Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. 1, e023016, 2023. e-ISSN: 2236-0107
DOI: 1
DAS MISSÕES HUMANITÁRIAS AO GOVERNO: AS FORÇAS ARMADAS E SUAS
CONEXÕES POLÍTICAS
DE LAS MISIONES HUMANITARIAS AL GOBIERNO: LAS FUERZAS ARMADAS Y
SUS CONEXIONES POLÍTICAS EN BRASIL
FROM HUMANITARIAN MISSIONS TO GOVERNMENT: THE ARMED FORCES
AND THEIR POLITICAL CONNECTIONS IN BRAZIL
Gilmara Gomes da Silva SARMENTO1
e-mail: gilmarasarmento@hotmail.com
Como referenciar este artigo:
SARMENTO, G. G. S. Das missões humanitárias ao governo: As
Forças Armadas e suas conexões políticas. Teoria & Pesquisa:
Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 2, e023016,
2023. e-ISSN: 2236-0107. DOI:
https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.2.1005
| Submetido em: 08/05/2023
| Revisões requeridas em: 29/08/2023
| Aprovado em: 19/10/2023
| Publicado em: 05/12/2023
Editora:
Profa. Dra. Simone Diniz
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Universidade Federal de Roraima (UFRR), Boa Vista RR Brasil. Pós-Doutorado pelo Programa de Pós-
Graduação em Sociedade e Fronteiras.
Das missões humanitárias ao governo: As Forças Armadas e suas conexões políticas
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. 1, e023016, 2023. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.2.1005 2
RESUMO: O artigo ora apresentado, pretende contribuir para o debate sobre a presença militar
na política, enfocando o protagonismo das Forças Armadas nas missões humanitárias e suas
conexões com a política. Para tanto, utilizo como fonte e objeto de análise jornais online e o
material empírico da pesquisa de campo realizada entre 2018-2020, em diálogo com a
bibliografia. Pretende-se discutir como a “Missão de Pazno Haiti (2004 - 2017) e a “Operação
Acolhida” em Roraima (2018-atual), confluem e/ou se inserem nos objetivos estratégicos de
controle político das Forças Armadas. Tais missões ampliaram os recursos econômicos, sociais
e simbólicos da corporação e de seus agentes que convertidos em capital político, se expressam
na ocupação de cargos chave por militares integrantes dessas missões no atual governo e da
ascensão desses atores a cargos de representação política.
PALAVRAS-CHAVE: Missões Humanitárias. Forças Armadas. Política.
RESUMEN: El artículo aqui presentado, pretende contribuir al debate sobre la presencia
militar en la política, enfocando el protagonismo de las Fuerzas Armadas en las misiones
humanitarias y sus conexiones con la política. Para ello, utilizo como fuente y objeto de
análisis, periódicos digitales y el material empírico de investigación de campo realizada entre
2018-2020, junto con la bibliografía. Se pretende discutir como la "Misión de Paz" en Haití
(2004-2017) y la "Operación Acogida" en Roraima(2018-actual) confluyen y/o se introducen
en los objetivos estratégicos de control político de las Fuerzas Armadas. Estas misiones
amplían los recursos económicos, sociales y simbólicos de la corporación y de sus agentes, que
convertidos en capital político, se expresan en la ocupación de cargos clave por militares
integrantes de esas misiones en el actual gobierno y de la ascensión de esos actores a cargos
de representación política.
PALABRAS CLAVE: Misiones Humanitárias. Fuerzas Armadas. Política.
ABSTRACT: This article contributes to the debate on military involvement in politics, focusing
on the key role played by the Armed Forces in “humanitarian missions” and their political
connections. Online newspapers and empirical data from fieldwork conducted between 2018
and 2020 are used as source material for the analysis, in dialogue with the literature. The aim
is to discuss how the “Peacekeeping Mission” in Haiti (2004 to 2017) and the “Welcome
Operation” (Operação Acolhida) in the Brazilian state of Roraima (2018 to present) intersect
with and/or are part of the Armed Forces’ strategic objectives for political control. These
missions augment the economic, social, and symbolic resources at the disposal of the Forces
and their agents, which, once converted into political capital, take the form of the appointment
of military personnel from these missions to key positions in the Bolsonaro government and
their running for and holding of elected office.
KEYWORDS: Humanitarian Missions. Armed Forces. Politics.
Gilmara Gomes da Silva SARMENTO
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. 1, e023016, 2023. e-ISSN: 2236-0107
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Introdução
A presença das Forças Armadas (FFAA) na política brasileira remonta a Proclamação
da República. Deste então, oito presidentes com passagem pela caserna governaram o país. Três
deles eleitos pelo voto e cinco através do regime militar
2
. Após a ditadura, o ativismo militar
explícito na fase anterior ganha novos ares. O processo de redemocratização demandou um
enfoque mais técnico-profissional dos militares (CARVALHO, 2006), embora nunca tenham
se ausentado efetivamente do âmbito político. Na nova conjuntura prevaleceu o jogo de
negociações políticas, nem sempre explícito, que favoreciam sobremaneira as FFAA
3
. Não
obstante, quando os interesses da instituição militar são frontalmente contrariados, o espírito de
corporação reacende, tornando visível o ativismo político de seus membros (ZAVERUCHA,
2001; PEREIRA et al., 2022).
Na segunda metade dos anos 2000, durante o mandato do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (2003-2011), do Partido dos Trabalhadores PT, atores da caserna reaparecem no
espaço público protagonizando abertamente episódios de tensionamento e antagonismo político
(GUILHERME, 2021, PENIDO et al., 2021).
Apesar deste governo, paradoxalmente, ter sido apontado como o que mais investiu na
infraestrutura e reaparelhamento das FFAA, os ganhos adquiridos nos governos do PT
(investimentos, reconhecimento e experiência técnico-operacional, especialmente após a
inserção do Brasil no âmbito da Missão de Paz no Haiti
4
) se chocaram com a gestão de certos
temas e/ou políticas que contrariaram alas da caserna. Questões como, a amazônica, ambiental,
de fronteiras, garimpo, demarcação de terras e, de modo particular, o resgate da memória
histórica da ditadura (GOMES; SANTOS, 2019; PENIDO et al., 2021).
2
Além de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, primeiros presidentes militares. Os militares disputaram
eleições presidenciais recorrentemente até 1964. Hermes da Fonseca governou o país entre 1910-1914. O general
Eurico Gaspar Dutra governou entre 1946-1950. Getúlio Vargas derrotou o brigadeiro Eduardo Gomes em 1950.
General Juarez Távora perdeu a eleição para Juscelino Kubitschek em 1955. Jânio Quadros venceu o marechal
Henrique Lott em 1960. Durante os anos da ditadura civil-militar (1964-1985) foram cinco presidentes: Castelo
Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo. No período pós ditadura, Jair Messias Bolsonaro foi eleito
para o mandato 2018-2022 (WESTIN, 2018).
3
Para Zaverucha (2001) a superioridade orçamentária do Ministério da Defesa no governo FHC, em relação a
ministérios ligados à área social (saúde, educação, assistência social e trabalho), dentre outros gastos paradoxais
na ausência de ameaças que justifiquem tais investimentos são apenas demonstrações do poder político da
instituição militar.
4
Guilherme (2021) citando a pesquisa “O Brasil, os Brics e o mundo no século XXI: estratégias nacionais de
defesa e desafios geopolíticos em um mundo em transformação”, realizada por João Fábio Bertonha em 2017,
assinala que houve uma elevação de 50% do orçamento militar nos governos de esquerda em benefício da
infraestrutura e reaparelhamento das forças militares e o dobro de gastos com a corporação no governo Lula.
Das missões humanitárias ao governo: As Forças Armadas e suas conexões políticas
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A insatisfação desses militares ganhou materialidade em uma série de incidentes e
manifestações públicas feitas à imprensa e nas redes sociais evidenciando a oposição ao
governo. Declarações a favor da Operação Lava Jato e do impeachment de Dilma Rousseff
marcaram o início de um período de relevante visibilidade do ativismo político desses atores,
que redundou em crescente participação de militares no governo Michel Temer (2016-2018),
na mobilização político-eleitoral em torno da candidatura de Jair Messias Bolsonaro e na ampla
ocupação de cargo nesse governo (2019-2022).
Chama a atenção o fato de parte significativa dos militares que compuseram a base de
sustentação do governo Jair Bolsonaro, e que ocuparam cargos importantes e/ou chave, terem
tido passagem por operações humanitárias em um governo avesso ao humanitarismo e aos
direitos humanos.
Partindo dessa premissa, o artigo pretende contribuir com o debate sobre a presença
militar na política, tentando estabelecer os nexos entre humanitarismo militar e o ativismo
político das FFAA com foco nos atores que transitaram da Missão de Paz no Haiti
(MINUSTAH) e da Operação Acolhida em Roraima, ao governo Jair Bolsonaro. Trata-se,
portanto, de estabelecer o nexo entre essas missões humanitárias, uma no estrangeiro e a outra
doméstica, com a escalada de poder/influência política das Forças Armadas nas últimas
décadas, culminando no governo Bolsonaro.
Para o desenvolvimento deste artigo, a abordagem adotada é a qualitativa, construída
com base em informações coletadas através da pesquisa de campo em Roraima entre 2018 e
2020
5
, bem como de informações coletadas através da pesquisa bibliográfica em fontes
secundárias diversas: artigos acadêmicos, livros, dissertações, jornais online, dentre outras. O
artigo não pretende fazer uma análise exaustiva das missões abordadas, mas apontar a relação
entre ambas e suas conexões com a política nacional.
Missão de Paz: humanitarismo militar e a política
Em abril de 2004, através da resolução 1.542, o Conselho de Segurança das Nações
Unidas (ONU) estabeleceu a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti
(MINUSTAH). A missão tinha como objetivo atuar no enfrentamento da forte crise de
instabilidade político-institucional que resultava em outros graves problemas para a sociedade
5
A pesquisa de campo de caráter qualitativo e etnográfico, foi realizada durante o vínculo como pesquisadora pós-
doutoral no Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Fronteiras e integrante do Grupo Interdisciplinar de
Estudos Interdisciplinares sobre Fronteiras (GEIFRON), entre 2018-2020.
Gilmara Gomes da Silva SARMENTO
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haitiana. O Brasil, por meio de iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aderiu à
missão e as Forças Armadas Brasileiras foram designadas para o comando militar da missão.
Em 30 de maio de 2004, a primeira tropa brasileira foi enviada ao Haiti, sob o comando do
General Augusto Heleno Ribeiro Pereira (VALLER FILHO, 2007).
Assumir a responsabilidade do comando militar da missão, representou para o Brasil a
convergência entre a preocupação em contribuir para a estabilidade do Haiti, questão
importante no contexto regional, e consolidar interesses estratégicos; isto é, o de se projetar
enquanto poder no cenário internacional, consolidar-se como liderança regional e conquistar
um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (BORGES, 2011;
VALLER FILHO, 2007; CARVALHO, 2019).
A participação brasileira na missão, representou ainda o alinhamento do governo
brasileiro às políticas globais do capitalismo neoliberal que, contraditoriamente, vem desde a
década de 1980 combinando a defesa dos direitos humanos a um humanitarismo de cunho
militarizado. Com intensa adoção de agentes militares, estratégias, ações e técnicas de
securitização (FELDMAN-BIANCO, 2018; PEREIRA et al., 2022).
Borges (2011, p. 80) sugere que essa lógica humanitária se conforma na América Latina
a partir da articulação de organismos multilaterais empenhados em repensar o papel dos
militares, a modernização das Forças Armadas e a elaboração de uma agenda comum no
período pós-ditaduras
6
. E no plano global converge com a mobilização e a defesa de organismos
internacionais em torno das intervenções militares, como alternativa para solucionar questões
socais e defender populações de ameaças de violações de direitos, inclusive práticas pelo
próprio Estado nacional (PEREIRA et al., 2022)
7
Nesse sentido, a MINUSTAH, sem dúvida, emerge dessa lógica capitalista neoliberal.
E o mandato brasileiro vai representar, então, a convergência entre os interesses nacionais mais
6
Preocupação que redundaria em uma série de eventos organizados com esse objetivo e levados a cabo a partir do
final da década de 1980, dentre os quais a autora destaca: “Conferência de Ministros de Defesa das Américas
(CDMA 1995); Conferência de Forças Armadas Centro Americanas (CFAC 1997); Regional Security Sistem
(RSS – desde 1996); o Conselho Sul-Americano de Defesa (Unasul – 2008)”. E em 2008 foi criada a Associação
Latino-americana de Centros de Preparação para Operações de Paz (Alcopaz), por iniciativa de Argentina, Brasil,
Chile, Equador, Guatemala, Peru e Uruguai, com objetivo de preparar pessoal destinado às missões de paz. Este
último foi presidido pelo Brasil entre agosto de 2009 a julho de 2010 (BORGES, 2011).
7
Os autores argumentam que os organismos internacionais encontraram nos impactos causados pelo fim da Guerra
Fria e pela globalização justificativas para defender o humanitarismo militarizado (PEREIRA et al., 2022, p. 85).
