-militantes da
extrema direita ou extrema esquerda da década de 1970, juntamente com todos
os tipos de caudilhos ou líderes locais (...) Em suma, ninguém sabia
exatamente o que o candidato peronista faria se ganhasse, mas estava claro
que ele seria pragmático e não se prenderia a compromissos programáticos.
(ROMERO, 1994, p. 399, tradução nossa).
Naquele mesmo ano, no Brasil, ocorreu a primeira eleição presidencial democrática
desde 1960, numa disputa acirrada entre dois projetos distintos, cristalizados no segundo turno
do pleito, entre Lula da Silva e Fernando Collor de Melo. Um projeto de esquerda que aglutinou,
na ocasião da eleição, o novo sindicalismo e suas novas centrais, os movimentos rurais, o
trabalhismo, o comunismo, o socialismo e a social-democracia, de um lado, contra o
coronelismo, o rentismo e a velha direita oligárquica, de outro (SECCO, 2011). Ou seja, o que
se definia no Brasil com uma disputa implacável, na qual direita e esquerda ficavam em lados
opostos, na Argentina já se dava início a um programa ofensivo de direita no seio de um partido
historicamente de esquerda.
Em verdade, na Argentina, iniciou-se a implantação do neoliberalismo, com um
atrelamento da economia e da política aos EUA. Menem conseguiu desbaratar a inflação e
ancorar cambialmente o peso ao dólar, que passaram a ter de chofre a mesma cotação. Abriu a
economia para a importação e garantiu os pagamentos cada vez mais crescentes do serviço da
dívida externa. Foi o governante sul-americano que mais se apegou ao chamado Consenso de
Washington, normatizando um processo robusto de privatizações e recuo da presença do Estado
nos serviços e subsídios voltados para o grosso da população. O ministro das Relações
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Exteriores, Guido de Tella, chegou a dizer que seu país manteria “relações carnais” com os
EUA:
As propostas, visando à estabilização monetária e ao pleno restabelecimento
das leis do mercado, consistiam em: 1- disciplina fiscal, 2- mudanças das
prioridades dos gastos públicos, 3- reforma tributária, 4- taxas de juros
positivas, 5- taxa de câmbio de acordo com as leis do mercado, 6- liberalização
do comércio, 7- fim das restrições aos investimentos estrangeiros, 8-
privatização das empresas estatais, 9- desregulamentação das atividades
econômicas, 10- garantia dos direitos de propriedade (BANDEIRA, 2003, p.
476-479).
A integração do Mercosul avançou com a adesão de Paraguai e Uruguai, porém se
transmutou de integração política e econômica gradual para livre-cambista. Menem adotou o
“realismo periférico”, apego total aos EUA, a ponto de se tornar o país chave para os
investimentos dessa potência na região.
O controle inflacionário (em 1990 a inflação chegou a 2.000% ao ano, caindo para
menos de 1% nos anos seguintes) e o boom de investimentos externos, fruto do novo paradigma
econômico, forneceu sustentação política a Menem, que não encontrou dificuldades para ser
reeleito em 14 de maio de 1995, com uma porcentagem maior (47,49%) do que a da primeira
eleição.
4
Porém, na segunda metade da década de 1990 os problemas econômicos se avolumaram.
O desemprego e o subemprego passaram a afetar grande parte da população economicamente
ativa. Com o Estado enfraquecido e engessado com a rolagem da dívida, as indústrias nacionais
esmagadas pela importação em massa e os preços indexados ao dólar, a crise social se
multiplicou. Igualmente as acusações de corrupção, que passaram a pesar de forma significativa
no governo central. No cenário externo, a moratória da Rússia, no início de 1998, reforçou o
ambiente nebuloso para a economia argentina.
Em outubro de 1999, as eleições presidenciais deram vitória ao candidato da UCR,
Fernando de La Rúa, deixando para trás no primeiro turno os candidatos ligados ao antigo
governo peronista, Eduardo Duhalde (vice de Menem) e Domingo Cavallo, ex-ministro da
fazenda e consagrado autor do plano econômico do início daquela década.
5
4
Base de Datos Políticos de las Américas. Argentina: Resultados de elección presidencial de 1995. Georgetown
University y Organización de Estados Americanos. 1999. Disponível em:
https://pdba.georgetown.edu/Elecdata/Arg/arg95.html. Acesso em: 01 mar. 2023.
5
Disponível em: https://www.argentina.gob.ar/interior/dine/resultadosyestadisticas/1999. Acesso em: 02 mar.
2023.
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De La Rúa confirmou as promessas de campanha de manter a moeda argentina em
paridade com o dólar, assumindo uma continuidade com parte da macroestrutura do governo
anterior. Com um alto nível de endividamento externo, e dificuldades cada vez maiores de
captar empréstimos e investimentos, o novo governo optou pela cartilha econômica liberal, com
cortes em salários e aposentadorias, acoplados a um programa de flexibilização das leis
trabalhistas. Prometia-se, nesse sentido, um ecossistema econômico atrativo para uma nova
rodada de aportes de capitais (BANDEIRA, 2003)
No final do ano de 2000, o governo logrou um empréstimo de um consórcio formado
pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Banco Mundial e o governo da Espanha, na
esperança de conseguir um alívio momentâneo nas contas e aumentar sua capacidade de rolar
as dívidas. Em 2001, houve outro giro de arrocho salarial e diminuição de gastos públicos, com
cortes no orçamento da saúde, educação e moradia popular. Novas privatizações foram
anunciadas, o que levou ao aumento exponencial da insatisfação do povo argentino, que passou
a protestar com cada vez mais energia nas ruas das grandes cidades, sobretudo em Buenos Aires.
No desespero, Fernando De La Rúa trouxe de volta ao ministério da fazenda Domingo
Cavallo, que por sua vez lançou um plano econômico, em 3 de dezembro de 2001, o qual
contemplava o que ficou conhecido como corralito”, isto é, restrição de saques para a
população em todo o sistema bancário. Em novembro, uma representante do FMI tinha
declarado que não haveria mais empréstimos à Argentina, água ao moinho da incerteza
(BANDEIRA, 2003).
O resultado foi uma rebelião social com passeatas, saques e ocupação das ruas e fábricas
pela população descontente. No dia 19 de dezembro, o país todo se viu em convulsão, com o
mote popular de “que se vayan todos”. Em 20 de dezembro de 2001, De la Rúa decretou Estado
de sítio e Cavallo foi exonerado do Ministério. No dia seguinte, foi a vez de De la Rúa renunciar
ao cargo. O país atingia a situação mais crítica desde a redemocratização. Isolado, restou ao ex-
presidente se retirar num helicóptero da Casa Rosada.
6
O presidente do Senado, um peronista, Ramón Puerta, assumiu provisoriamente o cargo
vacante. Em 23 de dezembro, o então governador da província de San Luís, Adolfo Rodríguez
Sá, foi nomeado pelo parlamento presidente provisório, com a incumbência de convocar novas
eleições em até 90 dias. Uma de suas primeiras medidas foi a suspensão do pagamento da dívida
externa, espécie de calote argentino nos compromissos com as instituições financeiras
6
Folha de S. Paulo. Mercado. 20∕ dez. 2001. Versão Digital Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u38000.shtml Acesso em: 10 mar. 2023.
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internacionais. Com a temperatura elevada dos conflitos sociais, e contradições várias na sua
base de apoio, também renunciou à presidência, em 30 de dezembro de 2001, sete dias depois
de haver assumido (ZICARI, 2016).
Puerta se recusou a reassumir, renunciando à presidência do Senado em 31 de dezembro.
Restou ao presidente da câmara dos deputados, o também peronista Eduardo Camano, substituir
Rodrigues e convocar urgentemente os parlamentares, tendo em vista a necessidade de eleger
um novo chefe de Estado.
Assim, o senador peronista Eduardo Duhalde, ex-vice presidente de Carlos Menem e
governador da província de Buenos Aires, derrotado nas eleições de 1999 por De la Rúa,
encarregou-se da presidência. No início de 2002, Duhalde acabou com o sistema de paridade e
decretou “esgotado” o liberalismo na Argentina (BANDEIRA, 2003).
O governo Duhalde pode se sustentar na medida em que desvalorizou o peso,
beneficiando os exportadores e gerando uma situação que muitos analistas classificaram como
industrialização por substituição de importações, que havia se tornado muito cara qualquer
compra de máquinas, equipamentos, insumos e produtos do exterior. Tais medidas tiveram um
impacto no mercado de trabalho, diminuindo as taxas de desemprego.
Com os EUA ocupados na chamada luta contra o terrorismo, após os atentados ao World
Trade Center, em setembro do ano anterior, a administração Duhalde conseguiu maior margem
de manobra para a renegociação de suas dívidas. Reforçou as trocas com o Mercosul e se
beneficiou do aumento internacional dos preços do trigo, uma das principais comodities
argentinas. De sorte que conduziu o país até maio de 2003, quando Néstor Kirchner sagrou-se
eleito nas urnas para governar o país.