7
Duas questões são abordadas nesse sentido. A primeira diz respeito a uma operação para captura de um
“criminoso” em uma favela em Porto Príncipe, que deixara um saldo de 27 mortos e acusações sobre o uso
excessivo de violência pelas tropas brasileira e as denúncias, à posteriori, sobre casos de estupro envolvendo
integrantes da tropa brasileira ao longo dos treze anos da presença das Forças Armadas no país (HARARI, 2011;
SILVA, 2017; STARGARDTER, 2018; SILVA, 2021).
Das missões humanitárias ao governo: As Forças Armadas e suas conexões políticas
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amplos e certos interesses específicos das FFAA brasileiras, a saber, obter aprimoramento
logístico-operacional em uma missão real, se modernizar/atualizar, e melhorar a imagem da
corporação associadas às atrocidades cometidas durante a ditadura. Ou seja, buscando
“recompor o poder simbólico perdido com a ditadura” (BORGES, 2011, p. 119).
Análises especializadas sinalizam para uma participação brasileira exitosa na missão.
Tanto da ótica da estratégia de política externa, quanto do prestígio angariado pelas FFAA e
outras conquistas, tais como: ampliação do orçamento, oportunidade de aprimoramento técnico
e de aprendizado de métodos inovadores de intervenção militar oportunizada pela ONU
(BORGES, 2011; GOMES; SANTOS, 2019; CASTRO; MARQUES, 2019)
8
.
Nem as polêmicas e controvérsias envolvendo denúncias sobre aspectos da atuação das
FFAA brasileira, conseguiram abalar o prestígio adquirido no âmbito das Nações Unidas.
Borges (2011, p. 119) assinala que o labor humanitário e a exaltação do soldado herói,
formulada especialmente após o terremoto de 2010, foram fundamentais para recuperar a
imagem das FFAA desgastada pelos “anos de chumbo”. A MINUSTAH projetaria na
população outro olhar sobre os militares e a corporação. Da Missão de Paz emerge “um novo
militar” e uma nova “Forças Armadas” não mais associada ao “autoritarismo, a tortura, e os
assassinatos praticados durante a ditadura”. Houve, portanto, “uma reconstrução positiva
(inclusive junto à mídia) da imagem das forças armadas enquanto provedoras da paz”
(PEREIRA et al., 2022, p. 90).
Ao recobrar a credibilidade institucional, as FFAA se municiaram de capital político
9
para exercer influência sobre os acontecimentos nacionais
10
. O progressivo e revigorado
ativismo político de personalidades das FFAA se poucos anos depois de iniciada a missão
no Haiti. Parece emblemático que as primeiras polêmicas públicas envolvendo generais da
ativa, em oposição ao governo, tenham sido protagonizadas por personalidades que exerceram
papel de Force Commanders no Haiti
11
.
8
Em entrevista aos comandantes da MINUSTAH, realizada por Castro e Marques, nota-se que certa
unanimidade entre eles sobre os inumeráveis ganhos para as FFAA. Inclusive, o general Santos Cruz enfatiza “O
Brasil conseguiu uma boa projeção regional, uma boa projeção dentro da ONU, o prestígio aumentou, mas o grande
ganho foi diretamente para as Forças Armadas” (CASTRO; MARQUES, 2019, p. 89).
9
No sentido empregado pela sociologia de Pierre Bourdieu em que o acúmulo de certos recursos sociais, dentre
eles, o reconhecimento e o prestígio podem municiar os sujeitos de certa autoridade e/ou poder político.
10
Como, por exemplo, nas declarações públicas a favor da operação Lava Jato, no episódio envolvendo as
declarações via Twitter do general Villas Bôas, então comandante do Exército, nas vésperas da votação do habeas
corpus de Lula pelo STF. Declarações concebidas por muitos como “ameaça” e/ou ingerência, e mesmo
chantagem. Além de declarações a favor do impeachment de Dilma Rousseff, por agentes da ativa e da reserva,
dentre outras formas de ativismo político.
11
O episódio entre o General Augusto Heleno e o governo Lula em 2008 poder ser citado como emblemático neste
sentido. Ocorreu no contexto da demarcação da terra indígena Raposa do Sol RR na época em que o general
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Na correlação de forças, o desgaste do governo do PT evidencia a recuperação do poder
simbólico das FFAA. A materialidade desse poder se expressa na campanha a favor do
afastamento de Dilma Rousseff, na ampliação das atribuições da corporação militar no governo
Michel Temer, na influência que exerceram sobre seu governo (2016-2018)
12
e na progressiva
ocupação de cargos no seu governo
13
. Sobre as influências nas decisões do governo cabe
destacar: i) a designação de um militar para o comando do Ministério da defesa, pasta que desde
a sua criação vinha sendo ocupada por civis
14
; ii) a designação do Ministério da Defesa para o
comando da resposta humanitária federal à migração venezuelana em Roraima, contrariando a
legislação migratória em vigor.
Durante a breve passagem de Temer na presidência, houve uma série de pressões das
FFAA que indicam interferência nas suas decisões, muitas das quais mantidas, apesar de forte
crítica, apelos e contestação de especialistas e entidades da sociedade civil.
No entanto, o ativismo político das FFAA se escancara mesmo durante as
movimentações para a corrida eleitoral, momento em que declararam apoio à candidatura de
Jair Bolsonaro (PSL, na época), participam abertamente da sua campanha eleitoral e,
posteriormente, do seu governo
15
.
Ao longo dos treze anos em que perdurou a MINUSTAH (2004-2017), o Brasil indicou
ao todo onze force commanders (comandantes militares) para comandar as tropas
multinacionais das Nações Unidas no Haiti. Dentre eles, seis comandantes foram nomeados
para cargos centrais no governo Bolsonaro a partir de 2019. Além de outros dois generais e um
um capitão que ocuparam outros postos na MINUSTAH. Os personagens nesse processo são:
os generais que exerceram o comando no Haiti (force commanders) como Augusto Heleno
(2004-2005), ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional); Santos Cruz (2007-
2009), ministro da Secretaria de Governo; Floriano Peixoto (Haiti 2009-2010), ocupou o cargo
chefiava o Comando Militar da Amazônia e se recusou enviar efetivos do Exército para auxiliar à Polícia Federal
na expulsão de arrozeiros (produtores de arroz), invasores das terras indígenas na fronteira do Brasil com a
Venezuela e a Guiana Inglesa. Ademais da franca desobediência, o general teria passado a criticar abertamente as
políticas indigenistas do governo (MARTINS FILHO, 2019; PENIDO et al., 2021).
12
Matéria da Folha de São Paulo, publicada em 2018, chama a atenção para o tema
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/03/temer-da-a-militares-controle-sobre-areas-sensiveis-do-
governo.shtml
13
De acordo com dados do Tribunal de Contas da União, cerca de 2.765 militares ocuparam cargos no governo
Temer. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/numero-de-militares-em-cargos-civis-cresce-e-
passa-de-6-mil-no-governo-bolsonaro/. Acesso em: 10 jan. 2022.
14
Em janeiro de 2018 foi designado o general Joaquim Silva e Luna para comandar a pasta da Defesa.
15
Em 2018, quando ainda estava na ativa, o General Luiz Eduardo Ramos, que esteve na Missão de Paz no
Haiti, criticou o PT e defendeu a candidatura de Bolsonaro dentro do Comando Militar do Sudeste, em São
Paulo.
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de ministro da Secretaria-Geral da Presidência e presidência dos Correios; Luís Eduardo Ramos
(2011- 2012), Ministro da Casa Civil; Edson Pujol (2013-2014), que exerceu o cargo de
comandante do Exército Brasileiro; Ajax Pinheiro (2015-2017), que foi Assessor no STJ
(CASTRO; MARQUES, 2019).
Os generais chefes de operações do contingente brasileiro na MINUSTAH que tiveram
cargos no governo Bolsonaro são: Fernando Azevedo (2004 a 2005), se tornou ministro da
Defesa; Otávio Rêgo Barros, nomeado porta-voz do governo. Além deles, o capitão Tarcísio de
Freitas (2005-2006), chefe da seção técnica da Companhia Brasileira de Engenharia de Força
de Paz, se tornou Ministro da Infraestrutura no governo Bolsonaro (STARGARDTER, 2018;
CASTRO; MARQUES, 2019).
Cabe lembrar ainda que Tarcísio de Freitas, antes de integrar o governo Bolsonaro,
ocupou o cargo de Secretário de Coordenação do Programa Reserva de Parcerias de
Investimentos (ligado à Presidência da República), no governo Temer (2016-2018). Em 2022
disputou o governo de São Paulo, saiu vitorioso, atualmente ocupa este cargo político.
Operação Acolhida: nexos com a MINUSTAH e os governos Temer-Bolsonaro
Desde o ano de 2017, entidades da sociedade civil preocupadas com o aumento
progressivo de migrantes oriundos da Venezuela, que chegavam a Roraima em situação de
extrema vulnerabilidade socioeconômica, passaram a demandar do governo brasileiro uma
resposta federal. Mas após o agravamento da situação migratória ter atingido seu ápice o
governo resolveu intervir.
Sendo assim, em fevereiro 2018 Michel Temer editou a medida provisória MP/820
16
,
concebendo o que viria a ser a resposta humanitária referente àquele processo migratório. Na
época, a Polícia Federal estimava a presença de cerca de 40 mil imigrantes venezuelanos
vivendo, em sua maioria, em estado de extrema vulnerabilidade econômica e social.
No entanto, o celebrado anúncio da ação federal se converteu imediatamente em
preocupação para as entidades que atuavam na ajuda humanitária, pois a decisão do governo
Temer de designar o Ministério da Defesa para o comando da resposta humanitária contrariava
a legislação migratória sancionada em 2017. Na contramão da legislação que desmilitarizava a
16
O documento completo sobre a publicação da medida pode ser acessado no endereço eletrônico
https://www.camara.leg.br/noticias/531963-publicada-medida-provisoria-para-atender-venezuelanos-que-
migram-para-roraima/. Acesso em: 10 jan. 2022.
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questão migratória, tirando-a do escopo das Forças Armadas, Michel Temer manteve sua
decisão.
Para essas entidades, o presidente desprezou toda luta social travada desde 2013 para
consolidar uma legislação na direção dos direitos (SILVA, 2021). Durante as entrevistas que
realizei com representantes dessas entidades em Roraima, os interlocutores assinalavam que o
caráter emergencial da demanda migratória exigia a necessária colaboração e expertise logística
militar
17
, mas consideravam a resposta militarizada um retrocesso enorme frente à nova
legislação.
Havia muito receio de que as violações de direitos que eram constantes, inclusive por
parte do governo local, se acentuassem diante de um poder arbitrário e possivelmente exercido
sob a ótica da criminalização
18
. À revelia dessas preocupações, o Ministério da Defesa institui
em fevereiro de 2018 as duas operações que seriam levadas a cabo no âmbito da migração
venezuelana, conforme documenta o próprio exército,
A Operação Acolhida, sob a coordenação da Força-Tarefa Logística
Humanitária (FT Log Hum); e a Operação Controle, de responsabilidade da
1ª Brigada de Infantaria de Selva (1ª Bda Inf Sl), cuja finalidade era aumentar
a segurança na faixa de fronteira roraimense, intensificando a triagem e
controle dos imigrantes, direcionando-os para os centros de acolhimento e
auxiliando o processo de interiorização deles no Brasil ou de retorno à
Venezuela (RORAIMA, [21--], online).
E para a coordenação operacional da Força-Tarefa Logístico Humanitária (FT Log
Hum): Operação Acolhida foi nomeado o general de Brigada Eduardo Pazuello. Em março
seguinte, a primeira brigada das FFAA deu início a operação em Roraima.
Em abril de 2018, os militares convocaram uma reunião com as entidades, coletivos,
organizações não-governamentais, agências internacionais
19
para explicar os objetivos da
missão e persuadi-los a se integrarem à Operação Acolhida.
Na ocasião, fizeram questão de realçar a disposição das FFAA para atuar em sinergia
17
Se referiam precisamente a preocupação com a quantidade de migrantes que abandonados à própria sorte
amargariam o período das chuvas intensas que se aproximavam no estado. Dentre eles muitas mulheres grávidas,
crianças pequenas, idosos e enfermos. Diante da percepção da urgência de construir abrigos para protegê-los as
entidades diminuíram a resistência e acabaram sucumbindo ao comando dos militares.
18
Ótica adotada, por exemplo, pelo governo de Roraima que vislumbrava a migração como ameaça. Suely
Campos, governadora de Roraima à época, responsabilizava os migrantes pelo aumento da criminalidade,
buscando impedir a sua entrada e/ou dificultar a permanência deles no estado. Desde 2016 vinha tentando fechar
a fronteira entre Brasil e Venezuela e apoiava a Polícia Federal nas “expulsões” e deportações de
“indocumentados”, restringia o uso de serviços públicos para os não nacionais, dentre outras hostilidades
(SARMENTO; RODRIGUES, 2020).
19
Dentre elas a ACNUR (Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), OIM (Organização
Internacional para as Migrações) e UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas).