A esquerda no poder: os Kirchner
Com o país crescendo economicamente, diminuindo a taxa de desemprego e com uma
importante política de compensação de renda, o paradigma neoliberal recuou em seu prestígio,
muito embora mantivesse força na alta burguesia argentina. Nas eleições de 2003, Duhalde
apoiou Néstor Kirchner, que acabou ficando em segundo lugar nas eleições (22% dos votos
contra 24% de Carlos Menem). Naquele cenário se fez necessário um segundo turno, onde
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Menem declinou de participar e renunciou à candidatura, fazendo de Néstor Kirchner o novo
presidente argentino.
7
Eduardo Duhalde, assim como Alfonsín e De la Rúa, também não completou seu
mandato, renunciando para que Kirchner assumisse a Casa Rosada antes do final do ano.
Aumento das exportações, melhores condições na rolagem da dívida externa, expansão do
mercado interno através da dinamização do emprego e políticas de compensação de renda
compuseram a equação que levou a economia argentina a voltar a crescer, em taxas médias de
8% ao ano.
Kirchner se afastou de Eduardo Duhalde e também de parte do peronismo, se apoiando
numa coalisão de forças que tangenciaram outros partidos, trazendo para cargos
governamentais os piqueteros, famosos nas jornadas do final de 2001 e início de 2002 (DA
SILVA, 2012).
O problema maior talvez tenha sido a pressão inflacionária. Ao aumentar o gasto público
e congelar tarifas de serviços essenciais, a diferença entre gasto e arrecadação aumentou. Por
outro lado, o governo logrou acertar a rolagem da dívida, sobretudo com o FMI (pagando quase
a totalidade em 2006), o Banco Mundial e o governo da Espanha.
Em 2007, Kirchner interveio no IDEC (Instituto Nacional de Estatística e Censos), uma
polêmica que resultou no descrédito, doravante, dos números da inflação, considerados sempre
subnotificados pelo governo (DA SILVA, 2012). Ocorreram importantes estatizações e
reestatizações, como a das famosas Aerolíneas Argentinas.
Com bastante popularidade e projetando uma imagem de um país recuperado após o
calote internacional, Kirchner desenhou a estratégia de não se lançar à reeleição, escolhendo
apoiar sua esposa, então senadora, Cristina Fernández Kirchner, para o pleito de 2007. Logrou
passar seu capital político a ela, que venceu as eleições no primeiro turno. Kirchner tornou-se
presidente do Partido Justicialista, aumentando ainda mais sua força política.
8
O tamanho da crise de 2001 na Argentina, a meu juízo, não se compara à crise
econômica e social do Brasil ao longo de 2002, que abriu caminho para a vitória de Lula sobre
José Serra. Nesse sentido, o governo de Néstor Kirchner operou numa sociedade em que os
paradigmas neoliberais estavam muito mais questionados, a sociedade mais fraturada e as
finanças exponencialmente mais afetadas. Em contraste, Lula e o PT precisaram reafirmar
7
Disponível em: https://www.argentina.gob.ar/interior/dine/resultadosyestadisticas/2003. Acesso em: 02 mar.
2023.
8
Disponível em:https://www.argentina.gob.ar/interior/dine/resultadosyestadisticas/2007. Acesso em: 03 mar.
2023.
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compromissos com os pilares econômicos do antigo governo, prometendo avanço social
inovador dentro de um arcabouço econômico conservador, algo parecido ao que De La Rúa
havia feito em 1999.
Por um lado, Néstor Kirchner logrou reconstruir a figura do presidente interventor,
elemento caro à tradição peronista, mas borrada com as múltiplas crises que, por diferentes vias,
emparedaram Alfonsín, Menem e De la Rúa. Nas palavras de Maristella Svampa, Kircnher, a
partir de 2003, “recuperou a política” (SVAMPA, 2006, p. 180).
Por outro, ele se legitimou através do reconhecimento de parte do movimento social
argentino, extremamente ativo e participativo. Os piqueteros e a grande maioria dos
desempregados e subempregados foram contemplados com programas de auxílio (Plano Jejas
e Jefes de Hogar), com U$ 50,00 mensais, além da incorporação de alguns cargos estatais,
como foi dito acima. As empresas quebradas na crise e assumidas por cooperativas de
trabalhadores também foram prestigiadas. A Suprema Corte foi reformada e a cúpula militar
seguiu na mira dos processos por conta da guerra suja, impedindo que a extrema direita e parte
da própria direita recobrassem forças.
Kirchner costurou acordo com lideranças tradicionais que, a partir das eleições
legislativas de 2005, causou significativo racha dentro do Partido Peronista. Assim, ele
respondeu à vontade de “volta à normalidade”, que amplas faixas da população demandavam,
sustentando-se tanto no reconhecimento de pressões populares quanto no apoio de partes das
oligarquias tradicionais, cooptadas para sua aliança.
Com a oposição parlamentar enfraquecida, dado o crescente poder centralizador da
figura do Executivo, o presidente pautou o debate e esteve na ofensiva em quase todos os
momentos. Com uma relação de alto nível com o grupo Clarín, obteve uma imagem ainda mais
positiva através dos meios de comunicação.
Ainda na economia, prestigiou o Mercosul e as relações bilaterais com a Venezuela.
Com parcerias com a PDVSA (Petróleos da Venezuela), seguiu expandindo o parque produtivo,
aproveitando-se do alto preço internacional das comodities, incrementando áreas de mineração
inclusive para dentro de terras de preservação (SVAMPA, 2006).
No último ano de seu governo, em 2007, a Argentina exportava na ordem: 18,8% ao
Brasil, 9,26% à China, 7,11% ao Chile e 6,38% aos EUA. Importava: 31,2% do Brasil, 13,69%
dos EUA, 10,26% da China e 4,69% da Alemanha.
9
9
Instituto Nacional de Estadística y Censos República Argentina (INDEC). Disponível em:
https://opex.indec.gov.ar/index.php?pagina=mapa_dinamico Acesso em: 14 mar. 2023.
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Em 28 de outubro de 2007, Cristina Fernández de Kirchner venceu as eleições
presidenciais em primeiro turno, com 45,29% dos votos:
Cristina deu prosseguimento à orientação econômica e política do seu
antecessor mantendo o regime cambial competitivo. Nos dois primeiros anos
de governo, o cenário internacional favorável manteve a balança superavitária,
com presença destacada das exportações de comodities. A crise econômica
internacional de 2008 causou impactos negativos na economia argentina, que
naquele ano entrou em recessão. nos anos seguintes, o crescimento foi
retomado (DA SILVA, 2012, p. 13).
No primeiro ano de seu governo, Cristina Kirchner intentou a ousada tributação sobre o
agronegócio, visando capitalizar mais recursos para o Estado de modo a galvanizar os projetos
de transferência de renda sem afetar os setores industriais e financeiros. Um lockout com
travamento de estradas e reclamos na mídia e no parlamento foi um duro teste para a presidenta
recém-eleita.
Além das instituições políticas tradicionais do peronismo, a presidenta passou a contar
com um movimento cada vez mais organizado e atuante, como o chamado La Cámpora,
juventude peronista comandada, de início, pelo filho do casal, Máximo Kirchner. Um
grupamento com presença na mídia, capilaridade nas províncias e que investia apoio não no
peronismo como um todo, senão nos Kirchner eles mesmos. Conquistou posições inclusive nas
casas legislativas (RIVAROLA, 2015).
A questão do duplo poder, “quem preside é a esposa, mas quem manda é o marido”,
(como disse, Néstor Kirchner era então presidente do PJ), acabou eliminada da conjunção com
a morte repentina de Néstor, vítima de um ataque cardíaco em 27 de outubro de 2010.
A viuvez da presidente levou a uma interrupção, ainda que temporária, dos
ataques da oposição à sua gestão. Mais importante, derrubou a tese do “duplo
comando”, defendida pela imprensa e por alguns acadêmicos, que
acreditavam que cabia a Néstor, e não a Cristina, a condução da política no
país. As políticas bem-sucedidas de crescimento econômico, combate à
pobreza e expansão da renda garantiram a reeleição (DA SILVA, 2012, p. 14).
As políticas intervencionistas do Estado, combatendo a recessão, e a nova imagem da
presidenta dizimaram as chances políticas da oposição. Em 23 de outubro de 2011, Cristina
Kirchner recebeu um escrutínio recorde de 54,11% dos votos válidos, quase 38 pontos
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percentuais à frente do segundo colocado, tornando-se a primeira mulher reeleita na história
política das Américas.