Das missões humanitárias ao governo: As Forças Armadas e suas conexões políticas
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com as demais entidades, lançando mão, frequentemente, do argumento da expertise
humanitária adquirida na Missão de Paz, para defender a legitimidade do comando da operação
diante de entidades civis contrariadas e resistentes. Esta resistência aos poucos foi sendo
substituída pela cooperação, pois afinal de contas a vulnerabilidade extrema dos migrantes,
reduzidos à situação de mendicância e ameaçados pela violência xenofóbica de indivíduos e
instituições, exigiu o empenho urgente de todos os envolvidos (MILESI; COURY; SOUZA,
2018; SARMENTO; RODRIGUES, 2019).
Além disso, os recursos federais destinados à operação estvam concentrados no
Ministério da Defesa e administrados pelas FFAA. As Agências Internacionais (Acnur, OIM,
UNFPA, UNICEF, dentre outras), que representam o braço do sistema ONU em Roraima, por
seu turno, concentravam os recursos internacionais. Sendo assim, o Exército e as Agências
acabavam transferindo recursos para que as entidades realizassem as ações numa espécie de
terceirização das ações humanitárias (OLIVEIRA; SARMENTO; VALERIO, 2020).
Em pouco tempo as entidades “apolíticas”
20
se integraram completamente à Operação
Acolhida. Inclusive elogiavam sua presença, associando-a a um sentimento de maior segurança
para realizarem o labor humanitário, fazendo referência a um cenário marcado por episódios de
xenofobia que respingavam nas próprias entidades
21
.
Mesmo as entidades mais combativas, críticas ao humanitarismo militarizado, também
foram estabelecendo parcerias com as FFAA e/ou agências internacionais que financiavam a
prestação de “serviço humanitário”. Parcerias firmadas quase sempre sob o compromisso de
confidencialidade, fato que limitou bastante a autonomia das organizações no seu
posicionamento político diante de situações controvertidas e/ou arbitrárias na operação. E que
não têm sido poucas desde o seu início.
Em 2018, o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) ao visitar a Operação
Acolhida observou uma série de irregularidades sugerindo as devidas correções. Dentre elas, o
fato da resposta humanitária estar “sendo executada basicamente pelas Forças Armadas, com
insuficiente envolvimento e presença de outras pastas”. Nesse sentido, sua recomendação à
Presidência da República e à Casa Civil foi:
Efetivem a presença e o envolvimento nas ações em Roraima de outras pastas
para além das Forças Armadas para a prestação de serviços públicos e
20
Termo usado por alguns interlocutores para definir as entidades que representavam.
21
Em 2018, por exemplo, foi registrado um caso grave de perseguição, incluindo ameaças de morte a um ativista
de direitos humanos que assessorava os migrantes na questão dos seus direitos, bem como invasão e depredação
de entidade a qual estava ligado.
Gilmara Gomes da Silva SARMENTO
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atendimento à população em Roraima, tanto local como migrante. Para esta
última, a atuação em Roraima deve em especial visar à inserção produtiva e
proteção dos direitos do trabalho e políticas públicas de desenvolvimento
social.
Após essas recomendações foram feitos alguns ajustes e aumentou o envolvimento dos
demais ministérios com a Operação Acolhida, que subordinada à Casa Civil, mas continuou
sob o comando do Ministério da Defesa, das Forças Armadas, com destaque para o Exército. É
importante ressaltar que a própria Casa Civil, passou para a gestão de um militar em 2020, no
governo Bolsonaro.
Desde sua instalação, a Operação Acolhida vem recebendo variados tipos de denúncias,
dentre elas a de que migrantes e refugiados abrigados têm sua autonomia cerceada pelo intenso
controle e vigilância sobre seus movimentos e comunicação com o mundo externo aos
abrigos
22
. Em agosto de 2021, notícias veiculadas pelos meios de comunicação, informavam
sobre a existência de um “cantinho de punição”, de maus-tratos e de agressões aplicadas por
agentes do Exército contra migrantes indígenas nos abrigos da operação. Abordavam ainda a
existência de uma carta denúncia e da inspeção desses abrigos pela Defensoria Pública da União
(DPU) e Ministério Público da União (MPF), que em tese confirmaram as denúncias
23
.
Medeiro (2022, s/p), publicou matéria que em entrevista a um migrante indígena,
representante do povo da etnia Warao, ele revelou: “não temos liberdade para nos reunir com
nosso povo, com organizações nacionais e internacionais, sem a presença do Exército”
24
.
Ao longo dos cinco anos da existência da operação, a efetividade do trabalho das FFAA
também tem sido questionada. Apesar dos elevados gastos federais destinados ao trabalho
humanitário, para além dos recursos internacionais, pouca visibilidade acerca de seus
resultados, especialmente pelos moradores e autoridaridades de Roraima, que continuam a
22
Durante o trabalho de campo, pesquisadores ligados a grupos de pesquisa da UFRR, foram impedidos de
entrevistar migrantes e refugiados abrigados pelas FFAA e ACNUR sob o pretexto que a entrada dos pesquisadores
nos abrigos iam gerar constrangimentos e incomodar a privacidade dos imigrantes. Decisão tomada sem que os
próprios sujeitos fossem consultados a respeito.
23
Em 06 de agosto o Repórter Brasil publicou a matéria “Exército cria ‘canto dos maus-tratos’ em abrigos de RR
para confinar indígenas venezuelanos alcoolizados” Disponível em: https://reporterbrasil.org.br/2021/08/exercito-
cria-canto-dos-maus-tratos-em-abrigos-de-rr-para-confinar-indigenas-venezuelanos-alcoolizados/. Acesso em: 10
jan. 2022. O G1 publicou no dia 09 do mesmo mês a reportagem: “Defensoria identifica 'cantinho da vergonha'
para castigar indígenas venezuelanos em abrigo”, Disponível em
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/08/09/defensoria-identifica-cantinho-da-vergonha-para-castigar-
indigenas-venezuelanos-em-abrigo.ghtml . Acesso em: 10 jan. 2022. A Folha-UOL publicou a seguinte notícia,
em 30 de agosto de 2021, “MPF reúne denúncias de abusos contra indígenas em abrigo do exército”, Disponível
em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/08/mpf-reune-denuncias-de-abusos-contra-indigenas-em-
abrigo-do-exercito-em-rr.shtml. Acesso em: 10 jan. 2022.
24
A matéria foi publicada no site da Amazonia Real e pode ser consultada na íntegra no endereço eletrônico:
https://amazoniareal.com.br/operacao-acolhida-nao-cumpre-promessa-a-refugiados-venezuelanos/. Acesso em:
10 jan. 2022.
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conviver com a presença, considerada incômoda, de centenas de migrantes vulnerabilizados nas
ruas das cidades de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, e em Boa Vista
25
. Número que
não para de crescer, apesar dos 9 abrigos da operação e dos esforços da FT Log Hum, FFAA e
seus parceiros, no processo de interiorização (envio de migrantes a outros estados)
26
.
Apesar dos paradoxos e denúncias, que colocam em questão a eficácia e o
humanitarismo da operação comandada pelas FFAA, tais notícias não chegam a abalar a
credibilidade do Exército nem dos militares envolvidos, haja vista o prestígio nacional e
internacional das FFAA, reconhecida e laureada pelo modelo de gestão humanitária
27
.
Nesses cinco anos de atuação da Força Tarefa Humanitária, três generais estiveram no
comando: Eduardo Pazuello (2018-2020); Antônio de Manoel Barros (2020-2021) e Sérgio
Schwingel (2021-2023). Dentre eles se destaca o general Eduardo Pazuello, com passagem por
cargos no governo de Roraima, promovido posteriormente ao Ministério da Saúde por Jair
Bolsonaro em 2020, em meio a pandemia de Covid-19
28
. E no pleito de 2022 ascendeu ao
parlamento como o segundo deputado federal mais bem votado pelo Rio de Janeiro. Além do
general, a Operação Acolhida alçou ao governo também o Coronel Georges Feres Kanaan
(2018-2020), coordenador operacional adjunto da Operação Acolhida, braço direito de
25
A população e políticos de Roraima nutrem muita desconfiança sobre a aplicação e/ou a forma como os recursos
federais estão sendo aplicados na operação. Em setembro de 2019, deputado estadual em evento na Assembleia
Legislativa ALERR, sinaliza ter recebido denúncias e assevera: “Estou tomando as providências em relação a
cada uma delas. Quero citar, como exemplo, a empresa Overley Containers, que fornece aluguel de container para
a Operação, que é a mesma que o general Pazuello comandou no Rio de Janeiro”. Trecho retirado de matéria
publicada na página da ALEER. Disponível em: https://al.rr.leg.br/2019/09/24/jeferson-alves-critica-acao-da-
operacao-acolhida-durante-visita-de-ministra-ao-estado/. Acesso em: 10 jan. 2022.
26
De acordo com relatório da Cáritas Brasileira em 2022, publicado pelo G1, o número de migrantes venezuelanos
vivendo em situação de rua em Roraima chegava a 5.867. Disponível em:
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2022/10/27/mais-de-58-mil-venezuelanos-vivem-em-situacao-de-rua-
em-boa-vista-aponta-relatorio-da-caritas.ghtml. Acesso em: 10 jan. 2022.
27
Em 2018 o Exército Brasileiro recebeu o prêmio de direitos humanos pela resposta humanitária à situação
venezuelana no âmbito da Operação Acolhida, concedido pelo Ministério dos Direitos Humanos. Em 2020 O
reconhecimento internacional pela gestão humanitária da Operação Acolhida se materializou na eleição do Brasil
para presidir o comitê executivo do Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). Informações mais
detalhadas sobre os fatos mencionados nos seguintes endereços eletrônicos, respectivamente:
https://www.acnur.org/portugues/2018/11/22/agencias-da-onu-e-exercito-brasileiro-recebem-premio-de-direitos-
humanos-por-resposta-humanitaria-a-situacao-venezuelana/ . Acesso em: 10 jan. 2022;
https://www.gov.br/cidadania/pt-br/noticias-e-conteudos/desenvolvimento-social/noticias-desenvolvimento-
social/operacao-acolhida-coloca-o-brasil-na-presidencia-do-comite-executivo-do-comissariado-para-refugiados-
da-onu . Acesso em: 10 jan. 2022.
27
Bolsonaro duplicou as verbas em relação ao governo Temer, matérias sobre o assunto podem ser consultada em:
https://veja.abril.com.br/mundo/governo-libera-r-223-milhoes-para-assistencia-emergencial-a-venezuelanos/ .
Acesso em: 10 jan. 2022;
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2019/04/14/interna_politica,1046253/gastos-do-brasil-com-
refugiados-chegam-a-r-265-2-milhoes.shtm. Acesso em: 10 jan. 2022.
28
Matéria sobre a posse do general, especialista em logística, no Ministério da Saúde está disponível em:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/09/16/em-ato-no-planalto-pazuello-e-efetivado-e-saude-passa-a-ter-
ministro-titular-apos-4-meses.ghtml. Acesso em: 10 jan. 2022.
Gilmara Gomes da Silva SARMENTO
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Pazuello, que assumiu a Secretaria de Articulação Social, subordinada à Secretaria de Governo
(Segov) da Presidência da República
29
.
Confluências: Missão de Paz, Operação Acolhida e a política
Ao discorrer sobre as duas missões humanitárias mais relevantes a cargo das Forças
Armadas Brasileira, o nexo entre ambas e a política nacional vai ficando evidente. As FFAA
encontram na MINUSTAH uma excelente oportunidade para recompor sua imagem produzindo
simultaneamente capital político. O lugar alcançado pelas FFAA no topo da lista de instituições
brasileiras mais confiáveis (Cunha et al., 2014), dez anos após o início da MINUSTAH, parece
corroborar com essa hipótese.
A entrega da Operação Acolhida às Forças Armadas em 2018 aponta para esse
empoderamento. Diante da influência política e credibilidade da instituição militar perante a
sociedade, o governo Temer não teve dificuldade para contrariar a legislação migratória
garantir-lhes o comando. Na época enfrentou apenas resistência pontuais de entidades e
militantes de direitos humanos cuja imagem vinha sendo descredibilizada socialmente no
cenário político e social que vinha se desenhando
30
.
Nesse sentido, a missão em Roraima continuidade ao legado conquistado durante a
MINUSTAH, salvaguardando a imangem e a credibilidade conquistada. A representação de
uma FFAA humanitária empenhada em “salvar vidas”, dentro e fora do país, tem um forte apelo
simbólico. Esta é uma representação que se pretende preservar e reproduzir.
O departamento de Comunicação social das FFAA tem sido muito eficiente nesse
aspecto. um grande investimento na divulgação das ações humanitárias, através dos mais
variados canais e meios de comunicação eletrônicos e digitais. Pereira et al. (2022), com base
no trabalho de Machado (2021), ressaltam o empenho oficial do Exército Brasileiro na produção
e divulgação de vídeos e imagens da Operação Acolhida. E apontam para a relação explícita
entre a divulgação desse material e “o objetivo explícito da instituição militar em se apresentar
como condutora legítima da gestão humanitária” (PEREIRA et al., 2022, p. 99)
31
.
29
Nomeação publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 03/09/2020. O documento pode ser consultado
através do endereço: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decretos-de-2-de-setembro-de-2020-275667020.