10
Interessante a extrema vontade da grande mídia brasileira em relação à presidenta
argentina. Numa pesquisa original, Patrícia Leite analisou os conteúdos dos jornais Folha de S.
Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo sobre ela, constatando a presença massiva de notícias
negativas e interpretações contrárias ao seu mandato, mesmo quando apresentou seus melhores
indicadores de emprego e renda (LEITE, 2018).
A crise internacional fez com que o crescimento da economia argentina variasse no
início da década de 2010. As exportações continuaram altas e o governo teve êxito em reduzir
as taxas de pobreza, de acordo com as medições dos organismos internacionais. Não obstante a
queda do preço das comodities, o governo seguiu privilegiando uma agenda de gasto público
com serviços sociais mirando a população mais pobre. E na política externa, favorecendo o
entorno regional em detrimento dos EUA, causando vários atritos com Washington nesse
sentido (SILVA, 2020, p. 81).
É notório o inflacionamento das críticas ao governo de parte da sociedade argentina,
sobretudo os setores apegados ao liberalismo econômico. Como se estivessem conquistando
apoio social exponencial ao conjunto de ideias que eram hegemônicas até a crise de 2001.
Mariano Perelman faz uma instigante análise para aquele período, apontando a participação em
protestos populares de setores da classe média e da classe média alta, descontentes com o
auxílio estatal aos mais pobres e contra o calote recebido na troca da cotação do dólar para o
peso, reivindicando o direito de entesourar de maneira ilimitada em depósitos bancários a
moeda norte-americana (PERELMAN, 2022). O dólar na sociedade argentina tinha uma
presença mais difundida do que no caso brasileiro, muito por conta da política monetária da
última ditadura militar, passando pela hiperinflação dos anos 1980, que derretia o valor nominal
do austral, e a conversibilidade com o peso nos anos 1990.
Cristina Kirchner manteve até o fim do seu mandato o controle sobre compras, gastos e
investimentos em dólar, agravando a indignação dos setores nomeados acima, que diziam que
o dinheiro do trabalho, convertido em impostos, ia para os “negros”, enquanto os “verdadeiros”
trabalhadores sofriam restrições (PERELMAN, 2022). E foram várias as marchas contra o
governo nesse diapasão.
10
Disponível em: https://www.argentina.gob.ar/interior/dine/resultadosyestadisticas/2011. Acesso em: 03 mar.
2023.
Considerações sobre a política e a economia na Argentina do tempo presente (1983-2020)
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Não podendo concorrer a um terceiro mandato, e bastante desgastada pelos anos de
poder, Cristina ainda somava um robusto capital político. Apoiou o então governador de Buenos
Aires, Daniel Scioli, que teve como adversário o então prefeito da capital federal, Mauricio
Macri, esse último numa coalização de direita denominada “Mudemos”. Scioli, da “Frente para
a Vitória”, teve o apoio do aparato partidário e dos maiores deres políticos do entorno regional,
Dilma Rousseff inclusive.
Algumas das sondagens realizadas em 2015 chegaram a apontar vitória de Scioli no
primeiro turno, o que significaria a quarta vitória consecutiva em primeiro turno do peronismo
- kirchnerismo. Fato é que Daniel Scioli teve mais votos que Macri na eleição ocorrida em 25
de outubro de 2015, 37% contra 34%. Pela primeira vez na história, as eleições presidenciais
argentinas foram de fato para um segundo turno, e ocorreu uma inversão, com Mauricio
Macri logrando vencer com 51,4% dos votos contra 48,66% de Scioli (uma diferença de menos
de 700 mil votos).
11
A direita com Mauricio Macri
Uma vitória até certo ponto inesperada, assim foi considerada pelos principais analistas
políticos argentinos. Cristina Kirchner e o kirchnerismo se localizavam num partido de larga
tradição, ao passo que Mauricio Macri estava num partido, Propuesta Republicana, criado em
2005, numa coalização de direita com um projeto não muito claro de poder senão a “volta do
liberalismo”, um conjunto de ideias que reatualizava o programa econômico de Menem num
invólucro não peronista e que se dizia não clientelista, longe dos vícios da antiga política.
O resultado foi catastrófico:
Com Macri, a Argentina voltou às receitas neoliberais, que resultaram em uma
série de ajustes e tarifaços intermináveis, alta inflação, retrocesso de salários
reais, abertura indiscriminada às importações e consequente fechamento de
pequenas e médias empresas. Como se não bastasse, em maio de 2018, o
Governo assinou um acordo com o FMI que concedeu o maior empréstimo de
sua história e acrescentou à crise mais fuga de capitais, além de
superendividamento insustentável. Longe da “pobreza zero” prometida
durante a campanha, esta foi subindo até alcançar 40,8% em dezembro de
2019, a mais alta da última década. Por outro lado, a inflação atingiu 53,8%
em 2019, a maior em 28 anos. Em sintonia, o PIB de 2019 também foi o mais
baixo da década (SVAMPA, 2020)
11
Pela legislação eleitoral argentina, nas eleições presidenciais é necessário alcançar 45% dos votos válidos, ou
entre 40% e 45%, desde que com uma vantagem de 10% sobre o segundo colocado. Caso isso não se configure,
disputa em segundo turno. Sobre os resultados, consultar:
https://www.argentina.gob.ar/interior/dine/resultadosyestadisticas/2015. Acesso em: 10 mar. 2023.
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Macri intentou privilegiar uma relação bilateral com os EUA, em detrimento do
Mercosul, e avançou no desmanche das políticas de compensação de renda e no fim dos
subsídios estatais para as tarifas públicas. Resultou em um aumento do número de pobres, queda
na balança comercial e encarecimento do custo de vida.
Tomás Blanco e Carolina Zaccato sustentam que, no início de seu mandato, Macri
entendeu que o Brasil estaria declinando internacionalmente, tanto do ponto de vista
econômico, com a diminuição dos preços de suas comodities, quanto político, com as incertezas
advindas do impeachment de Dilma Rousseff e do governo de Michel Temer. Teria então
instruído sua diplomacia a posicionar a Argentina como país chave dos EUA na região, uma
diretriz idêntica daquela de Menem décadas passadas (BLANCO; ZACCATO, 2018).
A vitória de Donald Trump, em 2016, e a de Jair Bolsonaro, em 2018, desfez
completamente as chances de uma política externa como essa frutificar. Também internamente,
esse posicionamento levou a uma crítica severa, o que fez a Casa Rosada baixar o ritmo de
junção aos EUA. Diferentemente da extrema direita brasileira, Macri declarou apoio a Hilary
Clinton nas eleições norte-americanas, o que muitos apontaram como um erro estratégico
(BLANCO; ZACCATO, 2018).
Em 2017, nas eleições legislativas, a coalização conservadora de Macri, denominada
Cambiemos, fez maioria na câmara, senado e províncias que tiveram pleito para governador.
Por outro lado, Cristina Kirchner venceu para o senado por Buenos Aires.
Ao aproximar o final de seu mandato, Macri confirmou seu viés conservador nos
costumes e na política e liberal na economia, aproveitando-se do nítido avanço do eleitor
reacionário ou cativado pelas pautas reacionárias mundo afora.
Em outubro de 2019, a chapa peronista colocou Alberto Fernandez como cabeça e
Cristina Kirchner na vice, numa coalização denominada Frente de Todos. Com 48% dos votos
(quase 13 milhões de eleitores), derrotaram Mauricio Macri (40%, quase 11 milhões de
eleitores)
12
. O candidato com a máquina pública não logrou a chegar nem no segundo turno,
combinação da péssima performance da economia com a resiliência e capacidade de militância
do peronismo:
A Frente de Todos reúne uma parte importante da grande família peronista,
pois articula desde setores progressistas (que incluem uma ala cristinista dura,
presente nas duas Câmaras), peronistas de centro, com preocupações sociais,
vindos da Frente Renovadora, até os caudilhos de sempre da província de
12
Disponível em: https://www.argentina.gob.ar/interior/dine/resultados-y-estadisticas/elecciones-2019. Acesso
em: 10 mar. 2023.
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Buenos Aires e governadores peronistas pouco afeitos à participação cidadã.
Como parceiros menores, foram incluídos setores de centro-esquerda não
kirchnerista, até recentemente excluídos (SVAMPA, 2020).
Com isso, voltou ao poder a centro-esquerda, com uma pauta englobando maior
presença do Estado na economia, respeito à diversidade nos costumes, a proteção dos direitos
dos povos originários e também do meio ambiente, ao mesmo tempo com compromissos com
o setor financeiro, indústria e comércio, mineração e petróleo.
Considerações finais
Semelhanças e diferenças marcam a recente trajetória da política e da economia
argentina em relação ao Brasil. A meu juízo, diferenças de intensidade dos programas
econômicos advindos das condições históricas em que direita e esquerda assumiram o poder
central e puderam, até certo ponto, implementar suas agendas.