Acesso em: 10 jan. 2022.
30
Isto é, de ascensão de ideologias de extrema-direita, da defesa dos valores ditos “tradicionais”, dentre eles o de
“pátria” e “família” amplamente associados ao ente militar.
31
Em muitos momentos da pesquisa em Roraima ouvi queixas de entidades da sociedade civil envolvida na
Operação Acolhida a respeito de como as FFAA colocavam o foco nessas propagandas a respeito de si mesmas,
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A notabilização dos militares nesses diferentes meios concorrem também para
contrabalançar as notícias e/ou denúncias que apareceram no decorrer dessas missões,
minimizando, portanto, seu impacto no prestígio das FFAA. Stargardter, referindo-se à
MINUSTAH, assinalou que tocar nas denúncias irrita os militares que preferem falar do
“sucesso” da operação (STARGARDTER, 2018).
A instituição militar tem contado ainda com muitos apoiadores e aliados na sociedade
civil que divulgam e enaltecem as operações e o papel dos militares, endossando também seu
ativismo político. No início de 2020, por exemplo, a rede Record publicou uma série de
reportagens sobre refugiados, com cinco episódios exibidos durante o programa Balanço Geral
RJ, que além de abordar o drama migratório dessas pessoas em direção ao Brasil, enaltecia o
papel das Forças Armadas nessa missão humanitária em solo nacional
32
. Em agosto de 2022,
ano eleitoral, a TV Brasil, rede pública, veiculou reportagem sobre os dramas de migrantes e
refugiados, mostrando de forma sutil militares da operação atuando em diferentes situações do
acolhimento aos migrantes venezuelanos
33
.
A rádio Jovem Pan desde 2019 tem publicado, periodicamente, notícias sobre a
Operação Acolhida. No seu canal de notícias intitulado “Os pingos nos Is” em 17 de janeiro de
2022, o conhecido jornalista Alexandre Garcia assinala que “a Operação Acolhida para
venezuelanos merece Nobel da Paz”, enfatizando que “o Brasil salva vidas do socialismo do
Maduro”
34
. A Leda Nagle, no seu canal do Youtube, em agosto de 2022, publicou entrevista
com Eduardo Pazuello, na época candidato a deputado, em que discutem entre outros temas, o
importante papel exercido pelo general na Operação Acolhida
35
.
Ao colocar a Missão de Paz e a Operação Acolhida em perspectiva, ainda que
brevemente, nota-se que as Forças Armadas saíram fortalecidas politicamente dessas missões
silenciando ou minimizando o trabalho das organizações que, segundo meus interlocutores, eram quem colocavam
de fato a “mão na massa”.
32
Referência sobre a reportagem pode ser acessada no site da própria emissora. Disponível em:
https://recordtv.r7.com/recordtv-emissoras/sudeste/record-tv-rio/serie-de-reportagens-sobre-refugiados-garante-
crescimento-de-audiencia-29062022. Acesso em: 10 jan. 2022.
33
A reportagem com forte apelo humanitário e duração de 26:59 min. veiculada pela TV Brasil e pelos canais
online da emissora pública em maio de 2022, foi reprisada novamente em junho. A matéria sob o título “Caminhos
da Reportagem | Os venezuelanos no Brasil”, pode ser acessada em vídeo disponibilizado na plataforma Youtube
em https://www.youtube.com/watch?v=RcBsuWEBixo. Acesso em: 10 jan. 2022. Este vídeo contou com 111.643
visualizações.
34
O vídeo pode ser acessado em https://jovempan.com.br/videos/programas/os-pingos-nos-is/alexandre-garcia-
operacao-acolhida-para-venezuelanos-merece-nobel-da-paz.html. Acesso em: 10 jan. 2022.
35
É importante lembrar que o Eduardo Pazuello, agora general da reserva, ainda na ativa protagonizou abertamente
episódios de militância política, participando das chamadas motociatas e subindo em palanque com o então ex-
presidente Jair Bolsonaro que buscava a reeleição. Comportamento este interditado aos militares da ativa pelo
Estatuto dos Militares e pelo Regulamento Disciplinar do Exército, que os proíbe de participarem de manifestações
coletivas de caráter político.
Gilmara Gomes da Silva SARMENTO
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e encorajadas a exercerem maior protagonismo político em âmbito nacional. A quantidade de
militares da caserna que se declararam antagonistas aos partidos de esquerda, especialmente ao
PT, que formaram quadros no governo Temer, participaram ativamente no governo Bolsonaro
e que vem ingressando na carreira política parece sintomático.
Re[ações], visibilidades e nexos entre militares e a política
O processo de redemocratização brasileira, conquistado através das lutas político-
sociais que debilitaram o regime militar, forçou as Forças Armadas a adotarem um enfoque
mais técnico-profissional do que político (CARVALHO, 2005). No entanto, como sinaliza
Rodrigues e Janot (2020, p. 92), com base numa literatura especializada, é preciso entender que
a profissionalização das FFAA não s anula politicamente, mas, sim, produz um sentimento
coeso de pertencimento ao Estado que pode concorrer para múltiplas formas de intervenção,
“desde negociações e chantagens com grupos políticos à tomada de gabinetes civis e golpes”.
Zaverucha (2001) argumenta que o recolhimento dos militares aos quartéis após o
restabelecimento da democracia é um mito que não encontra respaldo na realidade. Para o autor,
houve continuidade da participação castrense na política brasileira. O que haveria mudado foi
apenas a forma como se deu essa interferência “sem o ônus de ser governo, mas com bônus de
ser poder(p. 33). Dessa ótica, o recuo político das FFAA é falso, a impressão de sua veracidade
decorre da instauração de uma democracia conservadora que anula as motivações para
tentativas de golpes. No entanto, a estabilidade da nossa democracia, leia-se subordinação
militar, depende do grau de conformidade do governo com os interesses castrenses.
Partindo dessa leitura, episódios de insubordinação de militares durante o governo Luís
Inácio Lula da Silva (2003-2011) e a articulação política deflagrada abertamente contra o
governo Dilma Rousseff, após a instauração da Comissão Nacional da Verdade em 2011, vai
ganhando ainda mais inteligibilidade (GUILHERME, 2021). O episódio Raposa do Sol
envolvendo o ex force comannder da MINUSTAH, Augusto Heleno, em 2008, soma-se,
portanto, a outros eventos que marcaria, a partir de então, um conjunto de [re]ações que pouco
a pouco vão configurando “uma marcha silenciosa” dos militares rumo ao poder (PENIDO;
JANOT; RODRIGUES, 2021)
36
.
36
Os autores reconstituem um conjunto de acontecimentos e a consequente reação dos militares, que em ordem
cronológica começando em 2005, mostra a movimentação desses atores até o golpe que resultou no impeachment
de Dilma Rousseff em 2016.
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O posicionamento do referido general não foi uma posição isolada, convergiu com o de
outros miliares com passagem ou não nas missões humanitárias. As insubordinações foram se
radicalizando na medida em que as políticas dos governos de esquerda contrariavam os
interesses e/ou “ameaçavam” o prestígio da corporação e de seus agentes. Militares passaram a
se manifestar publicamente contra as políticas do governo e foram se posicionando
politicamente, assim como o próprio Augusto Heleno, que se tornou um dos principais
articuladores da candidatura de Jair Bolsonaro (MARTINS FILHO, 2019).
A elite militar, receosa de que a CNV ressuscitasse fatos da ditadura que pretendiam
esquecer e sepultar, passou a expressar essa incomodidade amplificando as críticas ao governo
e desmerecendo a comissão (GUILHERME, 2021)
37
. É então no contexto das negociações em
torno da instalação da CNV que Jair Bolsonaro, na época deputado federal, conseguiu se
reaproximar da caserna e estabelecer conexões e o aval que possibilitou se destacar como
candidato à presidência
38
.
Enquanto no plano nacional um grupo de militares das Forças Armadas se articulavam
para eleger Bolsonaro, o estado de Roraima enfrentava uma crise humanitária em decorrência
da indiferença e hostilidade das autoridades locais para lidar com questão migratória. O
agravamento da crise estadual, levou o presidente Michel Temer a afastar a governadora Suely
Campos (MDB) em dezembro de 2018.
Na sequência nomeou Antonio Oliverio Garcia de Almeida (PSL)
39
como interventor
estadual, político eleito a governador do estado em outubro do mesmo ano. O interventor,
imediatamente, nomeou o general da Operação Acolhida, Eduardo Pazuello, Secretário de
Estado da Fazenda e de Planejamento e Desenvolvimento de Roraima
40
. E apesar de ter
alcançado popularidade eleitoral numa campanha marcada pelo discurso anti-migração, ao
tomar posse como governador estabeleceu vínculos de cooperação com a Operação Acolhida,
praticamente inexistentes no governo anterior, surpreendendo alguns representantes de
entidades envolvidas na resposta humanitária.
37
O autor chama atenção ainda para o fato dos jornais alinhados aos militares terem no período da campanha
eleitoral que marcou a sucessão do presidente Lula por Dilma Rousseff, tentado associar a presidente a uma
imagem negativa como ex-guerrilheira e de dar espaço e voz para os militares descontentes a posteriori.
38
Guilherme (2021) ressalta duas situações em específico em que o posicionamento de Bolsonaro que contribuiu
com a aproximação de Bolsonaro com as FFAA. A primeira foi sua tentativa de aprovação de uma emenda
parlamentar, em 2011, que permitiria aos militares se recusarem a prestar depoimentos à Comissão da Verdade. A
segunda foi a cena protagonizada por ele na votação do impeachment em que exaltou às FFAA, o Exército, além
do torturador de Dilma Rousseff.
39
Conhecido popularmente como Denarium e apoiador de Jair Bolsonaro, o interventor tinha vencido as eleições
em outubro daquele ano para o cargo de governador do estado.
40
Nomeações publicadas no Diário Oficial do Estado de Roraima, de 10 de dezembro de 2018.
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Além disso, a própria continuidade da Operação Acolhida no governo Jair Bolsonaro
surpreendeu alguns ativistas. A posição político-ideológica do presidente eleito em 2018, ia na
contramão do humanitarismo e dos direitos humanos, o que resultou em prognósticos acerca do
encerramento da operação. Mas contradizendo essas previsões, Jair Bolsonaro fortaleceu a
Operação Acolhida, aumentando as verbas federais e elogiando o ente militar da operação
41
.
Como mencionado anteriormente, dois anos depois promoveu o seu comandante ao Ministério
da Saúde, general que foi um firme apoiador do seu governo e de sua campanha eleitoral em
2022, subvertendo impunemente os regulamentos militares.
Considerações finais
Após a eleição de Jair Bolsonaro pelo voto popular em 2018, muitos têm se perguntado
como um personagem que pertenceu ao chamado “baixo clero” na hierarquia militar,
marginalizado pelo próprio comportamento no período em que esteve na ativa, que, portanto,
representa a antítese da ordem e de outros valores morais que costumam ser associados à
caserna, conseguiu o apoio de militares do alto escalão das FFAA para pleitear a presidência
do país.
A resposta à questão é muito simples, como aponta a literatura especializada, o otimismo
exagerado em relação à democracia brasileira produziu análises enviesadas sobre a participação
dos militares na política, levando-nos a ignorar as múltiplas formas subterrâneas e/ou sutis de
ativismo que testemunham o fato crucial: os militares nunca estiveram alheios à política
(ZAVERUCHA, 2001; BORGES, 2011; LEIRNER, 2020; PEREIRA et al., 2022). Nesse
sentido, a figura do deputado Jair Bolsonaro e sua forma de militância convergiu perfeitamente
com os interesses políticos da caserna.
Bastou as pautas dos governos de esquerda “ameaçarem” os interesses da corporação, o
poder, o prestígio e a reputação moral recomposta pelo viés do humanitarismo, para que as
FFAA se mobilizassem estrategicamente contra o governo (ZAVERUCHA, 2001; LEIRNER,
2020). Para tanto, converteram ditadura em humanismo, atribuíam ao governo do PT a
instabilidade social e política do país, além de retomarem a bandeira do anticomunismo e a
41
Bolsonaro duplica as verbas em relação ao governo Temer, matérias sobre o assunto podem ser consultada em
Disponível em: https://veja.abril.com.br/mundo/governo-libera-r-223-milhoes-para-assistencia-emergencial-a-
venezuelanos/. Acesso em: 10 jan. 2022; Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2019/04/14/interna_politica,1046253/gastos-do-brasil-com-
refugiados-chegam-a-r-265-2-milhoes.shtm. Acesso em: 10 jan. 2022.
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ideia do “inimigo externo”, mobilizada na década de 1960, convertendo-a em “antipetismo”, o
“inimigo interno” para legitimar o “intervencionismo” frente à sociedade (LEIRNER, 2020).
um consenso entre os analistas desse momento brasileiro, de que a Comissão
Nacional da Verdade (CNV) foi o estopim para que as FFAA deixassem as negociações
políticas de bastidores e ocupar o centro da disputa política e de narrativas em oposição ao
governo PT. A possibilidade de abrir a “caixa-preta” da ditadura suscitaria o espírito de
corporação aproximando Jair Bolsonaro e atores da caserna, que viriam avalizar e dar
sustentação à sua candidatura e governo (MARTINS FILHO, 2019; LEIRNER, 2020;
GUILHERME, 2021, PENIDO et al., 2021).