A derrota da ditadura militar argentina propiciou um retorno mais cedo à democracia.
Alfonsín foi eleito por sufrágio universal em 1983, enquanto Collor de Melo seria eleito em
1989. O primeiro, ainda buscando uma política econômica de soberania, enquanto o último
se acomodando à nova ordem do Consenso de Washington.
Carlos Saul Menem, eleito em 1989 pelo peronismo, recuperou o monetarismo,
testado na ditadura de 1976, e não teve um adversário relevante no campo popular, sendo mais
radical na aplicação do neoliberalismo. Fernando Henrique Cardoso, que assumiu a presidência
em 1995, teve no PT na oposição um grande antagonista, impedindo-o provavelmente de dar
maior extensão aos programas neoliberais.
Resultado disso foi a continuidade econômica de La Rúa e sua posterior renúncia, no
contexto da quebra econômica do país, em fins de 2001 e início de 2002. Pode-se dizer que a
economia brasileira manteve os padrões básicos da política e a hegemonia neoliberal ainda no
primeiro mandato de Lula da Silva.
Advindo de uma catástrofe, Néstor Kirchner aprofundou políticas estatais de cunho
social e, se não totalmente contra o capital financeiro, com maior margem de manobra para
lidar com ele. Estabeleceu assim uma corrente política dentro do peronismo, o kirchnerismo,
suficiente para eleger Cristina Kirchner em dois mandatos e Alberto Fernandez, com Cristina
na vice-presidência, numa terceira oportunidade.
No Brasil, Lula realizou transformações significativas a partir do segundo mandato,
principalmente. Com a política econômica do primeiro período de Dilma Rousseff, ele trouxe
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para si uma oposição fortalecida no congresso e nas ruas, resultando no impeachment de sua
sucessora e em sua prisão. Como se o contexto disruptivo da política argentina de 2001-2002
ocorresse no Brasil em 2016-2017, com a diferença de que, neste último, um governo de direta
é o que nasceria da crise.
Na Argentina, uma direita institucional ganhou as eleições em 2015, retomando um
programa de abertura comercial, prestígio do capital financeiro, apoio aos EUA e combate aos
movimentos populares. No Brasil, embora tudo isso também fosse retomado, foi uma força
política de extrema direita autoritária que ganhou as eleições em 2018, muito por conta da
impunidade relativa aos militares que cometeram crimes durante a ditadura de 1964-1985, da
falta de aderência da direita tradicional com os eleitores e do esgarçamento do tecido social na
crise contemporânea.
Se uma coalização de centro esquerda voltou ao poder na Argentina, em fins de 2019,
voltou ao poder ao Brasil em fins de 2022, projetando novos desafios para os anos vindouros.
A meu juízo, sugere que a troca periódica do poder entre governos de teor menos popular por
mais popular, de maior liberalização econômica por maior intervenção na distribuição de renda,
de maior preocupação com a classes trabalhadora e os pobres para pouca ou nenhuma, seja a
forma em que as contradições capitalistas se movam atualmente, no que tange ao sistema
político. “Ao menos até o instante em que o leito em que adormecem os conflitos se torne
estreito demais para acomodá-los”, como afirmou, acompanhando Marx num outro contexto, o
historiador Lincoln Secco (SECCO, 2011, p. 266).
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Iuri CAVLAK
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CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Ao meu professor e orientador José Luis Beired, que me transmitiu o
amor pela história da Argentina.
Financiamento: Não se aplica.
Conflitos de interesse: Não se aplica.
Aprovação ética: Não se aplica.
Disponibilidade de dados e material: Não se aplica.
Contribuições dos autores: Autor único.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.3.1038 1
CONSIDERATIONS ON POLITICS AND ECONOMY IN PRESENT-DAY
ARGENTINA (1983-2020)
CONSIDERAÇÕES SOBRE A POLÍTICA E A ECONOMIA NA ARGENTINA DO
TEMPO PRESENTE (1983-2020)
CONSIDERACIONES SOBRE POLÍTICA Y ECONOMÍA EN LA ARGENTINA
ACTUAL (1983-2020)
Iuri CAVLAK1
e-mail: i.cavlak@unifesp.br
How to reference this article:
CAVLAK, I. Considerations on politics and economy in present-
day Argentina (1983-2020). Teoria & Pesquisa: Revista de
Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 3, e023028, 2023. e-
ISSN: 2236-0107. DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.3.1038
| Submitted: 29/04/2023
| Required revisions: 07/06/2023
| Approved: 22/10/2023
| Published: 20/12/2023
Editors:
Profa. Dra. Simone Diniz
Prof. Dr. Eduardo de Lima Caldas
Profa. Dra. Mércia Kaline Freitas Alves
Dr. Vinícius Silva Alves
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Federal University of São Paulo (UNIFESP), São Paulo SP Brazil. Professor of History Theory.
Considerations on politics and economy in present-day Argentina (1983-2020)
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 3, e023028, 2023. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.3.1038 2
ABSTRACT: The present work aims at a historical reconstitution of the main political and
economic moments in Argentina, between the end of the last military dictatorship until the
present moment. For this, Brazilian and Argentine bibliography articulated with the official data
and statistics of the Argentine government are utilized. The objective is to try to reflect on
changes and continuities in the mentioned variables, in a brief comparison with Brazil regarding
certain conjunctures. The method clings to purchased history and the history of the present time.
Although still without a necessary deepening and complexity, this research demonstrates the
persistent change between more or less liberal governments, from a greater attachment to
liberalism to those with a greater connection with social policies, as if it were the periodic
change necessary for the maintenance of the market economy as it has been shaping up in South
America.
KEYWORDS: History. Politics. Economy. Present Time.
RESUMO: O presente trabalho é uma tentativa de reconstituição histórica dos principais
momentos políticos e econômicos da Argentina, entre o fim da última ditadura militar até o
momento atual (2022). Para isso, utilizo de bibliografia brasileira e argentina articulada aos
dados e estatísticas oficiais do governo argentino. O objetivo é tentar refletir sobre mudanças
e continuidades nas variáveis citadas, em uma comparação ligeira com o Brasil a respeito de
determinadas conjunturas. O método se apega à história comprada e à história do tempo
presente. Embora ainda sem um necessário aprofundamento e complexidade, essa investigação
demonstra a mudança contumaz entre governos mais e menos liberais, de maior apego ao
monetarismo para os de maior ligação com políticas sociais, como se fosse a mudança
periódica necessária para a manutenção da economia de mercado tal como ela se vem
configurando na América do Sul.
PALAVRAS-CHAVE: História. Política. Economia. Tempo Presente.
RESUMEN: Este trabajo es un intento de reconstruir la historia de los principales momentos
políticos y económicos de Argentina, desde el final de la última dictadura militar hasta la
actualidad. Para hacerlo, recurrí a bibliografía brasileña y argentina, combinada con datos y
estadísticas oficiales del gobierno argentino. El objetivo es intentar reflexionar sobre cambios
y continuidades en las variables mencionadas, en una ligera comparación con Brasil respecto
a determinadas coyunturas. El método se basa en la historia comprada y en la historia del
presente. Aunque todavía no haya alcanzado la profundidad y complejidad necesarias, esta
investigación demuestra el continuo cambio entre gobiernos más y menos liberales, de los que
tienen un mayor apego al liberalismo a los que tienen una mayor conexión con las políticas
sociales, como si este fuera el cambio periódico necesario para mantener la economía de
mercado tal como se ha configurado en América del Sur.
PALABRAS CLAVE: Historia. Política. Economía. Actualidad.
Iuri CAVLAK
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 3, e023028, 2023. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.3.1038 3
Introduction
Unlike Brazil, Argentina began the period of the Covid-19 pandemic with a center-left
government, after a victory for Alberto Fernandez and Cristina Kirchner against the right,
represented by the slate of Mauricio Macri and Miguel Pichetto. Macri was seeking re-election
and chose the Peronist Pichetto in place of the then vice-president, Gabriela Michetti. Fernandez
won the election, which took place on 27 October 2019, with just over 48% of the valid votes
(almost 13 million votes), against 40% for his opponent (almost 11 million votes), and took
office on 10 December 2019, less than three months before the pandemic exploded around the
world
2
.
Cristina Fernández Kirchner had been President of the Republic between 2007 and
2015. Her late husband, Néstor Kirchner, in turn, had governed the country between 2003 and
2007 - both came from the Justicialist Party (Peronist), which is considered to be on the center-
left.
The situation of the Argentine economy at the beginning of 2020 showed problematic
signs. External debt stood at an impressive 89.4% of GDP, 1 dollar was worth 58 pesos and
inflation had closed 2019 at 53.8%. The Argentine population living in poverty stood at 35.5%,
with 8% in indigence (FERNÁNDEZ; PRETI, 2020).
Most analysts point to Macri's government as the main culprit in this situation, due to
its policies of fiscal austerity, increases in public tariffs and cuts in income compensation
policies.
The aim of this article is to reflect on Argentina's recent history, from the end of the last
military regime to the last decade, focusing on political and economic variables, with a view to
the differences and similarities with Brazil in the same period. The hypothesis is that by
problematizing some of the central issues in the neighbouring country from a diachronic
perspective, we will be able to better understand the structural and conjunctural elements of late
capitalism as they have presented themselves and are presenting themselves in South America,
constraining and providing opportunities for the two largest countries in the region at the same
time.
Basically, I define the period in question in two temporal arrangements which, at times,
coincided in time, while at other times they were disruptive. Structures formed at the junction
of external and internal crises where, in some cycles, it was possible to articulate governments
2
Available: https://www.argentina.gob.ar/interior/dine/resultados-y-estadisticas/elecciones-2019. Access: 09
Mar. 2023.
Considerations on politics and economy in present-day Argentina (1983-2020)
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with greater intervention in the economy and with industrializing policies coupled with income
distribution, and in others, governments anchored in the liberal ideology, deregulating the
productive sector and operating with policies of fiscal tightening and unemployment. This is
undoubtedly a simplification, used here in the sense given by Max Weber, an ideal type aimed
at greater conciseness and intelligibility (WEBER, 1999).
The method is the use of historical bibliography articulated with Comparative History
(BLOCH, 1963), a foundation for advancing some interpretations about Argentina's present
time and its relationship with its regional surroundings. As Maria Ligia Prado said:
Comparing Brazil with other Latin American countries has always seemed
like a stimulating challenge to me. Insofar as the history of each Latin
American country runs parallel to the others, going through very similar
synchronic situations - Iberian colonization, political independence, the
formation of national states, British and then North American pre-eminence,
to stick to the traditional themes - there is, in my view, no escaping
comparisons (PRADO, 2005, p. 17, our translation).
I reiterate the question of the link with Comparative History, because I did not try to
make a comparative history tout court, but rather to juxtapose some conjunctures and the
chronology of Argentine history in relation to Brazil within the proposed section. As such, the
text that follows is perhaps more attuned to questions of the history of the present time
(FERREIRA, 2000).
Primary sources were consulted using statistics from official Argentine government
agencies. I sorted the bibliography according to the quality of the work, its critical bias,
availability and importance in the intellectual field here and there.
Comparative History issues between Brazil and Argentina
In 2005, the book by historians Boris Fausto and Fernando Devoto was published in
Brazil, tracing more than a century and a half of history between the two main countries in
South America (FAUSTO; DEVOTO, 2005).
The premise has to do with similar circumstances over a long period of time. The
independence of both countries, between 1816 and 1822, breaking away from the Iberian
metropolis. The sequence in the construction of national states, based on a restricted democracy
and an oligarchic state apparatus. The political crisis in 1930, which led to the overthrow of the
governments of Hipólito Yrigoyen and Washington Luís. The immediate post-war context,
which gave rise to political leaders based on strong popular movements: Peronism and
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Varguism (in 1945, "Querismo", in defense of Getúlio Vargas' continuity in power until a new
constitution was voted in, was very similar to the campaign to free Perón and make him a
candidate for the presidency of the Republic). In short, "populism" (MACKINNON;
PETRONE, 1998).
In fact, in the 1950s, the nationalist economic and diplomatic agendas of Perón and
Vargas were followed by the national-developmentalist governments of Arturo Frondizi and
Juscelino Kubitschek, respectively. Then there were the military coups in the 1960s and the
democratic opening in the 1980s, with a period of economic plans against hyperinflation (Raúl
Alfonsin and José Sarney) followed by neoliberal policies linked to the so-called Washington
consensus (Carlos Menem and Fernando Collor / Fernando Henrique Cardoso). Finally, the
"post-neoliberal" governments of the 2000s (Néstor Kirchner / Cristina Fernández Kirchner and
Luís Inácio "Lula" da Silva / Dilma Rousseff) and the return of the neoliberal right to the state
apparatus (Mauricio Macri and Michel Temer) to then restart a new center-left period in the
present time (Alberto Fernández / Lula da Silva in his third term).
Obviously, there are several important differences here, such as the absence of a
monarchy and the lower incidence of enslaved Africans in 19th century Argentina, the absence
of a popular movement (Radical Civic Union) and a university movement (University Reform)
in Brazil at the beginning of the 20th century, the sign changed in the post-1930 regimes,
oligarchic and agriculturalist in Argentina, centralizing and industrializing in Brazil. And the
dissonance in the presidencies of Perón (1946-1952) and Eurico Gaspar Dutra / beginning of
the second Vargas government in the same period.
Furthermore, the four post-war military interruptions in Argentina (1955, 1962, 1966
and 1976) were different from the only one in Brazil (1964). The National Reorganization
Process (1976) was anti-industrialist and monetarist, while in Brazil Keynesian policies were
still in force. In the 1990s, Peronism, through its right wing, retained control of the state, while
the Workers' Party led the main opposition to the Toucan project, which perhaps helps to explain
the greater depth of the neoliberalism process in Argentina compared to Brazil.
In 2001, Argentina was in a much more desperate situation from an economic and social
point of view, to the extent that five presidents ran the country in less than 15 days (end of
December 2001 and beginning of January 2002), while in Brazil, although in a serious crisis,
the election that ousted the Brazilian Social Democracy Party (PSDB) from central power and
gave way to the PT and Lula, in October 2002, took place without trauma.
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To conclude, I would say that the election of Jair Bolsonaro in 2018 would also be
disruptive in this comparison, since an extreme anti-system right was not what Macri presented.
Furthermore, the dimension of Peronism in the Argentine political system is something that
sociologist Juan Carlos Torres defined as "the political system in itself", officialdom and
opposition at the same time, something very different from Brazil (TORRES, 1999).
I would then look to this dialectic of similarities and differences for a methodological
angle to interpret the main political facts that, in my opinion, have shaped the current reality in
both countries, starting with the departure of the military regimes in the 1980s in both countries
until the end of Mauricio Macri's mandate in Argentina.
Argentina's re-democratization and Neoliberalism
In Argentina, unlike Brazil, the dictatorship intensified at the end of the 1970s, following
the coup d'état of 24 March 1976, called the "National Reorganization Process". Through this
coup, a group of hard-line military men took over state power and implemented one of the most
violent regimes in contemporary South American history. According to some calculations,
around 30,000 people were killed and thousands more tortured and affected by the repression.
Given the size of the population at the time, around 25 million inhabitants, and its concentration
in Buenos Aires, the social tragedy caused can be estimated (NUNCA MÁS, 1984).
In addition, the Argentine military implemented a policy of deindustrialization, with the
aim of stifling the workers' movement. The driving idea was to return to rural Argentina, an
exporter of meat and grains and importer of manufactures, where there would be no urban
conflicts or organized protest movements. The immediate result was a very sharp economic
downturn, oxygenating the financial sector - the era of plata dulce - increasing foreign debt and
generating a loss of competitiveness in national production (BEIRED, 1996). The country
ended up lagging far behind Brazil in terms of the complexity of its production facilities and its
influence on the South American economy. The modernization of the ports of Santos and
Paranaguá helped to reduce the centenary importance of the port of Buenos Aires, while the
Itaipu hydroelectric plant sedimented part of the neighbourhood in the Brazilian orbit
(BANDEIRA, 2003).
With the accumulation of deaths and economic recession, it seemed to those in power
that a war would save them from these problems, hence the invasion of the Malvinas Islands -
the Falklands, which belonged to the British - in April 1982. They believed in US support or at
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least neutrality, even as a reward for exterminating the left and opening up the economy, which
did not materialize. They relied on the IATRA (Inter-American Treaty of Reciprocal
Assistance), signed in 1947, which determined the obligation of the Americans to stand by the
countries of this bloc in the event of war (BEIRED, 1996). By the first half of June 1982, the
war was over, with the Argentinians surrendering, at a cost of 700 dead and missing and 1,300
wounded (ROMERO, 1994).
From then on, a return to democracy was inevitable, with the calling of general elections
and the victory, on 30 October 1983, of the UCR (Radical Civic Union) candidate, Raúl
Alfonsín. In relation to Brazil, it can be said that the transition took place with the Platine
military in a much weaker position, seen as cruel internally for the Dirty War and weak
externally for the loss of the Falklands War
3
. Furthermore, there was a critical situation in the
economy:
GDP per capita in 1982 was 15% lower than in 1975, and industrial GDP was
25% lower than in 1970. Real wages were 40% lower. The share of wage
earners in GDP had gone from 45% in 1974 to 34% in 1993 (NOVARO;
PALERMO, 2007, p. 715, our translation).