Ao propor investigar as violações daquele período sombrio da história nacional crimes
cometidos na ditadura militar, Dilma Rousseff teria quebrado o “pacto político” de silêncio,
rompido com o consenso tácito que garantia uma “memória oficial de esquecimento ao período
dos militares no poder” desde a anistia de 1979 (GUILHERME, 2021, p. 48)
42
.
Ao ousar sugerir a abertura das “caixas pretas” da ditadura, o governo contraria os
diferentes atores do meio militar, que concebiam essa tentativa como “revanchismo”,
“desforra” e/ou “vingança” de “esquerdistas transloucados” (LEIRNER, 2020; GUILHERME,
2021). Em torno dessa “ameaça interna comum” os militares se organizaram, “prepararam o
terreno” e afiançaram a articulação de atores como: o Judiciário, na operação Lava Jato
(LEIRNER, 2020, p. 31) e a mídia, esta que amplificou a influência política dos militares
(MARTINS FILHO, 2019; LEIRNER, 2020; GUILHERME, 2021).
O pacto de silêncio vinha sendo fundamental para fomentar e/ou manter a representação
da corporação militar como instituição prestigiosa no imaginário social. Nesse sentido, a
publicização da violência cometida na ditadura se converte em um fantasma que precisa ser
exorcizado. As revelações sobre esse período sombrio, dentre outras questões, evidenciara a
cultura da impunidade e da tolerância com as violações encarnada na anistia de 1979.
Cultura da impunidade que se materializa no silenciamento sobre as denúncias de
violações das tropas Brasileiras na MINUSTAH, no silenciamento sobre as denúncias de
violações e maus-tratos que vêm ocorrendo no interior da Operação Acolhida. E que encontra
ressonância em declarações como a do então comandante do Exército, general Eduardo Villas
Bôas, que em reunião para tratar da intervenção militar no Rio, durante o governo Temer “disse
ser necessário dar aos militares garantia para agir sem o risco de surgir uma nova Comissão da Verdade
42
O autor cita o forte descontentamento nas Forças Armadas com um governo que pela primeira vez exige a
abertura dos arquivos militares nunca exigidos.
Gilmara Gomes da Silva SARMENTO
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no futuro(LOBO, 2018)
43
.
Garantia que a Operação Acolhida parecia gozar plenamente através do seu alinhamento
visceral com o governo Bolsonaro entre 2019-2022 e os nexos políticos que produzidos por
essa relação.
Ao tentar estabelecer a conexão entre a MINUSTAH, a Operação acolhida, os militares
nelas engajados e a política, o artigo não pretende esgotar o assunto, mas estimular o debate e
futuras reflexões que contribuam para a compreensão das diferentes formas de inserção e de
construção de capital político, por atores das Forças Armadas, em outras frentes nem sempre
explícitas, como é o caso das missões humanitárias.
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43
General que se tornou grande apoidor e figura importante no governo Bolsonaro, Assessor no Gabinete de Segurança
Institucional até 2022.
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CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Não aplicável.
Financiamento: A pesquisa de campo, desenvolvida entre 2018-2020, foi realizada com
bolsa CAPES.
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovação ética: Não passou por comitê de Ética. Resulta de reflexões realizadas a partir
do diálogo entre as informações e observações de campo, realizadas durante a pesquisa no
pós-doutorado entre 2018-2010, e da pesquisa bibliográfica realizada em fontes diversas.
Disponibilidade de dados e material: Os dados e materiais usados como referência para o
artigo, relacionados à pesquisa bibliografia estão indicados na bibliografia e relativos à
pesquisa de campo constam no Relatório da Pesquisa entregue ao Programa de Pós-
Graduação em Sociedade e Fronteiras da UFRR.
Contribuições dos autores: Autoria única.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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FROM HUMANITARIAN MISSIONS TO GOVERNMENT: THE ARMED FORCES
AND THEIR POLITICAL CONNECTIONS IN BRAZIL
DAS MISSÕES HUMANITÁRIAS AO GOVERNO: AS FORÇAS ARMADAS E SUAS
CONEXÕES POLÍTICAS
DE LAS MISIONES HUMANITARIAS AL GOBIERNO: LAS FUERZAS ARMADAS Y
SUS CONEXIONES POLÍTICAS EN BRASIL
Gilmara Gomes da Silva SARMENTO1
e-mail: gilmarasarmento@hotmail.com
How to reference this article:
SARMENTO, G. G. S. From humanitarian missions to government:
The armed forces and their political connections in Brazil. Teoria
& Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp.
2, e023016, 2023. e-ISSN: 2236-0107. DOI:
https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.2.1005
| Submitted: 08/05/2023
| Revisions required: 29/08/2023
| Approved: 19/10/2023
| Published: 05/12/2023
Editors:
Prof. Dr. Simone Diniz
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Federal University of Roraima (UFRR), Boa Vista RR Brazil. Post-doctorate by the Graduate Program in
Society and Borders.
From humanitarian missions to government: The armed forces and their political connections in Brazil
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. 1, e023016, 2023. e-ISSN: 2236-0107
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ABSTRACT: This article contributes to the debate on military involvement in politics,
focusing on the key role played by the Armed Forces in “humanitarian missions” and their
political connections. Online newspapers and empirical data from fieldwork conducted between
2018 and 2020 are used as source material for the analysis, in dialogue with the literature. The
aim is to discuss how the “Peacekeeping Mission” in Haiti (2004 to 2017) and the “Welcome
Operation” (Operação Acolhida) in the Brazilian state of Roraima (2018 to present) intersect
with and/or are part of the Armed Forces’ strategic objectives for political control. These
missions augment the economic, social, and symbolic resources at the disposal of the Forces
and their agents, which, once converted into political capital, take the form of the appointment
of military personnel from these missions to key positions in the Bolsonaro government and
their running for and holding of elected office.
KEYWORDS: Humanitarian Missions. Armed Forces. Politics.
RESUMO: O artigo ora apresentado, pretende contribuir para o debate sobre a presença
militar na política, enfocando o protagonismo das Forças Armadas nas missões humanitárias
e suas conexões com a política. Para tanto, utilizo como fonte e objeto de análise jornais online
e o material empírico da pesquisa de campo realizada entre 2018-2020, em diálogo com a
bibliografia. Pretende-se discutir como a “Missão de Paz” no Haiti (2004 - 2017) e a
“Operação Acolhida” em Roraima (2018-atual), confluem e/ou se inserem nos objetivos
estratégicos de controle político das Forças Armadas. Tais missões ampliaram os recursos
econômicos, sociais e simbólicos da corporação e de seus agentes que convertidos em capital
político, se expressam na ocupação de cargos chave por militares integrantes dessas missões
no atual governo e da ascensão desses atores a cargos de representação política.
PALAVRAS-CHAVE: Missões Humanitárias. Forças Armadas. Política.
RESUMEN: El artículo aqui presentado, pretende contribuir al debate sobre la presencia
militar en la política, enfocando el protagonismo de las Fuerzas Armadas en las misiones
humanitarias y sus conexiones con la política. Para ello, utilizo como fuente y objeto de
análisis, periódicos digitales y el material empírico de investigación de campo realizada entre
2018-2020, junto con la bibliografía. Se pretende discutir como la "Misión de Paz" en Haití
(2004-2017) y la "Operación Acogida" en Roraima(2018-actual) confluyen y/o se introducen
en los objetivos estratégicos de control político de las Fuerzas Armadas. Estas misiones
amplían los recursos económicos, sociales y simbólicos de la corporación y de sus agentes, que
convertidos en capital político, se expresan en la ocupación de cargos clave por militares
integrantes de esas misiones en el actual gobierno y de la ascensión de esos actores a cargos
de representación política.
PALABRAS CLAVE: Misiones Humanitárias. Fuerzas Armadas. Política.
Gilmara Gomes da Silva SARMENTO
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Introduction
The presence of the Armed Forces (FFAA) in Brazilian politics dates back to the
Proclamation of the Republic. Since then, eight presidents with military backgrounds have
governed the country. Three of them were elected through popular votes, and five came to
power through the military regime
2
. After the dictatorship, the explicit military activism in the
previous phase took on a new dimension. The process of democratization required a more
technical and professional approach by the military (CARVALHO, 2006), although they never
completely withdrew from the political sphere. In the new context, political negotiations, not
always explicit, predominantly favored the Armed Forces
3
. Nevertheless, when the interests of
the military institution were directly contradicted, the spirit of the corporation reignited, making
the political activism of its members visible (ZAVERUCHA, 2001; PEREIRA et al., 2022).
In the second half of the 2000s, during the presidency of Luiz Inácio Lula da Silva
(2003-2011) from the Workers’ Party PT, military actors reemerged in the public space,
openly protagonizing episodes of tension and political antagonism (GUILHERME, 2021;
PENIDO et al., 2021).
Despite this government paradoxically being recognized as the one that invested the
most in the infrastructure and modernization of the Armed Forces, the gains made during the
PT administrations (investments, recognition, and technical-operational experience, especially
after Brazil’s participation in the Peacekeeping Mission in Haiti
4
) clashed with the management
of certain issues and/or policies that contradicted certain sectors within the military. These
issues included matters related to the Amazon, the environment, borders, mining, land
demarcation, and, particularly, the recovery of the historical memory of the dictatorship
(GOMES; SANTOS, 2019; PENIDO et al., 2021).
2
In addition to Deodoro da Fonseca and Floriano Peixoto, the first military presidents, the military actively
participated in presidential elections until 1964. Hermes da Fonseca governed the country between 1910-1914.
General Eurico Gaspar Dutra served as president from 1946-1950. Getúlio Vargas defeated Air Force Brigadier
Eduardo Gomes in 1950. General Juarez Távora lost the election to Juscelino Kubitschek in 1955. Jânio Quadros
won against Marshal Henrique Lott in 1960. During the years of the civil-military dictatorship (1964-1985), there
were five presidents: Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel, and Figueiredo. In the post-dictatorship period,
Jair Messias Bolsonaro was elected for the term 2018-2022 (WESTIN, 2018).
3
According to Zaverucha (2001), the budgetary superiority of the Ministry of Defense during the FHC
government, in comparison to ministries related to social areas (health, education, social assistance, and labor),
among other paradoxical expenditures in the absence of threats justifying such investments, serves as a
demonstration of the political power of the military institution.
4
Guilherme (2021), citing the research Brazil, the BRICS, and the World in the 21st Century: National Defense
Strategies and Geopolitical Challenges in a Changing World” conducted by João Fábio Bertonha in 2017, notes
that there was a 50% increase in military spending during left-wing governments for the benefit of infrastructure
and modernization of the armed forces, with twice the expenditure on the military during the Lula government.
From humanitarian missions to government: The armed forces and their political connections in Brazil
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The dissatisfaction of these military personnel materialized through a series of incidents
and public manifestations conveyed in the press and on social media platforms, revealing their
opposition to the government. Statements in favor of Operação Lava Jato and the impeachment
of Dilma Rousseff marked the beginning of a period of significant visibility of political activism
by these actors. This ultimately led to an increased involvement of military personnel in the
government of Michel Temer (2016-2018), their active participation in political-electoral
mobilization surrounding the candidacy of Jair Messias Bolsonaro, and their extensive
occupancy of positions within this government (2019-2022).
It is noteworthy that a significant portion of the military personnel who comprised the
support base of the Jair Bolsonaro government, holding key and important positions, had
previous involvement in humanitarian operations within an administration that was averse to
humanitarianism and human rights.
Building upon this premise, this article aims to contribute to the debate regarding the
military presence in politics. It seeks to establish the links between military humanitarianism
and the political activism of the Armed Forces, with a specific focus on individuals who
transitioned from the Peacekeeping Mission in Haiti (MINUSTAH) and the Operação Acolhida
in Roraima to the Jair Bolsonaro government. Therefore, it seeks to establish the connection
between these humanitarian missions, one abroad and the other domestic, and the escalation of
power/political influence of the Armed Forces in recent decades, culminating in the Bolsonaro
government.
For the development of this article, a qualitative approach has been adopted, based on
information collected through field research in Roraima between 2018 and 2020
5
, as well as
information gathered through bibliographical research from various secondary sources,
including academic articles, books, dissertations, online newspapers, among others. The article
does not aim to provide an exhaustive analysis of the missions discussed but rather to highlight
the relationship between both missions and their connections to national politics.
5
The qualitative and ethnographic field research was conducted during my postdoctoral research in the Graduate
Program in Society and Borders and as a member of the Interdisciplinary Group for Interdisciplinary Studies on
Borders (GEIFRON), from 2018 to 2020
Gilmara Gomes da Silva SARMENTO
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Mission of Peace: Military Humanitarianism and Politics
In April 2004, through Resolution 1542, the United Nations Security Council (UNSC)
established the United Nations Stabilization Mission in Haiti (MINUSTAH). The mission
aimed to address the severe crisis of political-institutional instability, which resulted in other
significant problems for Haitian society. Brazil, under the initiative of President Luiz Inácio
Lula da Silva, joined the mission, and the Brazilian Armed Forces were designated to lead the
military command of the mission. On May 30, 2004, the first Brazilian troop was deployed to
Haiti under the command of General Augusto Heleno Ribeiro Pereira (VALLER FILHO,
2007).