Historian José Luis Beired considers that the military group at the head of the "National
Reorganization Process" was part of "a political culture of extreme right-wing nationalism"
(BEIRED, 1996, p. 77, our translation). I think they were of the same ilk as the Brazilian
military "of the underground", their contemporaries, represented by the figure of General Sylvio
Frota, Minister of the Army in Ernesto Geisel's government, a staunch anti-communist and
defender of the regime's torture and further closure. In Brazil, this force was momentarily
defeated in 1977, with the removal of Frota, the choice of Figueiredo for the presidential
succession and the respective plan for amnesty and a "slow, gradual and secure" opening
(GASPARI, 2004). It would return in the 2010s, as will be seen, since at no point were these
Brazilian military personnel framed and punished by the law, unlike their Argentinian
counterparts.
Alfonsín's government was one of the most complex of the 1980s in the subcontinent.
He had to deal with hyperinflation, investigating the crimes of the old regime, punishing the
military and a process of deepening the internationalization of the economy. Together with José
Sarney's government, he established the Declaration of Foz do Iguaçu in November 1985,
3
The Dirty War is how the military repression of Argentine society during the dictatorship came to be known.
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which was seen as the inaugural milestone of Mercosur. It suffered from the riots of the extreme
right-wing military (BEIRED, 1996).
Thus, Alfonsín saw his political support liquefy in his last year in office, in 1989. Two
years earlier, the UCR had already lost its majority in the legislature and been defeated in all
the elections for provincial governors, with the exception of Córdoba and Río Negro
(ROMERO, 1994).
In the presidential election of May 1989, the UCR candidate, Eduardo Angeloz, was
defeated by the Peronist Carlos Saúl Menem, a politician then known for having been governor
of La Rioja and imprisoned by the military. As the inflation crisis worsened, Alfonsín handed
over power to Carlos Menem two months after the election, five months ahead of schedule.
It is controversial in Argentine political literature how surprising Carlos Menem's
presidency was from then on:
Menen demonstrated a remarkable ability to gather around himself all
segments of Peronism, from union leaders (...) to former militants of the
extreme right or extreme left of the 1970s, along with all kinds of caudillos or
local leaders (...) In short, no one knew exactly what the Peronist candidate
would do if he won, but it was clear that he would be pragmatic and not bound
by programmatic commitments (ROMERO, 1994, p. 399, our translation).
That same year, in Brazil, the first democratic presidential election since 1960 took
place, in a fierce contest between two distinct projects, crystallized in the second round of
voting, between Lula da Silva and Fernando Collor de Melo. At the time of the election, a left-
wing project brought together the new trade unionism and its new centrals, the rural movements,
laborism, communism, socialism and social democracy, on the one hand, against coronelism,
rentierism and the old oligarchic right, on the other (SECCO, 2011). In other words, what was
defined in Brazil as an implacable dispute, in which right and left were on opposite sides, in
Argentina an offensive right-wing program was already beginning within a historically left-
wing party.
In fact, the implementation of neoliberalism began in Argentina, with the economy and
politics being tied to the US. Menem managed to break inflation and anchor the peso to the
dollar, which suddenly had the same exchange rate. He opened up the economy to imports and
guaranteed ever-increasing payments on the external debt. He was the South American leader
who most closely adhered to the so-called Washington Consensus, regulating a robust process
of privatization and reducing the state's presence in services and subsidies for the bulk of the
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population. Foreign Minister Guido de Tella even said that his country would maintain "carnal
relations" with the US:
The proposals, aimed at monetary stabilization and the full re-establishment
of the laws of the market, consisted of: 1- fiscal discipline, 2- changes in the
priorities of public spending, 3- tax reform, 4- positive interest rates, 5-
exchange rate in accordance with the laws of the market, 6- liberalization of
trade, 7- an end to restrictions on foreign investment, 8- privatization of state-
owned companies, 9- deregulation of economic activities, 10- guarantee of
property rights (BANDEIRA, 2003, p. 476- 479, our translation).
Mercosur's integration advanced with the accession of Paraguay and Uruguay, but
changed from gradual political and economic integration to free trade. Menem adopted
"peripheral realism", total attachment to the US, to the point of becoming the key country for
US investments in the region.
Inflation control (in 1990 inflation reached 2,000% a year, falling to less than 1% in the
following years) and the boom in foreign investment, the result of the new economic paradigm,
provided political support for Menem, who had no difficulty in being re-elected on 14 May
1995, with a higher percentage (47.49%) than in the first election.
4
However, in the second half of the 1990s, economic problems worsened.
Unemployment and underemployment began to affect a large part of the economically active
population. With the state weakened and hamstrung by the debt roll-over, national industries
crushed by mass imports and prices indexed to the dollar, the social crisis multiplied. So did the
accusations of corruption, which began to weigh heavily on the central government. On the
external front, Russia's moratorium at the beginning of 1998 reinforced the cloudy environment
for the Argentine economy.
In October 1999, the presidential elections gave victory to the UCR candidate, Fernando
de La Rúa, leaving behind in the first round the candidates linked to the former Peronist
government, Eduardo Duhalde (Menem's vice-president) and Domingo Cavallo, former finance
minister and renowned author of the economic plan at the beginning of that decade.
5
De La Rúa confirmed his campaign promises to keep the Argentine currency at parity
with the dollar, assuming continuity with part of the previous government's macro-structure.
With a high level of foreign debt and increasing difficulties in attracting loans and investments,
4
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the new government opted for the liberal economic playbook, with cuts in salaries and pensions,
coupled with a program to make labor laws more flexible. This promised an attractive economic
ecosystem for a new round of capital inflows (BANDEIRA, 2003).
At the end of 2000, the government obtained a loan from a consortium made up of the
Inter-American Development Bank, the World Bank and the Spanish government, in the hope
of getting a momentary relief in the accounts and increasing its capacity to roll over its debts.
In 2001, there was another round of wage cuts and a reduction in public spending, with budget
cuts in health, education and public housing. New privatizations were announced, which led to
an exponential increase in the dissatisfaction of the Argentine people, who began to protest with
increasing energy in the streets of the big cities, especially in Buenos Aires.
In desperation, Fernando De La a brought Domingo Cavallo back to the Finance
Ministry, who in turn launched an economic plan on 3 December 2001, which included what
became known as the "corralito", i.e. restrictions on withdrawals for the population throughout
the banking system. In November, an IMF representative had declared that there would be no
more loans to Argentina, adding water to the mill of uncertainty (BANDEIRA, 2003).
The result was a social rebellion with marches, looting and occupation of the streets and
factories by the disgruntled population. On 19 December, the whole country was in upheaval,
with the popular motto "que se vayan todos" (let them all go). On 20 December 2001, De la
Rúa declared a state of siege and Cavallo was dismissed from the Ministry. The following day,
it was De la Rúa's turn to resign. The country was in its most critical situation since re-
democratization. Isolated, it was left to the former president to leave in a helicopter from the
Casa Rosada.
6
The president of the Senate, a Peronist, Ramón Puerta, provisionally took over the
vacant post. On 23 December, the then governor of the province of San Luis, Adolfo Rodríguez
Sá, was appointed provisional president by parliament, with the task of calling new elections
within 90 days. One of his first measures was to suspend payment of the foreign debt, a kind of
Argentine default on its commitments to international financial institutions. With social
conflicts running high and various contradictions in his support base, Sá also resigned from the
presidency on 30 December 2001, seven days after taking office (ZICARI, 2016).
Puerta refused to take office again, resigning as president of the Senate on 31 December.
It was left to the president of the Chamber of Deputies, the Peronist Eduardo Camano, to replace
6
Folha de S. Paulo. Mercado. 20 dez. 2001. Digital version. Available:
https://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u38000.shtml Access: 10 Mar. 2023.
Iuri CAVLAK
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Rodrigues Sá and urgently convene the parliamentarians, given the need to elect a new head of
state.
Peronist senator Eduardo Duhalde, former vice-president of Carlos Menem and
governor of the province of Buenos Aires, who was defeated in the 1999 elections by De la
Rúa, took over the presidency. At the beginning of 2002, Duhalde ended the parity system and
declared liberalism "exhausted" in Argentina (BANDEIRA, 2003).
The Duhalde government was able to sustain itself to the extent that it devalued the peso,
benefiting exporters and generating a situation that many analysts classified as industrialization
by import substitution, since it had become too expensive to buy machinery, equipment, inputs
and products from abroad. These measures had an impact on the labor market, reducing
unemployment rates.
With the US busy fighting terrorism after the attacks on the World Trade Center in
September of the previous year, the Duhalde administration had more leeway to renegotiate its
debts. It strengthened trade with Mercosur and benefited from the international rise in wheat
prices, one of Argentina's main commodities. He led the country until May 2003, when Néstor
Kirchner was elected to govern the country.