Assuming the responsibility of leading the military command of the mission represented
for Brazil a convergence between the concern to contribute to Haiti’s stability, an important
issue in the regional context, and the consolidation of strategic interests. This meant projecting
itself as a power on the international stage, establishing itself as a regional leader, and securing
a permanent seat on the United Nations Security Council (BORGES, 2011; VALLER FILHO,
2007; CARVALHO, 2019).
Brazil’s participation in the mission also represented the alignment of the Brazilian
government with the global policies of neoliberal capitalism, which, contradictorily, since the
1980s, has combined the defense of human rights with a militarized form of humanitarianism.
This has involved the extensive involvement of military agents, strategies, actions, and
securitization techniques (FELDMAN-BIANCO, 2018; PEREIRA et al., 2022).
Borges (2011, p. 80) suggests that this humanitarian logic took shape in Latin America
through the coordination of multilateral organizations committed to rethinking the role of the
military, modernizing the Armed Forces, and developing a common agenda in the post-
dictatorship period
6
. Globally, it aligns with the mobilization and defense of international
organizations around military interventions as an alternative to addressing social issues and
protecting populations from threats of rights violations, including practices by the national State
itself (PEREIRA et al., 2022)
7
6
This concern would result in a series of events organized for this purpose and carried out from the late 1980s,
among which the author highlights: "Conference of Defense Ministers of the Americas (CDMA - 1995);
Conference of Central American Armed Forces (CFAC - 1997); Regional Security System (RSS - since 1996); the
South American Defense Council (Unasul - 2008)." In 2008, the Latin American Association of Peacekeeping
(Training Centers (Alcopaz) was created, initiated by Argentina, Brazil, Chile, Ecuador, Guatemala, Peru, and
Uruguay, with the aim of preparing personnel for peacekeeping missions. The latter was chaired by Brazil from
August 2009 to July 2010 (BORGES, 2011).
7
The authors argue that international organizations found justifications to advocate for militarized
humanitarianism in the impacts caused by the end of the Cold War and globalization (PEREIRA et al., 2022, p.
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In this sense, MINUSTAH undoubtedly emerges from this neoliberal capitalist logic.
The Brazilian mandate represents the convergence of broader national interests and specific
interests of the Brazilian Armed Forces, namely, gaining logistical and operational
improvement in a real mission, modernizing/updating themselves, and enhancing the image of
the institution associated with the atrocities committed during the dictatorship. In other words,
seeking to “restore the symbolic power lost during the dictatorship” (BORGES, 2011, p. 119).
Specialized analyses indicate a successful Brazilian participation in the mission. This
success can be seen from the perspective of foreign policy strategy and the prestige gained by
the Armed Forces, along with other achievements such as budget expansion and opportunities
for technical improvement and learning innovative methods of military intervention provided
by the UN (BORGES, 2011; GOMES; SANTOS, 2019; CASTRO; MARQUES, 2019)
8
.
Not even the controversies and allegations regarding aspects of the Brazilian Armed
Forces’ actions managed to undermine the prestige acquired within the United Nations
framework. Borges (2011, p. 119) points out that humanitarian work and the exaltation of the
soldier-hero, specially formulated after the 2010 earthquake, were crucial in restoring the image
of the Armed Forces, which had been tarnished by the “anos de chumbo” (“years of lead”).
MINUSTAH projected a different perception of the military and the institution onto the
population. A “new military” and a new “Armed Forces” emerged from the Peacekeeping
Mission, no longer associated with "authoritarianism, torture, and murders committed during
the dictatorship." There was, therefore, a positive reconstruction (including in the media) of
the image of the armed forces as providers of peace” (PEREIRA et al., 2022, p. 90).
By regaining institutional credibility, the Armed Forces equipped themselves with
political capital
9
to exert influence over national events
10
. The progressive and revitalized
85). Two issues are addressed in this regard. The first concerns an operation to capture a “criminal” in a favela in
Port-au-Prince, which resulted in 27 deaths and accusations of excessive use of violence by Brazilian troops, as
well as subsequent allegations of rape involving members of the Brazilian troop during the thirteen years of the
presence of the Armed Forces in the country (HARARI, 2011; SILVA, 2017; STARGARDTER, 2018; SILVA,
2021).
8
In an interview with the commanders of MINUSTAH, conducted by Castro and Marques, it is noted that there is
a certain unanimity among them regarding the numerous gains for the Brazilian Armed Forces. In fact, General
Santos Cruz emphasizes, Brazil achieved good regional projection, good projection within the UN, prestige
increased, but the greatest gain was directly for the Armed Forces” (CASTRO; MARQUES, 2019, p. 89).
9
In the sense employed by the sociology of Pierre Bourdieu, where the accumulation of certain social resources,
including recognition and prestige, can equip individuals with a certain authority and/or political power.
10
For example, in public statements in favor of Operação Lava Jato, in the episode involving the Twitter
statements of General Villas Bôas, who was then the Commander of the Army, on the eve of the Supreme Federal
Court (STF) vote on Lula's habeas corpus. These statements were conceived by many as a “threat” and/or
interference, and even blackmail. In addition to statements in favor of Dilma Rousseff's impeachment by active-
duty and retired agents, among other forms of political activism.
Gilmara Gomes da Silva SARMENTO
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political activism of military personalities occurred a few years after the start of the mission in
Haiti. It is emblematic that the first public controversies involving active-duty generals
opposing the government were led by personalities who played the role of Force Commanders
in Haiti
11
.
In the power balance, the erosion of the PT government highlights the resurgence of the
symbolic power of the Armed Forces. The materialization of this power is evident in the
campaign in favor of the impeachment of Dilma Rousseff, the expansion of the military
corporation’s responsibilities in Michel Temer’s government, the influence they exerted over
his administration (2016-2018)
12
, and the gradual occupation of positions in his government
13
.
Regarding the influences on government decisions, it is worth noting: i) the appointment of a
military officer to lead the Ministry of Defense, a ministry that had been led by civilians since
its creation
14
; ii) the appointment of the Ministry of Defense to lead the federal humanitarian
response to the Venezuelan migration in Roraima, in contradiction to the existing immigration
laws.
During Temer’s brief presidency, there were numerous pressures from the Armed
Forces that indicate interference in his decisions, many of which were maintained despite strong
criticism, appeals, and opposition from experts and civil society entities.
However, the political activism of the Armed Forces became even more evident during
the preparations for the electoral race when they declared support for Jair Bolsonaro’s
candidacy (PSL at the time). They openly participated in his election campaign and,
subsequently, in his government
15
.
Over the thirteen years that MINUSTAH lasted (2004-2017), Brazil appointed a total of
eleven Force Commanders to lead the multinational UN troops in Haiti. Among them, six
commanders were appointed to key positions in the Bolsonaro government starting in 2019.
11
The episode involving General Augusto Heleno and the Lula government in 2008 can be cited as emblematic in
this regard. It occurred in the context of the demarcation of the Raposa do Sol indigenous land in Roraima, at a
time when the general was in charge of the Amazon Military Command. He refused to send Army troops to assist
the Federal Police in expelling rice producers who had invaded indigenous lands on the border between Brazil,
Venezuela, and British Guiana. In addition to clear disobedience, the general began to openly criticize the
government's indigenous policies (MARTINS FILHO, 2019; PENIDO et al., 2021).
12
A Folha de São Paulo article from 2018 draws attention to the topic
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/03/temer-da-a-militares-controle-sobre-areas-sensiveis-do-
governo.shtml
13
According to data from the Brazilian Federal Court of Accounts (Tribunal de Contas da União), around 2,765
military personnel occupied positions in the Temer government. Source. Accessed on January 10. 2022.
14
In January 2018, General Joaquim Silva e Luna was appointed to lead the Ministry of Defense.
15
In 2018, while still in active duty, General Luiz Eduardo Ramos, who had been part of the Peacekeeping Mission
in Haiti, criticized the Workers’ Party (PT) and advocated for Bolsonaro’s candidacy within the Southeast Military
Command in São Paulo.
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Additionally, two generals and a captain held other roles in MINUSTAH. The key figures in
this process are the generals who served as commanders in Haiti (Force Commanders), such as
Augusto Heleno (2004-2005), who became the Minister-Chief of the Institutional Security
Office (GSI); Santos Cruz (2007-2009), who became the Minister of the Government
Secretariat; Floriano Peixoto (Haiti 2009-2010), who occupied the positions of Minister of the
General Secretariat of the Presidency and President of the Post Office; Luís Eduardo Ramos
(2011-2012), who became the Chief of Staff; Edson Pujol (2013-2014), who served as the Chief
of the Brazilian Army; and Ajax Pinheiro (2015-2017), who became an Advisor to the Superior
Court of Justice (CASTRO; MARQUES, 2019).
The generals who served as heads of operations for the Brazilian contingent in
MINUSTAH and held positions in the Bolsonaro government are Fernando Azevedo (2004-
2005), who became the Minister of Defense; Otávio Rêgo Barros, who was appointed as the
government's spokesperson. In addition to them, Captain Tarcísio de Freitas (2005-2006), who
was the head of the technical section of the Brazilian Peacekeeping Engineering Company,
became the Minister of Infrastructure in the Bolsonaro government (STARGARDTER, 2018;
CASTRO; MARQUES, 2019).
It is also worth noting that Tarcísio de Freitas, before joining the Bolsonaro government,
held the position of Secretary of Coordination of the Investment Partnerships Program (linked
to the Presidency of the Republic) in the Temer government (2016-2018). In 2022, he ran for
the governorship of São Paulo, emerged victorious, and currently holds that political office.
Operação Acolhida: Connections with MINUSTAH and the Temer-Bolsonaro
Governments
Since 2017, civil society organizations concerned about the progressive increase of
migrants from Venezuela arriving in Roraima in a situation of extreme socioeconomic
vulnerability began demanding a federal response from the Brazilian government. However, it
was after the migration situation reached its peak that the government decided to intervene.
In February 2018, Michel Temer issued the provisional measure MP/820
16
, which
conceived what would become the humanitarian response to that migration process. At the time,
16
The complete document regarding the publication of the measure can be accessed at the following website:
https://www.camara.leg.br/noticias/531963-publicada-medida-provisoria-para-atender-venezuelanos-que-
migram-para-roraima/. Accessed on: 10 Jan. 2022.
Gilmara Gomes da Silva SARMENTO
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the Federal Police estimated the presence of approximately 40,000 Venezuelan immigrants
living, mostly, in a state of extreme economic and social vulnerability.
However, the celebrated announcement of federal action immediately turned into
concern for the entities involved in humanitarian assistance. This was because Temer’s decision
to designate the Ministry of Defense to lead the humanitarian response contradicted
immigration legislation enacted in 2017. Going against the legislation that demilitarized the
immigration issue by removing it from the scope of the Armed Forces, Michel Temer upheld
his decision.
For these entities, the president disregarded all the social struggle waged since 2013 to
consolidate legislation in the direction of rights (SILVA, 2021). During the interviews I
conducted with representatives of these organizations in Roraima, the interlocutors pointed out
that the emergency nature of the migration demand required necessary collaboration and
military logistical expertise
17
. However, they considered the militarized response a significant
setback in light of the new legislation.
There was much concern that the rights violations, which were already frequent,
including by the local government, would intensify in the face of arbitrary power, possibly
exercised from the perspective of criminalization
18
. Despite these concerns, the Ministry of
Defense established in February 2018 the two operations that would be carried out concerning
the Venezuelan migration, as documented by the army itself,
The Operação Acolhida, under the coordination of the Humanitarian Logistics
Task Force (FT Log Hum); and Operation Control, under the responsibility of
the 1st Jungle Infantry Brigade (1st Bda Inf Sl), aimed to increase security in
the Roraima border area, intensify screening and control of immigrants,
directing them to reception centers, and assisting in their internalization
process in Brazil or their return to Venezuela (RORAIMA, [21--], online, our
translation).
For the operational coordination of the Humanitarian Logistics Task Force (FT Log
Hum): Operação Acolhida Brigadier General Eduardo Pazuello was appointed. In the following
17
They were referring precisely to concerns about the quantity of migrants who, left to their own devices, would
endure the upcoming period of heavy rains in the state. Among them were many pregnant women, small children,
the elderly, and the sick. Faced with the urgency of building shelters to protect them, the organizations reduced
their resistance and ultimately succumbed to the militarys command.
18
This perspective was also adopted, for example, by the government of Roraima, which viewed migration as a
threat. Suely Campos, the governor of Roraima at the time, blamed migrants for the increase in crime, seeking to
prevent their entry and/or make it difficult for them to stay in the state. Since 2016, she had been trying to close
the border between Brazil and Venezuela and supported the Federal Police in the “expulsions” and deportations
of “undocumented” individuals, restricting the use of public services for non-nationals, among other hostilities
(SARMENTO; RODRIGUES, 2020).
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March, the first brigade of the Armed Forces began its operation in Roraima.
In April 2018, the military convened a meeting with entities, collectives, non-
governmental organizations, and international agencies
19
to explain the objectives of the
mission and persuade them to participate in the Operação Acolhida.
On this occasion, they emphasized the willingness of the Armed Forces to work in
synergy with other entities, often using the argument of humanitarian expertise acquired in the
Peacekeeping Mission to defend the legitimacy of the operation's command in the face of
dissatisfied and resistant civilian entities. This resistance gradually gave way to cooperation
because, after all, the extreme vulnerability of migrants, reduced to a state of begging and
threatened by xenophobic violence from individuals and institutions, required the urgent
commitment of all involved (MILESI; COURY; SOUZA, 2018; SARMENTO; RODRIGUES,
2019).
Furthermore, federal resources allocated to the operation were concentrated in the
Ministry of Defense and administered by the Armed Forces. International Agencies (UNHCR,
IOM, UNFPA, UNICEF, among others), which represent the UN system’s presence in
Roraima, concentrated international resources. Thus, the Army and the Agencies ended up
transferring resources for the entities to carry out humanitarian actions in a kind of outsourcing
of humanitarian activities (OLIVEIRA; SARMENTO; VALERIO, 2020).
In a short time, even the “apolitical” entities
20
fully integrated into Operação Acolhida.
They even praised its presence, associating it with a sense of greater security to carry out
humanitarian work, referring to a scenario marked by episodes of xenophobia that affected the
entities themselves
21
.
Even the more combative entities critical of militarized humanitarianism also
established partnerships with the Armed Forces and/or international agencies that financed the
provision of humanitarian services”. These partnerships were almost always made under a
commitment to confidentiality, which significantly limited the organizations’ autonomy in their
political stance regarding controversial and/or arbitrary situations in the operation. And there
have been quite a few of these since its inception.
In 2018, the National Human Rights Council (CNDH), when visiting Operação
19
Among them, UNHCR (United Nations High Commissioner for Refugees), IOM (International Organization
for Migration), and UNFPA (United Nations Population Fund).
20
The term used by some interlocutors to define the organizations they represented.
21
In 2018, for example, a severe case of persecution was recorded, including death threats against a human rights
activist who was advising migrants on their rights, as well as the invasion and vandalism of an entity with which
he was associated.
Gilmara Gomes da Silva SARMENTO
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Acolhida observed a series of irregularities suggesting necessary corrections. Among them was
the fact that the humanitarian response was “mainly being executed by the Armed Forces, with
insufficient involvement and presence of other government departments”. In this regard, their
recommendation to the Presidency of the Republic and the Chief of Staff was:
Ensure the presence and involvement of other government departments in
addition to the Armed Forces in actions in Roraima for the provision of public
services and assistance to the population in Roraima, both local and migrant.
For the latter, the focus in Roraima should especially aim at productive
integration and the protection of labor rights and public policies for social
development (our translation).
After these recommendations, some adjustments were made, and other ministries
became more involved with Operação Acolhida, which, although under the coordination of the
Chief of Staff, continued to be under the command of the Ministry of Defense, the Armed
Forces, with a particular emphasis on the Army. It is important to note that the Chief of Staff’s
office itself was taken over by a military officer in 2020 during the Bolsonaro government.
Since its establishment, Operação Acolhida has received various types of complaints,
including allegations that migrants and refugees in shelters have their autonomy restricted by
intense control and surveillance over their movements and communication with the outside
world
22
. In August 2021, news reports informed about the existence of a “punishment corner”,
mistreatment, and aggression applied by Army agents against indigenous migrants in the
operation's shelters. They also mentioned the existence of a complaint letter and inspections of
these shelters by the Public Defender’s Office (DPU) and the Federal Public Prosecutor’s Office
(MPF), which theoretically confirmed the allegations
23
.
22
During fieldwork, researchers affiliated with UFRR research groups were prevented from interviewing migrants
and refugees housed by the FFAA and UNHCR on the pretext that the entry of researchers into the shelters would
create discomfort and invade the privacy of the immigrants. This decision was made without consulting the
individuals themselves.
23
On August 6, Repórter Brasil published the article Exército cria ‘canto dos maus-tratos’ em abrigos de RR
para confinar indígenas venezuelanos alcoolizados (Army creates ‘corner of mistreatment’ in RR shelters to
confine intoxicated Venezuelan indigenous people). Available at: https://reporterbrasil.org.br/2021/08/exercito-
cria-canto-dos-maus-tratos-em-abrigos-de-rr-para-confinar-indigenas-venezuelanos-alcoolizados/. Accessed on:
10 Jan. 2022.
On August 9 of the same year, G1 also published a report titled Defensoria identifica ‘cantinho da vergonha’ para
castigar indígenas venezuelanos em abrigo” (Defenders Office identifies 'corner of shame' to punish Venezuelan
indigenous people in shelter). Available at: https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/08/09/defensoria-
identifica-cantinho-da-vergonha-para-castigar-indigenas-venezuelanos-em-abrigo.ghtml. Accessed on: 10 Jan.
2022.
On August 30, 2021, Folha-UOL published the following news: MPF rne denúncias de abusos contra
indígenas em abrigo do exército(MPF collects reports of abuses against indigenous people in army shelter).
Available at: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/08/mpf-reune-denuncias-de-abusos-contra-
indigenas-em-abrigo-do-exercito-em-rr.shtml. Accessed on: 10 Jan. 2022.
From humanitarian missions to government: The armed forces and their political connections in Brazil
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Medeiro (2022, s/p, our translation) published a report in which an indigenous migrant,
a representative of the Warao ethnic group, revealed in an interview: We do not have the
freedom to meet only with our people, with national and international organizations, without
the presence of the Army
24
.
Throughout the five years of the operation's existence, the effectiveness of the work of
the Armed Forces has also been questioned. Despite the significant federal spending on
humanitarian work, in addition to international resources, there is little visibility about its
results, especially for the residents and authorities of Roraima, who continue to live with what
is considered the uncomfortable presence of hundreds of vulnerable migrants on the streets of
the cities of Pacaraima, on the border with Venezuela, and in Boa Vista
25
. This number
continues to grow, despite the 9 shelters of the operation and the efforts of FT Log Hum, the
Armed Forces, and their partners in the process of interiorization (sending migrants to other
states)
26
.
Despite the paradoxes and allegations that question the effectiveness and
humanitarianism of the operation commanded by the Armed Forces, such news does not seem
to undermine the credibility of the Army or the involved military personnel, given the national
and international prestige of the Armed Forces, recognized and praised for their humanitarian
management model
27
.
24
The article was published on the Amazonia Real website and can be accessed in its entirety at the following link:
https://amazoniareal.com.br/operacao-acolhida-nao-cumpre-promessa-a-refugiados-venezuelanos/. Accessed on:
10 Jan. 2022.
25
The population and politicians in Roraima have a lot of distrust regarding the allocation and/or how federal
resources are being used in the operation. In September 2019, a state deputy, during an event in the Legislative
Assembly (ALERR), indicated that he had received complaints and stated: “I am taking action in relation to each
of them. I want to mention, as an example, the company Overley Containers, which provides container rentals for
the Operation, the same one that General Pazuello commanded in Rio de Janeiro”. Excerpt taken from an article
published on the ALERR website. Available at: https://al.rr.leg.br/2019/09/24/jeferson-alves-critica-acao-da-
operacao-acolhida-durante-visita-de-ministra-ao-estado/. Accessed on: 10 Jan. 2022.
26
According to a report by Cáritas Brasileira in 2022, published by G1, the number of Venezuelan migrants living
on the streets in Roraima had reached 5,867. Available at:
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2022/10/27/mais-de-58-mil-venezuelanos-vivem-em-situacao-de-rua-
em-boa-vista-aponta-relatorio-da-caritas.ghtml. Accessed on: 10 Jan. 2022.
27
In 2018, the Brazilian Army received the Human Rights Award for its humanitarian response to the Venezuelan
situation under Operação Acolhida, granted by the Ministry of Human Rights. In 2020, international recognition
for the humanitarian management of Operação Acolhidaresulted in Brazil being elected to preside over the
executive committee of the United Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR). More detailed
information about these events can be found at the following links, respectively:
https://www.acnur.org/portugues/2018/11/22/agencias-da-onu-e-exercito-brasileiro-recebem-premio-de-direitos-
humanos-por-resposta-humanitaria-a-situacao-venezuelana/. Accessed on: 10 Jan. 2022;
https://www.gov.br/cidadania/pt-br/noticias-e-conteudos/desenvolvimento-social/noticias-desenvolvimento-
social/operacao-acolhida-coloca-o-brasil-na-presidencia-do-comite-executivo-do-comissariado-para-refugiados-
da-onu. Accessed on: 10 Jan. 2022.
27
Bolsonaro doubled the funds compared to the Temer government. Articles on the subject can be found at:
https://veja.abril.com.br/mundo/governo-libera-r-223-milhoes-para-assistencia-emergencial-a-venezuelanos/.
Gilmara Gomes da Silva SARMENTO
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In these five years of the Humanitarian Task Force's operation, three generals have been
in command: Eduardo Pazuello (2018-2020), Antônio de Manoel Barros (2020-2021), and
Sérgio Schwingel (2021-2023). Among them, General Eduardo Pazuello stands out, with
previous roles in the government of Roraima, subsequently promoted to the Ministry of Health
by Jair Bolsonaro in 2020, amid the Covid-19 pandemic
28
. In the 2022 elections, he was elected
to parliament as the second most-voted federal deputy in Rio de Janeiro. In addition to General
Pazuello, Operação Acolhida also brought Colonel Georges Feres Kanaan (2018-2020), deputy
operational coordinator of Operação Acolhida and right-hand man of Pazuello, who took over
the position of Secretary of Social Articulation, subordinated to the Government Secretariat
(Segov) of the Presidency of the Republic
29
.
Confluences: Peacekeeping Mission, Operação Acolhida, and Politics
As we delve into the two most relevant humanitarian missions undertaken by the
Brazilian Armed Forces, the connection between them and national politics becomes
increasingly evident. The Brazilian Armed Forces found an excellent opportunity to rebuild
their image and simultaneously gain political capital through their involvement in the
MINUSTAH mission. The position they attained as one of the most trusted Brazilian
institutions (CUNHA et al., 2014) a decade after the commencement of MINUSTAH seems to
support this hypothesis.
The transfer of Operação Acolhida to the Brazilian Armed Forces in 2018 points to this
empowerment. Given the political influence and credibility of the military institution within
society, the Temer government faced little difficulty in contravening immigration legislation
and entrusting them with command. At that time, they encountered only sporadic resistance
from entities and human rights activists whose social image had been discredited in the evolving
political and social landscape
30
.
Accessed on: 10 Jan. 2022;
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2019/04/14/interna_politica,1046253/gastos-do-brasil-com-
refugiados-chegam-a-r-265-2-milhoes.shtm. Accessed on: 10 Jan. 2022.
28
The article about the appointment of the general, a logistics specialist, to the Ministry of Health is available at:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/09/16/em-ato-no-planalto-pazuello-e-efetivado-e-saude-passa-a-ter-
ministro-titular-apos-4-meses.ghtml. Accessed on: 10 Jan. 2022.
29
The appointment was published in the Official Gazette of the Union (DOU) on September 3, 2020. The document
can be accessed at: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decretos-de-2-de-setembro-de-2020-275667020.
Accessed on: 10 Jan. 2022.
30
This reflects the rise of extreme-right ideologies and the defense of so-called traditional” values, including
those of “homeland” and “family”, which are widely associated with the military.
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In this context, the mission in Roraima continues the legacy established during
MINUSTAH, safeguarding the image and credibility gained. The representation of the
Brazilian Armed Forces as a humanitarian entity committed to “saving lives” both within and
outside the country carries a strong symbolic appeal. This representation is intended to be
preserved and reproduced.
The Department of Social Communication of the Brazilian Armed Forces has been
highly effective in this regard. There is a significant investment in promoting humanitarian
actions through various electronic and digital communication channels. Pereira et al. (2022),
based on Machado's work (2021), highlight the official efforts of the Brazilian Army in
producing and disseminating videos and images of Operação Acolhida. They also point to the
explicit connection between the dissemination of this material and the explicit objective of the
military institution to present itself as the legitimate leader of humanitarian management”
(PEREIRA et al., 2022, p. 99, our translation)
31
.
The prominence of the military in these various media outlets also serves to
counterbalance the news and/or allegations that have emerged during these missions, thereby
minimizing their impact on the prestige of the Armed Forces. Stargardter, referring to
MINUSTAH, noted that addressing these allegations irritates the military, who prefer to
emphasize the “success” of the operation (STARGARDTER, 2018).
The military institution has also garnered many supporters and allies in civil society who
promote and extol their operations and roles, endorsing their political activism as well. For
example, in early 2020, the Record network published a series of reports on refugees, with five
episodes aired during the Balanço Geral RJ program. In addition to addressing the migratory
plight of these individuals towards Brazil, it celebrated the role of the Armed Forces in this
humanitarian mission on national soil
32
. In August 2022, an election year, TV Brasil, a public
network, aired a report on the struggles of migrants and refugees, subtly showcasing the
military's involvement in various aspects of welcoming Venezuelan migrants
33
.