The left in power: the Kirchners
With the country growing economically, the unemployment rate falling and an important
income compensation policy in place, the neoliberal paradigm's prestige waned, although it
remained strong among the Argentine upper bourgeoisie. In the 2003 elections, Duhalde
supported Néstor Kirchner, who ended up coming second in the elections (22% of the vote
against 24% for Carlos Menem). In that scenario, a second round was necessary, in which
Menem declined to participate and resigned his candidacy, making Néstor Kirchner the new
Argentine president.
7
Eduardo Duhalde, like Alfonsín and De la Rúa, did not complete his term either,
resigning so that Kirchner could take over the Casa Rosada before the end of the year. Increased
exports, better conditions for rolling over the foreign debt, expansion of the domestic market
by boosting employment and income compensation policies made up the equation that led the
Argentine economy to grow again, at average rates of 8% a year.
7
Available: https://www.argentina.gob.ar/interior/dine/resultadosyestadisticas/2003. Access: 02 Mar. 2023.
Considerations on politics and economy in present-day Argentina (1983-2020)
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Kirchner distanced himself from Eduardo Duhalde and also from part of Peronism,
relying on a coalition of forces that touched on other parties, bringing into government positions
the piqueteros, famous in the protests of late 2001 and early 2002 (DA SILVA, 2012).
Perhaps the biggest problem has been inflationary pressure. By increasing public
spending and freezing tariffs for essential services, the gap between spending and revenue
increased. On the other hand, the government managed to settle the debt, especially with the
IMF (paying almost all of it in 2006), the World Bank and the Spanish government.
In 2007, Kirchner intervened in the IDEC (National Institute of Statistics and Censuses),
a controversy that resulted in the discrediting, from now on, of inflation figures, which were
always considered underreported by the government (DA SILVA, 2012). Important
nationalizations and restatements took place, such as the famous Aerolíneas Argentinas.
With a lot of popularity and projecting an image of a country recovered from the
international default, Kirchner decided not to run for re-election, choosing to support his wife,
then senator Cristina Fernández Kirchner, in the 2007 elections. He managed to pass on his
political capital to her, who won the elections in the first round. Kirchner became president of
the Justicialist Party, further increasing his political strength.
8
The size of the 2001 crisis in Argentina, in my opinion, cannot be compared to the
economic and social crisis in Brazil during 2002, which paved the way for Lula's victory over
José Serra. In this sense, Néstor Kirchner's government operated in a society where neoliberal
paradigms were much more questioned, society more fractured and finances exponentially
more affected. In contrast, Lula and the PT had to reaffirm commitments to the economic pillars
of the former government, promising innovative social progress within a conservative
economic framework, something similar to what De La Rúa had done in 1999.
On the one hand, Néstor Kirchner succeeded in reconstructing the figure of the
intervening president, an element dear to the Peronist tradition, but blurred by the multiple
crises that, in different ways, stalled Alfonsín, Menem and De la Rúa. In the words of Maristella
Svampa, Kircnher, from 2003 onwards, "recovered politics" (SVAMPA, 2006, p. 180, our
translation).
On the other hand, it was legitimized through the recognition of part of the Argentine
social movement, which was extremely active and participatory. The piqueteros and the vast
majority of the unemployed and underemployed were granted aid programs (Plan Jejas and
Jefes de Hogar), with U$ 50.00 a month, as well as the incorporation of some state positions,
8
Available: https://www.argentina.gob.ar/interior/dine/resultadosyestadisticas/2007. Access: 03 Mar. 2023.
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as mentioned above. Companies that went bankrupt during the crisis and were taken over by
workers' cooperatives were also given prestige. The Supreme Court was reformed and the
military leadership continued to be targeted for prosecution over the dirty war, preventing the
extreme right and part of the right itself from regaining strength.
Kirchner forged an agreement with traditional leaders which, from the 2005 legislative
elections onwards, caused a significant split within the Peronist Party. In this way, he responded
to the desire for a "return to normality" that large swathes of the population were demanding,
sustaining himself both on the recognition of popular pressures and on the support of parts of
the traditional oligarchies, co-opted into his alliance.
With the parliamentary opposition weakened, given the growing centralizing power of
the executive branch, the president guided the debate and was on the offensive at almost every
turn. With a high-level relationship with the Clarín group, he obtained an even more positive
image through the media.
Still on the economic front, it has given prestige to Mercosur and bilateral relations with
Venezuela. Through partnerships with PDVSA (Petróleos de Venezuela), it has continued to
expand its production facilities, taking advantage of the high international price of commodities
and increasing mining areas, including in preserved lands (SVAMPA, 2006).
In the last year of his government, 2007, Argentina exported 18.8% to Brazil, 9.26% to
China, 7.11% to Chile and 6.38% to the USA. It imported: 31.2% from Brazil, 13.69% from
the USA, 10.26% from China and 4.69% from Germany.
9
On 28 October 2007, Cristina Fernández de Kirchner won the presidential elections in
the first round with 45.29% of the vote:
Cristina continued the economic and political orientation of her predecessor,
maintaining the competitive exchange rate regime. In the first two years of her
government, the favorable international scenario kept the balance in surplus,
with commodity exports featuring prominently. The international economic
crisis of 2008 had a negative impact on the Argentine economy, which fell
into recession that year. In the following years, growth resumed (DA SILVA,
2012, p. 13, our translation).
In the first year of her government, Cristina Kirchner attempted a bold tax on
agribusiness, with the aim of capitalizing more resources for the state in order to galvanize
income transfer projects without affecting the industrial and financial sectors. A lockout with
9
Instituto Nacional de Estadística y Censos República Argentina (INDEC). Available:
https://opex.indec.gov.ar/index.php?pagina=mapa_dinamico. Access: 14 Mar. 2023.
Considerations on politics and economy in present-day Argentina (1983-2020)
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roadblocks and protests in the media and parliament was a tough test for the newly-elected
president.
In addition to the traditional political institutions of Peronism, the president began to
rely on an increasingly organized and active movement, such as La Cámpora, a Peronist youth
group initially led by the couple's son, Máximo Kirchner. It was a group with a presence in the
media, capillarity in the provinces and which invested support not in Peronism as a whole, but
in the Kirchners themselves. It even won positions in the legislature (RIVAROLA, 2015).
The issue of dual power, "the wife presides, but the husband is in charge," (as I said,
Néstor Kirchner was then president of the PJ), was eliminated from the conjunction with
Néstor's sudden death from a heart attack on 27 October 2010.
The president's widowhood led to an interruption, albeit temporary, in the
opposition's attacks on her administration. More importantly, it overturned the
"dual command" thesis, defended by the press and some academics, who
believed that it was Néstor's job, and not Cristina's, to run the country's
politics. The successful policies of economic growth, the fight against poverty
and the expansion of income guaranteed re-election (DA SILVA, 2012, p. 14,
our translation).
The interventionist policies of the state, fighting the recession, and the new image of the
president decimated the opposition's political chances. On 23 October 2011, Cristina Kirchner
received a record 54.11% of the valid votes, almost 38 percentage points ahead of the runner-
up, becoming the first woman re-elected in the political history of the Americas.
10
The extreme ill will of the Brazilian mainstream media towards the Argentine president
is interesting. In original research, Patrícia Leite analyzed the content of the newspapers Folha
de S. Paulo, O Estado de S. Paulo and O Globo about her, finding the massive presence of
negative news and interpretations contrary to her mandate, even when she presented her best
employment and income indicators (LEITE, 2018).
The international crisis caused Argentina's economic growth to fluctuate in the early
2010s. Exports remained high and the government succeeded in reducing poverty rates,
according to the measurements of international organizations. Despite the fall in commodity
prices, the government continued to favor an agenda of public spending on social services
aimed at the poorest population. And in foreign policy, it favored the regional environment to
the detriment of the US, causing several frictions with Washington in this regard (SILVA, 2020,
p. 81).
10
Available: https://www.argentina.gob.ar/interior/dine/resultadosyestadisticas/2011. Access: 03 Mar. 2023.
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Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 3, e023028, 2023. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.3.1038 15
Criticism of the government from part of Argentine society is notorious, especially from
sectors attached to economic liberalism. As if they were gaining exponential social support for
the set of ideas that were hegemonic until the 2001 crisis. Mariano Perelman makes a thought-
provoking analysis of that period, pointing to the participation in popular protests of sectors of
the middle class and upper middle class, dissatisfied with state aid to the poorest and against
the shortfall received in the exchange of the dollar for the peso, claiming the right to hoard the
US currency in bank deposits in an unlimited manner (PERELMAN, 2022). The dollar had a
more widespread presence in Argentine society than in Brazil, largely due to the monetary
policy of the last military dictatorship, the hyperinflation of the 1980s, which melted the
nominal value of the austral, and the convertibility with the peso in the 1990s.