31
In many instances during my research in Roraima, I heard complaints from civil society organizations involved
in Operação Acolhida regarding how the Brazilian Armed Forces focused on self-promotion, silencing or
downplaying the work of organizations that, according to my interlocutors, were the ones actually doing the
“hands-on” work.
32
Reference to the report can be found on the broadcaster’s website. Available at: https://recordtv.r7.com/recordtv-
emissoras/sudeste/record-tv-rio/serie-de-reportagens-sobre-refugiados-garante-crescimento-de-audiencia-
29062022. Accessed on: 10 Jan. 2022.
33
The report, with a strong humanitarian appeal and a duration of 26:59 minutes, was aired by TV Brasil and on
the broadcaster’s online channels in May 2022. It was also re-aired in June. The report titled Caminhos da
Reportagem | Os venezuelanos no Brasil can be viewed on the YouTube platform at
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Since 2019, Jovem Pan Radio has periodically published news about Operação
Acolhida. In its news channel titled Os pingos nos Is, on January 17, 2022, the renowned
journalist Alexandre Garcia stated the Operação Acolhida for Venezuelans deserves a Nobel
Peace Prize”, emphasizing that “Brazil saves lives from Maduro’s socialism
34
. Leda Nagle, on
her YouTube channel in August 2022, published an interview with Eduardo Pazuello, at the
time a candidate for federal deputy, in which they discussed, among other topics, the important
role played by the general in Operação Acolhida
35
.
When we consider the Peacekeeping Mission and Operação Acolhida in perspective,
albeit briefly, it becomes apparent that the Armed Forces have emerged politically strengthened
from these missions and encouraged to exert greater political influence at the national level.
The number of military personnel from the barracks who have declared themselves antagonistic
to left-wing parties, especially the PT, and who have formed ranks in the Temer government,
actively participated in the Bolsonaro government, and are entering the political arena appears
symptomatic.
Re[actions], Visibilities, and Links Between the Military and Politics
The process of Brazilian democratization, achieved through socio-political struggles
that weakened the military regime, forced the Armed Forces to adopt a more technical-
professional focus rather than a political one (CARVALHO, 2005). However, as Rodrigues and
Janot (2020, p. 92) indicate, based on specialized literature, it is important to understand that
the professionalization of the Armed Forces does not nullify their political influence but rather
produces a cohesive sense of belonging to the State that can lead to various forms of
intervention, "from negotiations and blackmail with political groups to the takeover of civilian
offices and coups”.
Zaverucha (2001) argues that the withdrawal of the military to the barracks after the
reestablishment of democracy is a myth unsupported by reality. According to the author,
https://www.youtube.com/watch?v=RcBsuWEBixo. Accessed on: 10 Jan. 2022. This video has received 111,643
views.
34
The video can be accessed at https://jovempan.com.br/videos/programas/os-pingos-nos-is/alexandre-garcia-
operacao-acolhida-para-venezuelanos-merece-nobel-da-paz.html. Accessed on: 10 Jan. 2022.
35
It’s important to remember that Eduardo Pazuello, now a retired general, while still on active duty, openly
engaged in political activism, participating in motorcycle rallies and appearing on stage with then-former President
Jair Bolsonaro, who was seeking re-election. This behavior is prohibited for active-duty military personnel by the
Military Statute and the Army Disciplinary Regulations, which forbid them from participating in collective
political demonstrations.
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military involvement in Brazilian politics has continued. What has changed is only the way this
interference occurs, “without the burden of being in government but with the bonus of being in
power” (p. 33, our translation). From this perspective, the political retreat of the Armed Forces
is false, and the impression of its truthfulness arises from the establishment of a conservative
democracy that nullifies motivations for coup attempts. However, the stability of our
democracy, meaning military subordination, depends on the degree of government compliance
with military interests.
Building upon this analysis, episodes of military insubordination during Luís Inácio
Lula da Silva’s government (2003-2011) and the political articulation openly triggered against
the Dilma Rousseff government after the establishment of the National Truth Commission in
2011 gained even more intelligibility (GUILHERME, 2021). The Raposa do Sol episode
involving the former force commander of MINUSTAH, Augusto Heleno, in 2008, therefore
adds to other events that would mark the beginning of a series of [re]actions gradually shaping
a “silent march” of the military towards power (PENIDO; JANOT; RODRIGUES, 2021)
36
.
The stance of the mentioned general was not an isolated position but converged with
that of other military personnel, whether with or without experience in humanitarian missions.
Insubordination escalated as the policies of left-wing governments contradicted the interests
and/or “threatened” the prestige of the military and its agents. Military personnel began to
express public opposition to the government's policies and to position themselves politically,
just like Augusto Heleno, who became one of the main organizers of Jair Bolsonaro’s
presidential candidacy (MARTINS FILHO, 2019).
The military elite, fearing that the National Truth Commission would resurrect facts
from the dictatorship that they wanted to forget and bury, began to express their discomfort by
amplifying criticisms of the government and belittling the commission (GUILHERME, 2021)
37
. It was within the context of negotiations surrounding the establishment of the National Truth
Commission that Jair Bolsonaro, at the time a federal deputy, managed to reestablish
connections and obtain the military’s approval, allowing him to stand out as a presidential
candidate
38
.
36
The authors reconstruct a series of events and the subsequent reaction of the military, which in chronological
order, starting in 2005, shows the movements of these actors leading up to the coup that resulted in the
impeachment of Dilma Rousseff in 2016.
37
The author also highlights the fact that newspapers aligned with the military, during the election campaign that
marked the succession of President Lula by Dilma Rousseff, attempted to associate the president with a negative
image as a former guerrilla fighter and gave space and voice to dissatisfied military personnel afterward.
38
Guilherme (2021) emphasizes two specific situations in which Bolsonaro’s stance contributed to his alignment
with the Brazilian Armed Forces. The first was his attempt to pass a parliamentary amendment in 2011 that would
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While a group of military personnel from the Armed Forces were mobilizing to elect
Bolsonaro at the national level, the state of Roraima was facing a humanitarian crisis due to the
indifference and hostility of local authorities in dealing with migration issues. The worsening
of the state's crisis led President Michel Temer to remove Governor Suely Campos (MDB) in
December 2018.
He subsequently appointed Antonio Oliverio Garcia de Almeida (PSL)
39
as the state’s
intervenor, a politician elected as governor of the state in October of the same year. The
intervenor immediately appointed the general of Operação Acolhida, Eduardo Pazuello, as the
Secretary of State for Finance and Planning and Development of Roraima
40
. Despite having
gained electoral popularity in a campaign marked by anti-migration rhetoric, when he assumed
the role of governor, he established cooperation ties with Operação Acolhida, which had been
virtually non-existent in the previous government, surprising some representatives of
organizations involved in the humanitarian response.
Furthermore, the continuation of Operação Acolhida during Jair Bolsonaro’s
government surprised some activists. The president-elect's political-ideological position ran
counter to humanitarianism and human rights, which resulted in predictions of the operation's
termination. However, contradicting these forecasts, Jair Bolsonaro strengthened Operação
Acolhida, increased federal funds, and praised the military entity of the operation
41
. As
mentioned earlier, two years later, he promoted its commander to the Ministry of Health, a
general who was a staunch supporter of his government and his 2022 election campaign,
blatantly subverting military regulations.
allow military personnel to refuse to testify before the Truth Commission. The second was the scene he created
during the impeachment vote when he praised the Brazilian Armed Forces, the Army, and even the torturer of
Dilma Rousseff.
39
Known popularly as Denarium and a supporter of Jair Bolsonaro, the interventionist had won the elections in
October of that year for the position of governor of the state.
40
The appointments were published in Diário Oficial do Estado de Roraima on December 10, 2018.
41
Bolsonaro doubles the funds compared to the Temer government, articles on the subject can be consulted at:
Available at: https://veja.abril.com.br/mundo/governo-libera-r-223-milhoes-para-assistencia-emergencial-a-
venezuelanos/. Accessed on: January 10, 2022; Available at:
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2019/04/14/interna_politica,1046253/gastos-do-brasil-com-
refugiados-chegam-a-r-265-2-milhoes.shtm. Accessed on: January 10, 2022.
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Final considerations
After Jair Bolsonaro’s popular election in 2018, many have wondered how a figure who
belonged to the so-called “lower clergy” in the military hierarchy, marginalized by his own
behavior during his active service, representing the antithesis of order and other moral values
commonly associated with the barracks, managed to gain the support of high-ranking military
officials to run for the presidency of the country.
The answer to this question is quite simple, as pointed out by specialized literature:
exaggerated optimism about Brazilian democracy led to biased analyses of military
involvement in politics, leading us to overlook the multiple subtle and underground forms of
activism that testify to the crucial fact: the military has never been detached from politics
(ZAVERUCHA, 2001; BORGES, 2011; LEIRNER, 2020; PEREIRA et al., 2022). In this
sense, the figure of Deputy Jair Bolsonaro and his form of militancy perfectly aligned with the
political interests of the barracks.
All it took was for the agendas of left-wing governments to “threaten” the interests of
the military corporation, power, prestige, and moral reputation, reconstructed through the lens
of humanitarianism, for the Armed Forces to strategically mobilize against the government
(ZAVERUCHA, 2001; LEIRNER, 2020). To do so, they transformed dictatorship into
humanism, attributed the social and political instability of the country to the PT government,
and revived the banner of anti-communism and the idea of an external enemy”, mobilized in
the 1960s, transforming it into anti-PT sentiment”, the internal enemy” to legitimize their
“interventionism” in society (LEIRNER, 2020).
There is a consensus among analysts of this Brazilian moment that the National Truth
Commission (CNV) was the catalyst for the Armed Forces to leave behind behind-the-scenes
political negotiations and take center stage in political and narrative disputes against the PT
government. The possibility of opening the “black box” of the dictatorship would stimulate the
corporate spirit, bringing Jair Bolsonaro and military actors closer, who would come to endorse
and support his candidacy and government (MARTINS FILHO, 2019; LEIRNER, 2020;
GUILHERME, 2021, PENIDO et al., 2021).
By proposing to investigate the violations of that dark period in national history crimes
committed during the military dictatorship Dilma Rousseff broke the “political pact” of
silence, breaking the tacit consensus that guaranteed an official memory of forgetting the
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military period in power” since the amnesty of 1979 (GUILHERME, 2021, p. 48, our
translation)
42
.
By daring to suggest the opening of the "black boxes" of the dictatorship, the
government opposed various military actors, who saw this attempt as “revenge” and/or
“vengeance” by “deranged leftists” (LEIRNER, 2020; GUILHERME, 2021). Around this
common internal threat”, the military organized themselves, prepared the ground”, and
secured the involvement of actors such as the Judiciary, in the Operação Lava Jato (LEINER,
2020, p. 31), and the media, which amplified the political influence of the military (MARTINS
FILHO, 2019; LEIRNER, 2020; GUILHERME, 2021).
The pact of silence had been essential to foster and/or maintain the representation of the
military corporation as a prestigious institution in the social imagination. In this sense, the
publicity of violence committed during the dictatorship becomes a ghost that needs to be
exorcised. Revelations about this dark period, among other issues highlighted the culture of
impunity and tolerance for violations embodied in the 1979 amnesty.
The culture of impunity is evident in the silence surrounding allegations of violations
by Brazilian troops in MINUSTAH, as well as in the silence regarding allegations of violations
and mistreatment occurring within Operação Acolhida. This culture finds resonance in
statements like that of the then Army Commander, General Eduardo Villas Bôas, who, during
a meeting to discuss military intervention in Rio during the Temer government, said it was
necessary to give the military guarantees to act without the risk of a new Truth Commission
emerging’ in the future” (LOBO, 2018, our translation)
43
.
These guarantees seemed to be fully enjoyed by Operação Acolhida through its visceral
alignment with the Bolsonaro government between 2019-2022 and the political connections
produced by this relationship.
By attempting to establish the connection between MINUSTAH, Operação Acolhida,
the military personnel engaged in them, and politics, this article does not intend to exhaust the
subject but to stimulate debate and future reflections that contribute to understanding the
different forms of integration and the construction of political capital by Armed Forces actors
in other not always explicit fronts, such as humanitarian missions.
42
The author mentions the strong discontent within the Armed Forces with a government that, for the first time,
demands the opening of military archives that were never requested before.
43
General who became a major supporter and important figure in the Bolsonaro government, serving as an Advisor in the
Institutional Security Cabinet until 2022.
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CRediT Author Statement
Acknowledgments: Not applicable.
Funding The field research, conducted between 2018-2020, was carried out with a CAPES
scholarship.
Conflicts of Interest: There are no conflicts of interest.
Ethical Approval: the article did not go through an Ethics Committee. It results from
reflections based on the dialogue between information and field observations during the
post-doctoral research between 2018-2010 and the bibliographic research conducted from
various sources.
Data and Material Availability: The data and materials used as references for the article
related to bibliographic research are indicated in the bibliography, and those related to field
research are included in the Research Report submitted to the Graduate Program in Society
and Borders at UFRR.
Author’s Contributions: Sole authorship.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.