Cristina Kirchner maintained control over purchases, spending and investments in
dollars until the end of her term, aggravating the indignation of the sectors named above, who
said that the money from work, converted into taxes, went to the "blacks", while the "real"
workers suffered restrictions (PERELMAN, 2022). And there were several marches against the
government along these lines.
Unable to run for a third term, and already quite worn out by her years in power, Cristina
still had a lot of political capital. She supported the then governor of Buenos Aires, Daniel
Scioli, who was opposed by the then mayor of the federal capital, Mauricio Macri, the latter in
a right-wing coalition called "Mudemos". Scioli, of the "Frente para a Vitória", had the support
of the party apparatus and the major political leaders of the surrounding region, including Dilma
Rousseff.
Some of the polls carried out in 2015 even pointed to Scioli's victory in the first round,
which would have meant the fourth consecutive first round victory for Peronism - Kirchnerism.
The fact is that Daniel Scioli got more votes than Macri in the election held on 25 October 2015,
37% against 34%. For the first time in history, the Argentine presidential elections actually went
to a second round, and there was a reversal, with Mauricio Macri winning with 51.4% of the
vote against 48.66% for Scioli (a difference of less than 700,000 votes).
11
11
According to Argentine electoral legislation, in presidential elections it is necessary to achieve 45% of the valid
votes, or between 40% and 45%, as long as you have a 10% lead over the runner-up. If this is not the case, there
will be a run-off. About the results, see: https://www.argentina.gob.ar/interior/dine/resultadosyestadisticas/2015.
Access: 10 Mar. 2023.
Considerations on politics and economy in present-day Argentina (1983-2020)
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DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.3.1038 16
The right with Mauricio Macri
A somewhat unexpected victory, so it was considered by Argentina's leading political
analysts. Cristina Kirchner and Kirchnerism were located in a party with a long tradition, while
Mauricio Macri was in a party, Propuesta Republicana, created in 2005, in a right-wing
coalition with a not very clear project for power other than the "return of liberalism", a set of
ideas that brought Menem's economic program back to life in a non-Peronist shell and which
claimed not to be clientelist, far from the vices of the old politics.
The result was catastrophic:
With Macri, Argentina has returned to neoliberal recipes, which have resulted
in a series of endless adjustments and tariffs, high inflation, falling real wages,
indiscriminate opening up to imports and the consequent closure of small and
medium-sized businesses. As if that were not enough, in May 2018, the
government signed an agreement with the IMF that granted the largest loan in
its history and added to the crisis with more capital flight and unsustainable
over-indebtedness. Far from the "zero poverty" promised during the
campaign, poverty rose to 40.8% in December 2019, the highest in the last
decade. On the other hand, inflation reached 53.8% in 2019, the highest in 28
years. In line with this, GDP in 2019 was also the lowest of the decade
(SVAMPA, 2020, our translation)
Macri has tried to favor a bilateral relationship with the US, to the detriment of
Mercosur, and has pushed ahead with dismantling income compensation policies and ending
state subsidies for public tariffs. The result has been an increase in the number of poor people,
a fall in the trade balance and a rise in the cost of living.
Tomás Blanco and Carolina Zaccato argue that, at the beginning of his mandate, Macri
understood that Brazil was declining internationally, both economically, with the fall in the
prices of its commodities, and politically, with the uncertainties arising from the impeachment
of Dilma Rousseff and the government of Michel Temer. He would then have instructed his
diplomacy to position Argentina as a key US country in the region, an identical directive to that
of Menem decades ago (BLANCO; ZACCATO, 2018).
Donald Trump's victory in 2016 and Jair Bolsonaro's in 2018 completely ruined the
chances of such a foreign policy coming to fruition. Internally too, this stance has led to severe
criticism, which has made the Casa Rosada slow down its efforts to join the US. Unlike the
Brazilian far right, Macri declared his support for Hilary Clinton in the US elections, which
many pointed out as a strategic mistake (BLANCO; ZACCATO, 2018).
Iuri CAVLAK
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DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.3.1038 17
In 2017, in the legislative elections, Macri's conservative coalition, called Cambiemos,
won a majority in the House of Representatives, the Senate and the provinces that had elections
for governor. On the other hand, Cristina Kirchner won the Senate for Buenos Aires.
As he nears the end of his term in office, Macri has confirmed his conservative bias in
customs and politics and liberal in the economy, taking advantage of the clear advance of
reactionary voters or those captivated by reactionary agendas around the world.
In October 2019, the Peronist slate put Alberto Fernandez at the head and Cristina
Kirchner as vice-president, in a coalition called Frente de Todos. With 48% of the vote (almost
13 million voters), they defeated Mauricio Macri (40%, almost 11 million voters)
12
. The
candidate with the public machine did not even make it to the second round, a combination of
the terrible performance of the economy and the resilience and militancy of Peronism:
The Frente de Todos brings together an important part of the large Peronist
family, as it articulates progressive sectors (including a hardline Christianist
wing present in both chambers), center Peronists with social concerns from
the Frente Renovadora, to the usual caudillos from the province of Buenos
Aires and Peronist governors with little affinity for citizen participation. Non-
Kirchnerist center-left sectors, until recently excluded, were included as minor
partners (SVAMPA, 2020, our translation).
With this, the center-left returned to power, with an agenda that included a greater
presence of the state in the economy, respect for diversity in customs, the protection of the rights
of native peoples and also the environment, while at the same time compromising with the
financial sector, industry and commerce, mining and oil.
Final considerations
Similarities and differences mark the recent trajectory of Argentine politics and
economics in relation to Brazil. In my opinion, differences in the intensity of the economic
programs stem from the historical conditions in which the right and left assumed central power
and were able, to a certain extent, to implement their agendas.
The defeat of Argentina's military dictatorship led to an earlier return to democracy.
Alfonsín was elected by universal suffrage in 1983, while Collor de Melo was elected in 1989.
The former was still pursuing an economic policy of sovereignty, while the latter was already
adapting to the new order of the Washington Consensus.
12
Available: https://www.argentina.gob.ar/interior/dine/resultados-y-estadisticas/elecciones-2019. Access: 10
Mar. 2023.
Considerations on politics and economy in present-day Argentina (1983-2020)
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Carlos Saul Menem, elected in 1989 by Peronism, recovered monetarism, already tested
in the 1976 dictatorship, and did not have a relevant opponent in the popular camp, being more
radical in the application of neoliberalism. Fernando Henrique Cardoso, who became president
in 1995, had a major antagonist in the opposition PT, which probably prevented him from
extending neoliberal programs.
The result was the economic continuity of La Rúa and his subsequent resignation in the
context of the country's economic collapse in late 2001 and early 2002. It can be said that the
Brazilian economy maintained the basic policy patterns and neoliberal hegemony during Lula
da Silva's first term.
Coming out of a catastrophe, Néstor Kirchner deepened state policies of a social nature
and, if not totally against financial capital, with greater room for maneuver to deal with it. He
thus established a political current within Peronism, Kirchnerism, sufficient to elect Cristina
Kirchner for two terms and Alberto Fernandez, with Cristina as vice-president, for a third.
In Brazil, Lula has made significant changes, especially since his second term. With the
economic policy of Dilma Rousseff's first term, he brought to bear a strengthened opposition in
congress and on the streets, resulting in the impeachment of his successor and in his
imprisonment. As if the disruptive context of Argentine politics in 2001-2002 were happening
in Brazil in 2016-2017, with the difference that, in the latter, a direct government would be born
out of the crisis.
In Argentina, an institutional right wing won the elections in 2015, resuming a program
of commercial openness, prestige for financial capital, support for the US and the fight against
popular movements. In Brazil, although all this was also taken up, it was a political force of the
extreme authoritarian right that won the elections in 2018, largely because of the impunity of
the military who committed crimes during the 1964-1985 dictatorship, the lack of adherence of
the traditional right with voters and the fraying of the social fabric in the contemporary crisis.
If a center-left coalition returned to power in Argentina at the end of 2019, it returned to
power in Brazil at the end of 2022, projecting new challenges for the years to come. In my
opinion, this suggests that the periodic exchange of power between less popular and more
popular governments, from greater economic liberalization to greater intervention in income
distribution, from greater concern for the working classes and the poor to little or none, is the
way in which capitalist contradictions are currently moving in terms of the political system. "At
least until the moment when the bed on which the conflicts fall asleep becomes too narrow to
Iuri CAVLAK
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accommodate them", as historian Lincoln Secco said, following Marx in another context
(SECCO, 2011, p. 266, our translation).
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DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.3.1038 21
CRediT Author Statement
Acknowledgements: To my teacher and advisor José Luis Beired, who passed on to me his
love of Argentine history.
Funding: Do not apply.
Conflict of interest: Do not apply.
Ethical approval: Do not apply.
Availability of data and material: Do not apply.
Authors contribution: Single author.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.